terça-feira, 6 de maio de 2025

Dostoiévski - O Idiota: Terceira Parte (9b) - Cumpre agir de mansinho

O Idiota


Fiódor Dostoiévski

Tradução portuguesa por José Geraldo Vieira

Terceira Parte
9.


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- Suspeitei. Quando às oito horas pulei da cama como um maluco, batendo na testa com as mãos, imediatamente acordei o general que dormia um sono de inocência. Tomando em consideração o estranho desaparecimento de Ferdichtchénko, o que por si só levantou nossas suspeitas, resolvemos revistar Keller que jazia estirado dormindo como uma toupeira. Revistamo-lo todinho. Não lhe achamos um níquel nos bolsos e não havia um só bolso que não estivesse rasgado. Tinha só um lenço de algodão, Listrado de azul, em um estado nojento. E também uma carta de amor de uma arrumadeira ameaçando- o e pedindo dinheiro! E alguns pedaços do artigo que o senhor ouviu. O general decidiu que ele era inocente. Para completar nossas investigações acordamos o homem, sacudindo-o violentamente. Mal pôde entender do que se tratava. Escancarou a boca com um ar de bêbado; a expressão do seu rosto era ao mesmo tempo cômica e inocente; aloucada, mesmo. Não foi ele!
- Bem, isso me satisfaz - disse o príncipe, com satisfação.
- Estava mais desconfiado dele, creio eu. 
- O senhor estava com receio? Então o senhor tem qualquer razão para isso! - e Liébediev perscrutou-o nos olhos.
- Oh, não! Não quero dizer nada - gaguejou o príncipe. - Foi estupidez minha dizer que o meu maior receio era ele. Faça-me um favor, Liébediev, de não repetir isso a ninguém!...
- Príncipe, príncipe, as suas palavras estão no meu coração, no fundo do meu coração. E o meu coração é uma tumba!... - asseverou Liébediev, em êxtase, apertando o chapéu contra o peito.
- Bem, bem. Então deve ter sido Ferdichtchénko. Isto é, quero dizer que você passa a suspeitar de Ferdichtchénko! 
- Quem mais? - articulou Liébediev mansamente, olhando com atenção para Míchkin. 
- Efetivamente. Quem mais estava lá?... Mas insisto ainda, que provas existem? 
- Há uma prova. Primeiro haver desaparecido às sete horas da manhã, ou mesmo antes.
- Já soube. Kólia me contou que Ferdichtchénko fora até ele e dissera que ia passar o dia com... esqueci o nome... certo amigo dele.
- Vílkin. Então Nikolái Ardaliónovitch já lhe tinha contado?
- O furto, não. 
- Ele ignora, pois a esse tempo eu ainda o conservava em segredo. Então foi ter com Vilkín. Devo dizer que não há nada de estranho em um bêbado ir ver um outro bêbado como ele próprio, mesmo que isso seja antes do dia raiar e sem razão nenhuma. Mas aqui temos um rastro. Antes de sair deixou o endereço... Agora, príncipe, sigamos a questão. Por que deixou ele um endereço? Por que propositadamente se desviou ele do caminho da saída direita, indo dizer a Nikolái Ardalionóvitch que ia passar o dia com Vilkín? Por que esse aviso? Não, aqui temos nós a astúcia, a astúcia de um gatuno! É o mesmo que dizer “Não encobrirei os meus traços de propósito; portanto, como serei eu o gatuno? Deixará dito um gatuno para onde foi?” Trata-se de um excesso de zelo para desviar suspeitas e para apagar, por assim dizer, as pegadas na areia... Está me entendendo, honorabilíssimo príncipe?
-  Compreendo, compreendo perfeitamente; mas isso tudo não basta.
- Um segundo rastro. A pista acabou se descobrindo que foi falsa, pois o endereço não é exato. Uma hora mais tarde, isto é, às oito horas, estava eu batendo à porta de Vílkin. Mora na Quinta Rua e eu também o conheço. Não havia sinal de Ferdichtchénko; e a criada que é surda como uma pedra, me disse que alguém tinha realmente batido uma hora antes e com tanta força que quebrara a campainha. Mas a criada não quis abrir a porta para não acordar o Sr. Vílkin e decerto não desejando tampouco se levantar ela própria.
- E é essa toda a sua suspeita? Não é muita. 
- Príncipe, mas de quem suspeitar, então? Julgue o senhor próprio concluiu Liébediev, com a máxima persuasão; e havia um brilho de qualquer coisa dissimulada em seu arreganho de dentes.
- Você deve dar uma batida em seus cômodos outra vez, e espiar gaveta por gaveta - aconselhou o príncipe, com certa veemência, depois de refletir um pouco. 
- Já revistei tudo - acentuou Liébediev, insinuando qualquer coisa mais.
- Arre! Por que diabo foi você mudar de casaco? - e Míchkin deu um soco na mesa com certo aborrecimento.  
- Ora, aí está uma pergunta parecida com uma outra em uma comédia fora da moda. Mas, bondoso príncipe, vejo que minha desgraça atingiu o seu coração. Não mereço isso. Quero dizer que sozinho não valho isso, mas o senhor ficou preocupado com o criminoso... Com este Ferdichtchénko, que não vale um caracol!
- Realmente. Você não deixou de me aborrecer. 

