sábado, 29 de junho de 2019

histórias de avoinha: os pé e as bota de garrão

mulheres descalças


os pé e as bota de garrão 
Ensaio 128A – 2ª edição 1ª reimpressão



baitasar





as badalação do badalo do siôiu padinhu num parava de anunciá qui as pessoa do bem podia ficá mais serena e pacífica, as lei foi seguida inté ela sê cumprida:

os pulícia da fidalguia tinha conseguido prendê o fujão – as lei num é das lei, elas é da fidalguia qui faz uso no seu gosto, nunca pru seu desgosto 

e as pessoa do bem – seja lá uqui isso seja – pra se salvá dos ingênuo, tolo, grossêro e iletrado precisava escutá com atenção e atendê com prontidão o chamado das palavra salvadora, nunca duvidá da fineza, gosto e incitamento do paraíso no céu ou do relaxamento, desalento e fraqueza do inferno nas treva; muntu menos, esquecê os donativo da décima, essa boa vontade a fidalguia aprende desde muriquinhu:

a boa vontade se paga com boa vontade

ali, naquela praça, lugá das treva – segundo os grito da fidalguia prus tolo, ingênuo e grossêro , ninguém atrevia avançá ou recuá nem mais ou menos um passo, a vontade do ódio continuava a mesma; nunca antes, existiu outro dia como esse tão cheio de grito de gana e repulsa, alegria perversa, suspiro, careta, renúncia da vida qui vive no escravizado amotinado, Mata o criolo, Se o negro não morre ele aparece de novo, Queremos paz na Villa, Chega de viver com medo, Depois iremos nos embebedar por todos os séculos, Amém, Tenham pena do negrinho, Bobagem, que pena nada, Vosmecê acostuma, O criolo já morreu, aquela prugunta fez acontece o comedimento no cortejo, esse sempre foi o motivo daquela reunião de tanta gente de bem pru bem da praça, Não! O defunto ainda vive entre nós, e o silêncio embaraçado foi quebrado com munta risada, Só aqui na Villa, onde mais já se ouviu falar do defunto que ainda não é defunto, e a alegria perversa voltô a pulsá 

os pulícia da fidalguia esperando – eles parecia tá muntu na sua vontade entre as gente do justiçamento; qui, na sua veiz, tumbém parecia na maió boa vontade com os pulícia da fidalguia – e os grito se ajuntando à marcha paisana do desatino ajustado e combinado, o pensamento de sê dono das vontade de um a um qui se junta nos grito pela família, pelo deus e pela villa, Estamos aqui em vigília, em nome das nossas famílias e dos bons costumes, E com Deus! Não esqueçam de Deus!

o cortejo andava e parava, nada junta mais gente qui desfilamento do defunto qui ainda vive, nem casamento ou nascimento tem tanta tropa, tanta veemência, tanto chamamento, perdeu-se no tempo o começo do gosto das pessoa em respirá a morte

ou o contentamento na cara pra zombá da escravidão

essa é a herança trágica da villa qui vai do pai pru fiu, da mãe pra fia – o pai pega nas mão a incumbência de fazê dufiu seu retrato; a mãe recebe do marido a tarefa de ensiná a fia obedecê e serví – e esse feitio de vivê na villa num vai pará pela vontade do pai

inté os viandante de fora da villa apostava qui a cobra já podia sê dada como morta, a massa da cisma, implicância, desconfiança, desamô e ódio contra os pretu só ficava mais e mais coesa, Esse se fudeu!

a villa abastada sentia, vivia, pensava, ensinava e educava assim do pai pru fiu, da mãe pra fia: 

das corrente os pretu nunca ia se livrá, Não dá para libertar os negros, Por quê, Papaizinho, Vosmecê não vê que o negrume das ruas só vai aumentar, com a negrada indo e vindo sem ter o que fazer, quando muntu, os pretu podia tê alívio pela vontade ou necessidade dudono duspretu, menos, é claro, aqueles pretu qui a villa abastada chamava de desbocado, atrevido, feio, perigoso e vagabundo, num podia tê qualqué alívio ou soltura, pra esses o arranjo sempre foi – e num parece tê mudado – é soltá os pulícia na perseguição  

num dá pra esquecê de dizê, ou lembrá, qui tê escravo  mesmo os villêro de menó posse , um ou dois pretu escravizado, pelo menos, já dava reconhecimento na villa como siô de escravizado, uqui aumentava a importância e o respeito das autoridade, longe de sê considerado abastado já era meió respeitado

a villa tinha pretu pra tudo, lavradô, carregadô, pedrêro, artesão, pretu nas olaria e curtume, tropêro de gado, peão, cubêro, carneadô, campêro nas estância, vendedô, tipógrafo, doméstico, pulícia, capitão-do-mato, a importância do braço pretu seguia em tudo qui era trabáio: 

partêra, curandêra, costurêra, lavadêra, passadêra, ama do peito, cozinhêra

o moringue tava na frente do pretu enfiado na canga, o negro taludo seguia logo atráis dos dois, o pulícia fardado e o acorrentado, o capitão-do-mato sem fardamento tinha os pé enfiado nas bota de garrão – inté os véio fingindo ditê vida, qui nada mais tinha além de esperá com saudade a vida dá volta pru começo da vida, saía das casa sozinho, espionando o cortejo, pra depois contá pra mamãezinha escondida, cheia da vida definhando, dois faminto da vida qui se foi, é meió perseguí qui num sentí nada




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