quinta-feira, 27 de junho de 2019

Stanislaw PP - FeBeAPá: Garotinho corrupto

O Festival de Besteira

O Maior Festival de Besteira que já Assolou e voltou Assolar o País




Garotinho corrupto




Aqui no Brasil pegou a moda de subversão. Tudo que se faz e que desagrade a alguém é considerado subversivo. Outro dia eu vinha andando na rua e um cara, dirigindo uma Mercedes espetacular, entrou lascado num cruzamento e quase atropelou um pedestre. Foi o bastante para o andante dar o maior grito: “Subversivo, comunista”. Depois eles dizem que é marcação da gente, mas a notícia que veio de Curitiba é de lascar. Eles fecharam um jardim de infância, chamado Pequeno Príncipe, e o general-comandante da Região Militar de lá disse que este título era subversivo. O general — o nome dele é Caudal — disse que o colégio deveria se chamar “Pequeno Lenine”. Já entrou fácil no Festival. 

Acontece que a maior das criancinhas que ali estuda tem cinco anos de idade e a menorzinha ainda está molhando a sala de aula e o resto. É o Festival de Besteira que segue em caudal. O general e os encarregados de um IPM contra o jardim de infância dizem que as professoras estavam ensinando marxismo e leninismo. Esta então foi pior. Coitado do garotinho, que mal sabendo o a, e, i, o, u, terá que soletrar “Khruschóv”, “Stálin”, “Gromiko” e outras bossas. O aviador católico Saint-Exupéry, cujo livro serve de nome para a escola, jamais pensou, depois de tantas proezas aéreas, que ia entrar pelo caudal, digo cano. E em terra firme. 

Quem conhece a vida de aventuras do coleguinha escritor Saint-Exupéry sabe que ele mais de uma vez esteve perdido no deserto do Saara, quando servia ao Correio Aéreo da França. Duas vezes ele caiu e ficou perdido nas areias candentes do terrível deserto. Duas vezes se salvou. Mesmo que Saint-Exupéry estivesse vivo, jamais imaginaria que iria cair neste deserto de ideias, no qual acaba de aterrissar sem a menor esperança de salvamento. 

Não irmãos, esta também é demais. Criancinhas subversivas também já é dose pra elefante. Ainda se fosse por corrupção, vá lá. Vamos que o Juquinha, vítima de pertinaz ideia diurética, levantasse de sua carteira e fosse fazer pipi na saia da professora. Crime de corrupção, sem dúvida. Mas subversão? Aqui, ó…





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SÉRGIO PORTO nasceu no Rio de Janeiro em 1923 e morreu na mesma cidade em 1968. Foi cronista, radialista, homem de teatro e TV, compositor. Conhecido nacionalmente por meio do pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, publicou, além de Febeapá, coletâneas de crônicas, textos sobre futebol, entre outros.


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