O Idiota
Fiódor Dostoiévski
Tradução portuguesa por José Geraldo Vieira
Terceira Parte
9..
- Suspeitei. Quando às oito horas pulei da cama como um maluco, batendo na
testa com as mãos, imediatamente acordei o general que dormia um sono de
inocência. Tomando em consideração o estranho desaparecimento de
Ferdichtchénko, o que por si só levantou nossas suspeitas, resolvemos revistar
Keller que jazia estirado dormindo como uma toupeira. Revistamo-lo todinho.
Não lhe achamos um níquel nos bolsos e não havia um só bolso que não estivesse
rasgado. Tinha só um lenço de algodão, Listrado de azul, em um estado nojento.
E também uma carta de amor de uma arrumadeira ameaçando- o e pedindo
dinheiro! E alguns pedaços do artigo que o senhor ouviu. O general decidiu que
ele era inocente. Para completar nossas investigações acordamos o
homem, sacudindo-o violentamente. Mal pôde entender do que se tratava.
Escancarou a boca com um ar de bêbado; a expressão do seu rosto era ao
mesmo tempo cômica e inocente; aloucada, mesmo. Não foi ele!
- Bem, isso me
satisfaz - disse o príncipe, com satisfação.
- Estava mais desconfiado dele, creio
eu.
- O senhor estava com receio? Então o senhor tem qualquer razão para isso! - e Liébediev perscrutou-o nos olhos.
- Oh, não! Não quero dizer nada - gaguejou o príncipe. - Foi estupidez minha
dizer que o meu maior receio era ele. Faça-me um favor, Liébediev, de não
repetir isso a ninguém!...
- Príncipe, príncipe, as suas palavras estão no meu coração, no fundo do meu
coração. E o meu coração é uma tumba!... - asseverou Liébediev, em êxtase,
apertando o chapéu contra o peito.
- Bem, bem. Então deve ter sido Ferdichtchénko. Isto é, quero dizer que você
passa a suspeitar de Ferdichtchénko!
- Quem mais? - articulou Liébediev
mansamente, olhando com atenção para Míchkin.
- Efetivamente. Quem mais estava lá?... Mas insisto ainda, que provas existem? - Há uma prova. Primeiro haver desaparecido às sete horas da manhã, ou
mesmo antes.
- Já soube. Kólia me contou que Ferdichtchénko fora até ele e dissera que ia
passar o dia com... esqueci o nome... certo amigo dele.
- Vílkin. Então Nikolái
Ardaliónovitch já lhe tinha contado?
- O furto, não.
- Ele ignora, pois a esse tempo eu ainda o conservava em segredo. Então foi ter
com Vilkín. Devo dizer que não há nada de estranho em um bêbado ir ver um
outro bêbado como ele próprio, mesmo que isso seja antes do dia raiar e sem
razão nenhuma. Mas aqui temos um rastro. Antes de sair deixou o endereço...
Agora, príncipe, sigamos a questão. Por que deixou ele um endereço? Por que
propositadamente se desviou ele do caminho da saída direita, indo dizer a Nikolái
Ardalionóvitch que ia passar o dia com Vilkín? Por que esse aviso? Não, aqui
temos nós a astúcia, a astúcia de um gatuno! É o mesmo que dizer “Não
encobrirei os meus traços de propósito; portanto, como serei eu o gatuno?
Deixará dito um gatuno para onde foi?” Trata-se de um
excesso de zelo para desviar suspeitas e para apagar, por assim dizer, as
pegadas na areia... Está me entendendo, honorabilíssimo príncipe?
-
Compreendo, compreendo perfeitamente; mas isso tudo não basta.
- Um segundo
rastro. A pista acabou se descobrindo que foi falsa, pois o endereço não é exato.
Uma hora mais tarde, isto é, às oito horas, estava eu batendo à porta de Vílkin.
Mora na Quinta Rua e eu também o conheço. Não havia sinal de Ferdichtchénko;
e a criada que é surda como uma pedra, me disse que alguém tinha realmente
batido uma hora antes e com tanta força que quebrara a campainha. Mas a
criada não quis abrir a porta para não acordar o Sr. Vílkin e decerto não
desejando tampouco se levantar ela própria.
