Thomas Mann
A Montanha Mágica
Capítulo IV
Conversas à mesa
Durante as refeições, na sala pintalgada, o jovem Castorp sentiu certo embaraço ao notar
que daquele passeio, realizado por conta própria, lhe ficara o referido tremor de cabeça peculiar
ao avô. Justamente à mesa, esse tique se produzia com certa regularidade; não havia jeito de
impedi-lo, e era difícil ocultá-lo. Além do recurso de apoiar o queixo dignamente na gravata, do
qual afinal não se podia servir a todo instante, Hans Castorp inventou todo tipo de meios de
disfarçar esse seu fraco. Por exemplo, mantinha a cabeça em constante movimento, conversando
com as vizinhas ora da direita ora da esquerda; ou, quando levava a colher à boca, fincava o
antebraço esquerdo na mesa, a fim de firmar a sua postura; também apoiava o cotovelo na mesa,
nos intervalos entre os pratos, e escorava a cabeça com a mão, se bem que a ele mesmo essa
atitude se afigurasse como uma falta de educação, admissível, apenas e a rigor, num ambiente
desregrado de enfermos. Mas tudo isso não deixava de ser penoso, e pouco faltava para que lhe
tirasse por completo o gosto das refeições, que ele normalmente apreciava muito, em virtude das
sensações e coisas notáveis que acarretavam.
No entanto, esse fenômeno ignominioso contra o qual Hans Castorp tanto lutava, não era
– ele mesmo o sabia bem – de origem simplesmente física; não o provocara apenas o ar alpino,
nem o esforço de aclimatação; ele expressava uma agitação íntima e estava ligado, de um modo
direto, a certas sensações e episódios marcantes.
Mme.. Chauchat chegava quase sempre com atraso à mesa, e enquanto ela não estava
presente, Hans Castorp não podia ficar sentado e manter os pés tranqüilos, porque esperava o
estrondo da porta de vidro, que invariavelmente acompanhava a entrada da moça, e não ignorava
que naquele momento se sobressaltaria e sentiria seu rosto gelar-se, como de fato acontecia com
a mais absoluta regularidade. No começo, nunca deixara de voltar furiosamente a cabeça; seguia
com olhares irados o caminho da desleixada retardatária até a mesa dos “russos distintos”; às
vezes também murmurava, entre dentes, qualquer praga ou exclamação indignada. A essa altura
dos acontecimentos já não fazia nada disso; limitava-se a inclinar a cabeça sobre o prato,
mordendo os lábios, ou com um movimento propositado e artificial voltava-a para outro lado,
pois parecia-lhe que já não tinha direito de encolerizar-se; não se sentia bastante livre para
censurar; pelo contrário, tinha a impressão de ser cúmplice da conduta escandalosa, de participar
da responsabilidade perante os demais – em poucas palavras: estava com vergonha; teria sido
inexato dizer que se envergonhava do comportamento de Mme.. Chauchat; não, ele,
individualmente, sentia vergonha perante as outras pessoas, o que, aliás, era mais que
desnecessário, visto ninguém na sala se preocupar com o relaxamento de Mme.. Chauchat, nem
tampouco com a vergonha de Hans Castorp, com exceção, talvez, da professora, a Srta.
Engelhart, sua vizinha da direita.
Essa criaturinha ridícula compreendera que, graças à sensibilidade de Hans Castorp
relativa a portas fechadas com estrondo, se originara uma certa relação afetiva entre o seu jovem
companheiro de mesa e aquela russa; sabia, além disso, que pouco importava o caráter de tal
relação, contanto que ela existisse, e que a indiferença fingida de Hans Castorp – bastante mal
fingida por falta de prática e talento de ator – não significava um enfraquecimento, senão um
reforço dos laços, uma fase mais avançada dessa relação. Sem ter, para a sua própria pessoa, as
mínimas pretensões ou esperanças, a Srta. Engelhart expandia-se incessantemente em encômios
desinteressados a Mme.. Chauchat. O estranho era que Hans Castorp perfeitamente notou e
reconheceu, senão logo, ao menos com o tempo, o caráter atiçador dessa insistência, que até lhe
causava repulsa; mas, apesar disso, deixava-se docilmente influenciar e seduzir por ela.
– Pronto! – disse a solteirona. – Aí está ela. Nem é preciso levantar os olhos para saber
quem entrou. Claro, ali vai ela. Que jeito engraçado de andar! Exatamente como um gato que se
encaminha para o prato de leite! Eu gostaria de trocar de lugar com o senhor, para que lhe fosse
possível contemplá-la tão desembaraçada e comodamente como eu. Compreendo que o senhor
não pode virar a cabeça a cada instante para olhá-la. Deus sabe o que ela acabaria imaginando se
o notasse... Agora cumprimenta a sua gente... O senhor deveria ver isso; é delicioso observá-la.
