segunda-feira, 30 de outubro de 2017

histórias de avoinha: o moço vai deitar na rede?

mulheres descalças


o moço vai deitar na rede?
Ensaio 110B – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar


num sei pruqui, num sei a razão nem a falta da razão pra vida se mostrá assim pra eu, ela esconde as coisa boa, num tô fazendo choradêra, fartura mesmo só das coisa ruim

agora mesmo, num sei se uqui aconteceu ainda vai contecê, tumbém num sei se uqui vai acontecê já conteceu. parece bobice, mais num é, num dá pra creditá qui uqui tá acontecendo tá contecendo. nuncaconteceu. a moça é muntu bunita, mais as corrente é muntu dura

gosto da buniteza da moça, pode sê qui gostá muntu da moça vai fazê eu sê livre, pode sê qui num vai. isso num importa, uqui importa é eu sê dono dieu mesmo. num é bão essa coisa dinum sabê ou sabê dimenos, sabê dimais faz parecê esperto, eu sei qui sabê num é esperteza, é só momento acertado, lugá ajustado. mais é bão sabê. é preciso sabê qui gosta da buniteza da moça pode sê otra cadeia, mais cum otro gosto, um rodomoinho cum as preocupação sobre amô, saudade, canto, sonho, vingá a semeadura na terra dumbigo

Então, o Moço não vai deitar na rede?

as purugunta diantes parece sê diagora, as coisa feita diantes parece sê feita diagora, só uma coisa num muda, a buniteza da moça

Nunca deitei assim...

parecia saí dusóio da moça um fugaréu qui entalhava toda ela cum bondade. a moça oiôeu deitada donde tava, na rede agarrada na terra pendurada nucéu. quanta beldade na terra, quanta belezura nucéu

cumo posso dá uqui nunca tive? vô sabê uqui posso dá? tava eu ali, quase um baobá ou quase uma pedra? cum medo eu tava. num tenho nem costume disabê pra repetí, num tenho nem vontade pra repetí, é tanta amargura, é tanto sofrimento, num vô perdê tempo cum amaldiçoamento da vingança. meió é vivê

Assim como?

a moça é teimosa, num vai desistí. eu num queria tremê as palavra, mais eu tava mais assoprando vento qui soltando a língua

Eu... mais a rede... mais a moça.

ela num fez zombaria nem mostrô alegria, num tava caçoando. a moça carregava muntus eu dentro da moça. parecia num pedí nada, parecia oferecê tudo. a rede embalava dengosa nucéu da terra, cheia da boa vontade

Tire esse poncho e venha cá... se o Moço assim quiser...

tô-qui-tô tô-qui-tô tô-qui-tô

as batida qui ucuração fazia empurrava cum uspé descalço umeu corpo presente pra junto da moça. um comboio cum uspé descalço, passo à passo, ucorpo queimando cuma flecha, pronto pra se soltá duarco pruvão das perna da preta. num precisava sê empurrado

Eu acho qui vai sê bão...

ela continuava puxando eu cum as palavra mais usóio mais uvão das perna aberta. ela sabia qui eu tava improvisando, num ia chegá aviso ducéu nem descê algum milagre. ucéu inté agora num fez umenó caso dieu, mesmo depois ditê derramado toda água morna dusóio, cumo se fosse assim mesmo: donoditudo vive disposto pra ganhá a vida sem trabaiá, mais cum a dô dutrabáio duspretu escravizado. ele qué mais as coisa qui a amizade das pessoa, ele qué mais mandá qui se interessá cum as pessoa

Você é mesmo um pudim de chocolate.

era munta promessa prometida, fiz qui num escutei. mais na dúvida disê ou num sê verdade soltei uponcho

Assim, puruguntei já sem uponcho qui ficô largado na terra

É... assim, sem o poncho. O Moço aceita um charuto? Ou uma cachaça?

num respondi. num sabia ugosto desse charuto, só sabia da cachaça, mais puruguntei das mão

O que têm as mãos?

Onde eu coloco as mão?

ela riu alto, muntu alto. pedí pra num rí tão grande pruqui podia alertá algum caçadô duspretu pru lugá daqui, Num tê onde colocá as mão num é bão, expliquei. ela riu mais alto, Eu num gosto das mão qui tenho. Elas parece tá sempre cum adoecimento das porcaria qui elas precisô limpá.

