sábado, 29 de agosto de 2020

Virgínia Woolf - Orlando : Capítulo 2 (c) ... No mesmo momento

Capítulo 2




continuando... 


No mesmo momento, Nick Greene chegava à conclusão exatamente oposta. Descansando na cama de manhã, com travesseiros fofos, lençóis macios, e olhando pela sacada para o gramado que há séculos não conhecia nem dente-de-leão nem erva daninha, pensou que, se não conseguisse escapar, seria sufocado vivo. Levantar-se ouvindo o arrulho dos pombos, vestir-se ouvindo o correr das fontes... pensou que, se não ouvisse o rodar das carroças nas pedras da rua Fleet, nunca mais escreveria um verso. Se isso continuar por muito tempo — pensava enquanto ouvia o lacaio reparando a lareira e espalhando pratos de prata sobre a mesa na sala ao lado — eu cairei no sono e (a esta altura deu um prodigioso bocejo) morrerei dormindo. 

Assim, foi procurar Orlando em seu quarto e explicou que não conseguira pregar os olhos a noite inteira, por causa do silêncio. (Na verdade, a casa era cercada por um parque de 15 milhas de circunferência e um muro de dez pés de altura.) Disse que o silêncio era a coisa mais opressiva que havia para seus nervos. Com a permissão de Orlando, terminaria sua visita naquela manhã mesmo. Orlando sentiu certo alívio com isso, mas também grande relutância em deixá-lo partir. A casa, pensou, pareceria muito insípida sem ele. Na partida (pois antes nunca mencionara o assunto) ele cometeu a temeridade de entregar sua peça sobre “A Morte de Hércules” ao poeta e pedir-lhe a opinião. O poeta recebeu; murmurou algo sobre “Glour” e Cícero, que Orlando interrompeu, prometendo pagar-lhe uma pensão trimestral; depois do que, Greene, com muitos protestos de afeto, saltou para a carruagem e partiu.

O grande salão nunca parecera tão grande, tão suntuoso ou tão vazio como quando a carruagem se foi. Orlando sabia que nunca mais teria ânimo para tostar queijo na lareira italiana. Nunca mais teria espírito para contar piadas sobre as pinturas italianas; não teria a habilidade para misturar o ponche como deveria ser misturado; mil pilhérias e trocadilhos estariam perdidos para ele. Contudo, que alívio ficar livre do som daquela voz lamuriante, que luxo estar sozinho mais uma vez — não podia deixar de refletir, enquanto soltava o mastim que estivera amarrado durante seis semanas, pois nunca via o poeta sem mordê-lo.

Nick Greene desceu na esquina de Fetter Lane nessa mesma tarde e encontrou as coisas mais ou menos como as deixara. A sra. Greene estava dando à luz uma criança num quarto; Tom Fletcher bebia gim noutro. Os versos estavam esparramados pelo chão; o jantar — ou coisa parecida — estava sobre uma penteadeira onde as crianças tinham feito bolos de lama. Mas esta, Greene sentiu, era a atmosfera para escrever; aqui podia escrever e escreveu. O tema era talhado para ele. Um Lorde em casa. Uma visita a um nobre no campo — seu novo poema teria um título como este. Tomando a pena, com a qual seu filho pequeno estava fazendo cócegas na orelha do gato, mergulhando-a num porta-ovo que servia de tinteiro, Greene compôs, de pronto, uma sátira muito espirituosa. Era tão bem-feita que ninguém tinha dúvidas de que o jovem Lorde ridicularizado era Orlando; seus ditos e feitos mais secretos, seus entusiasmos e loucuras, a cor exata de seu cabelo, sua maneira estrangeira de pronunciar os erres estavam ali, ao vivo. E se ainda houvesse alguma dúvida, Greene esclarecia o assunto, introduzindo quase sem disfarces passagens daquela tragédia aristocrática “A Morte de Hércules”, que achou, conforme o esperado, extremamente prolixa e bombástica.

O panfleto, que imediatamente atingiu várias edições e pagou as despesas do décimo parto da sra. Greene, foi logo enviado a Orlando por amigos que se encarregam dessas tarefas. Quando o leu, o que fez com absoluta compostura do princípio ao fim, chamou um lacaio; entregou-lhe o documento na ponta de uma pinça; ordenou que o jogasse no centro do ponto mais sujo e fétido de sua propriedade. E, quando o homem ia saindo, ele o deteve: “Pega o cavalo mais veloz do estábulo”, disse, “galopa a rédea solta para Harwich. Lá embarca num navio para a Noruega. Compra-me, do próprio canil do rei, os mais belos galgos da matilha real, um macho e uma fêmea. Traga-os sem demora. Pois”, murmurou, quase como num sopro, voltando-se para os livros, “estou cansado dos homens.”

