domingo, 20 de maio de 2018

histórias de avoinha: - solta o negro nas ruas... e volta!

mulheres descalças


- solta o negro nas ruas... e volta!
Ensaio 121B – 2ª edição 1ª reimpressão

baitasar



Filho amado, pensa no seu pai. Ele é de grande importância na Polícia Pública onde desfruta da maior consideração e respeito, é bem verdade que ele foi desconsiderado e rebaixado, mas o mundo gira e hão de aproveitá-lo em lugar de maior importância. Peço todos os dias ao Nosso Pai misericordioso que ele recupere a maior importância que o seu pai já teve na Villa. É questão de tempo.

Será? Papai anda muito triste.

Eu sei, também percebi. Mas ficar triste vez que outra é da vida, tenho certeza que tudo isso vai mudar. A Villa precisa de homens como o seu pai. Ele é um homem de bem, determinado, corajoso e justo.

Eu sei, mãe...

Seu pai não deixa faltar nada em casa. E você, filho amado, não pode se queixar, parô dois ou trêis tempo pra respirá, num ia tê ninguém pra lhe acudí com essa conversa, procurô com os óio as suas trêis amada, elas ciscava nas terra do galinhêro, nehuma parecia tê interesse naquela trama, no modo de vê da dona jojô elas é quieta, pensativa e de pôca conversa, lembrô da visita, aquele num era assunto pra esmiuçá com acompanhamento da visitante do seu galinhêro, mais num podia deixá pra lá a deseducação do moleque, Tudo que você pede seu pai lhe compra, mas você precisa compreender que não podemos ter esse negro sem conhecer a procedência. É o mesmo que roubar!

Mãe, o pai está bebendo vinho em vez de água nem vai reparar.

siá joanna levantô a mão pra descê no fiu, mais siá georgina lhe segurô, Não faça isso, Jojô! o piá pareceu tê sido mais afetado pela rareza da mão da mãe qui subiu – mais num desceu pruqui foi segurada pelo grito da sua tia gegê – duqui com as palavra da mãe qui chegô inté ele

o piá num tava pronto pra largá as arma nem aliviá os abuso, deu otro puxão na sissal – ainda num aprendeu rangê os dente de brabo, mais vai aprendê – já tava chegando no tempo, pelo menos no jeito dele sivê, de exigí respeito pelo seu talento de caçadô, Mas, mãe... achado jogado na rua não é roubado, agachado feito vagabundo.

nos óio da mãinha anoitecia enquanto oiava pru fiu, tava na cara dele a determinação do pai, pensô silenciosa qui: A fruta não cai longe do pé.

Não, meu filho amado. Não podemos ficar com esse negro. Peça ao seu pai um negro mais novo e com aparência melhor. Tenho certeza que ele compra para você. Ele tem desempenhado com submissão, respeito e fidelidade seus serviços para as pessoas mais importantes da nossa Villa. Não seria de estranhar ele receber sem constrangimento um agrado, isso é normal, é assim mesmo. Mas desse seu jeito não pode e acabou-se!

oiava pru fiu com um sorriso tristonho, mais atenta em sua volta, siá joanna deu um passo pra tráis, pareceu sentí qui o ar no galinhêro tava abafado, pesado pru nariz e com gosto ruim pela boca, cruzô os braço

viu o fiu dá otro puxão na sissal e um passo pra frente

A senhora não entende, né?

num tinha como ela entendê, num queria entendê, dona jojô deu otro passo pra ré, só queria qui o chêro da dô do pretu, qui entrô no seu galinhêro como um monstro devorando tudo, fosse dali, dentro de um caixão ou arrastado, e mais nada. queria o seu galinhêro sereno e silencioso, como tava antes

ela num entendia qui o fiu num era mais um muriquinhu, agora tinha sangue nas mão

Não, meu filho. Eu não entendo.

amuié siá joanna pensô nas suas trêis menina, essas trêis lhe conhecia meió quiufiu, ele num tinha nem a metade das vontade de lhe agradá qui as suas menina tinha, tudo quiufiu pensava era pru pai, isso qui ele ainda num tava crescido nem pronto pra passá acima das vontade dela

Esse, o piá apontava com o dedo duro pru jaquín, peguei com uma corda, um chicote e as minhas mãos. Enfrentei o bicho sem recuar um passo, o ódio parecia tá crescendo em combinação com a vontade de fazê existí beleza na vida numa cô só; o bão, o belo e o verdadêro é o mundo dos branco, Não pensei em mim, só pensava em atacar. Na verdade, não parei para pensar. Foi um presente que recebi de Deus, e estava pronto. Sei que tomei a decisão certa, o piá continuava empinado com o resultado da sua emboscada, num cabia dentro dele mesmo, num ia deixá sua mãe estragá tudo, Adorei acabar com a vagabundagem desse criolo!