     O príncipe interrompeu-o com certa acrimônia e de um modo vago. - Que pretende então você fazer... já que está tão convencido de que foi Ferdichtchénko?

- Príncipe, honorabilíssimo príncipe, quem mais então poderia ter sido? - perguntou Liébediev, agitando-se com crescente persuasão.
- Conforme o senhor vê, a falta de mais alguém em quem me deter, e por assim dizer, a completa impossibilidade de suspeitar de quem quer que seja a não ser Ferdichtchénko, torna-se, por assim dizer, uma peça de convicção; a terceira, contra o mesmo Sr. Ferdichtchénko. Ora, pergunto eu, novamente, quem mais podia ter sido? O senhor não suspeitaria de Burdóvskii, a meu ver?!
- Que asneira!
- Nem do general! Ah! Ah! Ah! 
- Você está doido! - disse o príncipe, quase furioso, mexendo-se impacientemente no sofá. 
- Doido, não há dúvida! Ah! Ah! Ah! E ele me divertiu também. Refiro-me ao general. Fui com ele, ainda agora, quando a pista ainda estava fresca, à casa de Vílkin... e devo dizer-lhe que o general estava mais impressionado do que quando o acordei, o que aliás foi a primeira coisa que fiz, quando dei pelo extravio. A cara dele mudou. Ficou vermelho; depois, pálido. E por fim caiu em violenta indignação, e muito justa, como se antes de qualquer outra coisa eu tivesse suspeitado dele! É um homem honorabilíssimo. Frequentemente está contando mentiras, por fraqueza; mas é pessoa dos mais nobres sentimentos. Um homem, além disso, sem estratagemas, que inspira a maior confiança, por sua inteireza. Já lhe disse uma vez que o que sinto por ele não é só um fraco, é afeição! Inesperadamente ele parou no meio da rua, desabotoou o casaco, pôs o peito à mostra e berrou: “Reviste! Já que revistou Keller, por que não me há de revistar? O direito é isso!” Os seus braços e as suas mãos estavam tremendo; ficou completamente lívido. Olhava-me ameaçadoramente. Ri e disse: “Escute aqui uma coisa, general! Se alguém ousasse dizer tal calúnia do senhor, eu arrancaria minha cabeça com as minhas próprias mãos. Haveria de pô-la em uma bandeja e a levaria a quem desconfiasse do senhor. Está vendo esta cabeça? perguntaria eu. Pois é com ela que respondo por ele. E não é só isso. Caminharia dentro do fogo, por ele. Eis o que eu faria, general!” - disse-lhe eu. Então, ali em plena rua, ele me apertou nos braços, desfez-se em lágrimas; tremendo, e me ficou apertando tanto que me provocou tosse. “Tu és o único amigo que me resta no infortúnio!” disse. Aquilo é que é homem de sentimento. E, então, logo me contou ali mesmo uma anedota: que uma vez fora suspeitado, na sua mocidade, de ter furtado quinhentos rublos. Mas que logo no dia seguinte aconteceu que se precipitou por uma casa incendiada adentro, e extraiu das chamas para fora o conde que tinha suspeitado dele, e mais Nina Aleksándrovna que então era uma menina. O conde abraçara-o e disso proviera seu casamento com Nina Aleksándrovna. E mais ainda.., que, no dia seguinte, foram encontrar nas ruínas da casa uma caixa com o dinheiro dado como perdido. Era um cofre forte inglês, com uma fechadura com segredo e que tinha sido posto debaixo do assoalho, de maneira que ninguém notara, só sendo achado depois do incêndio. Uma mentira com todos os ff e rr. Mas, quando se referiu a Nina Aleksándrovna, aí não pôde, chorou. De fato, Nina Aleksándrovna é a mais respeitável das damas, apesar de estar zangada comigo. 