O lacaio, perfeitamente treinado em suas obrigações, inclinou-se e desapareceu. Desempenhou sua tarefa tão eficientemente que estava de volta em três semanas, conduzindo na mão na trela com os mais belos galgos, um dos quais, a fêmea, naquela mesma noite deu à luz uma ninhada de oito lindos cachorrinhos, sob a mesa de jantar. Orlando mandou levá-los para o seu quarto de dormir.

— Pois — disse —, não quero mais saber dos homens.

No entanto, pagou a pensão trimestralmente.

Assim, aos trinta anos, mais ou menos, este jovem nobre tivera não apenas todas as experiências que a vida oferece como também vira a inutilidade de todas elas. Amor e ambição, mulheres e poetas eram igualmente vãos. A literatura era uma farsa. Na noite seguinte à leitura de “Visita a um Nobre no Campo”, de Greene, queimou num grande incêndio 57 obras poéticas, conservando apenas “O Carvalho”, que era seu sonho de adolescente e muito curto. Duas coisas restavam-lhe para confiar: cachorros e a natureza; um galgo e uma roseira. O mundo, com toda a sua variedade, e a vida, com toda a sua complexidade, tinham sido reduzidos a isso. Cães e um arbusto eram tudo. Então, sentindo-se livre de uma vasta montanha de ilusão, e por conseguinte, despido, chamou seus cachorros e caminhou a passos largos pelo parque.

Tanto tempo ficara enclausurado escrevendo e lendo que andava meio esquecido das amenidades da natureza, que em junho podem ser grandes. Quando atingiu aquele morro alto, de onde, nos dias claros, se avistava metade da Inglaterra e ainda uma faixa de Gales e da Escócia, deitou-se sob o seu carvalho favorito e sentiu como se não precisasse mais falar com nenhum homem ou mulher enquanto vivesse; se os seus cães não desenvolvessem o dom da fala; se nunca encontrasse novamente um poeta ou uma princesa, poderia viver os anos que lhe restavam razoavelmente satisfeito.

Ali voltou então, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano. Viu as faias ficarem douradas e as samambaias novas abrirem-se; viu a lua em foice e depois redonda; viu — mas provavelmente o leitor pode imaginar a passagem que se segue e como cada árvore e planta das proximidades é descrita primeiro verde, depois dourada; como a lua nasce e o sol se põe; como a primavera sucede ao inverno e o outono ao verão; como a noite sucede ao dia e o dia à noite; como acontece primeiro um temporal e depois a bonança; como as coisas permanecem as mesmas por dois ou três séculos, exceto por um pouco de poeira e algumas teias de aranha que uma velha pode varrer em meia hora; uma conclusão a que se poderia chegar mais rapidamente, sem dúvida, pela simples afirmativa de que “o Tempo passou” (aqui a duração exata poderia vir entre parênteses) e de que nada aconteceu.

Mas o Tempo, infelizmente, embora faça florescerem e murcharem animais e vegetais com surpreendente pontualidade, não tem o mesmo efeito simples sobre a mente humana. A mente humana, por outro lado, atua com igual estranheza sobre o corpo do tempo. Uma hora, uma vez alojada no estranho elemento do espírito humano, pode ser estendida cinquenta a cem vezes mais do que a sua duração no relógio; inversamente, uma hora pode ser representada com precisão por um segundo, no tempo mental. Esta extraordinária discrepância entre o tempo do relógio e o tempo da mente é menos conhecida do que deveria ser e merece investigação mais completa. Mas o biógrafo, cujos interesses são, como dissemos, bastante restritos, deve ater-se a uma simples afirmação: quando um homem chega à idade dos trinta, como Orlando, o tempo, quando ele pensa, se torna desordenadamente longo; quando age, desordenadamente curto. Assim, Orlando dava ordens e fazia num relâmpago os negócios de suas vastas propriedades; mas logo que estava sozinho no morro, debaixo do carvalho, os segundos começavam a arredondar-se e a completar-se até parecer que não acabariam nunca. Preenchiam-se, além disso, com a mais surpreendente variedade de objetos. Pois não apenas ele se defrontava com problemas que têm confundido os maiores sábios — tais como: O que é o amor? O que é a amizade? O que é a verdade? —, mas, quando pensava nisso, todo o seu passado, que lhe parecia tão longo e variado, precipitava-se num segundo prestes a cair, dilatava-lhe uma dúzia de vezes o tamanho natural, coloria-o com mil matizes e enchia-o com toda a miscelânea do universo.

