terça-feira, 13 de junho de 2023

Edgar Allan Poe - Contos: Os Crimes da Rua Morgue (04)

Edgar Allan Poe - Contos


Os Crimes da Rua Morgue
Título original: The Murders in the Rue Morgue 
Publicado em 1841


continuando...


« Eu disse: deduções legítimas, mas esta expressão não exprime completamente o meu pensamento. Eu queria que compreendesse que estas deduções são as únicas convenientes e que esta dúvida surgiu inevitavelmente disso como o único resultado possível. No entanto, não lhe direi imediatamente de que natureza era esta dúvida. Desejo simplesmente demonstrar que esta dúvida era mais que suficiente para dar um caráter decisivo, uma tendência positiva na investigação que queria fazer no quarto.
« Agora transportemo-nos em imaginação a esse quarto. Qual será o primeiro objeto da nossa investigação? Os meios de evasão empregados pelos assassinos. Podemos afirmar — não é assim? — que não acreditamos, nem um nem o outro, em acontecimentos sobrenaturais? As senhoras L’Espanay e não foram mortas pelos espíritos. Os autores do crime eram seres materiais e fugiram materialmente.

« Ora como? Felizmente, não há senão uma maneira de raciocinar sobre esse ponto e é essa maneira que nos conduzirá a uma conclusão positiva. Examinemos, portanto, um a um os meios possíveis de evasão. É evidente que os assassinos estavam no quarto onde se encontrou a menina L’Espanaye ou, pelo menos, no quarto contíguo quando as pessoas subiram as escadas. Portanto, é apenas nesses dois quartos que vamos procurar a saída. A Polícia levantou o soalho, abriu os tetos, sondou a alvenaria das paredes. Nenhuma saída secreta pôde escapar à sua perspicácia. Mas não acredito nos olhos deles e examino-os com os meus: não há ali nenhuma saída secreta. As duas portas que dão para o corredor estavam solidamente fechadas e as chaves por dentro.

« Vejamos as chaminés. Estas, que são de uma largura vulgar até uma distância de oito ou dez pés acima da lareira, não dariam suficiente passagem a um gato gordo.

« A impossibilidade de fuga, pelo menos pelas vias acima indicadas, estava pois absolutamente estabelecida, reduzida somente às janelas. Ninguém poderia fugir pelas do quarto da frente sem ser visto pelas pessoas que estavam lá fora. Seria preciso, portanto, que os criminosos se escapassem pelas janelas do quarto das traseiras.

« Agora, conduzidos como somos a esta conclusão por deduções também irrefutáveis, não temos o direito, como seres pensantes, de a rejeitar por causa da sua aparente impossibilidade. Apenas nos resta demonstrar que esta impossibilidade aparente não existe na realidade.

« Há duas janelas no quarto. Uma delas não está obstruída pelos móveis, encontra-se inteiramente livre.

« A parte inferior da outra está escondida pela cabeceira da cama que é muito maciça e que está completamente encostada.

« Verificou-se que a primeira está solidamente presa por dentro. Ela resistiu aos esforços mais violentos daqueles que tentaram levantá-la. Fez-se mesmo um grande buraco com uma broca no caixilho e encontrou-se um grande prego enterrado quase até à cabeça. Ao examinar a outra janela, encontraram cravado um outro prego semelhante. A Policia ficou desde então plenamente convencida de que nenhuma fuga tinha sido efetuada por esta forma. Foi, portanto, considerado como supérfluo retirar os pregos e abrir as janelas.

« O meu exame foi um pouco mais minucioso, e isso pela razão que lhe dei há pouco. Acontecia que eu já sabia ser necessário demonstrar que a impossibilidade não era apenas aparente.

« Continuei a raciocinar assim — a posteriori. Os assassinos tinham-se evadido por uma das janelas. Sendo assim, eles não podiam ter pregado os caixilhos por dentro, como os encontraram, consideração que, pela sua evidência, limitou as investigações da Polícia nesse sentido. No entanto, estas janelas estavam bem fechadas. Era preciso que se pudessem fechar elas próprias. Não havia forma de escapar a esta conclusão. Dirigi-me para a janela que não estava pregada, tirei o prego com alguma dificuldade, e tentei levantar o caixilho. Resistiu a todos os meus esforços, tal como eu já esperava. Havia, portanto, estava certo agora disso, uma mola escondida; e feito isto, corroborando a minha ideia, convenci-me pelo menos da justeza das minhas premissas, por muito misteriosas que me parecessem as circunstâncias relativas aos pregos. Um exame minucioso fez-me em breve descobrir a mola secreta.