- E é essa toda a sua suspeita? Não é
muita.
- Príncipe, mas de quem suspeitar, então? Julgue o senhor próprio
concluiu Liébediev, com a máxima persuasão; e havia um brilho de qualquer
coisa dissimulada em seu arreganho de dentes.
- Você deve dar uma batida em
seus cômodos outra vez, e espiar gaveta por gaveta - aconselhou o príncipe, com
certa veemência, depois de refletir um pouco.
- Já revistei tudo - acentuou Liébediev, insinuando qualquer coisa mais.
- Arre!
Por que diabo foi você mudar de casaco? - e Míchkin deu um soco na mesa com
certo aborrecimento.
- Ora, aí está uma pergunta parecida com uma outra em uma comédia fora da
moda. Mas, bondoso príncipe, vejo que minha desgraça atingiu o seu coração.
Não mereço isso. Quero dizer que sozinho não valho isso, mas o senhor ficou
preocupado com o criminoso... Com este Ferdichtchénko, que não vale um
caracol!
- Realmente. Você não deixou de me aborrecer.
O príncipe interrompeu-o com
certa acrimônia e de um modo vago. - Que pretende então você fazer... já que
está tão convencido de que foi Ferdichtchénko?
- Príncipe, honorabilíssimo
príncipe, quem mais então poderia ter sido? - perguntou Liébediev, agitando-se
com crescente persuasão.
- Conforme o senhor vê, a falta de mais alguém em
quem me deter, e por assim dizer, a completa impossibilidade de suspeitar de
quem quer que seja a não ser Ferdichtchénko, torna-se, por assim dizer, uma
peça de convicção; a terceira, contra o mesmo Sr. Ferdichtchénko. Ora, pergunto
eu, novamente, quem mais podia ter sido? O senhor não suspeitaria de Burdóvskii,
a meu ver?!
- Que asneira!
- Nem do general! Ah! Ah! Ah!
- Você está doido! - disse o príncipe, quase furioso, mexendo-se
impacientemente no sofá.
- Doido, não há dúvida! Ah! Ah! Ah! E ele me divertiu também. Refiro-me ao
general. Fui com ele, ainda agora, quando a pista ainda estava fresca, à casa de
Vílkin... e devo dizer-lhe que o general estava mais impressionado do que quando
o acordei, o que aliás foi a primeira coisa que fiz, quando dei pelo extravio. A
cara dele mudou. Ficou vermelho; depois, pálido. E por fim caiu em violenta
indignação, e muito justa, como se antes de qualquer outra coisa eu tivesse
suspeitado dele! É um homem honorabilíssimo. Frequentemente está contando
mentiras, por fraqueza; mas é pessoa dos mais nobres sentimentos. Um homem,
além disso, sem estratagemas, que inspira a maior confiança, por sua inteireza.
Já lhe disse uma vez que o que sinto por ele não é só um fraco, é afeição!
Inesperadamente ele parou no meio da rua, desabotoou o casaco, pôs o peito à
mostra e berrou: “Reviste! Já que revistou Keller, por que não me há de revistar?
