Hannah Arendt
Parte I
ANTISSEMITISMO
Este é um século extraordinário, que começa com a Revolução e termina com o Caso Dreyfus. Talvez ele venha a ser conhecido como o século da escória.
Roger Martin du Gard
Entre o antissemitismo como ideologia leiga do século XIX (que de nome, embora não de
conteúdo, era desconhecida antes da década de 1870) e o antissemitismo como ódio religioso
aos judeus, inspirado no antagonismo de duas crenças em conflito, obviamente há profunda
diferença. Pode-se discutir até que ponto o primeiro deve ao segundo os seus argumentos e a sua
atração emocional. A noção de que foram ininterruptamente contínuas as perseguições,
expulsões e massacres dos judeus desde o fim do Império Romano até a Idade Média, e, depois,
sem parar, até o nosso tempo, frequentemente conjugada com a ideia de que o antissemitismo
moderno nada mais é senão uma versão secularizada de populares superstições medievais,[1] não
é menos preconceituosa (embora seja, naturalmente, menos nociva) que a noção antissemita de
uma secreta sociedade judaica, que dominou ou procurou dominar o mundo desde a
Antiguidade. Historicamente, o hiato entre os fins da Idade Média e a época moderna, no que se
refere à questão judaica, é ainda mais marcante do que a brecha entre a Antiguidade romana e a Idade Média, ou o abismo — frequentemente
considerado o ponto decisivo e o mais importante da história judaica — que separou os
massacres perpetrados pelas primeiras Cruzadas e os primeiros séculos medievais. Esse hiato
durou quase duzentos anos, do início do século XV até o fim do século XVI, quando as relações
entre judeus e gentios estiveram mais frágeis do que nunca, quando a "indiferença [judaica] às
condições e eventos do mundo exterior" foi mais profunda do que antes, e o judaísmo se tornou
"um sistema fechado de pensamento". Foi por essa época que os judeus, sem qualquer
interferência externa, começaram a pensar que "a diferença entre o povo judeu e as nações era,
fundamentalmente, não de credo, mas de natureza interior", e que a antiga dicotomia entre
judeus e gentios "provinha mais provavelmente de origem étnica do que de discordância
doutrinária".[2] Essa mudança na avaliação do caráter diferente do povo judeu — que só surgiu
entre os não-judeus muito mais tarde, na Era do Esclarecimento — constituiu certamente a
condição sine qua non do nascimento do antissemitismo, e é de certa importância observar que
ela ocorreu primeiro no ato da auto interpretação judaica, surgido na época da fragmentação da
cristandade europeia em grupos étnicos, os quais depois alcançariam a autonomia política,
formando o sistema de Estados-nações.
A história do antissemitismo, como a história do ódio aos judeus, é parte integrante da longa e intrincada história das relações que prevaleciam entre judeus e gentios desde o início da dispersão judaica. O interesse por essa história, praticamente nulo antes dos meados do século XIX, surgiu coincidindo com a eclosão do antissemitismo, hostil aos judeus emancipados e assimilados. Obviamente, esse foi o pior momento para a pesquisa historiográfica objetiva.[3] Desde então, tanto os historiógrafos judeus quanto os não-judeus dedicaram-se — embora por motivos opostos — à ênfase dos elementos mutuamente antagônicos, encontrados nas fontes cristãs e judaicas. Ambos os lados sublinhavam as catástrofes, expulsões e massacres que pontilharam a história dos judeus, do mesmo modo como os conflitos armados e desarmados, guerras, fome e pestilência que pontilharam a história da Europa. Desnecessário dizer, enquanto os historiógrafos judeus, com sua tendência polêmica e apologética, detectavam da história cristã as ocorrências caracterizadas pelo ódio aos judeus, os antissemitas, de modo intelectualmente idêntico, faziam o mesmo, procurando as enunciações das antigas autoridades judaicas que tivessem dado início à tradição judaica de antagonismo, muitas vezes violento, contra os cristãos e gentios. "A opinião pública judaica ficou então não só perplexa, mas genuinamente pasmada",[4] tão bem tinham seus porta-vozes conseguido convencer a todos — inclusive a si mesmos — da veracidade do antifato que apresentava a segregação dos judeus como resultado exclusivo da hostilidade dos gentios e do seu completo obscurantismo. Desde então, os historiadores judeus passaram a afirmar ter sido o judaísmo sempre superior às outras religiões, pelo simples fato de crer na igualdade e tolerância humana. Essa teoria perniciosa, aliada à convicção de que os judeus sempre constituíam objeto passivo e sofredor das perseguições cristãs, na verdade prolongava e modernizava o velho mito de povo escolhido; assim, só podia levar a novas e frequentemente complicadas práticas de segregação, destinadas a manter a antiga dicotomia — numa daquelas ironias que parecem reservadas aos que, por quaisquer motivos, buscam enfeitar e manipular os fatos políticos e os registros históricos. Pois, se os judeus tinham em comum com os seus vizinhos não-judeus algo que justificasse a sua recém-proclamada igualdade, era precisamente o passado de mútua hostilidade determinada religiosamente, passado tão rico em realização cultural no nível mais alto quanto abundante em fanatismo e superstições no nível das massas ignorantes.