Deixe-me vê-las...

mostrei

ela segurô as duas. avizinhô da boca uma, depois otra. mais num parô assim, colocô as duas uma em cada peito empinado, os dois botão derramando. eu cum usóio estalado na moça qui tava dum jeito lustroso metido nusóio dieu

tô-qui-tô tô-qui-tô tô-qui-tô

ucuração da moça batia cum força nas mão dieu

Já vi mãos obscenas, enfiadas nas coxas, albergadas, acomodadas, largadas, sem ofício ou boa vontade, preguiçosas, violentas. Outras eu vi lavrando a terra, semeando, tocando guitarra, levantando o chapéu de palha. Mas as mãos que não consigo esquecer estão sempre sangrando, metidas em correntes de ferro. O céu nunca fez o menor caso com a fome destas mãos... o Moço coloca as mãos onde acha que deve, onde lhe parece melhor. Não precisa pedir permissão. O mesmo eu faço com minhas mãos.

pensei puruguntá onde devia colocá a boca, depois achei qui num devia colocá a boca em lugá nehum da moça, mais acabei puruguntando

dessa veiz, ela num riu. continuava cum usóio cravado mais doce qui já vi, eles num proibia nada nem oferecia milagre. eu num tava preparado prusóio da moça, usóio mais fresco, usóio mais alvoroçado qui já vi espiando pra eu

Coloque a boca onde o Moço quiser...

oiêi a natureza da moça, num tinha regalo meió pra oiá, parecia abrigá a terra dumbigo cercada cum mato encantado. 
a terra mais cobiçada, cuma piquinina lagoa sinuosa em meio a semeadura

Posso colocá a boca na boca da moça?

ela riu cum tremô, cum as lambida, cum vai qui vem, riu alto, Assim a moça vai anunciá qui tô aqui escondido, resmunguei cismado. ela riu mais alto, num pareceu escutá nem se importá cum as lamuria dieu. umato tava fervente, ucalô tava pra derretê. a barriga dumbigo tava ali querendo eu. ela graciosa, eu pedindo ajuda. ela sorrindo prucéu, eu cum as mão enfiada na terra. as areia espumando cum as água qui vai-vem, a moça derramando da lua ucéu entontecido. oiava pru monte da terra dumbigo, tava encantado

É um começo, ela disse

num respondi pruqui num sabia mais uqui dizê. num queria fazê aquele encantamento desaparecê cuma ou qui otra palavra desastrada qui flutua perdida, fingida cumu defunto pra ganhá sapato novo, inté qui acha uma boca ingênua ou cum muntu veneno pra vivê. num quero sê a boca cum veneno nem a boca cum tolice qui dá vida pras palavra desastrada

num tive vida vivida tão perto duma moça, seja moça qui seja, pensei caí cum usjoêio na terra, cum as mão prucéu, pra rezá, Oh, moça! Num fuja nem deixa eu fugí da moça. Prometo qui vô aprendê rezá, vô estudá canto, vô acostumá dançá duspé inté a cabeça. Num desista dieu, vô sê rei.

abrí muntu usóio, depois fechei sem fazê força. coloquei a boca na moça. foi quando vento mais água parô, as correnteza da vida parô ditá indo dum lugá protro. nada acalma mais a vida qui a terra dumbigo. é a terra cobiçada da lagoa sinuosa, lugá da semeadura. a moça linda, mimosa, preta cuma noite mais sedutora, gemeu uma, duas, num parecia cum vontade pra num gemê. colocô as mão na cabeça dieu, cumu pra abençoá, mais empurrô a cabeça dupretu pra dentro duvão das perna. gemia, mais num era gemido qui era dô

parei pra respirá, desafogá de segurá a vida cum a boca. a moça abriu usbraço em cruz, ela é a pintura da buniteza. depois qui fechô usbraço cum firmeza perdi a vontade qui tava pra fugí, hoje mais amanhã ninguém foge dum abraço assim. sentia vontade ditê um lugá, uma casa pra colocá dentro cada sonho dieu

fiquei muntu retesado

num sabia se tudo era sonhado antes, pensado depois. tava cum medo disê acordado quando ela beijô meu rosto. queria mostrá atenção. rezei pra num acordá quando a moça roçô a boca carnuda dupescoço dieu, depois assoprô qui queria eu deitado na rede. pode sê qui eu pegue gosto, pode sê qui eu goste da moça, mais foi quando ela colocô a boca cum a boca qui fiquei enfesado. ela cochichô pra boca dieu qui tava pronta. 
dei um pulo assustado

desconfio qui a moça num é verdade. ela vive sem vivê ou sôeu qui numsô da vida. tô cismado qui ninguém mais vê a moça cum corpo presente, mais pode num sê assim, pode sê só medo da moça sê verdade cum corpo presente. num sei cumu fazê pra sê corpo presente na rede da moça. deitá deve sê a parte mais fácil, mais esse lugá dumundo num é meu lugá. existí é bão, mais bão mesmo é existí cum lugá numundo. a gostosura da vida é sabê aproveitá vivê. deitá na rede pra durumi e gemê

