sábado, 18 de novembro de 2023

Memórias - 32: quem vai acreditar

No se puede hacer la revolucion sin las mujeres

Livro Um

baitasar

Memórias

32 – quem vai acreditar

campesinos seminus prisioneiros em forcas longas e baixas, pau-de-arara, o fogo ardendo, queimando todos que ali estavam amarrados, gradis sobre garfos assando lentamente aquela carne avermelhada, rodando e dorando, gritos, tormentos humanos até que rendessem seu espírito ao señor de la Montaña

¿Son estos los proprietarios de la Montaña?

risos de zombaria se misturavam com súplicas, dor, humilhação, carrascos dançando, comendo, quem se importa

campesinos são invisíveis, ninguém

quatro foi o que conseguimos contar amarrados aos gradis suportando a própria destruição branda e frouxa, até quando vão resistir e continuar lutando contra a dor

la Montaña mergulhada em sombras, ferida e distante, a destruição vencendo, espalhando a dor implacável sem beleza, sem amorosidade, ali, naqueles gradis, a bondade e o amor não tiraram proveito da vida, quem se importa

basta ter o milho e as bananas à mesa

em certo momento, o comandante de tudo aquilo, sim, porque tanta dor arranjada precisa ser bem organizada, planejada com antecedência e ordenada, colocou em suas ordens que estrangulassem aqueles porcos assando, ¡No puedo dormir com todos estos gritos!

encarregado do assado, sim, porque quem planeja e manda tem quem execute suas ordens de dor e morte, embocou pelotas na boca de cada um dos campesinos prisioneiros, Es eso o tendré que estrangularlos uno por uno, os gritos cessaram, atiçou fogo para que o churrasco ficasse pronto e no ponto na hora marcada

até hoje, gritos e carne assando me impedem de dormir

eu e Juanito retrocedemos sobre nossos passos de avançar, iniciamos retirada daquele olhar de dor do outro, expiação do sofrimento, foi muito difícil não despejar nosso choro

não havia tempo nem era lugar, éramos testemunhas da confirmação. não poderíamos desviar da realidade nem desembuchar delírios irrelevantes de criança, pesadelos ou histórias de bruxas. pessoas invisíveis vivem, sofrem e morrem sem nenhum olhar além da recusa, neutralidade, esmola e medo

um enxame de cochichos e rizinhos, e outras encenações que adultos com medo fazem para desacreditar olhos de criança, quem iria acreditar

¿tiene sentido quejarse de la Montaña?

xixi escapando pernas abaixo, mas tínhamos que voltar, contar sobre dor e gritos, morte e sofrimento, quem iria acreditar

ar sufocante. de repente estava cansada. perdida calada

retrocedemos tropeçando nas sombras, suores e tremores da mata

quem vai acreditar

até que chegamos ao milharal

¿outra leyenda y misterio em el relato del devorador de hombres y mujeres?

movíamo-nos com formigas atontadas na selva de milhos, tentando aqui e ali, perdera meus caminhos, pés atordoados e inseguros, cheiros de carne assando, zombaria dos gritos, até reconhecer algum sinal, qualquer pista mostrando caminhos de volta

não combinamos nenhuma história para contar

vimos atrocidades, mas de jeitos diferentes, acho que é assim mesmo, não vai mudar, cada um usa seu próprio coador para escoar ou embaraçar realidades colocadas à disposição de todos, não reconhecemos a dor do outro tanto quanto desejamos dizer que sofremos, até quando pareceremos perdidos em meio a tanta confusão e ódio

queria viver em um mundo mais ao meu gosto. meus olhos estão frios, nunca mais recuperei olhar com alegria sossegada

garganta seca como tomates ao sol. corpo em carne-viva, descarnando da pele. descobria que gente é capaz de qualquer crueldade, principalmente, quando tem certeza da recompensa: crime sem castigo

mas ainda não descobrira outras cruezas e grosserias, demências que iria submeter meu corpo, ¿eran la penitencia por mi mestizage?

vozes e sussurros de los niños y niñas campesinas ficam adormecidas en tonterías, desarranjadas e atontadas pela obediência inocente ao prestígio das palavras controladoras nas crianças, elegia de uma paisagem dourada: fadas, bruxas e príncipes, niños y niñas líricas, espíritos caídos del cielo, fugidos da bocarra do monstro. 
não reconhecemos a dor do outro tanto quanto desejamos dizer que sofremos

quem vai acreditar

quem não quer acreditar não vai acreditar nem que lhe mostrem os pedaços faltando en los niños y niñas
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