Quando ela sorri e conversa como neste momento, tem uma covinha na face, mas só quando ela
quer. Sim, senhor, é mesmo um encanto de mulher, uma criaturinha muito mimada, e isso explica
seu relaxamento. A gente tem de adorar pessoas assim, queira-se ou não. Mesmo que nos
aborreçam pelo seu desleixo, a própria irritação é um motivo a mais para simpatizarmos com elas.
É uma grande felicidade, essa de exasperar-se e de se ver forçado a amar, apesar de tudo...
Assim murmurava a professora, tapando a boca com a mão, para que os outros não
pudessem ouvi-la, e o rubor héctico das suas bochechas de solteirona manifestava a temperatura
anormal de seu corpo. O palavrório excitante penetrava o pobre Hans Castorp até a medula.
Uma certa falta de iniciativa, que lhe era peculiar, criava nele a necessidade de ouvir confirmar
por um terceiro que Mme.. Chauchat era uma mulher sedutora. Ademais, desejava o jovem ser
animado, da parte de uma pessoa estranha, a entregar-se a sentimentos aos quais a sua razão e a
sua consciência opunham uma resistência incômoda.
Por outro lado, essas conversas eram pouco fecundas em informações positivas.
Conquanto tivesse as melhores intenções do mundo, a Srta. Engelhart era incapaz de contar
pormenores exatos a respeito de Mme.. Chauchat; não sabia mais do que todos os outros no
sanatório; não a conhecia, nem sequer tinha amigos em comum com ela, e a única coisa que lhe
poderia dar vantagem aos olhos de Hans Castorp era ser natural de Königsberg, perto da
fronteira russa, e entender algumas palavras de russo – méritos insignificantes, mas que Hans
Castorp estava disposto a considerar como uma espécie de relação longínqua com Mme..
Chauchat.
– Ela não usa anel – disse ele. – Não usa aliança, como vejo. A senhora me explique isso.
Não me disse que é casada?
A professora parecia em apuros, como se estivesse metida num beco sem saída e
precisasse desculpar-se. Tão responsável se sentia por Mme.. Chauchat perante Hans Castorp!
– O senhor não deve ligar a isso – disse então. -sei de boa fonte que ela é casada. A esse
respeito não pode haver a mínima dúvida. Se ela se faz tratar por madame, não é para se dar ares
de importância, como é hábito de certas senhoritas estrangeiras, quando já passaram da primeira
juventude. Nós todos sabemos positivamente que ela tem um marido em algum lugar da Rússia.
É fato conhecido em toda parte. Seu nome de solteira é diferente, é um nome russo e não
francês, qualquer coisa em anov ou ukov. Já me disseram, mas me esqueci. Se o senhor quiser, vou
me informar. Com certeza há pessoas por aqui que sabem. Uma aliança? Não, ela não usa aliança;
eu também já reparei nisso. Meu Deus, talvez não lhe assente bem, talvez lhe faça a mão larga
demais. Ou pode ser que ela julgue o uso da aliança costume muito burguês. Andar assim com
uma argola lisa no dedo – só falta o molho de chaves num cestinho... Não, senhor, ela é muito
moderna para isso. Eu sei positivamente que todas as mulheres russas têm no seu modo de ser
qualquer coisa de liberdade e desembaraço. E esse tipo de anel é tão prosaico, tão negativo! É,
por assim dizer, um símbolo da servidão. Dá às mulheres um quê de freira, faz delas umas
florzinhas não-me-toques. Não me admiro de que Mme.. Chauchat não queira ser assim... Uma
mulher encantadora, na flor da idade!... Provavelmente não tem vontade nem vê motivos para
mostrar os seus laços conjugais a todo cavalheiro que lhe aperte a mão...
Deus do céu! Com que ardor defendia a professora a causa de Mme.. Chauchat! Hans
Castorp olhou-a assustado, mas ela lhe sustentou o olhar, entre acanhada e teimosa. Depois,
ambos permaneceram calados durante alguns momentos, como para se refazerem. Hans Castorp
comia, procurando reprimir o tremor da cabeça. Finalmente disse:
– E o marido? Não se preocupa com ela? Não vem nunca visitá-la? Que é que ele faz?
– É funcionário público, na administração russa, e vive numa região perdida, em
Daghestan, sabe? Fica muito para o leste, além do Cáucaso. Foi mandado para lá. Não, senhor, eu
já lhe disse que ninguém jamais o viu aqui em cima, e já faz três meses desde que ela voltou para
cá.
