sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Gabriel G Márquez - Cem Anos de Solidão (1.5) - O filho de Pilar Ternera

Cem Anos de Solidão



Gabriel Garcia Márquez


(1.5)



para jomí garcía ascot 

e maría luisa elío



continuando...



O FILHO DE Pilar Ternera foi levado para a casa dos avós com semanas de nascido. Úrsula admitiu-o de má vontade, mais uma vez pela teimosia do marido, que não pôde a ideia de que um rebento do seu sangue ficasse jogado por aí: mas impôs a condição de que se escondesse do menino a sua verdadeira identidade. Apesar de receber o nome de José Arcadio, acabaram por chamá-lo simplesmente de Arcadio, para evitar confusão. Havia naquela época tanta atividade no povoado e tanto movimento na casa que o cuidado das crianças ficou relegado a segundo plano. Recomendaram-nas Visitación, uma índia guajira que chegou ao povoado com um irmão, fugindo de uma peste de insônia que flagelava a sua tribo há vários anos. Ambos eram tão dóceis e serviçais que Úrsula ficou com eles para que a ajudassem nos afazeres domésticos. Foi assim que Arcadio e Amaranta falaram a língua guajira antes do castelhano e aprenderam a tomar sopa de lagartixas e a comer ovos de aranhas, sem que Úrsula reparasse, porque andava ocupada demais com um negócio de animaizinhos de caramelo que prometia um bom futuro. Macondo estava transformado. As pessoas que tinham vindo com Úrsula divulgaram a boa qualidade do solo e a sua posição privilegiada em relação ao pântano, de modo que a reduzida aldeia de outros tempos transformou-se logo num povoado ativo, com lojas e oficinas de artesanato, e uma rota de comércio permanente por onde chegaram os primeiros árabes de pantufas e argolas nas orelhas, trocando colares de vidro por papagaios. José Arcadio Buendía não teve um minuto de descanso. Fascinado por uma realidade imediata que no momento chegou a ser para ele mais fantástica que o vasto universo da sua imaginação, perdeu todo o interesse pelo laboratório de alquimia, deixou descansando a matéria extenuada por longos meses de manipulação, e voltou a ser o homem empreendedor dos primeiros tempos, que decidia o traçado das ruas e a posição das novas casas, de modo a que ninguém desfrutasse de privilégio que não possuíssem todos. Adquiriu tanta autoridade entre os recém-chegados que não se punha cimento nem se construíam cercas sem consultá-lo, e se estabeleceu que seria ele quem dirigiria a distribuição da terra. Quando os ciganos saltimbancos voltaram, agora com a sua feira ambulante transformada num gigantesco estabelecimento de jogos de sorte e azar, foram recebidos com alvoroço, porque se pensou que José Arcadio regressava com eles. Mas José Arc adio não voltou, e nem trouxeram o homem víbora que, conforme pensava Úrsula, era o único que podia dar informações de seu filho; de modo que não se permitiu aos ciganos que se instalassem no povoado nem que voltassem a pisá-lo no futuro, porque os consideraram como mensageiros da concupiscência e da perversão. José Arcadio Buendía, entretanto, foi explícito no sentido de que a antiga tribo de Melquíades, que tanto contribuíra para o engrandecimento da aldeia, com milenária sabedoria e as suas fabulosas invenções, encontraria sempre as portas abertas. Mas a tribo de Melquíades, segundo o que contaram os saltimbancos, tinha sido varrida face da terra por haver ultrapassado os limites do conhecimento humano. 