e a sissal agarrada – numa ponta na mão do piá e notra no pescoço do véio – ficô retesada com o puxão da mão e a relutância do gargalo do jaquín qui fincô as raiz dos pé no chão. a sissal apertô e jaquín ficô sem respiração, mais num deu um passo pra frente. inté qui a corda balançô pelo alívio da força do piá em retesá a sissal

Isso foi formidável, meu filho. Mas você não pode ir pegando tudo que encontra jogado nas ruas.

siá gegê deu um passo atráis, tava assustada com a insistência do mulecote. ele continuô teimá. siá jojô continuô dizê pra ele devolvê o pretu pru lugá onde achô. a gêmea solterôna deu otro passo pra tráis sem oiá... queria ficá mais de longe, num viu quando pisô na felisaberta

o alvoroço qui se mostrô no galinhêro da siá joanna foi pra dá inveja aos inferno qui o padinhu anuncia nas missa dominguêra. a desarrumação foi tão grande qui a felisaberta num achava o caminho pru paraíso dos braço da sua mãe de proteção. vai sabê uqui passava nas cabeça do galinhêro, inté pode qui as trêis irmã avisava aos grito, Ela voltô sê humana cócócócó, A vontade selvagem de matá cócócócó, O prazê de matá cócócócó, Vamos todas pra panela cócócócó, Nada dura para sempre cócócócó!

Georgina! O que vosmecê fez!?

a rival de nascimento num respondeu logo, inclinô pru lado, mais num mexeu os pé, desceu as vista na sua volta. naquele momento, viu qui a sua meió amiga num era só chata, ela era muntu só, o amô pelas galinha era muntu estúpido, passava demais da preocupação da vida com a vida, mais num disse uqui pensô, só lamentô

Perdão, Joanna! Eu não vi a coitadinha... e esse negro fedido me assusta tanto...

num sabia se as suas desculpa foi escutada nem se foi aceita, então foi atacada pelo pavô de perdê a sua meió amiga. pensô em abraçá dona jojô, deixá ela adormecê no seu colo, como faziam na juventude de beijos e carícias escondidas de todos. tava pensativa e calada, num sabia se tava com pena dela mesma ou das galinha ou da amargura da vida da meió amiga

Minhas queridas! Mimosas! Venham aqui com a mamãe, dona jojô catava as assustadas crias do seu descampado de vida, Venham com a mamãe, venham...

Perdão, Joanna... perdão...

dona gegê tava muntu preocupada e cogitô dá otra galinha pra amiga, no vê dela era justo qui dona jojô fosse recompensada, só num podia dá reparação praquilo qui lhe faltava de verdade

Vou lhe dar outra galinha, Joanna, ofereceu um presente pru descarrego da sua consciência culpada, como a obrigação da visita qui quebrô uma porcelana na casa da visitada e combina fazê um repositório, mas não sei como fazer essa reposição. Devo trazer alguns pintinhos para vosmecê escolher, minha amiga?

Vosmecê está louca? Por acaso, quando um filho adoece ou está ferido a mãe suplica por um outro filho? Não! Uma mãe de verdade não desiste do seu filho, mas vosmecê não pode saber, é uma solteirona sem filhos. Ninguém lhe quer nem os filhos que não lhe nascem, só essa sua amiga aqui ainda lhe quer, dona gegê num disse mais nada, no modo de vê dela, a amizade num pode vivê só da agonia e das reclamação intepestiva. achô meió guardá pra ela as incomodação qui sentiu com as palavra demasiada da dona jojô. e no caso do falecimento da anacleta – ou teria sido a perpétua? ou a felisaberta? o pisão foi grave? – decidiu esperá passá o tempo do luto pra oferecê reposição pru galinhêro. num tem milagre... se a galinha já se foi num tem volta

a chuva lava, o vento seca e o tempo cura

o muleque qui assistia tudo com tédio e aborrecimento pensô se oferecê pra ajudá na captura. tinha prática em cercá, acuá e aprisioná, Primeiro, é preciso saber ameaçar com a atiradeira até a fugitiva ficar enfiada, num canto qualquer, assustada e empacada. Não é preciso ter afobação, o muleque tem razão, tudo qui é do pó volta pru pó, É só assustar um pouquinho. A morte vem para todos, mas os amedrontados morrem na véspera. Depois é só jogar a laçada da sissal no pescoço e apertar. O sufoco do aperto é para o bicho se acalmar. Apertar o pescoço não falha. Mas é preciso saber o tempo de afrouxar o laço para o caso do negro precisar se recuperar do desfalecimento.

a chuva, o vento e o tempo

quanto mais dona jojô oiava pru fiu mais ela ficava convencida qui num conhecia ufiu, num sabia se ele era mau ou malcriado

Do quê você está falando, meu filho?

