mulheres descalças
ugostu de sê água...
Ensaio 106B – 2ª edição 1ª reimpressão
Ensaio 106B – 2ª edição 1ª reimpressão
baitasar
Ei, moço...
umoço escutô, pensei dizê... mais num disse. num dei siná de tê escutado, nehum ruído, nehum movimento, nehum atrevimento, nehum oiá, mifaço de morto, coisa qui num é difícil de imaginá, continuo na espreita, Ei, moço...
a mesma voz, mesmo chamado, gemendo atenção enquanto eu implorava dumais fundo dumeu querê qui a casa ficasse quieta. ela pedindo um sorriso qui num tenho pra dá, querendo um oiá de bem-te-vi qui num sei mais fazê, só sei oiá assustado, Ei, moço! Entra no quintal e vá até o fundo do terreiro...
arregalei usóio, bem mais qui sabia qui podia vê, mais num dei conta de vê uqui escutava, Entra, moço...
entrei
num usei uportão, achei meió continuá agarrado nuchão da terra, passei nas ferida em carne-viva da cerca podre de véia, quebrada e lascada. cheia dus ferimento qui a vida faz uso com descuido nas carne preta. saí da rua pra entrá nas terra da casa qui fala. parei pra oiá de frente pra assombração da casa. tenho medo das assombração, mais tem veiz qui é meió encará o assanhamento assombrado, enfrentá a aparição faz o sombroso se mostrá. e sempre é meió enfrentá aparição dus morto-vivo qui castigo cum rabo do tatu, Pode entrar. Não para.
já tinha entrado... será qui num viu? eita assombração sem controle duqui vê
num tinha otro lugá pra ficá, num tinha valentia pra enfrentá toda villa, dei um passo... e depois otro, precisava dá, O moço tem alguma palavra que não disse e gostaria de dizer antes que a justiça dos levianos e covardes lhe alcance, pareceu qui a prurugunta da casa com assombração queria anunciá as última palavra dumorto-vivo, eu era uvivo pra sê morto, virá assombração pendurada na árvore dus enforcado
arregalei usóio, fui condenado pra morrê cum esticão du pescoço e num sei sevô sê escutado nas última coisa qui tinha pra dizê. as autoridade num dá importância nem a villa dá valô ou respeito pras palavra du enforcando. é só mais uma distração pra aumentá o tempo do divertimento, assunto pra depois
sô uvivo sem voz e já quase morto
já tive munta palavra guardada, mais já num tenho animação pra soltá, faz muntu tempo qui deixei de guardá as palavra e as vontade. vô morrê com as coisa pra sê dita presa na goela, coisa sem importância pra quem vive sem escutá uspretu dizê uqui pensa, gosta e num gosta. vô morrê, mais num quero dujeitu qui uspretu com juízo faz pra vivê: as palavra e a vontade agarrada na carne morta desfeita
num vai tê prurugunta, Mais se usiô da Pulícia qué sabê: eu matei ufinadu, siô Bento José. Num matei cum malvadeza e num pensava matá, mais tem coisa qui num dá pra sê.
levá os cabungo cheio inté a boca cum as imundícia dusiô bento num é bão, Mais sabe, siô Pulícia, gostava de entrá nurriu, eu lavava tudu. Urriu passô sê a casa qui num tinha, um lugá sereno, perfumado e risonho. Um descampado espaçoso com a lonjura das margem duotru lado oiando pra mim. Convidando pra visitá as praia dali e do além. Foi isso, tendo bebido as água durriu... me embebedei. Urriu alegra meu curação. Num tenho amigo, só tenho urriu e essa vida de boto.