Emancipado, pelo menos no momento, das torturas da fantasia, José Arcadio Buendía impôs em pouco tempo um estado de ordem e trabalho, dentro do qual só se permitiu uma licença: a libertação dos pássaros que desde a época da fundação alegravam o tempo com as suas flautas, e a instalação em seu lugar de relógios musicais em todas as casas. Eram maravilhosos relógios de madeira trabalhada que os árabes trocavam por papagaios e que José Arcadio Buendía sincronizou com tanta precisão que, de meia em meia hora, o povoado se alegrava com os acordes progressivos de uma mesma peça, até culminar o meio-dia exato e unânime com a valsa completa. Foi também José Arcadio Buendía quem decidiu por essa época que nas ruas do povoado se plantassem amendoeiras em vez de acácias, e quem descobriu, sem revelá-los nunca, os métodos de fazê-las eternas. Muitos anos depois, quando Macondo chegou a ser um acampamento de casas de madeira e tetos de zinco, ainda perduravam nas ruas mais antigas as amendoeiras quebradas e empoeiradas, sem que ninguém soubesse mais quem as havia plantado. Enquanto o pai colocava em ordem o povoado e a mãe consolidava o patrimônio doméstico com a sua maravilhosa indústria de galinhos e peixes açucarados, que duas vezes por dia saíam de casa enfiados em palitos, Aureliano vivia horas intermináveis no laboratório abandonado, aprendendo por pura pesquisa a arte da ourivesaria. Tinha crescido tanto que em pouco tempo deixou de lhe servir a roupa abandonada pelo irmão e começou a usar a do pai, mas foi necessário que Visitación fizesse bainhas nas camisas e pregas nas calças, porque Aureliano não tinha puxado a corpulência dos outros. A adolescência havia tirado a doçura da sua voz e o tornara silencioso e definitivamente solitário, mas por outro lado tinha restituído a expressão intensa que teve nos olhos ao nascer. Estava tão concentrado nas suas experiência de ourivesaria que mal abandonava o laboratório, e só para comer. Preocupado com o seu ensimesmamento, José Arcadio Buendía deu-lhe as chaves da casa e um pouco de dinheiro, pensando que talvez fosse falta de mulher. Mas Aureliano gastou o dinheiro em ácido muriático para preparar água régia, e embelezou as chaves com um banho de ouro. As suas esquisitices, no entanto, mal eram comparáveis às de Arcadio e Amaranta, que já tinham começado a trocar os dentes e ainda andavam o dia inteiro agarrados às mantas dos índios, teimosos na sua decisão de não falar o castelhano e sim a língua índia. “Você não tem do que se queixar”, dizia Úrsula ao marido. “Os filhos herdam as loucuras dos pais.” E enquanto se lamentava da má sorte, convencida de que as extravagâncias dos filhos eram uma coisa tão terrível quanto um rabo de porco, Aureliano fixou nela um olhar que a envolveu numa aura de incerteza.

— Alguém vai chegar — disse.

Úrsula, como sempre que ele expressava um prognóstico, tratou de esfriá-lo com a sua lógica caseira. Era normal que alguém chegasse. Dezenas de forasteiros passavam diariamente por Macondo, sem suscitar inquietações nem antecipar avisos secretos. Entretanto, apesar de toda a lógica, Aureliano estava certo do seu presságio.

— Não sei quem será — insistiu — mas seja quem for, já vem a caminho.

