sábado, 27 de agosto de 2011

O amor

Maiakovski




Não acabarão nunca com o amor

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

O amor
(Tradução de Haroldo de Campos)

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
           numa alameda do zoo,
sorridente,
          tal como agora está
          no retrato sobre a mesa,.
Ela é tão bela,
         que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
         que dilaceravam o coração.
Então,
         de todo amor não terminado
seremos pagos
         em enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
         como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
         nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
         Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
          salários.
Para que, maldizendo os leitos,
          saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
          que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
          - Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
           livre dos nichos das casa.
Para que
          doravante
a família
           seja
o pai,
           pelo menos o Universo;
a mãe,
           pelo menos a Terra.

(1923)

Vladimir Maiakovski ( 1893 - 1930 ) - Poeta -
música: O Amor - Gal Costa - composição: Caetano Veloso ( baseada em poema de Vladimir Maiakovski )

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