sábado, 18 de março de 2017

Florbela Espanca - A Mensageira das Violetas 17

Florbela Espanca



17 - A Mensageira das Violetas





NOSTALGIA



Nesse país de lenda, que me encanta, 
Ficaram meus brocados, que despi, 
E as joias que p´las aias reparti 
Como outras rosas de Rainha Santa! 

Tanta opala que eu tinha! Tanta, tanta! 
Foi por lá que as semeei e que as perdi... 
Mostrem-me esse País onde eu nasci! 
Mostrem-me o reino de que eu sou infanta! 

Ó meu país de sonho e de ansiedade, 
Não sei se esta quimera que me assombra, 
É feita de mentira ou de verdade! 

Quero voltar! Não sei por onde vim... 
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra 
Por entre tanta sombra igual a mim!



CRUCIFICADA

Amiga... noiva... irmã... o que quiseres! 
Por ti, todos os céus terão estrelas, 
Por teu amor, mendiga, hei de merecê-las, 
Ao beijar a esmola que me deres. 

Podes amar até outras mulheres! 
- Hei de compor, sonhar palavras belas, 
Lindos versos de dor só para elas, 
Para em lânguidas noites lhes dizeres! 

Crucificada em mim, sobre os meus braços, 
Hei de pousar a boca nos teus passos 
Pra não serem pisados por ninguém. 

E depois... Ah, depois de dores tamanhas, 
Nascerás outra vez de outras entranhas, 
Nascerás outra vez de uma outra mãe!




ESPERA...


Não me digas adeus, ó sombra amiga,
Abranda mais o ritmo dos teus passos;
Sente o perfume da paixão antiga,
Dos nossos bons e cândidos abraços!

Sou dona de místicos cansaços,
A fantástica e estranha rapariga
Que um dia ficou presa nos teus braços...
Não vás ainda embora, ó sombra amiga!

Teu amor fez de mim um lago triste:
Quantas ondas a rir que não lhe ouviste,
Quanta canção de ondinas lá no fundo!

Espera...espera...ó minha sombra amada...
Vê que pra além de mim já não há nada
E nunca mais me encontrarás neste mundo!





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A Mensageira das Violetas, de Florbela Espanca

Fonte: ESPANCA, Florbela. A mensageira das violetas: antologia. Seleção e edição de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 1999. (Pocket). 

Texto proveniente de: 
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais. 

Texto-base digitalizado por: 


Luciana Peixoto Silva – Divinópolis/MG
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