O direito é isso!” Os seus braços e as suas mãos estavam tremendo; ficou
completamente lívido. Olhava-me ameaçadoramente. Ri e disse: “Escute aqui
uma coisa, general! Se alguém ousasse dizer tal calúnia do senhor, eu arrancaria
minha cabeça com as minhas próprias mãos. Haveria de pô-la em uma bandeja
e a levaria a quem desconfiasse do senhor. Está vendo esta cabeça? perguntaria
eu. Pois é com ela que respondo por ele. E não é só isso. Caminharia dentro do
fogo, por ele. Eis o que eu faria, general!” - disse-lhe eu. Então, ali em plena rua,
ele me apertou nos braços, desfez-se em lágrimas; tremendo, e me ficou
apertando tanto que me provocou tosse. “Tu és o único amigo que me resta no
infortúnio!” disse. Aquilo é que é homem de sentimento. E, então, logo me
contou ali mesmo uma anedota: que uma vez fora suspeitado, na sua mocidade,
de ter furtado quinhentos rublos. Mas que logo no dia seguinte aconteceu que se
precipitou por uma casa incendiada adentro, e extraiu das chamas para fora o
conde que tinha suspeitado dele, e mais Nina Aleksándrovna que então era uma
menina. O conde abraçara-o e disso proviera seu casamento com Nina
Aleksándrovna. E mais ainda.., que, no dia seguinte, foram encontrar nas ruínas
da casa uma caixa com o dinheiro dado como perdido. Era um cofre forte inglês,
com uma fechadura com segredo e que tinha sido posto debaixo do assoalho, de
maneira que ninguém notara, só sendo achado depois do incêndio. Uma mentira
com todos os ff e rr. Mas, quando se referiu a Nina Aleksándrovna, aí não pôde,
chorou. De fato, Nina Aleksándrovna é a mais respeitável das damas, apesar de
estar zangada comigo.
- Você não a conhece, não é?
- Muito mal, se tanto; mas gostaria, de todo o coração, quando mais não fosse
para me justificar perante ela.
Nina Aleksándrovna embirra comigo porque acha que eu desencaminho para a
bebedeira o seu esposo. Mal sabe essa digna senhora que, longe de
desencaminhá-lo, eu o refreio. O que venho tentando é tirá-lo da mais perniciosa
companhia. De mais a mais, trata-se de um amigo, e confesso que não o quero
abandonar, agora. De fato, justo e feito. Onde ele vai, lá estou eu. Pois o único
meio de manobrar com ele é por intermédio da sensibilidade. Chegou até a
desistir de visitar a viúva do seu capitão, agora, muito embora, secretamente,
tenha saudades dela, afligindo-se muito, principalmente de manhã, quando calça
as suas botas. Não sei em que pé se acha, presentemente Ele está sem dinheiro e
isso atrapalha, pois como há de ir vê-la sem isso? Ele não lhe tem pedido
dinheiro, honorabilíssimo príncipe?
- Não tem.
- É porque tem vergonha. Já deu a entender. Confessou-me, de fato, que pensou
incomodá-lo, mas que se intimidou porque o senhor o obsequiou, não há muito: e
além disso acha que o senhor não lhe daria. Disse-me isso como a um amigo.
- Então você lhe dá dinheiro?
- Príncipe, honorabilíssimo príncipe, a esse homem não dei dinheiro apenas, mas,
a bem dizer, a vida... Mas não, não quero exagerar, a minha vida não; mas se
fosse um caso de febre, um abscesso ou mesmo uma tosse, estaria pronto a
suportar no lugar dele; realmente o faria. Pois o considero como um grande
homem, embora decaído! Sim, com efeito; e não dinheiro só!
- Então você lhe
dá dinheiro?
- N... ão; dinheiro não tenho dado. Não tenho dado. E ele está farto de saber que
não darei, não. Mas isso tem sido somente com o ponto de vista de ajudá-lo em
aperfeiçoamento e reabilitação. Agora está insistindo para ir comigo a
Petersburgo, para encontrarmos o Sr. Ferdichtchénko enquanto a pista está fresca.
Pois estamos cientes de que foi para lá. O meu general é todo impetuosidade,
mas desconfio que o que quer é escapulir, até Petersburgo, para ir visitar a tal
viúva. Vou deixar que venha comigo, de propósito, confesso, e que concordamos
tomar diferentes direções logo que chegarmos lá, de maneira a apanharmos
mais facilmente o Sr. Ferdichtchénko. Assim, pois, vou deixá-lo ir e depois lhe
caio em cima inesperadamente, como neve sobre a cabeça, em casa
da viúva, só para envergonhá-lo, como a chefe de família e como a homem,
propriamente, falando de um modo geral.
- Mas ao menos não faça nenhum estardalhaço, Líébediev. Pelo amor de Deus,
não faça nenhum distúrbio - disse o príncipe. abaixando a voz, com certa
inquietação.