« Empurrei-a e, satisfeito com a minha descoberta, abstive-me de levantar o caixilho

« Tornei a colocar o prego no lugar e examinei-o atentamente. Uma pessoa ao passar pela janela, podia tê-la fechado e a mola teria feito a sua obrigação. Mas o prego não teria sido novamente colocado. Esta conclusão era clara e limitava ainda o campo das minhas investigações. Era preciso que os assassinos tivessem fugido pela outra janela. Supondo, pois, que as molas dos dois caixilhos fossem semelhantes, como era provável, era preciso, no entanto, encontrar uma diferença nos pregos, ou pelo menos na maneira como eles tinham sido fixados.

« Subi para o enxergão da cama e observei minuciosamente a outra janela por cima da cabeceira da cama. Passei a mão por detrás, descobri facilmente a mola e fi-la funcionar; era como eu imaginara, idêntica à primeira. Então examinei o prego. Era tão grosso como o outro e fixado da mesma maneira, enterrado quase até à cabeça.

« Dirá que eu estava embaraçado; mas se teve semelhante pensamento, é porque desprezou a natureza das minhas intenções. Para empregar um termo de jogo, não tinha cometido uma única falta; não perdera a pista um só instante, não havia uma lacuna no elo da cadeia. Seguira o segredo até à sua última fase e ela era o prego. Assemelhava-se, disse eu, em todos os aspetos com o que havia na outra janela, mas esse facto, por pouco concludente que fosse na aparência, tornava-se absolutamente nulo em face desta consideração dominante ao verificar que nesse prego terminava o fio condutor. E preciso, disse eu, que haja nesse prego qualquer coisa defeituosa. Toquei-lhe, e a cabeça, com um pedaço do prego, talvez um quarto de polegar, ficou-me nos dedos. O resto dele ficou no buraco onde se partira. Esta fratura era bastante antiga, porque os bordos estavam cheios de ferrugem e ele partira-se com uma pancada do martelo que tinha enterrado em parte a cabeça do prego no fundo do caixilho. Reajustei cuidadosamente a cabeça com o bocado que o compunha, e parecendo depois um prego intacto, a fenda passava despercebida. Carreguei na mola, levantei suavemente a janela algumas polegadas; a cabeça do prego veio agarrada a ela sem sair do buraco. Tornei a fechar a janela e o prego parecia novamente completo. Até aqui o enigma estava deslindado. O assassino fugira pela janela rente à cama. Ainda que ela se tivesse fechado por si depois da fuga ou que ela tivesse sido fechada por mão humana, ela estava presa pela mola, e a Polícia atribuíra esta resistência ao prego. Assim, qualquer investigação ulterior foi considerada supérflua.

« Agora, perguntava a mim mesmo, como teria fugido o assassino? Nesse ponto, tinha satisfeito o meu espírito na volta dada em redor do prédio. A cinco pés e meio, em volta da dita janela passa o cabo do para-raios. Por este cabo seria impossível alcançar a janela, e, muito menos, entrar.

« Todavia, reparei que as portas da janela do quarto andar eram de um tipo particular, que os marceneiros parisienses chamam ferrades, género de portas muito pouco usadas atualmente, mas que se encontram nas velhas casas de Lião e de Bordéus. São feitas como uma porta vulgar (simples, sem batente duplo), à exceção da parte inferior, que é trabalhada e com grades, o que dá às mãos um excelente apoio.

« Neste caso, as portas da janela são largas, com uns bons três pés e meio. Quando nós as examinámos por detrás da casa, elas estavam ambas meio abertas, quer dizer que faziam ângulo reto com a parede.

« É de supor que a Polícia examinara, como eu, a parte posterior do prédio; mas ao observar estas ferrades, no sentido transversal (como ela inevitavelmente as viu), não reparou nesta largura, ou pelo menos não lhe ligou a importância necessária. Em suma, os agentes, quando lhes foi demonstrado que a fuga não tinha podido efetuar-se por esse lado, fizeram apenas um exame sucinto. No entanto, era evidente para mim, que a janela situada à cabeceira da cama, que se supunha fixada, encontrava-se a dois pés do cabo do para-raios. Era também evidente que com uma energia e de uma coragem insólitas, alguém poderia, com a ajuda do cabo, ter saltado para a janela. Ao chegar à distância de dois pés e meio (supondo agora a porta da janela completamente aberta) um ladrão teria podido encontrar nas grades um ponto de apoio sólido. Teria podido então, largando o cabo e, apoiando os pés contra a parede, lançar-se energicamente, cair no quarto e atirar violentamente a porta de forma a fechá-la — supondo, como é natural, a janela aberta nesse momento.