Com tal pensamento (ou qualquer que seja o nome que lhe dermos) ele passou meses e anos de sua vida. Não seria exagero dizer que saía depois do café da manhã como um homem de trinta e voltava para casa para jantar como um homem de pelo menos 55. Algumas semanas acrescentavam um século à sua idade, outras não mais que três segundos, no máximo. De um modo geral, a tarefa de calcular a duração da vida humana (dos animais não pretendemos falar) está acima da nossa capacidade, pois quando dizemos que algo dura séculos somos lembrados de que é mais breve do que a queda de uma pétala de rosa. Das duas forças que alternadamente e — o que é mais confuso ainda — ao mesmo tempo dominam nossas infelizes estupidezes — brevidade e diuturnidade — Orlando ficava às vezes sob a influência de uma divindade com pés de elefante, e outras, da de um mosquito alado. A vida parecia-lhe de uma prodigiosa duração. Mesmo assim, ela corria como um raio. Mas, mesmo quando se alongava ao máximo e os momentos se dilatavam, ele parecia vaguear sozinho nos desertos da vasta eternidade, não havia tempo para alisar e decifrar aqueles pergaminhos rabiscados que durante trinta anos homens e mulheres tinham amarrado apertadamente em seu coração e cérebro. Muito antes que ele refletisse sobre o Amor (o carvalho lançara suas folhas e sacudira-as ao chão uma dúzia de vezes), este seria expulso do campo pela Ambição e substituído pela Amizade ou pela Literatura. E como a primeira questão — O que é o Amor? — não tinha sido resolvida, ela retornaria à menor ou nenhuma provocação e motivaria Livros ou Metáforas sobre Por que se vive à margem, para ali esperar até surgir a chance de vir à tona novamente. O que tornava o processo ainda mais longo era ser profusamente ilustrado, não apenas com figuras, como a da velha rainha Elizabeth deitada no seu divã de tapeçaria, de brocado cor-de-rosa, com uma caixa de rapé de marfim na mão e uma espada de cabo de ouro a seu lado, mas com cheiros — ela está fortemente perfumada — e com sons — os veados estavam balindo no parque Richmond naquele dia de inverno. E então o pensamento do amor ficaria todo amarelado de neve e inverno; com toras de árvores queimando; com mulheres russas, espadas de ouro e o balir dos versos; com o velho rei Jaime babando, e fogos e sacos e tesouros nos porões dos navios elisabetanos. Cada uma das coisas, toda vez que tentava deslocar de lugar em sua mente, ele encontrava obstruída com outro assunto, como a protuberância do vidro que, depois de um ano no fundo do mar, aumentou com ossos, libélulas e moedas e cachos de mulheres afogadas.

“Por Júpiter, outra metáfora!”, exclamaria ao dizer isso (o que demonstra a maneira desordenada e circular como sua mente trabalha, e explica por que o carvalho floresceu e murchou tantas vezes antes que ele chegasse a uma conclusão sobre o Amor). “E qual a razão disso?”, perguntava-se. “Por que não dizer simplesmente em tantas palavras —” e então tentava pensar durante meia hora — ou seriam dois anos e meio? — como dizer simplesmente em tantas palavras o que é o amor. “Uma imagem como esta é evidentemente falsa”, argumentava, “pois nenhuma libélula, exceto sob circunstâncias muito excepcionais, poderia viver no fundo do mar. E se a literatura não é a Noiva e Companheira da Verdade, então o que é? Tudo é confuso”, gritava, “por que dizer Companheira se já se disse Noiva? Por que não dizer simplesmente o que se quer e pronto?”