- Oh! Não. Simplesmente para envergonhá-lo e ver que espécie de cara ele faz,
pois só pela cara se pode julgar muita coisa. estimado príncipe, principalmente
em um homem como ele. Ah, príncipe, grande como é agora a minha
preocupação, não posso ainda assim deixar de pensar nele e na reforma da sua
moral! Tenho um grande favor a pedir-lhe, príncipe, e devo confessar que foi
expressamente para isso que vim perante o senhor. O príncipe tem intimidade na
casa dele, já morou mesmo com ele; se, pois, o senhor pudesse ajudar-me,
honorabilíssimo príncipe. inteiramente por causa dele e de sua felicidade...
E Liébediev não se conteve e juntou as mãos, como em súplica.
- Ajudá-lo?
Ajudá-lo como? Acredite, estou fazendo todo o possível a ver se o entendo,
Liébediev.
- Foi inteiramente com esta convicção que vim até aqui. Poderíamos agir por
intermédio de Nina Aleksándrovna, constantemente de olho nele e, por assim
dizer, encaminhando-o para o seio da família. Não os conheço infelizmente.
Contudo, Nikolái Ardaliónovitch adora o senhor, por assim dizer, com todas as
fibras do seu coração juvenil, e ele poderia ajudar talvez...
- Meter Nina
Aleksándrovna nessa história, não! Pelo amor de Deus! Nem Kólia, tampouco...
Mas talvez eu ainda não tenha conseguido entender você, Liébediev.
- Ora, não há nada que entender. - Liébediev ergueu-se de um salto da sua
cadeira. - Simpatia, simpatia e ternura eis todo o tratamento que o nosso doente
requer. O senhor me permite, príncipe, pensar nele como em um doente?
- Sim, o que mostra a sua delicadeza e inteligência.
- A bem da clareza, devo
explicar com um exemplo tirado da prática. O senhor vê a espécie de homem
que ele é. A única fraqueza agora é para com essa viúva, que não lhe permitirá
entrada sem dinheiro; e é em tal casa que penso descobri-lo hoje, para o seu
próprio bem. Mas, supondo que não fosse só a viúva do capitão; supondo que ele
tivesse cometido atualmente um crime, ou de qualquer modo uma ação
desonrosa (do que aliás ele naturalmente é incapaz), mesmo então, digo eu, o
senhor poderia fazer alguma coisa por ele,
simplesmente por generosa ternura, por assim dizer, pois ele é o mais sensível
dos homens. Acredite-me, não se conteria por cinco dias; falaria contra si
mesmo; choraria e confessaria, principalmente se alguém trabalhasse com
habilidade, e com um estilo honroso, por intermédio de sua acautelada família, e
o senhor, em suas idas e vindas... Oh, caridosíssimo príncipe! - Liébediev caiu
em uma espécie de exaltação.
- Naturalmente não estou afirmando que ele...
Estou pronto a derramar minha última gota de sangue, por assim dizer, por ele,
neste momento, muito embora a sua incontinência, a sua bebedeira e a viúva do
capitão, e tudo o mais, em conjunto, possam levá-lo a..
- Em tal caso estou
pronto a ajudá-lo - disse o príncipe, levantando-se.
- Apenas confesso, Liébediev,
que estou terrivelmente inquieto. Diga-me, você ainda... Em uma palavra, você
mesmo disse que suspeita de Ferdíchtchénko... - Ora, quem mais? Sinceramente,
príncipe? - e de novo Liébediev juntou as mãos, suplicamente, com um sorriso
adocicado.
O príncipe franziu a testa e se moveu do seu lugar. - Repare bem: um
erro, Lukián Timoféietch, seria uma coisa terrível. Esse Ferdichtchénko... Eu não
gostaria de falar mal dele... Esse Ferdichtchénko... ora, quem sabe, talvez seja
ele... Quero dizer que talvez ele seja mais capaz do que... qualquer outro...
Liébediev esgazeou os olhos e apurou os ouvidos.
