sexta-feira, 17 de março de 2017

33. Pedro Páramo: Al alba, la gente fue despertada - Juan Rulfo

Juan Rulfo




33. Pedro Páramo: Al alba, la gente fue despertada




Al alba, la gente fue despertada por el repique de las campanas. Era la mañana del 8 de diciembre. Una mañana gris. No fría, pero gris. El repique comenzó con la campana mayor. La siguieron las demás. Algunos creyeron que llamaban para la misa grande y empezaron a abrirse las puertas; las menos, sólo aquellas donde vivía gente desmañanada, que esperaba despierta a que el toque del alba les avisara que ya había terminado la noche. Pero el repique duró más de lo debido. Ya no sonaban sólo las campanas de la iglesia mayor, sino también las de la Sangre de Cristo, las de la Cruz Verde y tal vez las del Santuario. Llegó el mediodía y no cesaba el repique. Llegó la noche. Y de día y de noche las campanas siguieron tocando, todas por igual, cada vez con más fuerza, hasta que aquello se convirtió en un lamento rumoroso de sonidos. Los hombres gritaban para oír lo que querían decir. «¿Qué habrá pasado?», se preguntaban. 

A los tres días todos estaban sordos. Se hacía imposible hablar con aquel zumbido de que estaba lleno el aire. Pero las campanas seguían, seguían, algunas ya cascadas, con un sonar hueco como de cántaro. 

-Se ha muerto doña Susana. 

-¿Muerto? ¿Quién? 

-La señora. 

-¿La tuya? 

-La de Pedro Páramo. 

Comenzó a llegar gente de otros rumbos, atraída por el constante repique. De Contla venían como en peregrinación. Y aun de más lejos. Quién sabe de dónde, pero llegó un circo, con volantines y sillas voladoras. Músicos. Se acercaban primero como si fueran mirones, y al rato ya se habían avecindado, de manera que hasta hubo serenatas. Y así poco a poco la cosa se convirtió en fiesta. Comala hormigueó de gente, de jolgorio y de ruidos, igual que en los días de la función en que costaba trabajo dar un paso por el pueblo. 

Las campanas dejaron de tocar; pero la fiesta siguió. No hubo modo de hacerles comprender que se trataba de un duelo, de días de duelo. No hubo modo de hacer que se fueran; antes, por el contrario, siguieron llegando más. 

La Media Luna estaba sola, en silencio. Se caminaba con los pies descalzos; se hablaba en voz baja. Enterraron a Susana San Juan y pocos en Comala se enteraron. Allá había feria. Se jugaba a los gallos, se oía la música; los gritos de los borrachos y de las loterías. Hasta acá llegaba la luz del pueblo, que parecía una aureola sobre el cielo gris. Porque fueron días grises, tristes para la Media Luna. Don Pedro no hablaba. No salía de su cuarto. Juró vengarse de Comala: 

-Me cruzaré de brazos y Comala se morirá de hambre. 

Y así lo hizo.




El Tilcuate siguió viniendo: 

-Ahora somos carrancistas. 

-Está bien. Andamos con mi general Obregón. 

-Está bien. Allá se ha hecho la paz. Andamos sueltos. 

-Espera. No desarmes a tu gente. Esto no puede durar mucho. 

-Se ha levantado en armas el padre Rentería. ¿Nos vamos con él, o contra él? 

-Eso ni se discute. Ponte al lado del gobierno. 

-Pero si somos irregulares. Nos consideran rebeldes. 

-Entonces vete a descansar. 

-¿Con el vuelo que llevo? 

-Haz lo que quieras, entonces.

-Me iré a reforzar al padrecito. Me gusta cómo gritan. Además lleva uno ganada la salvación. 

-Haz lo que quieras.



__________________




NO ALVORECER, as pessoas acordaram com o badalar do carrilhão. Era a manhã de 8 de dezembro. Uma manhã cinzenta. Não fria; mas cinzenta. O repicar começou com o campanário maior. Depois vieram os outros. Alguns achavam que era o chamado para a missa grande e começaram a abrir as portas; poucas, só aquelas onde viviam as pessoas madrugadoras, que esperavam acordadas que o toque do alvorecer as avisasse de que a noite havia terminado. Mas o repicar durou mais do que devia. Já não eram apenas os sinos da igreja maior, mas também os da igreja Sangue de Cristo, e o campanário da Cruz Verde, e talvez o do Santuário. Chegou o meio-dia e o repique não cessava. Chegou a noite. E de dia e de noite os sinos continuaram tocando, todos por igual, cada vez com mais força, até que aquilo se converteu num lamento ensurdecedor. Os homens gritavam para ouvir o que queriam dizer: “O que terá acontecido?”, se perguntavam. 