Assim ele tentou dizer que a grama é verde e o céu é azul e então propiciar o espírito austero à poesia, a quem, embora a uma grande distância, ele não podia deixar de reverenciar. “O céu é azul”, dizia, “a grama é verde.” Olhando para o alto, viu o contrário, o céu é como os véus que mil Madonas deixam cair de seus cabelos; e a grama foge e escurece como um voo de meninas fugindo dos abraços de sátiros cabeludos das florestas encantadas. “Palavra de honra”, dizia (pois adquirira o mau hábito de falar alto), “não vejo que uma seja mais verdadeira que a outra. Ambas são totalmente falsas.” E ele se desesperava por não ser capaz de resolver o problema — o que é a poesia, o que é a verdade —, e caiu em profunda depressão.

E aqui podemos aproveitar uma pausa neste solilóquio e refletir como era estranho ver Orlando estendido no chão, apoiado no cotovelo num dia de junho e ponderar que este belo rapaz com todas as suas faculdades e com o corpo saudável, conforme testemunham as faces e os membros — um homem que nunca pensou duas vezes para encabeçar um ataque ou enfrentar um duelo —, pudesse ser tão sujeito à letargia do pensamento e se tornasse tão suscetível que, em se tratando de poesia, ou de sua competência nela, ficasse tão tímido quanto uma menininha atrás da porta da cabana de sua mãe. Em nossa opinião, a ridicularização de sua tragédia, feita por Greene, feriu-o tanto quanto a princesa ridicularizando o seu amor.

Mas voltando — Orlando continuou a pensar.

Continuou a olhar a grama e o céu, procurando imaginar o que diria a respeito deles um verdadeiro poeta, que tem seus versos publicados em Londres. A memória, entretanto (cujos hábitos já foram descritos), mantinha firme diante de seus olhos o rosto de Nicholas Greene como se aquele homem sardônico, de lábios frouxos, traiçoeiro conforme demonstrara, fosse a Musa em pessoa e a quem Orlando devesse render homenagens. Assim, Orlando, naquela manhã de verão, ofereceu-lhe uma variedade de frases, umas simples, outras figuradas, e Nick Greene continuava a sacudir a cabeça, a escarnecer e a murmurar algo sobre “Glour”, Cícero e a morte da poesia na nova época. Finalmente, pondo-se de pé (era inverno e fazia muito frio), Orlando pronunciou um dos mais importantes juramentos de sua vida, pois amarrou-o à mais severa das servidões. “Que eu seja fulminado”, disse, se algum dia escrever mais uma palavra ou tentar escrever uma palavra a mais para agradar a Nick Greene ou à Musa. Bom, mau, ou medíocre, escreverei de hoje em diante para agradar a mim mesmo”; e aqui fez como se estivesse rasgando uma pilha de papéis e atirando-a na cara daquele homem beiçudo e escarnecedor. Então, como um vira-lata se esquiva se lhe atiram uma pedra, a Memória apagou a imagem de Nick Greene, substituindo-a... por nada.

Mas Orlando, mesmo assim, continuou a pensar. Na verdade, tinha muito em que pensar. Pois quando rasgou o pergaminho, e o fez de uma só vez, o rolo brasonado que fizera em seu próprio favor na solidão de seu quarto nomeando-se — como o rei nomeia os embaixadores — o primeiro poeta de sua raça, o primeiro escritor de sua época, conferindo eterna imortalidade à sua alma e garantindo para o seu corpo um túmulo em meio a loureiros e bandeiras intangíveis, perpetuamente reverenciadas por um povo. Por mais eloquente que fosse tudo isso, ele rasgava nesse momento e atirava na lixeira. “A Fama”, dizia, “é como (e, como não havia um Nick Greene para interrompê-lo, continuou a se divertir com imagens das quais escolheremos apenas uma ou duas das mais tranquilas) um casaco trançado que tolhe os membros; uma jaqueta de prata que refreia o coração; um escudo pintado que cobre um espantalho” etc. etc. O cerne de suas frases era que, enquanto a fama impede e tolhe, a obscuridade envolve o homem como um nevoeiro; a obscuridade é escura, ampla e livre; a obscuridade deixa que a mente tome seu caminho sem impedimentos. Sobre o homem desconhecido é derramada a misericordiosa inundação da obscuridade. Ninguém sabe aonde ele vai ou de onde vem. Pode procurar a verdade e dizê-la; só ele é livre; só ele é verdadeiro; só ele está em paz. E assim caiu num estado de tranquilidade, embaixo do carvalho, cujas duras raízes expostas acima da terra pareceram-lhe mais confortáveis do que nunca.

