Cruz e Sousa
Obra Completa
Volume 1
POESIA
O Livro Derradeiro
NA MAZURKA
Morava num palácio – estranha Babilônia
De arcadas colossais, de impávidos zimbórios,
Alcovas de damasco e torreões marmóreos,
Volutas primorais de arquitetura jônia.
Assim, quando surgia em meio aos peristilos
Descendo, qual mulher de Séfora, vaidosa,
Envolta em ouropéis, em sedas, luxuosa,
Cercavam-na do belo os místicos sigilos!
E quando nos saraus, assim como um rainúnculo,
O lábio lhe tremia e o olhar, vivo carbúnculo,
Vibrava nos salões, como uma adaga turca,
Ou como o sol em cheio e rubro sobre o Bósforo,
– Nos crânios os Homens sentiam ter mais fósforo...
Ao vê-la escultural no passo da Mazurka...
O FINAL DO GUARANI
(Santos, 15 jul., 1883)
Ceci – é a virgem loira das brancas harmonias,
A doce-flor-azul dos sonhos cor-de-rosa,
Peri – o índio ousado das bruscas fantasias,
O tigre dos sertões – de alma luminosa.
Amam-se com o amor indômito e latente
Que nunca foi traçado nem pode ser descrito.
Com esse amor selvagem que anda no infinito.
E brinca nos juncais – ao lado da serpente.
Porém... no lance extremo, o lance pavoroso,
Assim por entre a morte e os tons de um puro gozo,
Dos leques da palmeira à nota musical...
Vão ambos a sorrir, às águas arrojados,
Mansos como a luz, tranquilos, enlaçados
E perdem-se na noite serena do ideal!...
IDEIA-MÃE
Laborare dignus est operarius mercede sua. (Aforismo Latino)
Ergueis ousadamente o templo das idéias
Assim como uns heróis, por sobre os vossos ombros
E ides através de um negro mar d’escombros
Traçando pelo ar as loiras epopeias.
A luz tem para vós os filtros magnéticos
Que andam pela flor e brincam pela estrela.
E vós amais a luz, gostais sempre de vê-la
Em amplo cintilar – nuns êxtases patéticos.
É esse o aspirar do séc’lo que deslumbra,
Que rasga da ciência a tétrica penumbra
E gera Vítor Hugo, Haeckel e Littré.
É esse o grande – Fiat – que rola no infinito!...
É esse o palpitar, homérico e bendito,
De todo o ser que vive, estuda, pensa e lê!!...
___________________
Sousa, Cruz e, 1861-1898 Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008. v. 1 (612 p.)
Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.
O diferencial mais arrojado desta organização reside na opção por buscar maior aproximação ao evoluir poético do instaurador do Simbolismo no Brasil. Seus poemas inéditos, na absoluta maioria anteriores à sua fase simbolista, foram aos poucos sendo recolhidos e publicados sob o título O Livro Derradeiro, que muitas vezes tem provocado interpretações errôneas. Se o livro foi o derradeiro na sua organização, os poemas não pertencem à última fase do poeta e não representam a madureza do pensamento e da arte poética do autor. Optamos, então, por colocar esse livro em primeiro lugar, antes da sua trilogia de livros simbolistas, que, estes sim, representam a arte madura do poeta.
______________________
Leia também:
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos I
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos II
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos III
Obra Completa
Volume 1
POESIA
O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos
Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos
OUTROS SONETOS
NA MAZURKA
Morava num palácio – estranha Babilônia
De arcadas colossais, de impávidos zimbórios,
Alcovas de damasco e torreões marmóreos,
Volutas primorais de arquitetura jônia.
Assim, quando surgia em meio aos peristilos
Descendo, qual mulher de Séfora, vaidosa,
Envolta em ouropéis, em sedas, luxuosa,
Cercavam-na do belo os místicos sigilos!
E quando nos saraus, assim como um rainúnculo,
O lábio lhe tremia e o olhar, vivo carbúnculo,
Vibrava nos salões, como uma adaga turca,
Ou como o sol em cheio e rubro sobre o Bósforo,
– Nos crânios os Homens sentiam ter mais fósforo...
Ao vê-la escultural no passo da Mazurka...
O FINAL DO GUARANI
(Santos, 15 jul., 1883)
Ceci – é a virgem loira das brancas harmonias,
A doce-flor-azul dos sonhos cor-de-rosa,
Peri – o índio ousado das bruscas fantasias,
O tigre dos sertões – de alma luminosa.
Amam-se com o amor indômito e latente
Que nunca foi traçado nem pode ser descrito.
Com esse amor selvagem que anda no infinito.
E brinca nos juncais – ao lado da serpente.
Porém... no lance extremo, o lance pavoroso,
Assim por entre a morte e os tons de um puro gozo,
Dos leques da palmeira à nota musical...
Vão ambos a sorrir, às águas arrojados,
Mansos como a luz, tranquilos, enlaçados
E perdem-se na noite serena do ideal!...
IDEIA-MÃE
Laborare dignus est operarius mercede sua. (Aforismo Latino)
Ergueis ousadamente o templo das idéias
Assim como uns heróis, por sobre os vossos ombros
E ides através de um negro mar d’escombros
Traçando pelo ar as loiras epopeias.
A luz tem para vós os filtros magnéticos
Que andam pela flor e brincam pela estrela.
E vós amais a luz, gostais sempre de vê-la
Em amplo cintilar – nuns êxtases patéticos.
É esse o aspirar do séc’lo que deslumbra,
Que rasga da ciência a tétrica penumbra
E gera Vítor Hugo, Haeckel e Littré.
É esse o grande – Fiat – que rola no infinito!...
É esse o palpitar, homérico e bendito,
De todo o ser que vive, estuda, pensa e lê!!...
___________________
Sousa, Cruz e, 1861-1898 Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008. v. 1 (612 p.)
Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.
O diferencial mais arrojado desta organização reside na opção por buscar maior aproximação ao evoluir poético do instaurador do Simbolismo no Brasil. Seus poemas inéditos, na absoluta maioria anteriores à sua fase simbolista, foram aos poucos sendo recolhidos e publicados sob o título O Livro Derradeiro, que muitas vezes tem provocado interpretações errôneas. Se o livro foi o derradeiro na sua organização, os poemas não pertencem à última fase do poeta e não representam a madureza do pensamento e da arte poética do autor. Optamos, então, por colocar esse livro em primeiro lugar, antes da sua trilogia de livros simbolistas, que, estes sim, representam a arte madura do poeta.
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Leia também:
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos I
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos II
Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos III
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