QUEM Manda, POR QUE Manda, COMO Manda
João Ubaldo Ribeiro Para meu amigo Glauber
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Ideologias e a vida de todo dia
Assim como todos nós somos políticos de uma forma ou de outra,
todos nós temos uma ideologia, de uma forma ou de outra. É claro que
ideologia é uma palavra “difícil” e então não esperamos que a cozinheira
tenha uma ideologia, o porteiro do edifício tenha uma ideologia ou até
nós mesmos, que estamos preocupados com o feijão de cada dia,
tenhamos uma ideologia. Isto porque, devido a uma série de fatores,
esquecemos (ou nunca aprendemos) que a sistematização dos fatos, feita
pelos cientistas ou estudiosos, não passa, por mais complicada que
pareça, disto mesmo — de sistematização dos fatos. As coisas acontecem,
inventamos regras e métodos para estudar essas coisas, damos nomes a
elas, vemos como elas se inter-relacionam, surpreendemos algumas “leis”
aqui e ali, vamos procurando entender, da melhor forma possível ou
aceitável.
Com o tempo, um estudo tão aplicado começa a ser inacessível para
aqueles que não se dedicaram muito a ele. É por isso que não entendemos
de medicina, de direito ou de matemática — a não ser, é claro, que
sejamos médicos, juristas ou matemáticos. Quando nos dedicamos a uma
área especializada do conhecimento, vamos descobrindo coisas — e
relações entre essas coisas e relações entre as relações — que nos obrigam
a procurar designá-las por nomes especiais, facilitando o trabalho e a troca
de informações sobre esse trabalho. Cada nova geração que vai chegando
vai herdando esse patrimônio de conceitos e palavras e vai tentando
aperfeiçoá-lo, modificá-lo, revê-lo e assim por diante. Então, não existe
nada de intrinsecamente difícil em “ideologia”, nada de tão especial assim.
Ela é simplesmente a palavra usada para descrever um fato, ou conjunto
de fatos, que é parte integrante de nossas vidas, sendo mesmo difícil
conceber um ser humano que não abrigue alguma forma de pensamento
ideológico.
Mas tudo neste mundo é complicado, quando pensamos bastante.
Nada mais simples do que entender que, ao ser riscado, um fósforo se
acende. É o produto do atrito da lixa contra a cabeça do fósforo. Mas por
quê? Porque a lixa gera calor ao ser atritada contra a cabeça do fósforo e
este se acende. Mas por quê? Porque há uma mistura química na
cabeça do fósforo que se incendeia, quando lhe aplicam calor. Mas por
que se incendeia? Porque tem a capacidade de fazer o combustível (a tal
mistura química) reagir com o comburente (o oxigênio do ar), gerando
fogo. Mas por quê? Porque as moléculas de oxigênio são muito ativas e, se
provocadas suficientemente, reagem com outras moléculas. Mas por quê?
Porque...
E por aí vamos, numa sucessão interminável de perguntas, que
acabarão por nos deixar com as indagações de sempre a respeito do porquê
de todas as coisas, com ramificações cada vez maiores. Somos obrigados a
rotular todos os fenômenos que surgem das relações observadas, numa
busca interminável de entendimento. Porque rotulamos e porque vamos
ficando cada vez mais envolvidos em nossas perguntas e nossas
perplexidades, acabamos por dar a parecer que as coisas são os nomes
que lhes damos. E chegamos mesmo a achar que só quem percebe ou
entende aquelas coisas são os que entendem daqueles nomes. Num
passo adiante, chegamos a achar que aquelas coisas até só existem
para quem entende dos nomes que foram inventados para elas. E daí
para pensarmos tanta besteira inútil, o caminho é muito curto.
O fato é que a ideologia é uma coisa que existe, como todas as
outras, independente do nome difícil que damos a ela. A ideologia é
uma maneira de pensar, uma espécie de “fôrma” na qual moldamos o
mundo. E existe em cada um de nós, embora, depois que inventamos
a palavra e ela nos ajudou a raciocinar mais claramente sobre os
fatos a que se aplica, ela tenha saído de nosso controle e virado uma
palavra difícil, que hoje designaria alguma coisa estrangeira a nós.