- Vê você - continuou o
príncipe, mais carrancudo ainda e vacilando, à medida que passeava para cima e
para baixo, pela varanda, esforçando-se por não olhar Liébediev -, procurarei
fazer-me entender... Disseram-me a respeito do Sr. Ferdichtchénko que era um
homem diante do qual a gente devia ter cuidado em não dizer coisa demais, está
compreendendo? Digo isto para mostrar que talvez ele realmente seja mais
capaz do que qualquer outro... É preciso, de toda maneira, não se cometer um
equívoco, e essa é a principal coisa, está entendendo?
- Quem lhe disse isso a respeito do Sr. Ferdichtchénko? - jogou Liébediev, de
repente.
- Foi-me segredado isso... Eu próprio não acredito muito, contudo... E me amola
bastante ter-lhe dito isso. Assevero-lhe que não acredito, eu próprio... deve ser
leviandade de quem disse. Irra! Que estúpido fui!
- Vê o senhor, príncipe - disse
Liébediev, contraindo-se todo -, isto é importante. Isto é importante exatamente
agora. Não me refiro ao Sr. Ferdichtchénko. Refiro-me ao modo por que esta
informação chegou ao senhor. - dizendo isso, Liébediev deu uns passinhos pela
frente e pelas costas do
príncipe, tentando emparelhar com ele - Tenho uma certa coisa a dizer-lhe,
príncipe: ainda agora mesmo, quando eu ia indo com o general à casa de Vílkin,
depois que me pespegou aquela léria do incêndio, ele estava fervendo,
naturalmente, ainda com cólera; e sem mais aquela, começou a despejar a
mesma suspeita a respeito do Sr. Ferdichtchénko, mas de um modo tão estranho e
incoerente que não pude deixar de lhe fazer certas perguntas, e acabei me
convencendo que toda aquela longa história não era mais do que uma inspiração
apenas de Sua Excelência, erguendo-se, solitária, por assim dizer, do seu
generoso coração. Pois ele mente inteiramente por não poder restringir a sua
sentimentalidade. Agora, bondosamente considere o senhor isto: se ele mentiu, e
tenho certeza que mentiu, logo não foi dele que o senhor ouviu o que há pouco
me disse. Foi uma inspiração de momento, príncipe, compreende o senhor?
Logo, foi outra pessoa que lhe disse aquilo!... Isto é muito importante... Isto é
muito importante... Isto é muito importante... e... por assim dizer...
- Foi Kólia quem me disse, ainda agora, e foi dito por seu pai nesta manhã,
quando o encontrou às seis horas, entre seis e sete horas, no corredor, ao sair para
qualquer coisa.
E o príncipe contou a história, mais minuciosamente.
- Ah! Bem, isso é o que se
chama um indício. - e Liébediev riu, sem fazer ruído, friccionando as mãos - Tal
como eu pensei. Quer isso dizer que Sua Excelência acordou do seu sono de
inocência às seis horas, expressamente para ir acordar seu dileto filho, e avisá-lo
do grande perigo de se misturar com o Sr. Ferdichtchénko. Que perigoso homem
não deve ser esse Sr. Ferdichtchénko! E que paternal solicitude, da parte de Sua
Excelência!
- Escute, Liébediev - o príncipe estava completamente atordoado -,
ouça, guarde segredo absoluto sobre isso. Não faça clamor. Peço, exijo,
Liébediev. Estou resolvido a ajudá-lo mas com a condição de ninguém vir a
saber nada sobre este assunto.
- Fique tranquilo, boníssimo príncipe, muito leal e generoso príncipe - exclamou
Liébediev em perfeito êxtase - Esteja tranquilo que tudo isso ficará enterrado
em meu coração, que é um coração galhardo! Daria o meu sangue, gota a gota.
Ilustre príncipe, sou uma pobre criatura quer de alma quer de espírito, mas
pergunte a qualquer outra pobre criatura, a um tratante mesmo qualquer, com
quem preferiria ele ter negócios, com um bandido de igual laia ou com um
coração nobre como o senhor! E ele responderia logo que preferia a pessoa de
coração leal, nobilíssimo príncipe! Ora, que significa tal opção? O
triunfo excelso da virtude! Adeus, honorabilíssima Alteza. Cumpre agir de
mansinho, muito em surdina, e... de mãos dadas...
continua página 407...
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