sábado, 7 de outubro de 2023

Memórias - 26: no hay maldición, no hay brujas

No se puede hacer la revolucion sin las mujeres

Livro Um

baitasar

Memórias

26 – no hay maldición, no hay brujas

no hay maldición, no hay brujas, apenas solidão no coração de mi hermana, um coração que gosta mais que ontem, sempre um pouquinho a mais todo dia, não cansa dos seus sabores

Blanca não se queria sagrada, não mesmo, mas a ventania que derrubava tudo, a caverna degenerada do seu homem e o seu desejo duro e firme até o fundo, queria o homem da sua escolha, um hombre separado del rebaño por la Montaña, estava impaciente com suas dores

naqueles dias e noites, depois da partida do José Qualquer, minha irmã se perdeu em desinteresse e tristeza, tudo se arrastava em quefazeres de juntar gravetos, esmagar baratas, cuspir nas moscas, quebrar o milho, assar tortillas... sem alegrias

resignada pela tristeza desesperançada, um bagaço definhando seco de umidades, ressecando, a tristeza resistindo

angustiada pelo tempo do próprio acabamento

meus olhos não precisavam mais ficar espremidos, fingidos de dormir, ficavam despertos até quase doer o amanhecer, vencidos pelo cansaço... eu dormia

mi hermana seguía desinteresada dentro de su proprio nido

na morte se perdem os movimentos e a solidão é completa e indiferente, a vida desiste e perde importância, acabou o descontentamento, a alegria, o corpo desfalecido da vida é apenas carne que se desmancha de si mesmo, perde as memórias, os perfumes e aromas, sólo queda el olor de la muerte

não ouvia minha irmã reclamando da própria dor dentro do silêncio das lágrimas enquanto morria e ficava viva, sofria sem agitação, fúria ou violência, a dor insuportável da permanência amaldiçoada no próprio cadáver

ficávamos metidas na exaustão da escuridão sem os tocos de vela, o manto pesado da solidão vestia-nos dos pés à cabeça com a memória do já vivido, sussurrado na penumbra

a voz da mulher sagrada crescia e aumentava a dor daquela solidão de saudades, Mira me, mis ojos quieren mirar te. Necessito de tus ojos, deja me cegar o aparece de vez

nenhuma resposta sussurrando lamentos, apenas o silêncio de um vento fraco respirando palavras quietas na sua dor

foi a primeira vez que senti vontade de rugir, queria parar de escutar as lágrimas abafadas da minha irmã tão profundamente molestada pela saudade


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