tava ali, aprendendo as manha das água, peixe e planta. oiava prus barco du mesmo jeito qui oiava prus barquêro. achava qui se as estrada das água me carregô pra cá, pode qui a mesma estrada me ajude fugí, pode qui eu morra, mais tô aprendendo as água pra num morrê seco, quero virá boto
as água é sagrada, antes de entrá peço licença. antes de afundá uscabungo pedia perdão pra siá das água, depois enfiava uscabungo e uscocô pastoso amareloverdeluto dusiô bento josé. tudo nufundu das água. ela sabia entendê
penso qui tô nutempo de fugí, já sei mais das água qui usbarquêro. já tô parecendo boto pretu. na villa usiô pulícia é udonu da vida e da morte dus pretu, mais nas água é bão pensá meió antes de entrá
mais dando volta nuassuntu qui me trouxe aqui, Usiô Bento José num pensô bem quando resolveu me fazê durumí embaixo da cama com a bacia da merda: e justo nutempo qui ele tava cum intestino solto
num aceitei
num quis sê umerdêro dusiô bento josé
ele num aceitô qui eu num quis, usbrancu num aceita se contrariado
levantô as mão cum urabu dutatu e me bateu uma e duas veiz. num deixei tê a tercêra veiz, pulei nusiô e virei a merdêra. ele morreu afogado na merda, Num foi caso pensado, siô Pulícia. Mais foi uqui fiz.
num tenho provadura das palavra qui foi dita, num tenho ninguém qui possa tê oiado ou com vontade de ajudá, Num tentei degolá. Num matei a faca. Num arrombei a porta. Num fiz maldade, siô Pulícia. Perdi a paciência cum usajuste qui usbrancu qué dus pretu.
Ei, moço... caminha até as águas. A imundícia no corpo do moço é muito fedida.
parei uspassu e encravei usóio na casa, procurava a dona daquela voz qui convidadva dum jeito qui num podia negá. apertei as vista e coloquei a atenção nurumu das palavra. nada parecia sê uqui era. parecia chegá nas água. parecia chegá nuventu. parecia tá sem tá. procurei e mais procurei, mais num tinha uqui achá, a voz parecia ficá mais animada quando eu num oiava. ela brincava de se mostrá e escondê, uma brincadêra cansativa duma casa confusa
mirei nurriu quando pareceu chegá das água, apontei pru alto quando pareceu qui tava carregada cum vento, espreitei a casa quando pareceu sê a casa, mais num tinha forma de vê aquela voz farta e abundosa
a desconfiança foi ficando maió qui a curiosice. aquele chamado podia sê dum espritu ou pió... podia tá vindo da assombração dusiô bento josé. senti qui as vista qui tinha tava assustada e muntu espiada
inté qui usóio encontrô a voz qui mifazia obedecê. uma voz muntu diferente das voz qui acostumei escutá: as voz arrogante de governá a vida dusotru, as voz desalmada qui gosta de anunciá a malvadeza; e as voz disfarçada de boinha qui tem junto muntu veneno mais ruindade, a falsidade cruenta. a voz qui num diz uqui pensa
firmei atenção pra escutá, desguarneci a dureza do corpo e uma vontade de durumí se desgovernô com a falação daquela voz qui esperei inté hoje pra escutá, uma voz normal, Meu nome é Laetitia, mas também podes me chamar de Milagres. E o nome de vosmecê?
ela queria sabê se eu tinha nome. pode sê qui tenho ou pode sê qui num tenho, mais pode sê qui num gosto dunome qui ganhei na descida du tumbêro. pode sê qui tenho tanta saudade de escutá unome qui mifoi dado quando brotei numbigo dumundu qui num quero alembrá qui tenho nome de nascença. num tenho pruqui dizê se tenho nome, num tenho pruqui sê conhecido cum nome
Vosmecê tem língua pra falar?
continuo silencioso nu caminho inté urriu, tô decidido num dizê nem ai nem ui
num preciso tê vista nas costa pra sentí usóio da casa revistando meus passô e as dô qui num podia escondê. cheguei no fim do aterramento, passei a cerca de pau mais arame, tudo desconjuntado. já tava no começo do capinzal. fui enfiando os pé pelo capinzal. cada passada mais dada e uspé afundava nas água, parei quando fiquei enfiado inté o umbigo
sem virá ou avisá... afundo todo
e demoro pra subí
num quero voltá
queria podê virá em água, sê a correnteza, nunca voltá. carregá a vida das água prus lugá seco da vida
a vida fora das água só parece sê vida, mais é um lugá entupido cum a ruidade dus branco sem encantamento
afundo todo uma, duas, mais de cem veiz
quero ficá cum gosto de sê água. fico assim, inté recuperá a vontade de saí______________________
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