Ao terceiro dia estavam todos surdos. Era impossível falar com aquele zumbido que enchia o ar. Mas os sinos continuavam, continuavam, alguns já trincados, com um soar oco feito o de um cântaro. 

— Morreu dona Susana. 

— Morreu? Quem? 

— A senhora. 

— Sua senhora? 

— A de Pedro Páramo. 

Começou a chegar gente de outras paragens, atraídas pelo repicar constante. De Contla, vinham como em peregrinação. E até de mais longe ainda. Sabe-se lá de onde, o fato é que chegou um circo, trazendo acrobatas e trapezistas. Músicos. Primeiro se aproximavam como se fossem curiosos, e num instante já tinham se transformado em vizinhos, de maneira que houve até serenata. E assim, pouco a pouco a coisa se transformou em festa. Comala formigou de gente, de festança e de ruídos, igual que nos dias da quermesse, quando dava trabalho dar um passo pelo povoado. 

Os sinos deixaram de tocar; mas a festa continuou. Não teve como fazer o pessoal compreender que se tratava de um luto, de dias de luto. Não houve como fazer com que se fossem; pelo contrário, continuou chegando mais e mais gente. 

A Media Luna estava solitária, em silêncio. Caminhava-se com pés descalços; falava-se em voz baixa. Enterraram Susana San Juan e pouca gente em Comala percebeu. Lá havia festa. Apostava-se nos galos, ouvia-se música; os gritos dos bêbados e das vísporas. Até lá chegava a luz do povoado, que parecia uma auréola sobre o céu cor de cinza. Porque foram dias cor de cinza, tristes para a Media Luna. Dom Pedro não falava. Não saía do seu quarto. Jurou vingar-se de Comala: 

— Vou cruzar os braços e Comala vai morrer de fome.

E foi o que ele fez.



O SUCURI continuou aparecendo: 

— Agora estamos com Carranza. 

— Está bem. 

— Agora estamos com o general Obregón. 

— Está bem. 

— Agora selaram a paz. Estamos soltos. 

— Espere. Não desarme o seu pessoal. Isso pode não durar muito. 

— O padre Rentería alçou-se em armas. Vamos com ele, ou contra ele? 

— Não tem nem o que discutir. Você que se ponha do lado do governo. 

— Mas é que somos irregulares. No governo nos consideram rebeldes. 

— Então, vá descansar. 

— Acelerado do jeito que estou? 

— Então faça o que quiser.

— Pois vou dar apoio ao padre. Gosto do jeito que eles gritam. Além do mais, a gente leva de pingo a salvação da alma. 

— Faça o que quiser.





____________________________


Rulfo, Juan Pedro Páramo / tradução e prefácio de Eric Nepomuceno. — Rio de Janeiro: BestBolso, 2008. Tradução de: Pedro Páramo ISBN 978-85-7799-116-7 1. Romance mexicano. I. Nepomuceno, Eric. II. Título

Pedro Páramo – Romance mais aclamado da literatura mexicana, Pedro Páramo é o primeiro de dois livros lançados em toda a vida de Juan Rulfo. O enredo, simples, trata da promessa feita por um filho à mãe moribunda, que lhe pede que saia em busca do pai, Pedro Páramo, um malvado lendário e assassino. Juan Preciado, o filho, não encontra pessoas, mas defuntos repletos de memórias, que lhe falam da crueldade implacável do pai. Vergonha é o que Juan sente. Alegoricamente, é o México ferido que grita suas chagas e suas revoluções, por meio de uma aldeia seca e vazia onde apenas os mortos sobrevivem para narrar os horrores da história. O realismo fantástico como hoje se conhece não teria existido sem Pedro Páramo; é dessa fonte que beberam o colombiano Gabriel Garcia Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa, que também narram odisseias latino-americanas.


_________________________




34. Pedro Páramo: Pedro Páramo estaba sentado - Juan Rulfo

Nenhum comentário:

Postar um comentário