Para que entendamos o que é ideologia, a maneira mais fácil é
voltar à nossa estimada comunidade de Ugh-Ugh. Lembremos que,
depois de uma série de acontecimentos em Ugh-Ugh, a maneira de
ver o mundo e interpretar os fatos, antes comum a todos os membros
da coletividade, começou a mudar, de acordo com a posição de cada
um no sistema socioeconômico. Não é necessário repetir o que já
falamos, mas é claro que a maneira de ver o mundo de um escravo
ugh-ughiano não seria a mesma que a de um membro da elite
dominante. Está aí a raiz, o principal fato gerador da ideologia. Mas
ela vai além, necessariamente, porque sempre envolve uma teoria.
Isto acontece porque uma maneira de ver o mundo não pode deixar
de ter feição globalizante, de procurar encontrar uma lógica para
toda a gama observável de fatos, sob o risco de tornar-se incoerente e
insatisfatória. A ideologia incorpora sempre uma teoria sobre o
mundo, uma explicação totalizante. Não é fácil — alguns dirão que é
até impossível — fazer uma distinção estanque entre ideologia e
teoria, mas no campo da Política podemos ficar sossegados. Pois a
Política, como vimos, só se faz na ação; Política é ação. Neste caso,
uma teoria que seja posta em ação concreta numa sociedade —
seja modificando-a, seja apenas constituindo uma de suas “forças” —
assume caráter ideológico. No nosso exemplo ugh-ughiano, é evidente que
a maneira de pensar do dominante é uma ideologia conservadora. Ela age
para conter, de várias formas, as manifestações da contradição entre
escravos e senhores. Por outro lado, a ideologia do escravo só pode ser
reivindicatória ou revolucionária. Ela não quer conservar nada, quer
mudar a situação.
Se a ideologia envolve uma teoria sobre o mundo, podemos também
imaginar um ou dois aspectos dessa teoria em Ugh-Ugh, somente para
ilustrar. Por exemplo, o senhor de escravos poderia desenvolver, em
conjunto com outros membros de sua classe, a tese de que, efetivamente, o
homem, como todos os animais, se destaca sobre seus semelhantes por
sua superioridade quanto a características que realmente importam, como
força física, inteligência, habilidade etc. Portanto a superioridade de uns
sobre outros não é apenas natural como inevitável, e a superioridade é
demonstrada quando se vence o outro, por qualquer meio. A
superioridade, por outro lado, careceria de sentido se não fosse usada
em benefício dos superiores. Assim, escravizar os inferiores, para que
façam o trabalho de que os superiores não gostam e que os torna ainda
mais ricos (e mais superiores, claro), é parte da ordem natural das coisas.
Com isto, aliás, faz-se um benefício muito grande aos escravos, pois do
contrário eles teriam simplesmente que ser exterminados. E, como se vê,
executam com perfeição seus trabalhos manuais, provando sua aptidão
natural para esse mister, enquanto, se um senhor for tentar o mesmo
trabalho, não conseguirá fazê-lo ou o fará mal, o que também corrobora a
tese.
Enfim, se continuarmos a desenvolver esta maneira de pensar, não
terminaremos nunca, porque ela acaba por estender-se sobre todos os
aspectos da vida. Esta é uma maneira ideológica de pensar, ver as
coisas e expressar-se, maneira ideológica muitas vezes tão disfarçada
que precisamos aguçar a sensibilidade para aprender a flagrá-la em
nossa própria experiência cotidiana. Se hoje não há, de modo geral,
escravos como havia em Ugh-Ugh, há inúmeras outras situações
odiosas que também são defendidas e mostradas como necessárias,
como decorrência lógica dos fatos.
A ideologia, por conseguinte, está relacionada com a existência
de classes sociais. A noção de classe social é muito complexa e há
todo um ramo da ciência da sociedade dedicado a ela e a fenômenos
correlates — o estudo da estratificação social. Normalmente, as
pessoas acham que classe é a palavra adequada para designar
grupos de natureza diversa, como os médicos, os padres, os militares
e assim por diante. Na verdade, esses grupos não são classes sociais,
são grupos ocupacionais. Isto porque a classe social se define em
termos econômicos. Há muitos critérios para essa divisão, mas o mais
abrangente é o que coloca os grupos de indivíduos em relação à
natureza da economia em que eles existem. Se a economia, por
exemplo, se baseia em que há alguns indivíduos que são
proprietários dos meios de produção e outros que operam esses
meios mas não os possuem, aí está uma divisão clara de classes,
como em nossa Ugh-Ugh escravagista. Ou como em nossa sociedade
de hoje, em que a maioria é assalariada ou desempregada e a minoria
assalaria.