A história do antissemitismo, como a história do ódio aos judeus, é parte integrante da longa e intrincada história das relações que prevaleciam entre judeus e gentios desde o início da dispersão judaica. O interesse por essa história, praticamente nulo antes dos meados do século XIX, surgiu coincidindo com a eclosão do antissemitismo, hostil aos judeus emancipados e assimilados. Obviamente, esse foi o pior momento para a pesquisa historiográfica objetiva.[3] Desde então, tanto os historiógrafos judeus quanto os não-judeus dedicaram-se — embora por motivos opostos — à ênfase dos elementos mutuamente antagônicos, encontrados nas fontes cristãs e judaicas. Ambos os lados sublinhavam as catástrofes, expulsões e massacres que pontilharam a história dos judeus, do mesmo modo como os conflitos armados e desarmados, guerras, fome e pestilência que pontilharam a história da Europa. Desnecessário dizer, enquanto os historiógrafos judeus, com sua tendência polêmica e apologética, detectavam da história cristã as ocorrências caracterizadas pelo ódio aos judeus, os antissemitas, de modo intelectualmente idêntico, faziam o mesmo, procurando as enunciações das antigas autoridades judaicas que tivessem dado início à tradição judaica de antagonismo, muitas vezes violento, contra os cristãos e gentios. "A opinião pública judaica ficou então não só perplexa, mas genuinamente pasmada",[4] tão bem tinham seus porta-vozes conseguido convencer a todos — inclusive a si mesmos — da veracidade do antifato que apresentava a segregação dos judeus como resultado exclusivo da hostilidade dos gentios e do seu completo obscurantismo. Desde então, os historiadores judeus passaram a afirmar ter sido o judaísmo sempre superior às outras religiões, pelo simples fato de crer na igualdade e tolerância humana. Essa teoria perniciosa, aliada à convicção de que os judeus sempre constituíam objeto passivo e sofredor das perseguições cristãs, na verdade prolongava e modernizava o velho mito de povo escolhido; assim, só podia levar a novas e frequentemente complicadas práticas de segregação, destinadas a manter a antiga dicotomia — numa daquelas ironias que parecem reservadas aos que, por quaisquer motivos, buscam enfeitar e manipular os fatos políticos e os registros históricos. Pois, se os judeus tinham em comum com os seus vizinhos não-judeus algo que justificasse a sua recém-proclamada igualdade, era precisamente o passado de mútua hostilidade determinada religiosamente, passado tão rico em realização cultural no nível mais alto quanto abundante em fanatismo e superstições no nível das massas ignorantes.
Contudo, até os irritantes estereótipos desse setor da historiografia judaica apoiam-se mais
solidamente em fatos históricos que as obsoletas necessidades políticas e sociais do povo judeu
na Europa do século XIX e do começo do século XX. Embora a história cultural judaica fosse
infinitamente mais diversa do que se supunha naquela época, e embora as causas do desastre
judeu variassem ao longo das circunstâncias históricas e geográficas, a verdade é que se
alteravam mais em função do ambiente não-judeu do que das comunidades judaicas. Dois fatos
reais foram decisivos para a formação dos conceitos errôneos e fatídicos que ainda permeiam as
versões populares da história judaica. Em parte alguma e em tempo algum depois da destruição
do Templo de Jerusalém (no ano 70) os judeus possuíram território próprio e Estado próprio;
sua existência física sempre dependeu da proteção de autoridades não-judaicas, embora se lhes
concedessem, em várias regiões, alguns meios de autodefesa, como por exemplo, aos "judeus da
França e da Alemanha até começos do século XIII",[5] o direito de portar armas. Isso não
significa que os judeus nunca tiveram força, mas a verdade é que, em qualquer disputa violenta,
não importa por que motivos, os judeus eram não apenas vulneráveis como indefesos. Assim,
não admira que, especialmente no decorrer dos séculos em que era completa a sua separação do
meio não-judeu — e que foram anteriores à sua ascensão à igualdade política —, todas as
múltiplas explosões da violência lhes parecessem meramente normais. Além disso, as
catástrofes eram entendidas, dentro da tradição judaica, em termos de martirologia, o que por sua vez tinha base histórica
tanto nos primeiros séculos de nossa era, quando judeus e cristãos desafiavam o poder do Império
Romano, quanto nas condições medievais, quando se oferecia aos judeus o batismo como alternativa para
se livrarem das perseguições, mesmo se a causa da violência fosse política e econômica, e não religiosa.