– Não é então a primeira vez que ela está aqui?
– Oh, não! É a terceira. E nos intervalos vai a lugares semelhantes... Não, o que se dá é
justamente o contrário: às vezes ela faz uma visita ao marido; não com muita freqüência; só uma
vez por ano passa algum tempo com ele. Pode-se dizer que vivem separados, e que ela apenas o
visita de vez em quando.
– Claro, se ela está doente...
– Está doente, sim. Mas não a tal ponto que haja necessidade de viver constantemente em
sanatórios e separada do marido. Devem existir outras razões mais decisivas. Pode ser que ela não
goste de Daghestan, um ermo selvagem e distante, para lá do Cáucaso. Nisso não há nada de
surpreendente. Mas também o marido deve ter alguma culpa por ela não se sentir bem a seu lado.
Embora tenha um nome francês, é um funcionário público russo, e esses funcionários russos, o
senhor pode acreditar, são uns tipos bastante rudes. Certa vez encontrei um deles, que tinha
suíças grisalhas e uma cara bem vermelha... São venais ao extremo, e todos eles têm um fraco pela
vodca, aquela aguardente deles, sabe? ... A fim de guardar as aparências fazem-se servir qualquer
coisinha para comer, uns cogumelos avinagrados ou um pedacinho de esturjão, e acompanham
isso com imensas quantidades de bebidas alcoólicas. É o que chamam de “colação”...
– A senhora descarrega toda a culpa sobre ele – disse Hans Castorp. – Mas nós aqui
ignoramos se não é também devido a ela que os dois não se acertam. Temos que ser justos.
Quando a vejo aí e me lembro daquele hábito de bater a porta... Ora, ela não me parece ser um
anjinho. Não me leve a mal essa opinião, mas desconfio dela. A senhora não é imparcial. Está
cheia até aqui de preconceitos a favor dessa mulher...
De vez em quando, ele expressava-se dessa maneira. Com uma astúcia no fundo alheia à
sua natureza, fingia crer que o entusiasmo que a Srta. Engelhart manifestava por Mme.. Chauchat
não era o que era em realidade, embora soubesse muito bem o contrário; fazia como se esse
entusiasmo constituísse um fato engraçado, sui generis, do qual ele mesmo, o independente Hans
Castorp, pudesse servir-se para mexer com a pobre solteirona, a uma distância fria e humorística.
E como tivesse certeza de que a sua cúmplice admitiria e toleraria essa atrevida desfiguração das
coisas, não se arriscava demais.
– Bom dia, senhorita – dizia, por exemplo. – Passou bem a noite? Espero que tenha
sonhado com a sua bela Minka... Vejam só, basta mencionar esse nome e logo a senhorita está
toda corada. Está completamente caidinha por ela; não vale a pena negá-lo...
E a professora, realmente ruborizada, inclinava-se profundamente sobre a xícara e
cochichava com o canto esquerdo da boca:
– Não, senhor, isso não se faz, Sr. Castorp! Realmente não é gentil da sua parte
embaraçar-me desse jeito com as suas alusões. Todo mundo já repara que estamos falando dela e
que o senhor me diz coisas que me fazem corar.
Que jogo estranho, esse ao qual se entregavam os dois vizinhos de mesa! Ambos sabiam
que estavam mentindo dupla e triplamente, que Hans Castorp caçoava da professora só para
poder falar de Mme.. Chauchat, e no entanto encontrava um prazer mórbido e indireto nas
gracinhas que dirigia à solteirona; esta, por sua vez, admitia-as, primeiro por um instinto de
medianeira, segundo porque, para agradar ao jovem, de fato se apaixonara um pouco por Mme..
Chauchat, e finalmente porque sentia uma satisfação mesquinha quando Hans Castorp mexia
com ela e a fazia corar. Ambos sabiam disso, sabiam um do outro, sabiam também que nenhum
deles ignorava os pensamentos do outro; e tudo isso era complexo e pouco limpo. Mas, embora
Hans Castorp em geral sentisse repugnância de coisas complexas e pouco limpas, e a sentisse
também nesse caso particular, continuava, sem embargo, a chafurdar nesse elemento turvo,
tranquilizando-se com a ideia de estar ali em cima de visita e de partir dentro em breve. Com uma
objetividade afetada, falava, à maneira de um conhecedor, sobre o físico da mulher “negligente”,
constatando que ela era muito mais bonita e mais jovem vista de frente do que de perfil; que seus
olhos estavam demasiado distantes entre si, e que a sua postura deixava muito a desejar, ao passo
que seus braços eram realmente formosos e de “linhas suaves”. E ao dizer essas coisas, procurava
disfarçar o tremor da cabeça e verificava ao mesmo tempo que a professora se dava conta dos
seus esforços vãos. Teve até o máximo desgosto de notar que ela também ficava com a cabeça a
tremer. Fora por mera política, por uma astúcia pouco natural, que ele chamara Mme.. Chauchat
de “bela Minka”, pois que assim tinha uma oportunidade para fazer novas perguntas:
– Eu disse “Minka”, mas como se chama ela em realidade? Quero dizer, qual é o primeiro
nome? A senhorita, que está apaixonada por ela, deveria sabê-lo.