- Você não a conhece, não é?
- Muito mal, se tanto; mas gostaria, de todo o coração, quando mais não fosse para me justificar perante ela. Nina Aleksándrovna embirra comigo porque acha que eu desencaminho para a bebedeira o seu esposo. Mal sabe essa digna senhora que, longe de desencaminhá-lo, eu o refreio. O que venho tentando é tirá-lo da mais perniciosa companhia. De mais a mais, trata-se de um amigo, e confesso que não o quero abandonar, agora. De fato, justo e feito. Onde ele vai, lá estou eu. Pois o único meio de manobrar com ele é por intermédio da sensibilidade. Chegou até a desistir de visitar a viúva do seu capitão, agora, muito embora, secretamente, tenha saudades dela, afligindo-se muito, principalmente de manhã, quando calça as suas botas. Não sei em que pé se acha, presentemente Ele está sem dinheiro e isso atrapalha, pois como há de ir vê-la sem isso? Ele não lhe tem pedido dinheiro, honorabilíssimo príncipe?
- Não tem.
- É porque tem vergonha. Já deu a entender. Confessou-me, de fato, que pensou incomodá-lo, mas que se intimidou porque o senhor o obsequiou, não há muito: e além disso acha que o senhor não lhe daria. Disse-me isso como a um amigo. 
- Então você lhe dá dinheiro?
- Príncipe, honorabilíssimo príncipe, a esse homem não dei dinheiro apenas, mas, a bem dizer, a vida... Mas não, não quero exagerar, a minha vida não; mas se fosse um caso de febre, um abscesso ou mesmo uma tosse, estaria pronto a suportar no lugar dele; realmente o faria. Pois o considero como um grande homem, embora decaído! Sim, com efeito; e não dinheiro só!
- Então você lhe dá dinheiro? 
- N... ão; dinheiro não tenho dado. Não tenho dado. E ele está farto de saber que não darei, não. Mas isso tem sido somente com o ponto de vista de ajudá-lo em aperfeiçoamento e reabilitação. Agora está insistindo para ir comigo a Petersburgo, para encontrarmos o Sr. Ferdichtchénko enquanto a pista está fresca. Pois estamos cientes de que foi para lá. O meu general é todo impetuosidade, mas desconfio que o que quer é escapulir, até Petersburgo, para ir visitar a tal viúva. Vou deixar que venha comigo, de propósito, confesso, e que concordamos tomar diferentes direções logo que chegarmos lá, de maneira a apanharmos mais facilmente o Sr. Ferdichtchénko. Assim, pois, vou deixá-lo ir e depois lhe caio em cima inesperadamente, como neve sobre a cabeça, em casa da viúva, só para envergonhá-lo, como a chefe de família e como a homem, propriamente, falando de um modo geral.
- Mas ao menos não faça nenhum estardalhaço, Líébediev. Pelo amor de Deus, não faça nenhum distúrbio - disse o príncipe. abaixando a voz, com certa inquietação.
- Oh! Não. Simplesmente para envergonhá-lo e ver que espécie de cara ele faz, pois só pela cara se pode julgar muita coisa. estimado príncipe, principalmente em um homem como ele. Ah, príncipe, grande como é agora a minha preocupação, não posso ainda assim deixar de pensar nele e na reforma da sua moral! Tenho um grande favor a pedir-lhe, príncipe, e devo confessar que foi expressamente para isso que vim perante o senhor. O príncipe tem intimidade na casa dele, já morou mesmo com ele; se, pois, o senhor pudesse ajudar-me, honorabilíssimo príncipe. inteiramente por causa dele e de sua felicidade...
     
