mulheres descalças
o descuido da miúda
Ensaio 127Bzh – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
a miúda vivia correndo e brincando de escondê ela mesma nas trança; assim, o trabáio-escravizadô num achava a miúda pra botá suas mão e dizê uqui ela tinha ou num tinha qui fazê, brincava disê miúda
mãinha num tinha repouso inté quando destramava as trança da miúda nem enquanto cantava e assoprava os ventu da saudade, sabia quias fresta do quarto do despejo era lugá pra espioná uspretu, num tinha lugá de sossego nem dentro dela mesma, depois dos lampião apagado a boca cor-de-rosa num durumia, fazia muntu tempo qui perdeu a mania de sorrí na penumbra – tanto tempo qui já nem lembrava mais como era tê alegria, mesmo sem tê alegria – o sorriso abafado e lamentoso da tristeza dus pretus qui exiti sem existí
tava sempre pronta pra fazê avisá do inferno antes de chegá o diabo, mais udia do descuido chegô
mãinha entranhada nas suas tarefa e a miúda ocupada em se alegrá nas brincadêra num conseguiu se escondê nas trança – as mão rápida do trabáio-escravizadô alcançô a miúda pelas trança –, foi quando teve as trança cortada e enterrada numa cova bem funda, desse dia pra frente a miúda passô juntá fruta no chão, arrancá erva-daninha, catá as larva, cuidá das galinha, num brincô mais
e veio o tempo qui foi vendida sem tê ou dá o beijo na mãinha
uma buneca preta de carne e osso qui depois foi alugada pra vendê fruta, verdura, doce, pão, flô, vela e comida pronta nas rua ou no beco do rosário inté sê batizada otra veiz, antônia açunta do mercado público do porto da villa alegre
saiu das rua pra sê a faz-tudo na casa do siô augusto, tinha sido vendida otra veiz
agora, chegô o tempo disê abandonada
____________________
histórias de avoinha: Toque, minha filha.
histórias de avoinha: Onde está a gaiola do Venuto?
histórias de avoinha: Deus te abençoe, minha filha
histórias de avoinha: um corpo febrento e para sempre culpada
histórias de avoinha: a dança dos dedo
histórias de avoinha: os pé e as bota de garrão
histórias de avoinha: Oh!... prugunta pra todas criança
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: a traste
o descuido da miúda
Ensaio 127Bzh – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
a miúda vivia correndo e brincando de escondê ela mesma nas trança; assim, o trabáio-escravizadô num achava a miúda pra botá suas mão e dizê uqui ela tinha ou num tinha qui fazê, brincava disê miúda
mãinha num tinha repouso inté quando destramava as trança da miúda nem enquanto cantava e assoprava os ventu da saudade, sabia quias fresta do quarto do despejo era lugá pra espioná uspretu, num tinha lugá de sossego nem dentro dela mesma, depois dos lampião apagado a boca cor-de-rosa num durumia, fazia muntu tempo qui perdeu a mania de sorrí na penumbra – tanto tempo qui já nem lembrava mais como era tê alegria, mesmo sem tê alegria – o sorriso abafado e lamentoso da tristeza dus pretus qui exiti sem existí
tava sempre pronta pra fazê avisá do inferno antes de chegá o diabo, mais udia do descuido chegô
mãinha entranhada nas suas tarefa e a miúda ocupada em se alegrá nas brincadêra num conseguiu se escondê nas trança – as mão rápida do trabáio-escravizadô alcançô a miúda pelas trança –, foi quando teve as trança cortada e enterrada numa cova bem funda, desse dia pra frente a miúda passô juntá fruta no chão, arrancá erva-daninha, catá as larva, cuidá das galinha, num brincô mais
e veio o tempo qui foi vendida sem tê ou dá o beijo na mãinha
uma buneca preta de carne e osso qui depois foi alugada pra vendê fruta, verdura, doce, pão, flô, vela e comida pronta nas rua ou no beco do rosário inté sê batizada otra veiz, antônia açunta do mercado público do porto da villa alegre
saiu das rua pra sê a faz-tudo na casa do siô augusto, tinha sido vendida otra veiz
agora, chegô o tempo disê abandonada
____________________
Leia também:
histórias de avoinha: Toque, minha filha.
histórias de avoinha: Onde está a gaiola do Venuto?
histórias de avoinha: Deus te abençoe, minha filha
histórias de avoinha: um corpo febrento e para sempre culpada
histórias de avoinha: a dança dos dedo
histórias de avoinha: os pé e as bota de garrão
histórias de avoinha: Oh!... prugunta pra todas criança
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: a traste
Nenhum comentário:
Postar um comentário