Cruz e Sousa
Obra Completa
Volume 1
POESIA
O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos
Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos
OUTROS SONETOS
MÃES
Mães! Sim, as mães são somente aquelas
Que atravessam da vida o mar chorando,
Que vão desamparadas caminhando
Pelo triste calvário das procelas.
Mães! sejam tranquilas, sejam elas
As mães do amor universal e brando,
Tenham o sentimento venerando
Da fé, da crença, celestiais e belas;
Desfraldem elas como um estandarte,
Aqui, ali, além, por toda a parte,
A esperança vital, com todo o brilho;
Que as mães serão as mães da heroicidade
E hão de provar a toda a humanidade
Que só as mães tornam herói um filho!
LIBERTAS
Que vão desamparadas caminhando
Pelo triste calvário das procelas.
Mães! sejam tranquilas, sejam elas
As mães do amor universal e brando,
Tenham o sentimento venerando
Da fé, da crença, celestiais e belas;
Desfraldem elas como um estandarte,
Aqui, ali, além, por toda a parte,
A esperança vital, com todo o brilho;
Que as mães serão as mães da heroicidade
E hão de provar a toda a humanidade
Que só as mães tornam herói um filho!
1888
LIBERTAS
Ao insigne dramaturgo e notável publicista Arthur Rocha
Em face da história, em face do direito,
Em face deste séc’lo que banha-se de luz,
Eu venho, recordando-vos o prólogo da cruz,
Trazer-vos a odisseia qu’irrompe-me do peito.
É feita de sorrisos, de prantos de crianças,
De cânticos de amor, de brandas alvoradas,
De cousas alvo-azuis, de nuvens iriadas,
De pérolas de luz, de rubras esperanças.
É feita de perfumes e brandos magnetismos,
De raios de luar e cândidos lirismos,
De auroras, de harmonias, de sol e de poder!
É feita de justiça, virtude e consciência,
De sãs convicções na máxima eminência:
Chama-se liberdade e é filha do dever!
In: Artista (Rio Grande do Sul) e datado: “Rio Grande, 2 de
junho de 83”.
ÁGUIA DO IDEAL
A Julieta dos Santos
A arte!?... a arte!?... O sentimento, a estética,
Todo o conjunto de paixões estoicas,
– Sérias paixões – originais, heroicas
E acentuadas pela luz elétrica;
Esse vigor alevantado e novo,
Forma o brasão de quem trabalha e gera
No seu talento em claro sol que impera...
– Sol triunfante que deslumbra o povo!
E tu que és, excepcional criança,
D’um porvir belo a delicada esp’rança,
A estrela d’alva de arrebóis cingida;
Do palco, em meio, a genial coorte,
Segues na vida sem pensar na Morte...
Foges da morte... procurando a Vida!...
Cambiantes
In Julieta dos Santos
(Typ. Industrial, 80p. Pernambuco, 1884.)
"Se não fosse a educação... o racismo não teria como se reproduzir."
Silvio Almeida
Lethycia Dias:
"Muitos escritores que hoje são reconhecidos, viveram muito mal. Lima Barreto é mais um exemplo. Discriminado por ser negro, pobre e boêmio... Por escrever sobre as pessoas simples, como donas de casa, bêbados, "vagabundos". Existem tantos exemplos de escritores que passaram por dificuldades em vida!"
"Desse tipo de erro ninguém reclama nos livros didáticos"
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Leia também:
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De fato, a inteligência, criatividade e ousadia de Cruz e Sousa eram tão vigorosos que, mesmo vítima do preconceito racial e da sempiterna dificuldade em aceitar o novo, ainda assim o desterrense, filho de escravos alforriados, João da Cruz e Sousa, “Cisne Negro” para uns, “Dante Negro” para outros, soube superar todos os obstáculos que o destino lhe reservou, tornando-se o maior poeta simbolista brasileiro, um dos três grandes do mundo, no mesmo pódio onde figuram Stephan Mallarmé e Stefan George. A sociedade recém-liberta da escravidão não conseguia assimilar um negro erudito, multilíngue e, se não bastasse, com manias de dândi. Nem mesmo a chamada intelligentzia estava preparada para sua modernidade e desapego aos cânones da época. Sua postura independente e corajosa era vista como orgulhosa e arrogante. Por ser negro e por ser poeta foi um maldito entre malditos, um Baudelaire ao quadrado. Depois de morrer como indigente, num lugarejo chamado Estação do Sítio, em Barbacena (para onde fora, às pressas, tentar curar-se de tuberculose), seu
corpo foi levado para o Rio de Janeiro graças à intervenção do abolicionista José do Patrocínio, que cuidou para que tivesse um enterro cristão, no cemitério São João Batista.
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Organização e Estudo
Lauro Junkes
Presidente da Academia Catarinense de Letras
© Copyright 2008
Avenida Gráfica e Editora Ltda.
Projeto Gráfico, Editoração e Capa
ESPAÇO CRIAÇÃO ARQUITETURA DESIGN E COMPUTAÇÃO GRÁFICA LTDA.
www.espacoecriacao.com.br
Fone/Fax: (48) 3028.7799
Revisão Linguístico-Ortográfica
PROFª Drª TEREZINHA KUHN JUNKES
PROF. Dr. LAURO JUNKES
Impressão e Acabamento
Avenida Gráfica e Editora Ltda.
Formato
14 x 21cm
FICHA CATALOGRÁFICA
Catalogação na fonte por M. Margarete Elbert - CRB14/167
S725o Sousa, Cruz e, 1861-1898
Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização
e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008.
v. 1 (612 p.)
Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do
traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.
1. Sousa, Cruz e, 1861-1898. 2. Poesia catarinense. I.
Junkes, Lauro. II. Titulo.
CDU: 869.0(816.4)-1
"A gente só tem saída na política."
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