Apolodoro[1] e um Companheiro
- Tu me pareces, ó Alcibíades, estar
em teu domínio. Pois de outro modo não te porias, assim tão
destramente fazendo rodeios, a dissimular o motivo por que
falaste; como que falando acessoriamente tu o deixaste para o
fim, coma se tudo o que disseste não tivesse sido em vista
disso, de me indispor com Agatão, na ideia de que eu devo
amar-te e a nenhum outro, e que Agatão é por ti que deve ser
amado, e por nenhum outro. Mas não me escapaste! Ao
contrário, esse teu drama de sátiros e de silenos ficou
transparente. Pois bem, caro Agatão, que nada mais haja para
ele, e faze com que comigo ninguém te indisponha.
Agatão respondeu:
- De fato, ó Sócrates, é muito provável que
estejas dizendo a verdade. E a prova é a maneira como
justamente ele se recostou aqui no meio, entre mim e ti, para
nos afastar um do outro. Nada mais ele terá então; eu virei para
o teu lado e me recostarei.
- Muito bem - disse Sócrates - reclina-te aqui, logo abaixo de mim.
- Muito bem - disse Sócrates - reclina-te aqui, logo abaixo de mim.
- Ó Zeus, que tratamento recebo ainda desse homem! Acha ele
que em tudo deve levar-me a melhor. Mas pelo menos,
extraordinária criatura, permite que entre nós se acomode
Agatão.
- Impossível! - tornou-lhe Sócrates. - Pois se tu me elogiaste,
devo eu por minha vez elogiar o que está à minha direita. Ora,
se abaixo de ti ficar Agatão, não irá ele por acaso fazer-me um
novo elogio, antes de, pelo contrário, ser por mim elogiado?
Deixa, divino amigo, e não invejes ao jovem o meu elogio, pois
é grande o meu desejo de elogiá-lo.
- Evoé! - exclamou Agatão; - Alcibíades, não há meio de aqui eu
ficar; ao contrário, antes de tudo, eu mudarei de lugar, a fim de
ser por Sócrates elogiado.
- Eis aí - comentou Alcibíades - a cena de costume: Sócrates
presente, impossível a um outro conquistar os belos! Ainda
agora, como ele soube facilmente encontrar uma palavra
persuasiva, com o que este belo se vai pôr ao seu lado.
Agatão levanta-se assim para ir deitar-se ao lado de Sócrates;
súbito porém uns foliões, em numeroso grupo, chegam à porta
e, tendo-a encontrado aberta com a saída de alguém, irrompem
eles pela frente em direção dos convivas, tomando assento nos
leitos; um tumulto enche todo o recinto e, sem mais nenhuma
ordem, é-se forçado a beber vinho em demasia. Erixímaco,
Fedro e alguns outros, disse Aristodemo, retiram-se e partem; a
ele porém o sono o pegou, e dormiu muitíssimo, que estavam
longas as noites; acordou de dia, quando já cantavam os galos,
e acordado viu que os outros ou dormiam ou estavam ausentes;
Agatão porém, Aristófanes e Sócrates eram os únicos que ainda
estavam despertos, e bebiam de uma grande taça que
passavam da esquerda para a direita. Sócrates conversava com
eles; dos pormenores da conversa disse Aristodemo que não se
lembrava - pois não assistira ao começo e ainda estava
sonolento - em resumo porém, disse ele, forçava-os Sócrates a
admitir que é de um mesmo homem o saber fazer uma comédia
e uma tragédia, e que aquele que com arte é um poeta trágico é
também um poeta cômico. Forçados a isso e sem o seguir com
muito rigor eles cochilavam, e primeiro adormeceu Aristófanes
e, quando já se fazia dia, Agatão. Sócrates então, depois de
acomodá-los ao leito, levantou-se e partiu; Aristodemo, como
costumava, acompanhou-o; chegado ao Liceu ele asseou-se e,
como em qualquer outra ocasião, passou o dia inteiro, depois do
que, à tarde, foi repousar em casa.
Obra e Autor
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Obra e Autor
Platão (428/7-348/7 a.C.)
Nasceu em Atenas, por volta de 428/7, e era membro de uma aristocrática e ilustre família. Descendia dos antigos reis de Atenas, de Sólon e era também sobrinho de Crítias (460/403) e Cármides, dois dos "Trinta Tiranos" que governaram Atenas em -404. Lutou na Guerra do Peloponeso entre 409 e 404, e a admiração por Sócrates, que conheceu em algum momento desse período, foi decisiva em sua vida.
O seu verdadeiro nome era Arístocles, mas devido à sua compleição física recebeu a alcunha de Platão (significa literalmente "ombros largos"). Freqüentou com assiduidade os ginásios, obtendo prêmios por duas vezes nos Jogos Istímicos. Começou por seguir as lições de Crátilo, discípulo de Heraclito, e as de Hermógenes, discípulo de Parménides. Em princípio, por tradição familiar deveria seguir a vida política. Contudo, a experiência do governo dos trinta tiranos que governaram Atenas por imposição de Esparta (404-403 a.C.), e da qual fazia parte dois dos seus tios Crístias e Cármides, distanciaram-no desta opção de vida, pelo menos do modo como a política era exercida. O fato que mais o marcou foi a influência que sobre ele exerceu Sócrates, tendo-se feito seu discípulo por volta de 408, quando contava vinte anos. Nele encontrou o mestre, que veio a homenagear na sua obra, fazendo-o interlocutor principal da quase totalidade dos seus diálogos.