Essa sequência de eventos conduziu à ilusão que desde então afeta tanto os historiadores judeus como os
não-judeus, já que ambas as partes dão mais ênfase ao fato de "os cristãos se desassociarem dos judeus do
que do inverso".[6] Assim, escondem o seguinte fenômeno: a separação dos judeus do mundo gentio, e mais
especificamente do ambiente cristão, tem tido maior relevância na história judaica do que o seu oposto,
pela razão óbvia de que a própria sobrevivência do povo judeu como entidade identificável dependia
dessa separação, que era voluntária, e não, como se costumava supor, resultante da hostilidade dos
cristãos e não-judeus em geral. Só nos séculos XIX e XX, depois da emancipação e em consequência da
assimilação dos judeus, o antissemitismo veio a ter alguma importância para a preservação do povo judeu,
pois só então os judeus passaram a aspirar a serem aceitos pela sociedade não-judaica.
Embora os sentimentos antijudaicos fossem correntes entre as classes educadas da Europa no século XIX,
o antissemitismo como ideologia constituía, com muito poucas exceções, área de atuação dos malucos e
lunáticos. Até os duvidosos produtos do judaísmo apologético, que nunca convenceram ninguém senão os
que já estavam convencidos, formavam exemplos de elevada erudição e cultura, se comparados com o
que os inimigos dos judeus tinham a oferecer em matéria de pesquisa histórica.[7] Quando, após o fim da
Segunda Guerra Mundial, comecei a organizar o material para este livro, coletado a partir de documentos
e monografias, às vezes excelentes, que cobriam um período de mais de dez anos, não encontrei uma
única obra sobre o antissemitismo compatível com os padrões mais elementares da apreciação histórica. E
de lá para cá a situação pouco mudou. Isso é deplorável, pois a necessidade do tratamento fiel e imparcial
da história judaica tornou-se recentemente maior do que jamais. Os acontecimentos políticos do século
XX atiraram o povo judeu no centro do turbilhão de eventos; a questão judaica e o antissemitismo,
fenômenos relativamente sem importância em termos de política mundial, transformaram-se em agente
catalisador, inicialmente, da ascensão do movimento nazista e do estabelecimento da estrutura
organizacional do Terceiro Reich, no qual todo cidadão tinha de provar que não era judeu ou descendente
dos judeus; e, em seguida, de uma guerra mundial de ferocidade nunca vista, que culminou, finalmente,
com o surgimento do genocídio, crime até então desconhecido em meio à civilização ocidental. Creio ser
óbvio que isso exige não apenas lamentação e denúncia, mas também compreensão. Este livro é uma tentativa de compreender os fatos que, à primeira vista,
pareciam apenas ultrajantes.
Repito: compreender não significa negar o ultrajante, subtrair o inaudito do que tem precedentes, ou
explicar fenômenos por meio de analogias e generalidades tais que se deixa de sentir o impacto da
realidade e o choque da experiência. Significa antes examinar e suportar conscientemente o fardo que os
acontecimentos colocaram sobre nós — sem negar sua existência nem vergar humildemente a seu peso,
como se tudo o que de fato aconteceu não pudesse ter acontecido de outra forma. Compreender significa,
em suma, encarar a realidade, espontânea e atentamente, e resistir a ela — qualquer que seja, venha a ser
ou possa ter sido.