pedi permissão pra deitá na moça, ela ofereceu as perna aberta, oiava pasmo useu oferecimento. ôiei cum a boca qui simôiô. toquei cum finura, cum a maió delicadeza qui sabia tê, cada dobra qui desdobrava, num sabia se tava lento ou se num tava, mais num queria nada qui a moça num tava cum vontade pra dá

empurrô sem fazê força a cabeça dieu pruvão, a mais finura das carícia. parei pra abrí usóio. esperei uqui ela queria fazê. pediu pra eu começá dá beijo, lá nuspé

atendi

desci duvão das perna, fui pruspé descalço. perdi a afobação quando dei um beijo, depois otro, mais otro nuspé da moça. umundo calmô mais, perdeu interesse qualqué alvoroço. beijá uspé faz parecê qui a mágica num é truque. a mágica é creditá qui num é truque fazê parecê qui a moça existe, é verdade cum corpo presente

tava muntu retesado, esticado na extremadura duarco

beijava uspé da moça pra mostrá qui eu segurava a impaciência pra dá atenção nas vontade da moça. roçava cum a boca qui tava aprendendo, tava gostando daquele feitio cum demora pra chegá inté depois

tava bão num tê afobação

a moça dava gemido cum cada afago qui recebia, cada mimo sem agitação. as mão qui acarinhava uspé subiu inté as coxa, mais a boca dusbeijo num saía duspé, ela gemia, fazia pedido, Cócegas, não. Eu tenho cócegas.

Num é bão?

Não, o Moço precisa colocar atenção nos beijinhos...

Eu tô cum toda atenção.

Vem cá.

desviei duspé pra chegá nas canela preta, toda alisada, sem mistura, transparente, feliz, ela era puro alvoroço

subi inté usjoêio

continuava renteando cum a palma das mão as coxa, beijava dusjoêio inté uspé. as mão resvalando cum a lombada depois cum a palma, as cócega deixando a língua adormecida, O Moço não existe... não posso esquecer o Moço. Não existe corpo presente que fica sem afobação, sem medo, com tanto cuidado.

cuidado pode sê medo. num respondi, num sabia cumu dizê qui tava cum medo. roçava a boca inté usjoêio, resvalava as mão cum a lombada prudentro das coxa, subia prufora cum as palma. subia cum as palma, descia cum as lombada. a moça retrocia, quanto mais pedia mais gemia

aproximava usbeijo cum as mão lambendo. inté qui a moça dobrô uma das perna. num esperei ela desdobrá, subí roçando cum a boca inté usjoêio pra descê nuvão das coxa, sentí um perfume qui chamava eu pra vida na terra dumbigo

continuei usbeijo na perna qui tava toda esticada. uma veiz, otra veiz, acarinhava as pernas inté uvão. saía pra voltá cum roçado da boca. as mão perdida nuvão, elas tava cum vontade, eu tava cum vontade, ela tava cum vontade

Você e eu precisamos terminar o que começamos.

mostrava tudo qui deliciava cum gosto dusóio, longe da maldade, curado inté usóio adormecê. a lua mostrava, a lua escondia as fantasia mais viva da moça, deixava eu cismado cum as hesitação da lua

ali, na rede, tava eu cum a muié mais linda da vida, tava a vida qui precisava da vida. a moça atracô cum as mão a cabeça dieu, Fica... fica...

fiquei cum uvão das coxa na boca, num tinha aconselhamento duqui fazê. continuei beijando, roçando, num queria sê salvo, num podia ficá pasmo, O Moço tem língua?

as mão da moça voltô guiá a cabeça dieu, queria beijo cum a língua nuvão das perna. a purugunta foi recomendação, num queria conversá, queria tê a língua dieu. bebia a moça, mais tumbém bebia eu, as água tava tudo misturada. eu derramava na moça, ela derramava, Quem lhe disse para que fizesse assim?

a moça num sossegava, eu num sossegava agarrado na sua cintura de terra. aprendê é muntu rápido cum a vontade toda dentro, É aqui que o Moço vai entrar, mas antes vem cá, foi a veiz qui num obedeci. foi tanta fartura, tava tão retesado uarco, Até o fim do terreiro, Moço...

a moça é muntu atrevida, tem munta coragem, Agora que matou o meu desejo, dorme.

Pru qui essa lágrima?





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