domingo, 14 de outubro de 2018

histórias de avoinha: praça pública é lugar de gente vagabunda!!!

mulheres descalças

praça pública é lugar de gente vagabunda!!!
Ensaio 127Bc – 2ª edição 1ª reimpressão

baitasar


continuando...




a pianística muriquinha deu os dois passo pra tráis, espichô as vista pra longe da gritaria enquanto a luz da tardinha entrava pelo cômodo espaçoso, a vida de longe iluminando a vida no meio da sala, e num é assim? os vivo passa a vida procurando de longe uqui tá bem perto quando num sabe lê a vida qui tem; a vida lá de fora espicha os óio pra janela, os óio da janela se espicha pra fora procurando a vida  - lá longe - enquanto a voz suave e galante do piano enche as janela da praça com seus suspiro e exclamação, Para onde vosmecê vai depois de se deitar do outro lado do rio? Para onde vosmecê vai depois de deixar apenas a escuridão da noite? Para onde vão levar esse moleque que não chora e apanha tanto? Existe um lugar que não existe?

ela balanceô o corpo e os braço, num tinha resposta pras purugunta dela mesma, mais queria respondê pru pai a purugunta já feita, Minha filha, o que temos na praça além do negro, deu um riso tímido e fechô as vista, antes de dizê da purugunta uqui queria dizê, O sinhô meu pai esqueceu de colocar na sua lista: o rio e o pôr-do-sol, as vozes alegres, as negras bonitas, todas tão bonitas, o gaiteiro e a sua esposa tão prestativa, as missas domingueiras do sinhô Padre, os negros que andam em pé...

o pai ergueu a mão pedindo pra ela fazê parada da sua lista, deu um dois trêis passo inté perto da sua esposa dos bão exemplo, desceu a mão e amoleceu a dureza do corpo, já tinha um bão tempo qui os dois começô aquela vida de num deitá e acordá junto, tem e num tem certeza quando começô esse medo com as intimidade de marido e consorte, mais a desculpa tava na ponta da língua, Não quero acabar no sumidouro de ter um filho atrás do outro, dito e feito, assim, daquele ajuntamento de hôme e muié resultô duas criação própria: um fiu e uma fia; e mais vontade num teve de sê o hôme feito marido da muié feita esposa, mais sabia sê agradecido, A donna sinhá, minha esposa amada, fez tudo certo. Só tenho que lhe agradecer. Nem todo dinheiro pode lhe pagar os acertos que teve. A casa que sempre sonhei costumava ser muito melhor, mas olhe pela janela, lá fora, está um inferno. Muitas vezes, tenho vontade de cantar, mas penso que não está certo, não no meio do seu rosário de limpar a casa. Fico em silêncio, é o meu jeito de respeitar sua dedicação e trabalho. Eu não cantei, às vezes, me pergunto se não deveria ter cantado para lhe aumentar o ânimo com meu bom humor. Ou quem sabe deveria ter rezado mais? Vai saber, não é? Quanto mais eu penso na vida que tenho maior é o meu reconhecimento pelo esforço de vosmecê. O primeiro filho que me deu foi um menino. Quanto orgulho senti da minha mulher. Um filho para carregar meu nome pelo mundo afora. O segundo filho foi essa menina, não é culpa de ninguém, afinal, uma menina serve para encantar e suavizar as durezas da vida. Nenhuma graça é de graça ou inútil nesta vida, tudo tem a sua compensação, o retorno.

e mais fiu os dois num teve pruqui o siô dono de tudo na casa e da casa num mostrava mais tanta vontade com os aconchego e atrevimento da cama. foi ele qui depois da nascença da muriquinha avisô qui a cama de durumí do marido e da muié precisava sê separada e só ajuntada em caso de precisá atendê alguma necessidade descontrolada, A sinhá precisa de lugar privativo para ter os cuidados de peito com a menina. Acho que não devo presenciar nem me aproximar, num fez cara de nojo ou aparentô pôco caso, mais quando oiava pra mãe dos dois fiu seu num conseguia tê os pensamento amaldiçoado qui os hôme costuma tê com as otra muié qui vive na vizinhança, mormente, ele, com a donna muié do gaitêro qui visitava depois qui o gaitêro saia pra animá os baile da villa, esperava o lenço verde da muié do gaitêro sê amarrado com discrição na janela dos fundo e pulava a cerca

