Você fica tão
sozinho às vezes
que até faz sentido
os vivos sufocaram o
coração
de vez
dirigindo no inferno
as pessoas estão exaustas, infelizes e frustradas, as pessoas estão
amargas e vingativas, as pessoas estão iludidas e temerosas, as
pessoas estão enraivecidas e pouco imaginativas,
e eu dirijo entre elas na autoestrada e elas projetam
o que resta de si mesmas no modo como dirigem -
algumas mais odientas, mais frustradas do que as outras -
algumas não gostam de ser ultrapassadas, algumas tentam impedir que outras
as ultrapassem
- algumas tentam bloquear trocas de faixa
- algumas odeiam carros de um modelo mais novo e mais caro
- outras nestes carros odeiam os carros mais velhos.
a autoestrada é um circo de emoções baratas e mesquinhas, é a
humanidade em movimento, seus motoristas vindo na maioria de algum lugar que
detestam
e indo para outro que detestam na mesma medida ou
e indo para outro que detestam na mesma medida ou
mais.
as autoestradas são uma lição sobre aquilo em que nos transformamos e
os acidentes e as mortes são na maioria uma colisão
de seres incompletos, de vidas lamentáveis e
dementes.
quando dirijo pelas autoestradas eu vejo a alma da humanidade da
minha cidade e ela é feia, feia, feia: os vivos sufocaram o
coração
de vez.
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Charles Bukowski nasceu a 16 de agosto de 1920 em Andernach, Alemanha, filho de um soldado americano e de uma jovem alemã. Aos três anos de idade, foi levado aos Estados Unidos pelos pais. Criou-se em meio à pobreza de Los Angeles, cidade onde morou por cinquenta anos, escrevendo e embriagando-se. Foi um poeta, contista e romancista estadunidense nascido nos bares cabarés sarjetas bancos de praça corridas de cavalo. Ao longo de sua vida, publicou mais de 45 livros de poesia e prosa. Morreu de pneumonia, decorrente de um tratamento de leucemia, na cidade de San Pedro, Califórnia, no dia 9 de março de 1994, aos 73 anos de idade, pouco depois de terminar Pulp.
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