quarta-feira, 26 de julho de 2017

Festival Chaplin - O grande ditador

Charlie Chaplin - O grande ditador (1940)




"Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! 

Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos. 

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade!"

Charles Chaplin 









"O Brasil arrastava-se, mas agora erguer-se-á!
A democracia está podre!
A liberdade é detestável!
A liberdade de palavra é contestável!
Sacrifiquemo-nos para permanecermos grandes!
Apertemos os cintos!"

( a história não termina... só diz até breve.)






O Grande Ditador



1940 ‧ Drama/Comédia dramática ‧ 2h 6m

Um barbeiro judeu passa anos em um hospital do exército se recuperando de suas feridas após ter servido na guerra, sem saber do crescimento de poder do ditador fascista Adenóide Hynkel e suas políticas antissemitas. Quando o barbeiro retorna ao seu bairro tranquilo, ele fica atordoado com as mudanças…

Data de lançamento: 15 de outubro de 1940



Prêmios: New York Film Critics Circle Award de Melhor Ator





Personagens...


Charles Chaplin - Adenoid Hynkel / Barbeiro judeu

Jack Oakie - Benzino Napaloni

Reginald Gardiner - Comandante Schultz

Henry Daniell - Garbitsch

Billy Gilbert - Marechal Herring

Grace Hayle - Madame Napaloni

Carter DeHaven - Spook (embaixador bacteriano)

Maurice Moscovitch - Sr. Jaeckel

Emma Dunn - Sra. Jaeckel

Bernard Gorcey - Sr. Mann







Crítica

?Interrogação

O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin



Por Emanuela Siqueira



Em 1940 a Segunda Guerra Mundial estava há 5 anos de oficialmente terminar. Nesse ano o cineasta Charlie Chaplin lançava O Grande Ditador (The Great Dictator, USA, 1940), com um dos roteiros mais ousado, engraçado e com forte crítica social sobre esse momento que realmente marcou a história do cinema.

Logo nos créditos iniciais de O Grande Ditador somos avisados que a semelhança entre os personagens do filme com a realidade é uma mera coincidência, o que sabemos não ser verdade. Chaplin apresenta dois personagens fisicamente idênticos, mas em situações opostas. Adenoid Hynkel é o grande ditador da Tomânia, uma nação que afundada numa crise passa a crer em coisas como grandes líderes e raças superiores. Já o outro, o intitulado barbeiro de judeus (Carlitos), é o típico desajeitado que perdeu a memória na guerra e não entende o que está acontecendo em Tomânia e mais precisamente no gueto em que vive.

O enredo de O Grande Ditador é incrível, trazendo o paralelismo da vida dos dois personagens, ambos interpretados por Chaplin, que funcionam como caricatos cômicos das figuras centrais da época. Hynkel e o Barbeiro nunca se encontram, mas suas vidas estão interligadas, pois a vida de um sempre acaba estando em jogo com as decisões do outro.

Nas primeiras cenas vemos o personagem de Carlitos em meio a guerra, sempre perdido com cenas cômicas do front. Chaplin deixa claro a banalização com a seriedade da guerra e o mal uso das supostos poderes bélicos. Logo isso fica ainda mais nítido com as cenas de discussão, sobre acordos de “paz”, entre Hynkel e o narcisista Benzino Napaloni, ditador de Bactéria, uma clara referência entre a relação de Hitler com Benito Mussolini da Itália.

O Grande Ditador é cheio de cenas que remetem às situações de tensão que a Segunda Guerra Mundial causava e, Chaplin fez disso uma película em que tudo parece mais cômico se visto desse ângulo inocente que a comédia traz. Para reforçar os gestos caricatos dos dois personagens principais o diretor abusa das cenas longas, e um pouco exageradas, como os discursos fervorosos de Hynkel numa língua incompressível. O filme foi o primeiro do diretor usando o som das vozes. Chaplin acreditava que o som iria mudar o expressionismo do cinema, o tornando mais banal.

Na filmografia do diretor havia o clássico Tempos Modernos, de 1936, que já o mostrava como pai das sátiras sociais. Dizendo que a vida era uma comédia se vista de perto, fez de seus filmes obras de arte, sem nenhum tipo de gratuidade, e muito representativas sobre os fatos que estavam mudando o curso da humanidade. E mesmo com toda essa “leveza” Chaplin foi exilado dos EUA, por conta desse filme.

O Grande Ditador é um clássico pela criatividade e ousadia do diretor. Em um período em que as artes pisavam em ovos e o cinema era limitado pelo cinema-propaganda-totalitário, ele produziu/dirigiu/atuou em um filme que até hoje parece ousado demais, porém com a subjetividade suficientemente sensível para a época.

Enquanto, nesta época, muitos filmes, livros e obras americanos preferiam visar apenas o entretenimento, O Grande Ditador é marcado pela crítica social e falta de sentido do futuro. A arte da época foi marcada pelas caricaturas do que poderia vir a ser o futuro, como fica claro em outras obras do diretor e em obras literárias visionárias que retratam o totalitarismo como 1984, de George Orwell.







existe sentido num futuro sem solidariedade, um presente que vive do sofrimento dos outros? é assim que devemos viver ? um mundo de muros e guetos?





"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos - se possível - judeus, o gentio... negros... brancos. 

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades. 

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. 

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. 

Aos que me podem ouvir eu digo: "Não desespereis!" A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá. 

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! 

Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos. 

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! 

No décimo sétimo capítulo de São Lucas é escrito que o Reino de Deus está dentro do homem - não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder - o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto - em nome da democracia - usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice. 

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos."




Nenhum comentário:

Postar um comentário