Isto, entretanto, não é suficiente para que tenhamos ideia de
como a consciência do indivíduo, seu conhecimento e seu pensar
sobre o mundo são condicionados pelas circunstâncias concretas de
sua existência. Em primeiro lugar, mesmo que admitamos que a
classe social é o fator mais importante, não podemos negar
relevância a outros condicionantes, inclusive o próprio grupo
ocupacional, tão confundido com classe. Alguns desses grupos, como
o dos militares, têm uma especificidade muito grande. Os militares
não são, como vimos, uma classe social: um pode ser filho de
banqueiro, outro pode ser filho de bancário. Entretanto, as
características de sua formação profissional e de seu trabalho, a
maior parte delas imposta num processo autoritário e rigidamente
disciplinado, lhes dão certas particularidades de comportamento e
raciocínio que não podem ser ignoradas. A mesma coisa acontece, em
maior ou menor grau, com outros grupos ocupacionais. Na realidade,
é tão vasta a gama desses “condicionantes de consciência” que todo
um ramo da sociologia — a sociologia do conhecimento — se dedica a
seu estudo.
Em segundo lugar, as classes sociais e o número de
denominadores comuns que, nas sociedades de hoje, podem unir as
pessoas, sob diversos critérios, não são tão simples ou esquemáticos,
como se pode haver entendido do que se disse acima. É claro que,
entre assalariados, existe uma enorme diferença quando um deles
ganha cem salários mínimos e o outro apenas um. Da mesma forma,
um proprietário de terras pode sustentar divergências inconciliáveis
com um industrial. Assim, mesmo achando que o esquema básico,
numa sociedade como a nossa, é dicotômico — quer dizer, num
sistema capitalista há essencialmente capitalistas e não-capitalistas —,
não podemos perder de vista o fato de que isto está longe de ser
suficiente para nos fornecer todas as variáveis em jogo na formação
do pensamento ideológico.
A assunção de uma ideologia, porém, não deve ser encarada
como algo mecânico. A educação, se pensarmos com vagar, tem
caráter ideológico, pois através dela são incutidos valores
politicamente significativos. Mas a educação não é dada “com um olho
na ideologia”. O processo se automatiza, torna-se quase insensível,
intangível às vezes. Também não se pode esperar que pertencer a
uma classe social definida determine nossa maneira de pensar e agir
politicamente. Isto porque, como suspeitamos antes, há inúmeros
fatores que podem, de certa forma, bloquear a consciência de nossa
situação e induzir a que vejamos como nossos os interesses da classe
oposta. O ser humano, além disso, não é uma máquina que reage
mecanicamente da mesma forma ao mesmo comando, nem um animal que
funcione à base de reflexos condicionados (embora haja quem pense o
contrário entre os psicólogos), de maneira que a formação do pensamento
ideológico não é um processo singelo.
Finalmente, também não se deve esperar que aquilo que
poderíamos chamar, para facilitar, de “ideologia básica” assuma sempre a
mesma aparência. As “ideologias básicas”, numa sociedade capitalista,
seriam a dos proprietários dos meios de produção e as dos não-proprietários — capitalistas e não-capitalistas, assalariadores e
assalariados, burgueses e proletários ou como se queira chamar os dois
polos de nosso esquema dicotômico (na verdade, os especialistas
costumam discutir muito os conceitos designados por essas diferentes
palavras, mas você pode pensar neles depois, se quiser tornar-se um
especialista). Já vimos como as sociedades de hoje são excessivamente
complexas para que esse esquema se revele esclarecedor, em primeiro
lugar. Em segundo lugar, podemos, por exemplo, dizer, a respeito do
nazismo e do liberalismo, que são ambos a ideologia da classe dominante
capitalista e podemos até nos divertir, fazendo analogias entre eles. Mas a
verdade é que o nazismo e o liberalismo são completamente diferentes um
do outro, não perseguem os mesmos objetivos políticos, não utilizam os
mesmos métodos. Ou seja, precisamos sempre “refinar” a ideologia básica,
para entendermos as muitas formas que assume — exercício que não é
meramente acadêmico, mas tem influência sobre nossa vida e nosso
destino.
Em processo inverso, podemos sempre procurar, quando
desejarmos, fazer uma “redução” à ideologia básica, de qualquer
proposição. Quando ouvimos ou lemos alguma afirmação, podemos
endereçar a ela umas tantas perguntas. Que consequências concretas
(muitas vezes não explícitas, ou mesmo ocultadas pelo autor da
proposição) tem a aceitação dessa maneira de pensar ou dessa opinião?
