quinta-feira, 20 de julho de 2017

Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos IV

Cruz e Sousa

Obra Completa
Volume 1
POESIA



O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos

Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos




OUTROS SONETOS 








NA MAZURKA




Morava num palácio – estranha Babilônia 
De arcadas colossais, de impávidos zimbórios, 
Alcovas de damasco e torreões marmóreos, 
Volutas primorais de arquitetura jônia.

Assim, quando surgia em meio aos peristilos 
Descendo, qual mulher de Séfora, vaidosa, 
Envolta em ouropéis, em sedas, luxuosa, 
Cercavam-na do belo os místicos sigilos!

E quando nos saraus, assim como um rainúnculo, 
O lábio lhe tremia e o olhar, vivo carbúnculo, 
Vibrava nos salões, como uma adaga turca,

Ou como o sol em cheio e rubro sobre o Bósforo, 
– Nos crânios os Homens sentiam ter mais fósforo... 
Ao vê-la escultural no passo da Mazurka...






O FINAL DO GUARANI 
(Santos, 15 jul., 1883)



Ceci – é a virgem loira das brancas harmonias, 
A doce-flor-azul dos sonhos cor-de-rosa, 
Peri – o índio ousado das bruscas fantasias, 
O tigre dos sertões – de alma luminosa.

Amam-se com o amor indômito e latente 
Que nunca foi traçado nem pode ser descrito. 
Com esse amor selvagem que anda no infinito. 
E brinca nos juncais – ao lado da serpente.

Porém... no lance extremo, o lance pavoroso, 
Assim por entre a morte e os tons de um puro gozo, 
Dos leques da palmeira à nota musical...

Vão ambos a sorrir, às águas arrojados, 
Mansos como a luz, tranquilos, enlaçados 
E perdem-se na noite serena do ideal!...






IDEIA-MÃE
Laborare dignus est operarius mercede sua. (Aforismo Latino)



Ergueis ousadamente o templo das idéias 
Assim como uns heróis, por sobre os vossos ombros 
E ides através de um negro mar d’escombros 
Traçando pelo ar as loiras epopeias.

A luz tem para vós os filtros magnéticos 
Que andam pela flor e brincam pela estrela. 
E vós amais a luz, gostais sempre de vê-la 
Em amplo cintilar – nuns êxtases patéticos.

É esse o aspirar do séc’lo que deslumbra, 
Que rasga da ciência a tétrica penumbra 
E gera Vítor Hugo, Haeckel e Littré.

É esse o grande – Fiat – que rola no infinito!... 
É esse o palpitar, homérico e bendito, 
De todo o ser que vive, estuda, pensa e lê!!...






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Sousa, Cruz e, 1861-1898 Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008. v. 1 (612 p.)

Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.


O diferencial mais arrojado desta organização reside na opção por buscar maior aproximação ao evoluir poético do instaurador do Simbolismo no Brasil. Seus poemas inéditos, na absoluta maioria anteriores à sua fase simbolista, foram aos poucos sendo recolhidos e publicados sob o título O Livro Derradeiro, que muitas vezes tem provocado interpretações errôneas. Se o livro foi o derradeiro na sua organização, os poemas não pertencem à última fase do poeta e não representam a madureza do pensamento e da arte poética do autor. Optamos, então, por colocar esse livro em primeiro lugar, antes da sua trilogia de livros simbolistas, que, estes sim, representam a arte madura do poeta.


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Leia também:

Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos I


Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos II


Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos III


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