No se puede hacer la revolucion sin las mujeres
Livro Um
baitasar
Memórias
minha querida amiga, o tempo se passou e continuo com
perguntas que não tenho como responder
soy uma anciana
que se acostumou sem paciência para respostas vazias, acenos doces e comidas
de farturas sem gosto, alegrias volúveis, mortes fúteis, O que faz nos homens o descontrole nas virilhas e nos obrigam o comedimento virginal? Por que fogem das intimidades das palavras ou do bom senso ou do carinho? Homens e seus medos
dos acendimentos mútuos, querem loucuras indecentes entregues na bandeja das
pernas arregaçadas como um vício, um hábito de arreganhar-se para os depravados justos e rezadouros.
passam a vida procurando
ninhos raladinhos, mas jamais se deixam encantar, desde tempos remotos têm se
servido de nós, um lugar de encontros entre a terra e a vida, uma fome que desencanta
gente do bem e sua tirania plana
minha queridona, nestes anos todos me dei conta que precisava aprender a pensar, parar de ficar repetindo o discurso tirânico dessa gente, me sentindo culpada, tenho certeza que se criam o dia das putas me mandam abraços de reconhecimento pelo trabalho duro que desempenho, mandam flores, beijinhos e passam o restante dos dias – hasta el siguiente día de la puta – jogando pedras, matando, gritando, ameaçando ou ignorando a florzinha, o vaso da florzinha secando
até que num dia qualquer,
sem importância para o mundo, e de muito respeito para mim, percebi-me honesta
comigo mesma – sim, minha querida, não te iludas que existem muitos homens e
mulheres desonestas para desvelar
a consequência da neutralidade fingida de sabida é esconder-se de si mesma – e quase sempre do mundo redondo – como se toda neutralidade fosse inocente e não abrisse novas covas planas e cândidas
somos acorrentadas na resignação da esperança num outro paraíso plano que não existe
esse é o mundo possível que precisa mudar, essa é a vida que existe, o tempo apaga rastros e
cheiros, tristezas e alegrias, ele passa enquanto envelhecemos
soy uma puta del maíz, não
te choques, isso não é nada demais nem de menos, apenas uma escalação que
demorei entender
passei anos acreditando que eu mesma escolhi ser uma das putas de la Montaña, até descobrir que ela não precisava apenas do adubo para suas terras de milho e bananas, necessitava de adubo para as carnes que lhes subiam e desciam às costas, nossas rachaduras e umidades eram o adubo deste lugar onde a escuridade ainda não sumira das paredes, mas as baratas e formigas já brotavam curiosas e nervosas do chão, um sítio onde os ratos vagavam de um lugar para outro até encontrar crianças para roer o nariz, orelhas e dedos
de certa feita, os
bichanos roeram el pene del niño
a mãe, de casa em
casa, gritava mostrando o ratão que matara com dentadas, ficara louca, diziam os murmúrios; fora castigada, suspiravam os rezadouros
aos poucos começaram os cochichos que as deusas amarelonas estavam zangadas e o ratão comeu as virilhas do menino com o consentimento das divindades, um martírio necessário para adubar as terras de maíz e a pobreza miserável segue sendo um problema das mães e dos ratões
eu sigo sendo a cova em que eles se metem enquanto pensam que estão vivos, Soy una anciana puta.
os sussurros vem e vão ao sabor das ventanias que deslizam suaves sobre os topetes das espigas amarelonas de milho
a pobreza segue sendo culpa dos pobres
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Livro Um:
Memórias - 01: a lua cheia
Memórias - 02: a servidão natural
Memórias - 03: um negócio inesgotável
Memórias - 04: la sina de papá
Memórias - 09: ¡vaya hombre, no me dejes!Memórias - 11: a caverna dos espíritos amorososMemórias - 13: a Virgem do Rosário
Memórias - 14: palpitesMemórias - 18: ¡Estamos haciendo historia!
Memórias - 27: soy una anciana
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