A professora pôs-se a refletir.
– Espere um pouco – disse. – Eu sabia o nome. Não era Tatiana? Não, não era, e
Natacha tampouco. Natacha Chauchat? Não, não foi isso que me disseram. Agora sei! Ela se
chama Avdótia, e se não é assim, é qualquer coisa parecida. Tenho certeza de que não é nem
Kátienka nem Ninotchka. Francamente, não me lembro mais. Mas será fácil eu me informar, se o
senhor fizer questão...
Com efeito, no dia seguinte ela sabia o nome. Pronunciou-o na hora do almoço, quando a
porta envidraçada se fechou com estrondo. A Srª. Chauchat chamava-se Clávdia.
Hans Castorp não compreendeu imediatamente. Fez repetir e soletrar o nome, antes de
gravá-lo na memória. Depois repetiu-o diversas vezes, enquanto fitava Mme.. Chauchat com os
olhos injetados, como para ver se lhe ficava bem.
– Clávdia? – disse ele. – Sim, sim, é bem possível que ela se chame assim. O nome
combina com ela. – Não dissimulou o prazer que lhe causava essa informação de caráter íntimo.
Dali por diante só falava de “Clávdia” ao referir-se a Mme.. Chauchat. – Parece-me que a sua
“Clávdia” faz bolinhos de pão. Não acho isso muito distinto – dizia então, e a professora
respondia: – Depende de quem os faz. Em Clávdia fica bem.
Sim, essas refeições na sala das sete mesas tinham um extraordinário encanto para Hans
Castorp. Lastimava quando terminava uma delas, mas consolava-se com o pensamento de que
em breve, dentro de duas horas ou pouco mais, voltaria a esse mesmo lugar, e quando se via
novamente sentado, era como se nunca se tivesse levantado. Que acontecia no intervalo? Nada.
Um rápido passeio até o curso d'água ou ao bairro inglês, e algum repouso na espreguiçadeira.
Isso não representava nenhuma interrupção séria, nenhum obstáculo que fosse difícil vencer.
Seria diferente se se interpusessem trabalhos ou preocupações ou dificuldades que não se
deixassem menosprezar nem afastar do pensamento. Mas nada disso existia no plano inteligente e
feliz da vida no Berghof. Ao levantar-se de uma refeição tomada em comum, Hans Castorp já se
podia alegrar imediatamente com o antegozo da próxima – contanto que seja próprio o verbo
“alegrar-se” para aquele tipo de expectativa com que ele sempre aguardava o novo encontro com
Mme.. Chauchat, e não se lhe dê um sentido por demais leviano, jovial, ingênuo e vulgar. Talvez
o leitor se incline a admitir e a julgar adequadas unicamente expressões de caráter jovial e vulgar,
quando se trata da pessoa de Hans Castorp e da sua vida íntima; lembramos-lhe, porém, que o
nosso herói, como jovem sensato e consciencioso, não podia simplesmente “alegrar-se” com a
vista e a proximidade de Mme.. Chauchat. Sabendo desse fato, constatamos que, se alguém
tivesse formulado essa ideia na sua presença, ele, dando de ombros, teria rejeitado o referido
verbo.
Há ainda um pormenor digno de menção: ele começou a tratar com desdém certos meios
de expressão. Com as faces ardendo, andava a cantar; cantarolava de si para si, pois o seu estado
de alma era sensitivo e musical. Trauteava uma cançãozinha que ouvira, Deus sabe onde, numa
reunião social ou num concerto de beneficência, cantada por uma voz de soprano pouco
volumosa. Era uma terna ninharia que começava assim:
“No fundo de minha alma ecoaA mais milagrosa canção...”
