Ensaio
baitasar
Sempre que
passava na calçada da igreja, ou de qualquer cruz, fiz o sinal combinado: antes
de partir de la Montaña; antes de deixar o penico de barro; antes de limpar as
sujeiras sozinhas: Pai – Filho – Espírito – Amém.
Muitas
vezes, quando precisei de mais alívio, rezava 1 Pai Nosso e 1 Ave Maria, mas
quando a coisa era braba, depois do sinal em cruz, rezava 3 Pai Nosso e 3 Ave Maria,
para desafogo e soltura dos desacordos de julgamento da lucidez.
Por via das
dúvidas, quando passava por cruzamentos com despachos de oferendas, sempre
evitei o centro da cruz; primeiro peço licença, faço o sinal em cruz, digo
anúncio de saudação — Salve as bandas de lá! Salve as bandas de cá! — e cruzo
pelos lados. Nunca pelo centro do cruzeiro.
Não sei se
existe alguma razão para tanto respeito e quitação de dívida, feita ou por
fazer, além do medo de perder a amorosidade dos espíritos antigos, de qualquer
maneira, fiz e não desfiz de rezar, e cuidar no que piso, sempre ajuda sentir mão de auxílio.
Compreendo
que existe alguma razão por trás das escolhas que fiz, além da vontade que quis
satisfazer. Acho que sempre vão existir razões para um ou outro capricho, mas
gosto de dizer que — Fiz o que fiz porque quis.
Ajudei muitas
meninas. Perdidas. Solitárias. Vencidas. Amarguradas. Maltratadas. Sonharam de
olhos abertos. Sonhos acordados. Algumas moravam na casa, outras chegavam para
atender a freguesia. Fizeram o que fizeram porque ajudei.
Quando as
meninas moravam na casa, ficava com cinquenta por cento, mas o melhor arranjo
foi elas chegarem apenas para o trabalho, deixavam com a casa vinte e cinco por
cento do que ganhavam.
Melhor para
elas e melhor para a casa, trabalhar sozinha na rua precisa sorte e ser maluca,
não basta ter coragem. Aqui, tinham proteção: cliente violento ia se entender
com o Calçacurta.
Esse nunca
me pediu dinheiro ou favor desmedido, só queria atendimento de primeira classe. Nunca deixou de
gozar e se endurecer de vontade. A casa tinha orgulho da sua clientela — Na
minha casa cliente gozava do prazer e não da piada.
Fui como as
outras meninas, mas mais corajosa. Precisava ser como uma general: dura,
exigente, intransigente, disciplinada, aceitei muito conselho do Calçacurta. O
homem entendia do que fazia, mas adorava que se babava de apanhar uma boa surra
das meninas. Não reclamava. Não dava um gemido, parecia querer mostrar como se
apanha calado... com o bico fechado.
Entre as
meninas sempre tinha uma mais chamada que as outras. São os fatos da vida e nos
convencemos que não era nada de mais, é isso, para ganhar bem foi preciso
aceitar muito, topar tudo, desde que pagassem bem. E fim de papo, sem mau gosto
ou barbarismo.
Às vezes,
quase não se fazia nada. Não tinha o que fazer apenas esperar. Nem adiantava
ficar incomodada, era preciso paciência. Quase todas tinham oportunidade de
popularidade e cheiro de dinheiro. Precisavam estar concentradas em ganhar
dinheiro. Negociar bem e serem cuidadosas.
Despesas pequenas
com médico e remédio pouco ficavam na conta das meninas, mas quando o serviço
precisava de mais tempo que alguma visita de consultório, eu não punha preço ao
general Calçacurta. A menina com abatimento de doença tinha atendimento em
clínica privativa. Coisa boa. O homem mandava e não pedia.
Teve vez
que ele convocou a casa fechada para o público — Preciso dar atendimento de
atenção especial num gringo. — um graúdo das políticas estrangeiras. O cara
pálida chegou por aqueles dias, e não precisou pedir outra vez. Fechamos. Dia
para o balanço. A clientela chiava, mas não tinha o que fazer, além de esperar
a abertura das portas.
O
recém-chegado era senador político dos estrangeiros. Gordo. Língua presa.
Desavergonhado. Não quis quarto, preferiu os acontecimentos por ali, na
chegada. Ansioso. Trouxe junto a sua bebida. Desconfiado. Não bebi. Nunca bebia
em serviço de guarda. Soldado no quartel precisa ficar alertado.
As meninas
lhe tiraram a roupa. Pedi que a penumbra pudesse esconder a pouca vergonha
daquele homem atirado pelo chão, rolando de vontade. Comeu e foi comido. Gritava
coisas malucas de bêbado — A experiência anal é maravilhosa! — foi a primeira
vez que a droga entrou na casa. Cheirava e bebia. Um dos seus convidados deu um
trabalho danado na Facécia. A menina usou todos os truques no sujeito, mas nada
lhe fez ficar pronto com o endurecimento. Fiquei com dó do gajo, tanto esforço,
tanta energia, veio de tão longe, a Facécia pronta, querendo e o atrapalhado
inutilizado. Gritava palavrões para o ferramental desajeitado, lambia a guria,
e nada
— Deputado... estou ficando esfoladinha...
— Saliva de língua é antibiótico de muito
recurso.
— Então, que continue o uso. — foi o jeito
de fazer o nobre deputado sentir utilidade de uso — Pode fazer uso dos dedos...
— a Facécia sempre foi de muita classe.
Guria com
firula não vingava na casa.
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