No domingo, com efeito, chegou Rebeca. Não tinha mais de onze anos. Tinha feito a penosa viagem desde Manaure, com uns traficantes de peles que receberam o encargo de entregá-la, junto com uma carta, na casa de José Arcadio Buendía, mas que não puderam explicar com precisão quem era a pessoa que lhes havia pedido o favor. Toda a sua bagagem era composta de um bauzinho de roupa, uma pequena cadeira de balanço de madeira com florezinhas coloridas pintadas a mão e um saco de lona que fazia um eterno ruído de cloc cloc cloc, onde trazia os ossos de seus pais. A carta dirigida a José Arcadio Buendía estava escrita em termos muito carinhosos por alguém que continuava a estimá-lo muito apesar do tempo e da distância, e que se sentia obrigado, por um elementar senso de humanidade, a fazer a caridade de lhe mandar esta pobre orfãzinha desamparada, que era prima de Úrsula em segundo grau e, por conseguinte, parenta também de Jo sé Arcadio Buendía, ainda que em grau mais longínquo, porque era filha daquele inesquecível amigo que foi Nicanor Ulloa e sua mui digna esposa Rebeca Montiel, a quem Deus tenha no seu santo reino, e cujos restos juntava à presente para lhes desse sepultura cristã. Tanto os nomes mencionados quanto a assinatura da carta eram perfeitamente legíveis, mas José Arcadio Buendía nem Úrsula se lembravam de ter parentes com esses nomes, nem conheciam ninguém que se chamasse como o remetente, e muito menos na remota povoação de Manaure. Através da menina, foi impossível obter informação complementar. Desde o momento em que sentou-se na cadeirinha de balanço a chupar o dedo e observar a todos com os seus grandes olhos espantados, sinal algum de entender o que lhe perguntavam. Vestia uma roupa de diagonal tingida de negro, gasta pelo uso, botinas descascadas de verniz. Trazia o cabelo preso atrás das orelhas, em coques com fitas negras. Usava um escapulário com as imagens apagadas pelo suor e, na munheca uma presa de animal carnívoro engastada num suporte de cobre, como amuleto contra o mau-olhado. A sua pele verde, o seu ventre redondo e tenso como um tambor revelavam uma saúde ruim e uma fome mais velhas que ela mesma, mas quando lhe deram de comer ficou com o prato nos joelhos, sem tocá-lo. Chegou-se inclusive a acreditar que era surda-muda, até que os índios lhe perguntaram na sua língua se queria um pouco d’água e ela moveu os olhos como se os tivesse reconhecido e disse que sim com a cabeça.

Ficaram com ela, porque não havia outro remédio. Decidiram chamá-la Rebeca, que, de acordo com a carta, era o nome da mãe, porque Aureliano teve a paciência de ler para ela todo o hagiológio e não conseguiu que reagisse diante de nenhum nome de santa. Como naquele tempo não havia cemitério em Macondo, pois até então não havia morrido ninguém, conservaram o saco de lona com os ossos, à espera de que houvesse um lugar digno para sepultá-lo, e durante muito tempo eles rolaram por toda parte e se encontravam onde menos se esperava, sempre com o seu eloquente cacarejo de galinha choca. Muito tempo correu até que Rebeca se incorporasse à vida familiar. Sentava-se na cadeirinha de balanço chupando o dedo, no canto mais escondido da casa. Nada lhe chamava a atenção, salvo a música dos relógios, que de meia em meia hora procurava com os olhos assustados, como se esperasse encontrá-la em algum pedaço do ar. Não conseguiram que comesse, durante vários dias. Ninguém entendia como não tinha morrido de fome, até que os índios, que percebiam tudo, porque percorriam a casa sem parar, com seus pés sigilosos, descobriram que Rebeca só gostava de comer a terra úmida do quintal e as tortas de cal que arrancava das paredes com as unhas. Era evidente que seus pais, ou quem quer que a tivesse criado, tinham-lhe repreendido esse hábito, pois o praticava às escondidas e com consciência de culpa, procurando guardar as rações para comê-las quando ninguém visse. A partir de então, submeteram-na a uma vigilância implacável. Derramavam fel de vaca no quintal e untavam de pimenta as paredes, acreditando curar com esses métodos o seu vício pernicioso, mas ela deu tais provas de astúcia e engenho para procurar a terra que Úrsula se viu forçada a empregar recursos mais drásticos. Punha suco de laranja com ruibarbo numa panela, que deixava ao sereno uma noite inteira, e lhe dava a poção no dia seguinte, em jejum. Ainda que ninguém lhe tivesse dito que aquele era o remédio específico para o vicio de comer terra, pensava que qualquer substância amarga no estômago vazio tinha que obrigar o fígado a reagir. Rebeca era tão rebelde e tão forte, apesar do seu raquitismo, que tinham de agarrá-la como a um bezerro para que engolisse o remédio, e mal se podiam evitar as suas convulsões e suportar os arrevesados hieróglifos que ela alternava com mordidas e cuspidelas e que, segundo o que diziam os escandalizados índios, eram as obscenidades mais grossas que se podiam conceber no seu idioma. Quando Úrsula soube disso, complementou o tratamento com correadas. Não se esclareceu nunca se o que surtiu efeito foi o ruibarbo ou as sovas, ou as duas coisas combinadas, mas a verdade é que, em poucas semanas, Rebeca começou a dar mostras de restabelecimento. Participou das brincadeiras de Arcadio e Amaranta, que a receberam como a uma irmã mais velha, e comeu com apetite, servindo-se bem dos talheres. Logo se revelou que falava o castelhano com tanta fluidez como a língua dos índios, que tinha uma habilidade notável para os trabalhos manuais e que cantava a valsa dos relógios com uma letra muito engraçada que ela mesma tinha inventado. Não tardaram a considerá-la um membro a mais da família. Era mais afetuosa com Úrsula que os seus próprios filhos, e chamava de maninhos Amaranta e Arcadio, de tio a Aureliano e de vovô a José Arcadio Buendía. De modo que acabou por merecer, tanto como os outros, o nome de Rebeca Buendía, o único que teve e que carregou com dignidade até a morte.