O sinhô meu marido é quem sabe, mas os seus olhos não vão me causar embaraço ou incômodo, pelo contrário, saber do sinhô vendo meus cuidados com seus filhos vai me dar mais alento, o marido num balançô a cabeça nem acenô, num sabia como explicá qui a sua existência inté ali tinha sido mais ou menos feliz e num esperava mais qui isso do tédio em uma jaula, como num sabia falá duqui lhe incomodava, continuô na mesma ladaia, A leitaria, na frente de quem quer que seja, não é coisa bonita. No meu modo de ver, é coisa da pobrice, e foi depois do dito qui ela desistiu de puruguntá se ele queria experimentá o gosto do leite, achô meió trocá o lado e a têta qui oferecia pra muriquinha, nem se animô de reclamá das mordedura qui a guria lhe dava, O sinhô acha isso mesmo, Acho sim, esse mamaço todo parece coisa de vaca leiteira, oiava prus lado, o quarto lhe parecia muntu estreito, apertado, o gosto do leite parecia lhe entrá pelos dois buraco do nariz, procurô pelo balde das nojêra, a vontade de vomitá lhe subiu e desceu, foi e voltô, Mas é preciso dar de mamar para nossa filhinha, Caso a sinhá queira posso pagar uma ama-de-leite. Esse é um bom uso das negras, Não vejo necessidade, respondeu a mãe pru nauseado qui levantô e desceu os ombros pra lavá as mão, A donna sinhá é quem sabe, Tenho muito leite, Isso é verdade, a menina não tem boca suficiente para aparar tanta leitaria derramando, e a cama de durumí junto foi cortada, e duma foi feita duas; depois de separada as cama foi encostada nas parede dum lado e otro do quarto, num demorô muntu pra separá os quarto

o piá crescido antes da muriquinha, assim qui teve tamanho pra se virá sozinho, embarcô num navio pras terra dos estudo sério de juiz advogatício

num teve conversa pra escutá as vontade do fiu, Mas pai...

Não tem mas nem meio mas, meu filho. É preciso preparar-se para o futuro. E ser o homem que lê, examina e julga com o livro das leis embaixo do braço vai lhe abrir os caminhos da Villa. É só saber olhar a quem está servindo.

e o muriquinhu se foi, e tava demorando pra voltá

a fia bem quiquis embarcá tumbém quando tava chegando sua veiz de tê crescido, mais num deu jeito de encantá o painho com suas vontade de saí de casa, Mas pai...

Não tem mas nem meio mas, minha filhinha amada. Nem em sonho a mocinha sai de casa... para sair daqui, só casada. Pare com essas bobagens, seu pai e sua mãe preferem o encantamento da nossa filhinha no piano, o hôme qui tá dentro do pai num pode esquecê qui cuidá e vigiá é mais importante qui ensiná, prum pai qui tá dentro do hôme é isso, basta puní pra ensiná

os dois, o hôme e o pai, aprendeu mostrá mais duqui dizê, ameaçá é mais fácil qui conversá, eles num pode fraquejá na vontade de mandá nem no gosto pela obrigação do destino de sê hôme acima de tudo, sê o dono de tudo na casa, Vosmecê, minha filhinha, é uma mocinha linda como as outras mocinhas, mas no piano nenhuma lhe pode alcançar. Não tem melhor lugar para aprender as virtudes do piano que junto dos cuidados e proteção da nossa casa.


essa falação dum pai pra fia já faz tempo qui tá perdida no tempo, mais num demora pra voltá

Está bem, minha filha amada, coloque nesta lista dos meus esquecimentos: a carreta dos bois sonolentos, a paisagem encantadora do rio, os vagabundos, a praça, aquela ali, e mostrô com a ponta do dedo duro a rua da janela, que já foi frequentada por gente de bem, e hoje, está tomada pelos negros e a pobrice. Só nos resta, aos homens de bem, para ter um pouco de privacidade, embarcar nas canoas e atravessar para os lados da Fazenda Gravataí. Por lá, vamos encontrar alguns índios tapes, não muitos, alguns tropeiros da Gravataí, mas essa escória da vagabundagem fica por aqui.

o painho da pianística num sabia, nem tinha como sabê, ali, na praça, tinha os vivo com carne e osso, os vivo qui virô defunto sem carne e sem osso, e tumbém, os abicu, aqueles muriquinhu pretu qui num morreu nem nasceu, num tem tem riso nem sussurro de choro, eles tá ali pra contá as história pra quem sabe escutá

ele num tinha como sabê qui o cemitério só guarda as ossadura e as memória escrita nas pedra; tem dia qui o cemitério tá tão cheio de vivo qui os defunto sai tudo de lá, e fica na praça; e tem veiz, qui os defunto se esconde tudo lá, no cemitério, tem medo de tá na praça, eles num consegue entendê os vivo fazê os mesmo desacerto dos vivo dantes

o hôme dentro do pai num perdia tempo com os morto nem com os vivo quando se lançava no convencimento da fia pra ela tê a ambição das lamúria e das alegria da música, cousa de munta rareza entre os pai e as muriquinha da villa: quase todas mocinha se cerca com as tarefa dos cuidado da casa marido fiu

a villa tava dentro de cada muriquinha pru bem ou pru ruim, elas carrega a raiz qui entranha os costume de antes, e prepara pra depois a imitação dos feito e desfeito; tem como fazê diferente, mais tem gosto de remorso, um adormecimento qui contamina, aflige, derrete a loucura, engorda a solidão e num abranda o remordimento das desculpa da culpa

a moça pianística, na medida qui achava jeito, tentava num escutá os mau entendido, as contradição e a ignorância da villa, Coitadinho do rapaz...




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