« Note bem, peço-lhe, que falei numa energia muito pouco comum, necessária para conseguir um empreendimento tão difícil como ousado. O meu fim é provar, primeiro, que isso se podia praticar, e em segundo lugar, e “principalmente”, chamar a sua atenção sobre o caráter “muito extraordinário”, quase sobrenatural, da agilidade necessária para o realizar.

« Dir-me-á, sem dúvida, empregando a terminologia judicial, que para dar a minha prova a fortiori, deveria de preferência subestimar a energia necessária neste caso a acentuar o seu exato valor. É talvez o costume dos tribunais, mas isso não se coaduna com o uso da razão. O meu fim atual é induzi-lo a comparar esta energia com esta voz aguda (ou áspera), com esta voz irregular, cuja nacionalidade não pode ser definida pelo acordo de duas testemunhas e da qual ninguém compreendeu palavras articuladas, nem sílabas.»

Ao ouvir isto, uma concepção vaga e embrionária do pensamento de Dupin surgiu no meu espírito. Pareceu-me estar no limite da compreensão. Tal como as pessoas que por vezes estão quase a recordar-se e, no entanto, não conseguem lembrar-se. O meu amigo continuou com a sua argumentação:

— Veja — disse-me — que relacionei a pergunta sobre a forma de saída, como sendo a da entrada. O meu plano consistia em demonstrar que elas se efetuaram da mesma forma e no mesmo ponto. Voltemos agora ao interior do quarto. Examinemos todos os pormenores. Disseram que as gavetas da cómoda foram saqueadas e, no entanto, encontraram nelas vários artigos de toilette intactos. Esta conclusão é absurda; é uma simples conjetura — uma conjetura razoavelmente insignificante e nada mais. Como poderemos saber se os artigos encontrados nas gavetas não representam tudo o que elas continham? A senhora L’Espanay e e a sua filha levavam uma vida excessivamente isolada, ninguém eis via, saíam raramente, tinham, portanto, poucas ocasiões para mudar de toilette. As que se encontraram eram, pelo menos, de tão boa qualidade como aquelas que possuíam estas senhoras. E se um ladrão tivesse tirado algumas, por que não teria tirado as melhores, por que não tiraria mesmo todas?

« Resumindo, por que teriam deixado os quatro mil francos de ouro para se apoderarem de um embrulho de roupas? O ouro fora abandonado, a totalidade da soma mencionada pelo banqueiro Mignaud fora encontrada no chão, nos sacos. Quero assim afastar do seu pensamento a ideia absurda de um interesse, ideia engendrada no cérebro da Polícia pelos depoimentos que falam do dinheiro entregue mesmo à porta da casa. Coincidências dez vezes mais notáveis do que esta (a entrega do dinheiro e o crime cometido três dias depois), apresentam-se em cada hora da nossa vida sem atrair a nossa atenção, nem sequer um minuto. Em geral, as coincidências são pedras enormes de obstáculos no caminho destes pobres pensadores mal preparados que não sabem a primeira palavra da teoria das probabilidades, teoria à qual os conhecimentos humanos devem as suas mais gloriosas conquistas e as suas mais belas descobertas. No presente caso, se o ouro tivesse desaparecido, o facto de ter sido entregue três dias antes, levava a pensar em qualquer coisa mais do que numa coincidência. Isso corroboraria a ideia de interesse. Mas nas circunstâncias reais em que nos encontramos, se supuséssemos que o ouro foi o móbil do assalto, é preciso supormos esse criminoso bastante indeciso e suficientemente idiota para esquecer ao mesmo tempo o seu ouro e o móbil que o fez agir

« Fixe bem na sua mente os pontos para os quais chamei a sua atenção — essa voz particular, essa agilidade sem igual e esta ausência tão impressionante de interesse num crime tão singularmente atroz como este. Agora, examinemos o absurdo em si mesmo. Eis uma mulher estrangulada, com as mãos, e introduzida numa chaminé, de cabeça para baixo. Criminosos vulgares não empregam semelhantes processos para matar. E muito menos esconderiam os cadáveres das suas vítimas. Nesta maneira de introduzir o corpo na chaminé, admitirá que há aqui qualquer coisa de absolutamente inconciliável com tudo o que nós conhecemos geralmente dos atos humanos, mesmo supondo que os autores fossem os mais pervertidos dos homens.

« Pense também que força prodigiosa foi precisa para empurrar esse corpo por uma abertura semelhante, e empurrá-lo tão fortemente que os esforços de várias pessoas foram necessários e dificilmente o retiraram de lá.