De que depende, para ser válida? A quem, em última análise, interessa? De
quem é esta “verdade”? Será a “verdade” de todos? Se “reduzirmos” bem,
chegaremos com frequência a ver, por trás da afirmação, mesmo que o
seu autor alegue ou julgue sinceramente o contrário, a raiz ideológica
básica, a ligação com a nossa dicotomia.
As ideologias e as posições políticas são, hoje, muito vistas em termos
de direita e esquerda. Ao contrário do que seu uso indiscriminado pode
sugerir, não são conceitos claros, e muitas das pessoas que os aplicam
todo o tempo, se chamadas a defini-los com alguma precisão, teriam
dificuldade. Não é culpa delas. As palavras estão sujeitas a empregos
arbitrários e abusivos, de tal forma que acabam por ter seu sentido diluído
ou tornado imprestável para uma comunicação adequada. Há até mesmo
uma chuva de acusações de direitismo e esquerdismo dentro das
organizações de esquerda, que só podem deixar o observador desavisado
um tanto confuso.
Na prática, o que hoje se conhece por esquerda são posições
próximas ou identificadas com os que desejam a socialização da economia
— em última análise, a abolição da propriedade privada e a estatização dos
meios de produção. As posições à direita seriam aquelas identificadas ou
aproximadas com o contrário da proposição acima, a ponto de, em sua
condição mais extremada, pretenderem eliminar as liberdades individuais
para garantir o esquema que consideram correto. Tal distinção, que vai
quebrando o galho nos jornais e nos bate-papos, não resiste a uma
análise um pouquinho rigorosa, chegando muita gente a concluir, por
exemplo, que não se pode chamar de “esquerda” o aparato dominante nos
antigos países socialistas, mas sim, de “direita”, tamanho o
conservadorismo desses aparatos, o papel opressor que o Estado muitas
vezes assumiu, o caráter totalitário e assim por diante. Além disso, como
chegamos a ver, o termo “esquerda”, em Política, tem tido sempre uma
conotação de oposição ou contestação ao estabelecido.
Talvez seja possível achar uma conceituação razoável na observação
de que as posições esquerdistas têm, historicamente, tendido a basear
seus programas na crença da aperfeiçoabilidade do homem e de sua vida
em sociedade. Os caminhos apontados variam muito, mas existe sempre a
convicção de que os problemas do homem não são inerentes à sua
natureza, mas fruto de determinantes e condicionantes que, sendo
mudados, também mudarão o homem. O homem não é por natureza
egoísta, nem a vida em sociedade tem que render sempre conflitos e
neuroses, nem as guerras são inevitáveis, nem a maioria das mazelas de
nossa existência individual e coletiva faz parte da ordem natural das
coisas.
Em contraste, as posições da direita tendem a presumir que
existem certas características imutáveis do homem. O necessário é usar
essas características para o bem comum, mesmo que o bem comum
possa vir a justificar privilégios, pois, entre as verdades da direita está a
de que realmente certas coisas não têm jeito e algumas pessoas serão
sempre melhores do que outras e, portanto, se darão melhor na vida. É
possível aprimorar as condições de vida de todos, inclusive porque é
natural para o homem querer melhorar sua vida e é também natural que,
depois de ter seus próprios problemas resolvidos, até procure ajudar
nesse aprimoramento geral. Por si só, o homem é basicamente egoísta e
fará tudo em seu próprio benefício. Se é assim e não há jeito a dar — pois
o homem, se é aperfeiçoável, só o é até certo ponto, muito limitado —,
devemos equacionar a sociedade de acordo com essas condições, em
soluções que podem ir da busca de um equilíbrio “natural” entre os
elementos que essas características fazem entrar em jogo até a imposição
de um governo “forte” ou totalitário, que, sob a orientação dos melhores,
discipline e tutele os indivíduos, “para seu próprio bem”.
Os caminhos da esquerda e da direita, como se sugeriu, são
muitos. Se a noção dada acima serve para esclarecer um pouco as coisas,
também serve para mostrar como são mesmo relativos os conceitos de
esquerda e direita, como a realidade contraria os rótulos ou distorce
projetos e intenções. Um regime opressor não pode ser de esquerda.
Contudo, como modificar o homem sem, inicialmente, impor condutas e
implantar implacavelmente o novo esquema? E agora — será um regime
desses de esquerda ou de direita?
Os rótulos são muito enganosos, até mesmo porque qualquer um
pode pegar um rótulo à vontade e pespegá-lo na testa, sua ou dos outros.
Vimos isto em relação à democracia, vê-se isto em relação a quase tudo.