Uma noite, na época em que Rebeca se curou do vício comer terra e foi levada para dormir no quarto das outras crianças, a índia que dormia com eles acordou por acaso e ouviu um estranho ruído intermitente no canto. Sentou-se alarmada pensando que tinha entrado algum animal no quarto, viu Rebeca na cadeira de balanço, chupando o dedo os olhos fosforescentes como os de um gato na escuridão. Pasmada de terror, perseguida pela fatalidade do destino, Visitación reconheceu nesses olhos os sintomas da doença cuja ameaça os havia obrigado, a ela e ao irmão, a se desterrarem para sempre de um reino milenário no qual eram príncipes. Era a peste da insônia. Cataure, o índio, não amanheceu em casa. Sua irmã ficou, porque o coração fatalista lhe indicava que a doença letal haveria de persegui-la de todas as maneiras até o último lugar da terra. Ninguém entendeu o pânico de Visitación. “Se não voltar a dormir, melhor”, dizia José Arcadio Buendía de bom-humor. “Assim a vida rende mais.”

Mas a índia explicou que o mais temível da doença da insônia não era a impossibilidade de dormir, pois o corpo não sentia cansaço mas sim a sua inexorável evolução para uma manifestação mais crítica: o esquecimento. Queria dizer que quando o doente se acostumava ao seu estado de vigília, começavam a apagar-se da sua memória as lembranças da infância, em seguida o nome e a noção das coisas, e por último a identidade das pessoas e ainda a consciência do próprio ser, até se afundar numa espécie de idiotice sem passado. José Arcadio Buendía, morto de rir, considerou que se tratava de mais uma das tantas enfermidades inventadas pela superstição dos indígenas. Mas Úrsula, por via das dúvidas, tomou a precaução de separar Rebeca das outras crianças.

Ao fim de várias semanas, quando o terror de Visitación parecia aplacado, José Arcadio Buendía encontrou-se uma noite rolando na cama sem poder dormir. Úrsula, que também tinha acordado, perguntou-lhe o que estava acontecendo e ele respondeu:

“Estou pensando outra vez em Prudencio Aguilar.” Não dormiram um minuto sequer, mas no dia seguinte se sentiam tão descansados que se esqueceram da noite ruim. Aureliano comentou assombrado na hora do almoço que se sentia muito bem, apesar de ter passado toda a noite no laboratório, dourando um broche que pensava dar a Úrsula no dia do seu aniversário. Não se alarmaram até o terceiro dia, quando na hora de deitar se sentiram sem sono, e deram conta de que estavam há mais de cinqüenta horas sem dormir.

— As crianças também estão acordadas — disse a índia com a sua convicção fatalista. — Uma vez que a peste entra em casa, ninguém escapa.