     E Liébediev não se conteve e juntou as mãos, como em súplica.

- Ajudá-lo? Ajudá-lo como? Acredite, estou fazendo todo o possível a ver se o entendo, Liébediev. 
- Foi inteiramente com esta convicção que vim até aqui. Poderíamos agir por intermédio de Nina Aleksándrovna, constantemente de olho nele e, por assim dizer, encaminhando-o para o seio da família. Não os conheço infelizmente. Contudo, Nikolái Ardaliónovitch adora o senhor, por assim dizer, com todas as fibras do seu coração juvenil, e ele poderia ajudar talvez...
- Meter Nina Aleksándrovna nessa história, não! Pelo amor de Deus! Nem Kólia, tampouco... Mas talvez eu ainda não tenha conseguido entender você, Liébediev. 
- Ora, não há nada que entender. - Liébediev ergueu-se de um salto da sua cadeira. - Simpatia, simpatia e ternura eis todo o tratamento que o nosso doente requer. O senhor me permite, príncipe, pensar nele como em um doente?  
- Sim, o que mostra a sua delicadeza e inteligência.
- A bem da clareza, devo explicar com um exemplo tirado da prática. O senhor vê a espécie de homem que ele é. A única fraqueza agora é para com essa viúva, que não lhe permitirá entrada sem dinheiro; e é em tal casa que penso descobri-lo hoje, para o seu próprio bem. Mas, supondo que não fosse só a viúva do capitão; supondo que ele tivesse cometido atualmente um crime, ou de qualquer modo uma ação desonrosa (do que aliás ele naturalmente é incapaz), mesmo então, digo eu, o senhor poderia fazer alguma coisa por ele, simplesmente por generosa ternura, por assim dizer, pois ele é o mais sensível dos homens. Acredite-me, não se conteria por cinco dias; falaria contra si mesmo; choraria e confessaria, principalmente se alguém trabalhasse com habilidade, e com um estilo honroso, por intermédio de sua acautelada família, e o senhor, em suas idas e vindas... Oh, caridosíssimo príncipe! - Liébediev caiu em uma espécie de exaltação.
- Naturalmente não estou afirmando que ele... Estou pronto a derramar minha última gota de sangue, por assim dizer, por ele, neste momento, muito embora a sua incontinência, a sua bebedeira e a viúva do capitão, e tudo o mais, em conjunto, possam levá-lo a..
- Em tal caso estou pronto a ajudá-lo - disse o príncipe, levantando-se.
 - Apenas confesso, Liébediev, que estou terrivelmente inquieto. Diga-me, você ainda... Em uma palavra, você mesmo disse que suspeita de Ferdíchtchénko... - Ora, quem mais? Sinceramente, príncipe? - e de novo Liébediev juntou as mãos, suplicamente, com um sorriso adocicado.

     O príncipe franziu a testa e se moveu do seu lugar. - Repare bem: um erro, Lukián Timoféietch, seria uma coisa terrível. Esse Ferdichtchénko... Eu não gostaria de falar mal dele... Esse Ferdichtchénko... ora, quem sabe, talvez seja ele... Quero dizer que talvez ele seja mais capaz do que... qualquer outro... 
     Liébediev esgazeou os olhos e apurou os ouvidos.