Mãe, eu posso ajudar. Sou muito bom com a laçada da sissal.

siá joanna qui num queria pensá otra coisa qui abraçá a felisaberta, muntu menos queria sabê de vê sua fia agarrada pelo pescoço, oiô com toda descompostura pru fiu, tinha esse oiá guardado prus momento do desespero, usô do grito e desprezo qui nunca usô, mais teve qui usá

Tira esse animal nojento da minha casa!

Mas, mãe...

o tempo das conversa da mãe com ufiu tinha acabado. o moleque aprendia qui o momento errado e as palavra errada podia fazê ele mordê a língua. repetiu qui só tinha feito oferecimento do meió uso qui sabia fazê: cercá e prendê

Agora!

o mulecote estalô o chicote no chão de pedra com munta raiva. ele sabia qui nasceu pra isso, queria sê isso: pulícia pública, como o pai, Afinal de contas, meu filho, um bom polícia precisa fazer apenas duas coisas direito: viver e prender!

ora soltava, ora puxava a sissal agarrada na volta do pescoço do pretu benguela. o sofrimento do jaquín é tão grande e forte quanto é desumana a realidade, num tem cura a dô qui cresce do martírio desalmado

Estou indo, mãe...

Solta esse negro na rua e volta!

o chicote voltô estalá no chão das pedra do pátio, Cuidado, Jaquín! Muntu cuidado, o aviso do abicu num conseguiu alertá o pretu benguela cum tempo de preparo pra defesa, na verdade, num tinha como o pretu agarrado pelo pescoço, sem fôlego e sem uso das mão fazê alguma coisa. depois de estremecê o chão com as tira do chicote, o muleque desalmado estalô as tira nos ombro e nas anca do jaquín, os golpe era dado à esmo, inté qui acertô na cabeça e puxô do lugá um dos óio do jaquín

Anda... criolo vagabundo!

o mulecote perdeu os cuidado, o estouro do ódio nas mão do piá armado se preparava pra matá o pretu véio benguela de nome jaquín. munta raiva da mãe e da visita e das galinha e dos pretu, munta raiva de tudo qui num deixava o mulecote crescê como ele qué

jaquín caiu na rua sem um grito, um pretu muntu pôco conhecido na villa, mais, pelas marca qui carrega no corpo, um pretu muntu usado e castigado. uma das mão ensaguinhada apertava a vista ôca enquanto a otra empurrava o chão da rua pra ele subí nas perna. num era só a dô qui ele carregava, podia vê o seu caixão de pano e barro, mais num queria saí sem o seu ôio

O macaco está esperando o quê?

Siôzinho!...

O que foi, Eurásia?

a dô e a raiva sacudia e tremia o corpo do pretu jaquín com a lembrança de tanta vida qui num teve, no coração só as tortura, os dente qui sobrô rangia, a língua parecia em carne viva de tanta vontade de dizê as palavra qui nunca foi dita, os ombro dobrado pelo peso do cativêro. cuspiu sangue no chão, ardia de desejo da libertação pela morte, tem coisa qui o tempo num cura, o vento só espáia nos óio e a chuva afunda

A siá Joanna lhe chama...

o piá soltô sem gosto de soltá a sissal, pisô na vista cega do jaquín e estalô otra veiz o chicote nas perna do pretu com um ôio só

... siôzinho, a siá sua mãe lhe chama!

Some daqui, criolo safado! Volta à África! Outro macaco que não tem mais serventia...

o pretu jaquín tropeçava um passo depois otro, a sissal agarrada no pescoço seguia arrastada nas pedra do beco, os dois seguia no rumo das rua. o mulecote num conseguiu segurá o riso e o suspiro da satisfação qui sentia pelo corpo, Acho que me saí bem, falô pra ele mesmo

oiô mais otra veiz pru benguela, firmô as vista inté ele dobrá a esquina do beco, O safado vai na direção da praça, jaquín queria o rumo da praça dos tabulêro

Siôzinho, a siá sua mãe...

oiô cruamente calmo pra eufrásia, num reclamô da descontinuação da tortura, mais deixô claro qui o jaquín e a felisaberta era coisa e bicho qui é pru dono fazê uqui é meió pru dono, pru muleque quem tem dono precisa licença pra tê vida

Tudo parado por nada, uma galinha que melhor ficaria na mesa do almoço e um criolo que respira, mas não tem vida, num queria dizê qui tava desgostoso pruqui perdeu a bucha pra praticá meió o uso do chicote, só pelo prazê de praticá, Mãe! Voltei...

Ainda bem, meu filho. A mamãe estava preocupada.

Não era preciso ter preocupação...

Você está bem, meu filho?

Sim. E por aqui, ficou tudo bem?

Graças à Deus, ninguém se machucou.

Então, tudo foi só um susto...

Sim.





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