sábado, 25 de março de 2017

34. Pedro Páramo: Pedro Páramo estaba sentado - Juan Rulfo

Juan Rulfo




34. Pedro Páramo: Pedro Páramo estaba sentado




Pedro Páramo estaba sentado en un viejo equipal, junto a la puerta grande de la Media Luna, poco antes de que se fuera la última sombra de la noche. Estaba solo, quizá desde hacía tres horas. No dormía. Se había olvidado del sueño y del tiempo: «Los viejos dormimos poco, casi nunca. A veces apenas si dormitamos; pero sin dejar de pensar. Eso es lo único que me queda por hacer». Después añadió en voz alta: «No tarda ya. No tarda».

Y siguió: «Hace mucho tiempo que te fuiste, Susana. La luz era igual entonces que ahora, no tan bermeja; pero era la misma pobre luz sin lumbre, envuelta en el paño blanco dé la neblina que hay ahora. Era el mismo momento. Yo aquí, junto a la puerta mirando el amanecer y mirando cuando te ibas, siguiendo el camino del cielo; por donde el cielo comenzaba a abrirse en luces, alejándote, cada vez más desteñida entre las sombras de la tierra.

»Fue la última vez que te vi. Pasaste rozando con tu cuerpo las ramas del paraíso que está en la vereda y te llevaste con tu aire sus últimas hojas. Luego desapareciste. Te dije: "¡Regresa Susana!".»

Pedro Páramo siguió moviendo los labios, susurrando palabras. Después cerró la boca y entreabrió los ojos, en los que se reflejó la débil claridad del amanecer.

Amanecía. 



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PEDRO PÁRAMO estava sentado numa velha cadeira de couro, ao lado da porta grande da Media Luna, pouco antes que se fosse a última sombra da noite. Estava sozinho, fazia talvez umas três horas. Não dormia. Tinha se esquecido do sono e do tempo: “Nós velhos dormimos pouco, quase nunca. Às vezes só cochilamos; mas sem deixar de pensar. Essa é a única coisa que me resta fazer.” Depois acrescentou em voz alta: “Não demora. Já não vai demorar.”

E continuou: “Faz muito tempo que você foi-se embora, Susana. A luz então era igual à de agora, não tão vermelha; mas era a mesma pobre luz sem lume, envolta no pano branco da neblina que existe agora. Era o mesmo momento. Eu aqui, ao lado da porta olhando o amanhecer e olhando quando você ia embora, seguindo o caminho do céu; por onde o céu começava a se abrir em luzes, afastando-se, cada vez mais descolorida entre as sombras da terra.

“Foi a última vez que vi você. Passou roçando com seu corpo os galhos de um jasmineiro que está na vereda e levou com o seu ar as últimas folhas. Depois, você desapareceu. Eu disse: ‘Volta, Susana!’ ”

Pedro Páramo continuou movendo os lábios, sussurrando palavras. Depois fechou a boca e entreabriu os olhos, onde a débil claridade do amanhecer refletiu.

Amanhecia.




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Rulfo, Juan Pedro Páramo / tradução e prefácio de Eric Nepomuceno. — Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. Tradução de: Pedro Páramo ISBN 978-85-7799-116-7 1. Romance mexicano. I. Nepomuceno, Eric. II. Título

Pedro Páramo – Romance mais aclamado da literatura mexicana, Pedro Páramo é o primeiro de dois livros lançados em toda a vida de Juan Rulfo. O enredo, simples, trata da promessa feita por um filho à mãe moribunda, que lhe pede que saia em busca do pai, Pedro Páramo, um malvado lendário e assassino. Juan Preciado, o filho, não encontra pessoas, mas defuntos repletos de memórias, que lhe falam da crueldade implacável do pai. Vergonha é o que Juan sente. Alegoricamente, é o México ferido que grita suas chagas e suas revoluções, por meio de uma aldeia seca e vazia onde apenas os mortos sobrevivem para narrar os horrores da história. O realismo fantástico como hoje se conhece não teria existido sem Pedro Páramo; é dessa fonte que beberam o colombiano Gabriel Garcia Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, que também narram odisseias latino-americanas.


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35. Pedro Páramo: como si fuera un montón de piedras. fim - Juan Rulfo

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