« Encaminhemos agora a nossa atenção sobre outros indícios deste vigor excecional. Na lareira encontraram-se madeixas de cabelos — mas muito espessos, de cabelos grisalhos. Foram arrancados pela raiz. Imagine a força poderosa que é necessária para arrancar da cabeça vinte ou trinta cabelos ao mesmo tempo. Viu as madeixas mencionadas tão bem como eu. As raízes tinham pele agarrada — espetáculo medonho — prova evidente da prodigiosa força que foi empregada para desenraizar cinco ou seis mil cabelos de uma só vez

« Não só o pescoço da senhora de idade estava cortado, mas a cabeça completamente separada do corpo: o instrumento fora uma simples navalha de barbear. Peço que repare nesta ferocidade bestial. Não falo das pisaduras da senhora L’Espanay e. M. Dumas e o seu digno confrade, M. Étienne, afirmaram que elas tinham sido produzidas por um instrumento contundente e nisso estes senhores acertaram. O instrumento contundente foi, evidentemente, o pavimento do pátio para o qual a vítima caiu, da janela que está junto à cama. Esta ideia por muito simples que pareça agora, escapou à Polícia pela mesma razão que a impediu de reparar na largura das portas das janelas; porque, graças à circunstância dos pregos, a sua perceção era bloqueada pela ideia de que as janelas não se podiam abrir.

« Se, entretanto, você refletiu convenientemente na desordem estranha do quarto, encontramo-nos bastante adiantados para coordenar as ideias: uma agilidade maravilhosa e uma ferocidade bestial, um morticínio sem motivo, um grotesco horrível, absolutamente estranho à humanidade, e uma voz cuja pronúncia é desconhecida ao ouvido de homens de várias nações — uma voz desprovida de qualquer sílaba distinta e compreensível. Vejamos, que deduz disto? Que impressão lhe desperta na sua imaginação?»

Senti um arrepio quando Dupin me fez esta pergunta.

continua na página 352...

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Edgar Allan Poe (nascido Edgar Poe; Boston, Massachusetts, Estados Unidos, 19 de Janeiro de 1809 — Baltimore, Maryland, Estados Unidos, 7 de Outubro de 1849) foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico estadunidense. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores americanos de contos e é geralmente considerado o inventor do gênero ficção policial, também recebendo crédito por sua contribuição ao emergente gênero de ficção científica. Ele foi o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só, resultando em uma vida e carreira financeiramente difíceis.
Ele nasceu como Edgar Poe, em Boston, Massachusetts; quando jovem, ficou órfão de mãe, que morreu pouco depois de seu pai abandonar a família. Poe foi acolhido por Francis Allan e o seu marido John Allan, de Richmond, Virginia, mas nunca foi formalmente adotado. Ele frequentou a Universidade da Virgínia por um semestre, passando a maior parte do tempo entre bebidas e mulheres. Nesse período, teve uma séria discussão com seu pai adotivo e fugiu de casa para se alistar nas forças armadas, onde serviu durante dois anos antes de ser dispensado. Depois de falhar como cadete em West Point, deixou a sua família adotiva. Sua carreira começou humildemente com a publicação de uma coleção anônima de poemas, Tamerlane and Other Poems (1827).
Poe mudou seu foco para a prosa e passou os próximos anos trabalhando para revistas e jornais, tornando-se conhecido por seu próprio estilo de crítica literária. Seu trabalho o obrigou a se mudar para diversas cidades, incluindo Baltimore, Filadélfia e Nova Iorque. Em Baltimore, casou-se com Virginia Clemm, sua prima de 13 anos de idade. Em 1845, Poe publicou seu poema The Raven, foi um sucesso instantâneo. Sua esposa morreu de tuberculose dois anos após a publicação. Ele começou a planejar a criação de seu próprio jornal, The Penn (posteriormente renomeado para The Stylus), porém, em 7 de outubro de 1849, aos 40 anos, morreu antes que pudesse ser produzido. A causa de sua morte é desconhecida e foi por diversas vezes atribuída ao álcool, congestão cerebral, cólera, drogas, doenças cardiovasculares, raiva, suicídio, tuberculose entre outros agentes.
Poe e suas obras influenciaram a literatura nos Estados Unidos e ao redor do mundo, bem como em campos especializados, tais como a cosmologia e a criptografia. Poe e seu trabalho aparecem ao longo da cultura popular na literatura, música, filmes e televisão. Várias de suas casas são dedicadas como museus atualmente.


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Edgar Allan Poe
CONTOS
Originalmente publicados entre 1831 e 1849
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