Haviam contraído, na verdade, a doença da insônia. Úrsula, que tinha aprendido da mãe o valor medicinal das plantas, preparou, e fez todos tomarem, uma beberagem de acônito, mas não conseguiram dormir, e passaram o dia inteiro sonhando acordados. Nesse estado de alucinada lucidez não só viam as imagens dos seus próprios sonhos, mas também uns viam as imagens sonhadas pelos outros. Era como se a casa se tivesse enchido de visitas. Sentada na cadeira de balanço, num canto da cozinha, Rebeca sonhou que um homem muito parecido com ela, vestido de linho branco e com o colarinho da camisa fechado por um botão de ouro, trazia-lhe um ramo de rosas. Acompanhava-o uma mulher de mãos delicadas que separou uma rosa e pôs no cabelo da menina. Úrsula entendeu que o homem e a mulher eram os pais de Rebeca, mas ainda que fizesse um grande esforço para reconhecê-los, confirmou-se a certeza de que nunca os havia visto. Enquanto isso, por um descuido que José Arcadio Buendía não se perdoou nunca, os animaizinhos de caramelo fabricados em casa continuavam sendo vendidos no povoado. Crianças e adultos chupavam encantados os deliciosos galinhos verdes da insônia, os refinados peixes rosados da insônia e os ternos cavalinhos amarelos da insônia, de modo que a alvorada de segunda-feira surpreendeu todo o povoado de pé. No princípio, ninguém se alarmou. Pelo contrário, alegraram-se de não dormir porque havia então tanto o que fazer em Macondo que o tempo mal chegava. Trabalharam tanto que logo não tiveram nada mais que fazer, e se encontraram às três da madrugada com os braços cruzados, contando o número de notas que tinha a valsa dos relógios. Os que queriam dormir, não por cansaço, mas por saudade dos sonhos, recorreram a toda sorte de métodos de esgotamento. Reuniam-se para conversar sem trégua, repetindo durante horas e horas as mesmas piadas complicando até os limites da exasperação a história do galo capão, que era um jogo infinito em que o narrador perguntava se queriam que lhes contasse a história do galo capão e quando respondiam que sim, o narrador dizia que não havia pedido que dissessem que sim, mas se queriam que lhes contasse a história do galo capão, e quando respondiam que não, o narrador dizia que não lhes tinha pedido que dissessem que não, mas se queriam que lhes contasse a história do capão, e quando ficavam calados o narrador dizia que não lhes tinha pedido que ficassem calados, mas se queriam que lhes contasse a história do galo capão, e ninguém podia ir embora porque o narrador dizia que não lhes tinha pedido que fossem embora, mas se queriam que lhes contasse a história do galo capão, e assim sucessivamente, num círculo vicioso que se prolongava por noites inteiras.

Quando José Arcadio Buendía percebeu que a peste tinha invadido a povoação, reuniu os chefes de família para explicar-lhes o que sabia sobre a doença da insônia, e estabeleceram medidas para impedir que o flagelo se alastrasse para as outras povoações do pantanal. Foi assim que se tiraram dos cabritos os sininhos que os árabes trocavam por papagaios, se puseram na entrada do povoado, à disposição dos que desatendiam os conselhos e as súplicas dos sentinelas e insistiam em visitar a aldeia. Todos os forasteiros que por aquele tempo percorriam as ruas de Macondo tinham que fazer soar o sininho para que os doentes soubessem que estavam sãos. Não se lhes permitia comer nem beber nada durante a sua estada, pois não havia dúvidas de que a doença só se transmitia pela boca, e todas as coisas de comer e de beber estavam contaminadas pela insônia. Desta forma, manteve -se a peste circunscrita ao perímetro do povoado. Tão eficaz foi a quarentena, que chegou o dia em que a situação de emergência passou a ser encarada como coisa natural e se organizou a vida de tal maneira que o trabalho retomou o seu ritmo e ninguém voltou a se preocupar com o inútil costume de dormir.






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Gabriel G Márquez - Cem Anos de Solidão (1.1) - Muitos anos depois...
Gabriel G Márquez - Cem Anos de Solidão (1.2) - Quando os ciganos voltaram...
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