quarta-feira, 28 de agosto de 2019

histórias de avoinha: o merdêro

mulheres descalças


o merdêro 
Ensaio 128E – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar




os grito na praça subiu o ódio, junto tumbém subia os assubiu da encantação com o sofrimento do pretu – num ia tê tanto grito, tanta provocação se o acorrentado fosse branco, num é?  na calunga pública dos enforcado, o anoitecê da escuridão tráis junto o perigo do linchamento e morte com munta dô e sofrimento pru acorrentado

ali, tava eles tudo na encruzilhada da praça, os abicu tumbém tava ali, eles sempre tá, é bão tá se acostumando com eles nas fresta, agarrado nas mandinga daquele tempo desencarnado da vida com poesia pra todas vida

enquanto isso o barão esperava os grito se acalmá, num aceitô as provocação do moringue, sentia usóio da preta ayomide nas suas costa qui lhe empurrava, Ah, baronesa Maria Clara, vosmecê me coloca numa esquina perigosa. Faço tudo para não perder vossos encantos do amor, dormir no seu colo, gostoso demais ser o seu brinquedo. A baronesa não me deixa curvar, inté qui respirô fundo e continuô a mesma toada

Mas afinal, Moringue... qual é a acusação?

o julgamento público quias gente tanto queria tava começado, bem ali, na encruzilhada da calunga pública, e pelo qui podia parecê, só tinha juiz acusadô medíocre e repugnante, tudo com opinião, juízo e sentença pronta – o ódio vadiando e esculhambando a justiça –, eles nem se incomodava de cuidá das aparência daquela violência qui faz tê mais injustiça e desarmonia

as gente de bem, demente à deus, num queria qui aquele linchamento fosse chamado linchamento, mais linchamento é uqui era, tudo ali, na praça pública, tava feito pra destroçá qualqué encantamento com as justiça igual pra tudo, um ajuntamento pra destruí a vida

e num é cisma, é só querê vê

o pretu acuado, sem podê dizê ou gritá da confusão toda – a bola de pau enfiada na boca tapava inté a vontade de respirá, uma máscara mordaça qui foi atada atráis do pescoço –, sem podê esquivá ou corrê ou mesmo se frouxá nas perna sem caí na terra, tava com todo fardo da canga apoiado nos dois pé descalço

os pé fincava as perna do corpo pretu no chão adentro, o curação apavorado com o pavô daquele emaranhado de gente gritando com as mão carregada das pedra pra sê atirada

ele sabe qui no fim do caminho vaisê amarrado no tronco, marcado com as pedra, pau, as tira do açoite, depois vai ficá esticado na árvore dos enforcado inté secá e sê esquecido – ah, o esquecimento é o tarado da maldade e da mentira, o desvio da vida, o abismo entre a verdade e a justiça dos branco qui qué dobrá a morte como uma dô qui se cura no esquecimento e jura qui num aconteceu nada demais; assim, eles aperta o gargalo da boca, num tolera as palavra encantada qui inventa otro mundo –, sabe qui no fim do caminho vai sê amarrado no tronco inté sê esquecido no pó do tempo

uns fica nervoso pruqui num tem uqui comê e cospe nele, otros fica impaciente de tanto querê matá e grita nele, mais só ele num dorme e num esquece

a praça perdeu o sabô do lugá das provocação, virô calunga, o cemitério dos morto, onde os costume da tradição grita com toda força, Enforca! Enforca!

o moringue apreciava tudo aquilo

É tanta acusação, sinhô Barão, o barão firmô bem as vista no moringue, antes de provocá as palavra da mentira

nas fresta da praça, os caramadinhu adiava o juízo do fim com seu riso e as batida das palavra no vento


tutu tutu tu tutu tutu tu
ê ei ei ê ê ei ei ê
lê lele lê lele
mara mara maracatu
eu vô dizê pra teresa
eu vô dizê pra teresa
qui eu quero vê
a vida vivê

caxixi baião alfaia panderão xequerê maringá reco-reco ganza atabaqui berimbau surdo marimba

o moringue num deu suspiro, só colocô as vista fincada no barão, tava deliciado de sê o meio de tudo na praça

Pois comece por alguma acusação..., atiçô o barão

os dois ficô tão perto qui a sombra dum virô a sombra dotro

Injúria, má vontade, sabotagem ao trabalho, parô as palavra própria pra escutá a influência no ânimo e desassossego da gentarada na praça, ficô satisfeito com a agitação, os grito e os assubiu, sabia uqui aquelas arraia-miúda quiria escutá, o sorriso maldoso mostrava uqui ele pensava, num precisava nem dizê, era só pensá, Cuidado, Barão... esse é o meu chão do conhecimento, aqui não conta a verdade; muito menos, a justiça. Eu sou a verdade e a justiça. Esse ódio todo em estado puro só diminui com sangue derramado, a lógica é essa mesma. E eu sou quem vai lhes oferecer a carne preta em ofertório. Não acho conveniente vosmecê virar valente. Ainda mais, que a sua companhia na cama é essa negrinha. Vosmecê corre muito risco. Usar e abusar das negrinhas é uma coisa, mas fazer da negrinha sua baronesa é pura ilusão que as vibrações na Villa serão boas, e não para por aí...

E qual seria o trabalho do negrinho, tornô prugunta o barão

o moringue ergueu os ombro e a torcida parô a respiração

Pode ter certeza que coisa pouca não é...

Então, continue...

Esse negrinho criminoso, parô as palavra pra dá cisma de curiosidade e deu dois passo pra tráis, subiu as palavra pra anunciá em todo estádio, vestido de trapos, pode não parecer, mas é o pior de todos, se vosmecê ou qualquer um aqui, na Villa, não tomar as precauções necessárias, ele corta a garganta de um lado ao outro!

Então ele cortou a garganta de alguém?

Não...

Não entendi...

Não cortou, mas pode cortar!

E está acorrentado porque poderia ter feito, mas não fez? Entendo... e ele não sabe falar?

Para quê? Desde quando é preciso ouvir um negro para aplicar um corretivo?

Mas...

Não sei se sabe falar! E se sabe, o que adianta? Não se diferencia do bugre mais selvagem. Não são gente, barão! Não têm alma, os murmúrio na alcateia fechava mais o cerco

os caramadinhu com seu riso e as batida das palavra no vento abria o cerco

na praça do pelôrinho o bão convivi com o mau, mais num deve dá medo de entrá no lugá ah bati marimba camará

Sim... mas o que seria o uso do negrinho?

essa prugunta provocô tanto riso qui chacoaiô a encruzilhada da calunga

Era o merdeiro...




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