Para essa compreensão é indispensável — embora não seja suficiente — uma certa familiaridade com a
história judaica na Europa do século XIX e a consequente evolução do antissemitismo. Os capítulos que
seguem tratam apenas daqueles elementos da história do século XIX que realmente importam para o
estudo das origens do totalitarismo. Ainda está por ser escrita a história analítica do antissemitismo, o que
foge ao escopo deste volume. Enquanto existir essa lacuna, justifica-se a publicação dos capítulos
seguintes como contribuição para o estudo mais completo, embora tenham sido originalmente concebidos
tão-só como parte integrante da pré-história do totalitarismo. Além disso, não apenas a história do antissemitismo tem sido elaborada por não-judeus mentecaptos e por judeus apologéticos, sendo em geral
evitada por historiadores de reputação: mutatis mutandis, com quase todos os elementos que se
cristalizariam no fenômeno totalitário ocorreu o mesmo. Ambos os fenômenos — o antissemitismo e o
totalitarismo — mal haviam sido notados pelos homens cultos, porque pertenciam à corrente subterrânea
da história europeia, onde, longe da luz do público e da atenção dos homens esclarecidos, puderam
adquirir virulência inteiramente inesperada.
Quando a derradeira catástrofe cristalizante — a Segunda Guerra Mundial — trouxe à tona essas
correntes subterrâneas, surgiu a tendência de confundir o totalitarismo com os seus elementos e com as
suas origens, como se cada explosão de antissemitismo ou racismo pudesse ser a priori identificada com o
"totalitarismo". Essa atitude é tão enganadora na busca da verdade histórica como é perniciosa para a
análise política. A política totalitária — longe de ser simplesmente antissemita, ou racista, ou imperialista,
ou comunista — usa e abusa de seus próprios elementos ideológicos, até que se dilua quase que
completamente com a sua base, inicialmente elaborada partindo da realidade e dos fatos — realidade da
luta de classes, por exemplo, ou dos conflitos de interesse entre os judeus e os seus vizinhos, que fornecia
aos ideólogos a força dos valores propagandísticos. Constituiria certamente grave erro subestimar o papel
que o racismo puro tem desempenhado e ainda desempenha no governo dos estados do sul dos Estados
Unidos, mas seria uma ilusão ainda mais grave chegar à conclusão retrospectiva de que amplas áreas
desse país eram submetidas ao regime totalitário há mais de um século. A única consequência direta e
não-adulterada dos movimentos antissemitas do século XIX não foi o nazismo mas, ao contrário, o sionismo, que, pelo menos em sua forma ideológica ocidental, assumiu o aspecto de
consciente contra ideologia, de "resposta ao" antissemitismo. Isso não significa que a autoconsciência
grupai dos judeus resultasse do antissemitismo; até mesmo o conhecimento superficial da história
judaica, cuja preocupação central, desde o exílio babilônico, sempre foi a sobrevivência do povo a
despeito da dispersão, seria suficiente para destruir esse mito sobre o assunto, mito que se tornou até
elegante, a ponto de vir a ser repetido nos círculos intelectuais, depois da interpretação existencialista de
Sartre, segundo a qual o judeu era alguém que os outros consideravam e definiam como tal.
O que melhor exemplifica tanto a diferença como a relação entre o antissemitismo pré-totalitário e o
totalitário é talvez a história dos "Protocolos dos sábios do Sião". O emprego dessa falsificação pelos
nazistas, que a usaram como livro-texto, certamente não pertence à história do antissemitismo, mas só a
história do antissemitismo pode explicar porque era viável o uso da mentira para os fins de propaganda
antijudaica. Mas essa história não explica por que se transformou em fenômeno político a alegação,
obviamente totalitária, do suposto domínio global a ser exercido com métodos esotéricos pelos membros
de uma sociedade secreta. A atração política decorrente do uso dos "Protocolos" é importante, na medida
em que suas origens estão no imperialismo em geral, como foi elaborado em versão europeia continental,
altamente explosiva, a partir dos movimentos nacionalmente, ou melhor, etnicamente unificadores,
principalmente pangermânicos e pan-eslavos.