Após a morte de Sócrates, em 399 a.C., Platão realizou inúmeras viagens, travando contato com importantes filósofos e escolas de pensamento suas contemporâneas. Em Megara, travou contato com Euclides e sua escola; no Egito, Sicília e Magna Grécia, aprofundou seus conhecimentos através do contato com a sabedoria egípcia e os ensinamentos eleáticos e pitagóricos, este último especialmente através do encontro com Arquitas de Tarento. De passagem por Siracusa, ligou-se a Díon e Dionísio, tirano de Siracusa. Estas duas personagens desempenharam papel fundamental na posterior vida política de Platão.
De volta a Atenas, fundou em 387 a Academia, passando a dedicar-se ao ensino e à composição de sua obra filosófica.
Em 365 e em 361 esteve novamente em Siracusa, a pedido do amigo Díon, numa tentativa inútil de transformar o jovem Dionísios II (-367/-342), filho e sucessor de Dionísios I, no "rei filósofo" que idealizara.
Desiludido com a dificuldade de colocar em prática suas idéias filosóficas, Platão não mais saiu de Atenas.
Durante o ultimo período da sua vida continuou a dirigir a Academia, e escreveu o Timeu, O Crítias e As Leis, que não chegou a acabar falecendo por volta de 347.
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Apolodoro e um Companheiro(i)
Apolodoro e um Companheiro(j)
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Platão (428/7-348/7 a.C.)
Nasceu em Atenas, por volta de 428/7, e era membro de uma aristocrática e ilustre família. Descendia dos antigos reis de Atenas, de Sólon e era também sobrinho de Crítias (460/403) e Cármides, dois dos "Trinta Tiranos" que governaram Atenas em -404. Lutou na Guerra do Peloponeso entre 409 e 404, e a admiração por Sócrates, que conheceu em algum momento desse período, foi decisiva em sua vida.
O seu verdadeiro nome era Arístocles, mas devido à sua compleição física recebeu a alcunha de Platão (significa literalmente "ombros largos"). Frequentou com assiduidade os ginásios, obtendo prêmios por duas vezes nos Jogos Istímicos. Começou por seguir as lições de Crátilo, discípulo de Heraclito, e as de Hermógenes, discípulo de Parménides. Em princípio, por tradição familiar deveria seguir a vida política. Contudo, a experiência do governo dos trinta tiranos que governaram Atenas por imposição de Esparta (404-403 a.C.), e da qual fazia parte dois dos seus tios Crístias e Cármides, distanciaram-no desta opção de vida, pelo menos do modo como a política era exercida. O fato que mais o marcou foi a influência que sobre ele exerceu Sócrates, tendo-se feito seu discípulo por volta de 408, quando contava vinte anos. Nele encontrou o mestre, que veio a homenagear na sua obra, fazendo-o interlocutor principal da quase totalidade dos seus diálogos.
Após a morte de Sócrates, em 399 a.C., Platão realizou inúmeras viagens, travando contato com importantes filósofos e escolas de pensamento suas contemporâneas. Em Megara, travou contato com Euclides e sua escola; no Egito, Sicília e Magna Grécia, aprofundou seus conhecimentos através do contato com a sabedoria egípcia e os ensinamentos eleáticos e pitagóricos, este último especialmente através do encontro com Arquitas de Tarento. De passagem por Siracusa, ligou-se a Díon e Dionísio, tirano de Siracusa. Estas duas personagens desempenharam papel fundamental na posterior vida política de Platão.
De volta a Atenas, fundou em 387 a Academia, passando a dedicar-se ao ensino e à composição de sua obra filosófica.
Em 365 e em 361 esteve novamente em Siracusa, a pedido do amigo Díon, numa tentativa inútil de transformar o jovem Dionísios II (-367/-342), filho e sucessor de Dionísios I, no "reifilósofo" que idealizara.
Desiludido com a dificuldade de colocar em prática suas idéias filosóficas, Platão não mais saiu de Atenas.
Durante o ultimo período da sua vida continuou a dirigir a Academia, e escreveu o Timeu, O Crítias e As Leis ,que não chegou a acabar falecendo por volta de 347.
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[1] O interlocutor de Sócrates não está só (N.T.)
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* Sileno era descrito como o mais velho, o mais sábio e o mais beberrão dos seguidores de Dioniso, e era descrito como tutor do jovem deus nos hinos órficos. Quando estava sob o efeito do álcool, Sileno adquiria conhecimentos especiais e o poder da profecia.(N.E.)
* Pifre, substantivo masculino, variação de Pífaro: instrumento de sopro de madeira que se assemelha à flauta.(N.E.)
* Mársias, na mitologia grega, é um sátiro frígio que aparece como figura central em duas histórias que envolvem música. Em uma delas, Marsias recolhe a flauta que havia sido abandonada por Atena, porque esta, ao tocá-lo, ficava com as bochechas infladas, provocando a zombaria de outras deusas.
Na outra história, Mársias passa a se considerar um músico tão perfeito que desafia Apolo para uma competição, sendo que o vencedor teria o direito de punir o perdedor. Apolo vence, Mársias é amarrado a uma árvore e esfolado vivo. Do seu sangue, nasce o rio Mársias, na Frígia.(N.E.)
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