O que para uns é patriotismo, para outros é traição e vice-versa. O que
para uns é comunismo, para outros é uma forma de fascismo. Assim, não
nos devemos fiar nos rótulos, nem nos preocupar excessivamente com
eles. Necessitaríamos de capítulos e mais capítulos para analisar os
muitos “ismos” sobre os quais lemos todos os dias nos jornais. Mas, na
verdade, por mais complicados e misteriosos que eles nos pareçam, já
temos os instrumentos básicos para nos defender dos rótulos.
Para entender uma ideologia (ou uma das muitas formas das
“ideologias básicas”), a primeira providência, que, aliás, é muito útil
também em outras áreas, é procurar a fonte diretamente. Se queremos
saber o que é o socialismo, devemos procurar ler o que os socialistas
escrevem ou ouvir o que eles dizem, não o que dizem ou escrevem deles.
Da mesma forma, se queremos saber o que é o liberalismo, devemos ler e
ouvir os liberais. E, em relação a ambos — como em relação a todos —,
devemos prestar atenção no que eles fazem, em comparação com o que
dizem. A cada proposição, a cada colocação, podemos pôr em ação os
nossos instrumentos. Podemos aplicar nossa técnica de “redução”.
Podemos questionar. Podemos usar o conhecimento que já adquirimos,
pois, quando o conhecimento nos faz pensar, ele é cumulativo, está
sempre acrescentando-se a si mesmo. Podemos, enfim, não ser tiranizados
nem amedrontados pelos rótulos, podemos assumir, cada vez mais, a
consciência de nós mesmos, de nosso lugar na coletividade, de nossas
aspirações, identidade e interesses legítimos. Podemos mesmo chegar a
ver o mundo de forma ideologicamente consciente e agir de acordo com
essa consciência, pois, afinal, somos o limite de nós mesmos. A
conscientização ideológica gera paixões, sim. Mas só podemos ser grandes
se houver paixão.
*
1 Veja se você acha alguma entrevista de um político, escolhe
uma ou duas afirmações importantes e faz uma “redução
ideológica” nelas.
2 Você acha que o ecologismo é, em si, uma ideologia?
3 “A verdade é esta: ganha sempre o mais forte e é assim que deve
ser.” Esta é, ou pode ser, uma afirmação ideológica?
4 “Com duas ou três boas leis, eu resolveria tudo isto”, diz um
famoso advogado. A sociologia do conhecimento teria alguma coisa
a dizer sobre isto?
5 Os trabalhadores na indústria metalúrgica são uma classe social?
6 Depois de muitos anos de trabalho, ele conseguiu comprar um
carro e uma casa. “Mudei de classe”, disse aos amigos. Comente.
7 “Peguei minha herança, vou me dedicar a viajar, não quero
nem saber de Política.” Há ideologia nesta afirmação?
8 “Meu filho, não adianta remar contra a maré. Na vida, a gente tem
é que ganhar dinheiro, o resto não interessa, a realidade é esta.”
Direita ou esquerda?
continua na página 126...
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Leia também:
João Ubaldo Ribeiro - Política: Ideologias e a vida de todo dia
João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) foi romancista, cronista, jornalista, tradutor e professor brasileiro. Membro da Academia Brasileira de Letras ocupou a cadeira n.º 34. Em 2008 recebeu o Prêmio Camões. Foi um grande disseminador da cultura brasileira, sobretudo a baiana. Entre suas obras que fizeram grande sucesso encontram-se "Sargento Getúlio", "Viva o Povo Brasileiro" e "O Sorriso do Lagarto".
João Ubaldo Ribeiro nasceu na ilha de Itaparica, na Bahia, no dia 23 de janeiro de 1941, na casa de seus avós. Era filho dos advogados Manuel Ribeiro e de Maria Filipa Osório Pimentel.
João Ubaldo foi criado até os 11 anos, em Sergipe, onde seu pai trabalhava como professor e político. Fez seus primeiros estudos em Aracaju, no Instituto Ipiranga.
Em 1951 ingressou no Colégio Estadual Atheneu Sergipense. Em 1955 mudou-se para Salvador, e ingressou no Colégio da Bahia. Estudou francês e latim.
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© 1998 by João Ubaldo Ribeiro
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Revisão
Angela Nogueira Pessôa
CIP-Brasil.
Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
R369p
Ribeiro, João Ubaldo 3 ed. Política; quem manda, por que manda, como manda / João Ubaldo Ribeiro. — 3.ed.rev. por Lucia Hippolito. — Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
Apêndice
1. Ciência política. I. Título
CDD 320
CDU 32
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