E ele já estava a ponto de acrescentar:
“De teus lábios ela voaE entra em meu coração”
quando, subitamente, encolhia os ombros, dizendo: – Ridículo! – Chamando a delicada
canção de insípida, piegas e adocicada, condenava-a com certa severidade mesclada de
melancolia. Em tal cantiga cheia de ternura podia encontrar satisfação e prazer qualquer rapaz
que, após ter “dado” – como se costuma dizer – “o seu coração”, num impulso lícito, sossegado
e esperançoso, a uma pequena sadia, lá de baixo, se abandonasse, dali por diante, a sentimentos
igualmente lícitos, futurosos, razoáveis e, no fundo, bem alegres. Quanto a ele, porém, e à sua
relação com Mme.. Chauchat – a palavra “relação” vai por conta de Hans Castorp, e declinamos
de toda responsabilidade – decididamente não lhes convinha uma cantiga dessas. Estendido na
sua cadeira, sentia-se disposto a sentenciá-la com o veredicto estético de “Bobagem!” No meio da
canção cessava de cantar, torcendo o nariz, se bem que não soubesse outra melhor.
Mas havia uma coisa que lhe proporcionava prazer, quando se achava assim deitado e
observava o seu coração, o coração corporal, que palpitava rápida e audivelmente através do
silêncio, esse silêncio regulamentar que reinava em todas as dependências do Berghof durante o
repouso principal. Seu coração batia com tenacidade e indiscrição, como sucedia quase sempre,
desde que ele se encontrava ali em cima. Mas Hans Castorp deixara de ligar a esse fato tamanha
importância como nos primeiros dias. Já não se podia dizer que o coração batia à toa, sem motivo
e sem relação com a alma. Tal relação existia ou, pelo menos, não era difícil estabelecê-la. A
atividade exaltada do corpo justificava-se facilmente por meio de uma emoção correspondente.
Bastava que Hans Castorp pensasse em Mme.. Chauchat – e pensava nela – para encontrar o
sentimento que lhe explicasse o martelar do coração.
continua pág 091...
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Leia também:
Capítulo II
Da pia batismal e dos dois aspectos do avô
Da pia batismal e dos dois aspectos do avô
Capítulo III
Capítulo IV
Conversas à mesa
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A Montanha Mágica (Der Zauberberg, no original alemão) é um romance de Thomas Mann que foi publicado em 1924. É considerado o romance mais importante de seu autor e um clássico da literatura de língua alemã do século XX que foi traduzido para inúmeros idiomas, sendo de domínio público em países como Estados Unidos, Espanha, Brasil, entre outros.
Thomas Mann começou a escrever o romance em 1912, após uma visita à sua esposa no Wald Sanatorium em Davos, onde ela foi hospitalizada. Ele inicialmente o concebeu como um romance curto, mas o projeto cresceu ao longo do tempo para se tornar um trabalho muito maior. A obra narra a permanência de seu personagem principal, o jovem Hans Castorp, em um sanatório nos Alpes suíços, onde inicialmente vinha apenas como visitante. A obra tem sido descrita como um romance filosófico, pois, embora se enquadre no molde genérico do Bildungsroman ou romance de aprendizagem, introduz reflexões sobre os mais variados temas, tanto pelo narrador quanto pelos personagens (especialmente Nafta e Settembrini, aqueles encarregados da educação do protagonista). Entre esses temas, o do "tempo" ocupa um lugar preponderante, a ponto de o próprio autor o descrever como um "romance do tempo" (Zeitroman), mas muitas páginas também são dedicadas a discutir a doença, a morte, a estética ou a política.
O romance tem sido visto como um vasto afresco do modo de vida decadente da burguesia europeia nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.
Thomas Mann começou a escrever o romance em 1912, após uma visita à sua esposa no Wald Sanatorium em Davos, onde ela foi hospitalizada. Ele inicialmente o concebeu como um romance curto, mas o projeto cresceu ao longo do tempo para se tornar um trabalho muito maior. A obra narra a permanência de seu personagem principal, o jovem Hans Castorp, em um sanatório nos Alpes suíços, onde inicialmente vinha apenas como visitante. A obra tem sido descrita como um romance filosófico, pois, embora se enquadre no molde genérico do Bildungsroman ou romance de aprendizagem, introduz reflexões sobre os mais variados temas, tanto pelo narrador quanto pelos personagens (especialmente Nafta e Settembrini, aqueles encarregados da educação do protagonista). Entre esses temas, o do "tempo" ocupa um lugar preponderante, a ponto de o próprio autor o descrever como um "romance do tempo" (Zeitroman), mas muitas páginas também são dedicadas a discutir a doença, a morte, a estética ou a política.
O romance tem sido visto como um vasto afresco do modo de vida decadente da burguesia europeia nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.
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