quinta-feira, 23 de março de 2017

O Brasil nação - v1: § 30 – Confessa-se o fracasso do 7 de Abril - Manoel Bomfim

Manoel Bomfim



O Brasil nação volume 1





PRIMEIRA PARTE
SEQUÊNCIAS HISTÓRICAS



capítulo 3
o novo malogro






§ 30 – Confessa-se o fracasso do 7 de Abril




Antes de chegar aí, já havia a queda de tônus, prenunciante das campanhas perdidas: os moderados confessavam, abertamente, haver malogrado a revolução, e tratavam, apenas, de conservar quanto possível o uso das posições. Em substituição ao primitivo parecer de reforma (golpe de Estado) apresentaram um – em que pediam aos regentes e ministros que se conservassem no governo. Votado açodadamente, numa atmosfera de vela de sebo, foi o parecer bem recebido pelos regentes, que concordaram em ficar; os ministros, porém, insistiram em sair, mesmo porque Feijó, em torno de quem se articulava a situação, já se tinha demitido. Entendeu a Regência, nessa altura, e porque havia uma grave crise política, organizar um ministério sem cor, isto é, alheio às dissenções do momento. Araújo Lima foi o naturalmente indicado para essa conjuntura – de incolorismo. Todavia, não foi fácil grupar a turma dos desbotados, ou furta-cores. A façanha de Hermeto, com as perspectivas que se abriam, produziu uma tal deslocação de horizontes, que ninguém queria tomar posição na aventura com o futuro Olinda. Apenas Holanda Cavalcanti, que já se manifestava indiferente a coerências, e o nulo Bento de Barros, aceitaram ocupar os lugares vagos, devido à explosão com que Carneiro Leão infectara a política brasileira. Quanto a este, olhado com desconfiança por uns, talvez com inveja por outros, sentiu a necessidade de afastar-se um pouco, para deixar amadurecer ou limpar-se a vitória que dera aos reacionários com quem viria colaborar, na definitiva política do Império brasileiro, até que a generalidade dos companheiros aceitasse a confessada degradação de programa. Foi rápido o interregno. O ministério incolor a ninguém satisfazia: Vasconcelos estava impaciente por ser ostensivo poder; Evaristo reduzira-se a um Jeremias sem veemência...129  Nestas condições, o partido moderado foi buscar o



129 Cinco meses depois da frustrada aventura, choramingava Evaristo: “... o seu fim (do golpe de Estado de 30 de julho) era salvar a pátria, cujos perigos pareciam formidáveis, e ainda hoje não são pequenos. Cinco meses apenas têm decorrido, e muitos daqueles que se intimidaram com os receios de república reconheceram que a sua boa-fé foi surpreendida por espertos e intrigantes...” Evidentemente, ele pensava no companheiro Carneiro Leão (discurso na Assembleia).



profeta da nova política para ser o seu representante no governo. A Regência, possuída, então, pelos Lima e Silva, despediu Araújo Lima, e Hermeto veio formar o novo ministério. Em verdade, o gabinete incolor não chegou a demitir-se: foi caindo aos pedaços, apesar de que Vasconcelos e Hermeto apresentavam a fácil homogeneidade da ausência de convicções, e a áspera energia da ganância de poder. Era um exército em forma, apenas, para o assalto às posições:



Com Carneiro Leão, conta a pulhice do Sr. Moreira Azevedo, recuperou o partido dominante a sua antiga influência. Assenhoreou-se novamente da situação... “E o Sr. P. da Silva explica a vantagem da nova disposição das gentes”... aliviado da influência de Feijó, que causava sustos a muitos, pela firmeza da vontade e energia, que ia até o arrojo...130

130 (De 1831 a 1840 , cap. VI; História Pátria, pág. 87.


Enquanto isto, “... não poupava (o partido moderado) demonstração de júbilo, por considerar sua a situação... Podia agora, desassombradamente, reatar seus projetos de refrear a revolução de 7 de abril, e aniquilar as tentativas de reformas liberais”.131  Não é de estranhar se, nesse ímpeto de ação, a marquesada vá ao ponto de fechar a porta do seu senado ao grande liberal Feijó, eleito senador pela sua província. Todavia, não era, ainda, o completo abastecimento, e São Paulo o reelegeu, quando a sua política, no momento, não tinha outra força senão a da própria virtude.


131 Foram as províncias do Sul que asseguraram a eleição de Feijó; mas, tal era a desorientação, que o Norte radical a ele preferiu o trêfego exibicionista Holanda Cavalcanti.


Não era, ainda, o abatimento completo, mas a infecção já tomara todos os veios de vida, da pátria brasileira. Dentro da crise criada pela traição de Hermeto, os moderados mais ativos só tratavam de resolver as dificuldades do momento, sem perda do poder. Transigiram com os restauradores, cederam-lhes tudo que era essencial à democracia do regime, contanto que abrissem mão de explícita restauração. Liquidada a reforma da constituição, reduzida ela à insignificância do ato adicional, reinavam, de fato, os bolorentos oligarcas do Senado, nas costas dos Carneiro Leão, Rodrigues Torres, Bento da Silva Lisboa, Araújo Viana... em meio dos quais se inutilizava completamente o inofensivo liberalismo de Vergueiro. Subsistiam, porém, por fora do bando desfrutador, muitas das ilusões e intransigências primeiras. Bastou, por exemplo, que a camarilha, em ensaio de cortesanismo, arvorasse (no aniversário do imperial menino) um painel de parva alegoria do trono, para que a multidão popular avançasse, pronta a liquidar – o painel e os seus autores... E tiveram que dar satisfações à multidão suspeitosa. Era o momento em que a perniciosa mansidão de Araújo Lima já estava inteiramente ao serviço do reacionamento do senado, enquanto as tranquibérnias políticas de Hermeto só serviam para turvar a situação, onde Vasconcelos ainda teimava em passar por liberal... Tudo significa que as dificuldades se tornavam bem explícitas na hora em que – tendo de eleger-se o regente uno (em vista do ato adicional), pareceu ao maior número que a virtude de Feijó seria remédio para as dificuldades. E foi o grande padre eleito regente
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"Morreu no Rio aos 64 anos, em 1932, deixando-nos como legado frases, que infelizmente, ainda ecoam como válidas: 'Somos uma nação ineducada, conduzida por um Estado pervertido. Ineducada, a nação se anula; representada por um Estado pervertido, a nação se degrada'. As lições que nos são ministradas em O Brasil nação ainda se fazem eternas. Torcemos para que um dia caduquem. E que o novo Brasil sonhado por Bomfim se torne realidade."

Cecília Costa Junqueira



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O Brasil nação: vol. I / Manoel Bomfim. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013. 332 p.; 21 cm. – (Coleção biblioteca básica brasileira; 35).


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