Mergulhado por muito tempo em profundos pensamentos quanto ao valor da obscuridade, o prazer de não ter um nome, mas ser como uma onda que retorna às profundezas do mar; pensando como a obscuridade liberta a mente dos aborrecimentos da inveja e do rancor; como faz correr nas veias as águas livres da generosidade e da magnanimidade; como permite dar e tomar sem agradecimentos ou louvores; o que deve ter sido a maneira de todos os grandes poetas, supunha (embora o seu conhecimento de grego não fosse suficiente para confirmá-lo), pois, pensava, Shakespeare deve ter escrito assim e os construtores da igreja construíam assim, anonimamente, sem necessitar de agradecimentos nem de citações, mas só pelo seu trabalho durante o dia e um pouco de cerveja à noite — ”como esta vida é admirável”, pensou, esticando as pernas sobre o carvalho. “E por que não aproveitar este exato momento?” O pensamento o atingiu como uma bala. A ambição caiu como um prumo. Livre da aflição do amor desprezado e da vaidade exprobrada e de todos os outros espinhos e ferrões com que as urtigas da vida o tinham queimado quando ambicionava a fama, mas que não podiam mais se impor a uma pessoa desinteressada da glória, abriu os olhos, que tinham estado bem abertos todo esse tempo, mas tinham visto apenas os pensamentos, e viu, jazendo no vale a seus pés, sua casa.

Lá estava ela, ao sol precoce da primavera. Parecia mais uma cidade do que uma casa, mas uma cidade construída, não aqui e ali, como este ou aquele homem queriam, porém deliberadamente, por um único arquiteto, com uma única ideia na cabeça. Pátios e prédios, cinzentos, vermelhos, cor de ameixa, dispunham-se ordenada e simetricamente; uns pátios eram oblongos, outros quadrados; neste havia uma fonte; naquele uma estátua; alguns prédios eram baixos, outros pontudos; aqui havia uma capela, ali um campanário; espaços de grama verde entre moitas de cedro e canteiros de flores brilhantes; o todo era cercado por um sólido muro cilíndrico — mas tão bem-distribuído que cada parte parecia ter espaço para se desenvolver apropriadamente; enquanto a fumaça de inúmeras chaminés volteava perpetuamente no ar. Esta vasta e harmoniosa construção, que podia abrigar mil homens e talvez dois mil cavalos, foi construída, pensava Orlando, por operários cujos nomes eram desconhecidos. Aqui viveram, por mais séculos do que eu posso contar, as obscuras gerações da minha própria obscura família. Nenhum desses Ricardos, Joões, Ana, Elisabetes deixou vestígio de si, embora todos trabalhando juntos, com suas pás e agulhas, seus amores e maternidades, tenham deixado isto.





continua pag 47...
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Virginia Woolf, escritora inglesa, nasceu em 1882, no seio de uma família da alta sociedade londrina. Após a morte de seus pais, ela e os irmãos se mudaram para uma casa no bairro de Bloomsbury, onde realizavam encontros com personalidades e poetas da época, como como T. S. Elliot e Clive Bell. Virginia começou a escrever em 1905, inicialmente para jornais. Dez anos depois, ela lançou seu primeiro livro “A Viagem”.

No período entre a 1ª e 2ª Guerra Mundial, Virginia Woolf se tornou uma figura conhecida na sociedade inglesa. Em 1941, ela cometeu suicídio se jogando no rio Ouse, perto da residência onde morava com seu marido, o crítico literário Leonardo Woolf, em Sussex. Mas, a obra de Virginia se imortalizou. Usando com excelência a técnica do fluxo de consciência, a escritora criou livros inovadores, que lhe fizeram ser conhecida como a maior romancista lírica do idioma inglês.

A Universidade de Adelaide, uma das instituições de ensino mais antigas da Austrália, disponibilizou online toda a obra de Virginia Woolf para download gratuito. Ao todo, são dez romances e dois livros de contos que podem ser baixados em três formatos: Zip, ePub e Kindle (para dispositivos Amazon). Entre os arquivos, estão algumas das obras mais famosas da escritora inglesa, como “Mrs. Dalloway” (1925), “Rumo ao Farol” (1927), “Os Anos” (1937) e “A Marca na Parede” (1944).

As obras estão em inglês. Para fazer o download, basta clicar sobre o título e escolher a opção “download. Também estão disponíveis ensaios de Virginia Woolf, como “O Leitor Comum” (1925), no qual ela reflete sobre a arte literária com base em obras-primas de outros autores renomados.



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