Mulher ao Espelho
Hoje que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importo quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
se morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
Florbela Espanca
A Mulher II
Ó mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosas duma imagem
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
C.G. Victorino
Eu Sou: A Nova Voz Das Mulheres
Vão olhar para meu ventre e dizer que sou sua
Vão olhar para meu corpo e dizer que estou nua
Vão olhar para minha face e me dizer especial
Mas, vou virar o olhar de repulsa
Vão me dizer que sou sem sal
Releve que o vento leva
E o vento leva por gerações
Não vou mais aguentar calada
Mesmo que enfrente multidões
Agora sou dona de mim
Não adianta afirmar que é banal
A mulher é um ser pleno
Não pode ser um ideal
A alma é livre de modelos
Ela é um anexo espacial
Quando me olham e me julgam
Não vou fingir que é normal
A vida de fato é tênue
Para eu levar sua miséria no âmago
Agora que estou acordada
Não vou me render a tiranos
Que seja sua filha, sua mãe,
Que seja sua irmã e sua prima
Que seja na rua, na esquina
O algoz amargura sua vítima
Mas veja que o pranto dos séculos
Parou de sangrar pela dor
A dor das mulheres forçadas
A engolir solidão e temor
Agora acordamos das cinzas
Somos frutos de um mundo opressor
Ninguém mais ficará calada
E sozinha enfrentará a dor
Vão olhar e gritar e bater
Apontar, violentar para temer
Mas agora é a hora do basta
E não mais existirá perdão
Não me calo frente ao soberano
Não mais passará contradição
Mulher sou livre e sou plena
Sou todas as vozes pequenas
Sou nua, de burka, enfeitada
Sou dona do meu coração
Ninguém mais calará o meu pranto
Para sua satisfação.
Ó mulher! Como és fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!
Quantas morrem saudosas duma imagem
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!
Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de dor e sofrimento!
Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!
C.G. Victorino
Eu Sou: A Nova Voz Das Mulheres
Vão olhar para meu ventre e dizer que sou sua
Vão olhar para meu corpo e dizer que estou nua
Vão olhar para minha face e me dizer especial
Mas, vou virar o olhar de repulsa
Vão me dizer que sou sem sal
Releve que o vento leva
E o vento leva por gerações
Não vou mais aguentar calada
Mesmo que enfrente multidões
Agora sou dona de mim
Não adianta afirmar que é banal
A mulher é um ser pleno
Não pode ser um ideal
A alma é livre de modelos
Ela é um anexo espacial
Quando me olham e me julgam
Não vou fingir que é normal
A vida de fato é tênue
Para eu levar sua miséria no âmago
Agora que estou acordada
Não vou me render a tiranos
Que seja sua filha, sua mãe,
Que seja sua irmã e sua prima
Que seja na rua, na esquina
O algoz amargura sua vítima
Mas veja que o pranto dos séculos
Parou de sangrar pela dor
A dor das mulheres forçadas
A engolir solidão e temor
Agora acordamos das cinzas
Somos frutos de um mundo opressor
Ninguém mais ficará calada
E sozinha enfrentará a dor
Vão olhar e gritar e bater
Apontar, violentar para temer
Mas agora é a hora do basta
E não mais existirá perdão
Não me calo frente ao soberano
Não mais passará contradição
Mulher sou livre e sou plena
Sou todas as vozes pequenas
Sou nua, de burka, enfeitada
Sou dona do meu coração
Ninguém mais calará o meu pranto
Para sua satisfação.
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