- Vê você - continuou o príncipe, mais carrancudo ainda e vacilando, à medida que passeava para cima e para baixo, pela varanda, esforçando-se por não olhar Liébediev -, procurarei fazer-me entender... Disseram-me a respeito do Sr. Ferdichtchénko que era um homem diante do qual a gente devia ter cuidado em não dizer coisa demais, está compreendendo? Digo isto para mostrar que talvez ele realmente seja mais capaz do que qualquer outro... É preciso, de toda maneira, não se cometer um equívoco, e essa é a principal coisa, está entendendo?
- Quem lhe disse isso a respeito do Sr. Ferdichtchénko? - jogou Liébediev, de repente. 
- Foi-me segredado isso... Eu próprio não acredito muito, contudo... E me amola bastante ter-lhe dito isso. Assevero-lhe que não acredito, eu próprio... deve ser leviandade de quem disse. Irra! Que estúpido fui!
- Vê o senhor, príncipe - disse Liébediev, contraindo-se todo -, isto é importante. Isto é importante exatamente agora. Não me refiro ao Sr. Ferdichtchénko. Refiro-me ao modo por que esta informação chegou ao senhor. - dizendo isso, Liébediev deu uns passinhos pela frente e pelas costas do príncipe, tentando emparelhar com ele - Tenho uma certa coisa a dizer-lhe, príncipe: ainda agora mesmo, quando eu ia indo com o general à casa de Vílkin, depois que me pespegou aquela léria do incêndio, ele estava fervendo, naturalmente, ainda com cólera; e sem mais aquela, começou a despejar a mesma suspeita a respeito do Sr. Ferdichtchénko, mas de um modo tão estranho e incoerente que não pude deixar de lhe fazer certas perguntas, e acabei me convencendo que toda aquela longa história não era mais do que uma inspiração apenas de Sua Excelência, erguendo-se, solitária, por assim dizer, do seu generoso coração. Pois ele mente inteiramente por não poder restringir a sua sentimentalidade. Agora, bondosamente considere o senhor isto: se ele mentiu, e tenho certeza que mentiu, logo não foi dele que o senhor ouviu o que há pouco me disse. Foi uma inspiração de momento, príncipe, compreende o senhor? Logo, foi outra pessoa que lhe disse aquilo!... Isto é muito importante... Isto é muito importante... Isto é muito importante... e... por assim dizer...  
- Foi Kólia quem me disse, ainda agora, e foi dito por seu pai nesta manhã, quando o encontrou às seis horas, entre seis e sete horas, no corredor, ao sair para qualquer coisa.

     E o príncipe contou a história, mais minuciosamente.

- Ah! Bem, isso é o que se chama um indício. - e Liébediev riu, sem fazer ruído, friccionando as mãos - Tal como eu pensei. Quer isso dizer que Sua Excelência acordou do seu sono de inocência às seis horas, expressamente para ir acordar seu dileto filho, e avisá-lo do grande perigo de se misturar com o Sr. Ferdichtchénko. Que perigoso homem não deve ser esse Sr. Ferdichtchénko! E que paternal solicitude, da parte de Sua Excelência!
 - Escute, Liébediev - o príncipe estava completamente atordoado -, ouça, guarde segredo absoluto sobre isso. Não faça clamor. Peço, exijo, Liébediev. Estou resolvido a ajudá-lo mas com a condição de ninguém vir a saber nada sobre este assunto.
- Fique tranquilo, boníssimo príncipe, muito leal e generoso príncipe - exclamou Liébediev em perfeito êxtase - Esteja tranquilo que tudo isso ficará enterrado em meu coração, que é um coração galhardo! Daria o meu sangue, gota a gota. Ilustre príncipe, sou uma pobre criatura quer de alma quer de espírito, mas pergunte a qualquer outra pobre criatura, a um tratante mesmo qualquer, com quem preferiria ele ter negócios, com um bandido de igual laia ou com um coração nobre como o senhor! E ele responderia logo que preferia a pessoa de coração leal, nobilíssimo príncipe! Ora, que significa tal opção? O triunfo excelso da virtude! Adeus, honorabilíssima Alteza. Cumpre agir de mansinho, muito em surdina, e... de mãos dadas...
 
Terceira Parte
O Idiota: Terceira Parte (9b) - Cumpre agir de mansinho
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