Este livro, portanto, é limitado no tempo e no espaço, tanto quanto no assunto. Suas análises cuidam da
história judaica na Europa central e ocidental desde o tempo pós-medieval dos judeus-da-corte até o Caso
Dreyfus, naquilo em que ele foi, de um lado, relevante para o nascimento do antissemitismo e, do outro,
influenciado por ele. Trata dos movimentos antissemitas que ainda se baseavam de modo bastante sólido
nas realidades factuais das relações entre judeus e gentios, isto é, no papel desempenhado pelos judeus no
desenvolvimento do Estado-nação e no seu papel dentro da sociedade não-judaica. O surgimento dos
primeiros partidos antissemitas nas décadas de 1870 e 1880 marca o instante em que foi superado o
elemento factual (e limitado) do conflito de interesses e ultrapassada a experiência convivencial, abrindo
se assim o caminho que levou à "solução final" genocida. Daí por diante, na era do imperialismo, já não é
possível isolar a questão judaica ou a ideologia antissemita de questões que, na verdade, quase nada têm a
ver com as realidades da moderna história judaica. Isso não ocorre apenas e basicamente porque essas
questões sejam tão importantes nos negócios mundiais, mas porque o próprio antissemitismo é agora
utilizado para fins que transcendem a problemática aparente, e os quais, embora sua implantação faça dos
judeus as principais vítimas, deixam para trás todas questões de interesse judaico e antijudaico.
Hannah Arendt Julho de 1967
continua página 13...
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Parte I Antissemitismo (Prefácio)
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[1] O exemplo mais recente dessa ideia é o livro de Norman Cohn, Warrantfor genocide. The myth of the Jewish world-conspiracy
and the "Protocols of the Elders ofZion", Nova York, 1966 [publicado no Brasil sob o título A conspiração mundial dos judeus:
mito ou realidade?, Ibrasa, São Paulo, 1969]. O autor nega implicitamente a existência da história judaica. Na sua opinião, os judeus
são "pessoas que (...) viviam disseminadas em toda a Europa, desde o canal da Mancha até o Volga, tendo muito pouco em comum,
exceto o fato de descenderem de seguidores da religião judaica" (p. 15). Os antissemitas, ao contrário, podem — segundo ele —
reivindicar uma ascendência ininterrupta, no espaço e no tempo, desde a Idade Média, quando "os judeus haviam sido considerados
agentes de Satã, adoradores do diabo, demônios com forma humana" (p. 41) e a única restrição que o erudito autor de Pursuit ofthe
Millenium achou adequado fazer a tais generalizações abrangentes foi a de que ele trata apenas "da espécie mais mortífera de antissemitismo, da qual resultam massacres e tentativas de genocídio" (p. 16). O livro tenta ainda provar, embora de modo bastante
forçado, que "as massas da população alemã nunca realmente se fanatizaram contra os judeus", e que o extermínio destes "foi
organizado e levado a cabo pelos profissionais do SD e da SS", entidades que "de modo algum representavam a amostra típica da
sociedade alemã" (pp. 212 ss). Como seria bom se esta afirmação se ajustasse aos fatos! O resultado é que se lê o livro como se ele
tivesse sido escrito quarenta anos atrás por um membro excessivamente engenhoso do Verein zur Bekãmpfung des Antisemitismus
(Liga para o Combate do Antissemitismo), de infeliz memória.
[2] Todas as citações são de Jacob Katz, Exclusiveness and tolerance, Jewish-Gentile relations in medieval and modem times, Nova York, 1962 (capítulo 12), estudo inteiramente original, de elevado nível, que realmente devia ter destruído "muitas noções caras ao povo judeu contemporâneo", como está escrito na capa, mas que não o fez porque foi quase completamente ignorado pela imprensa em geral. Katz pertence à jovem geração de historiadores judeus, muitos dos quais ensinam na Universidade de Jerusalém e suas obras em hebraico. Com eles, acabou realmente a versão "lacrimogênea" da história judaica, contra a qual Saio W. Baron protestou há quase quarenta anos.
[2] Todas as citações são de Jacob Katz, Exclusiveness and tolerance, Jewish-Gentile relations in medieval and modem times, Nova York, 1962 (capítulo 12), estudo inteiramente original, de elevado nível, que realmente devia ter destruído "muitas noções caras ao povo judeu contemporâneo", como está escrito na capa, mas que não o fez porque foi quase completamente ignorado pela imprensa em geral. Katz pertence à jovem geração de historiadores judeus, muitos dos quais ensinam na Universidade de Jerusalém e suas obras em hebraico. Com eles, acabou realmente a versão "lacrimogênea" da história judaica, contra a qual Saio W. Baron protestou há quase quarenta anos.
[3] É interessante notar que o primeiro historiador judeu moderno, Isaak Markus Jost, que escreveu na Alemanha no
século XIX, rejeitava mais acentuadamente os preconceitos comuns da historiografia secular judaica que seus
sucessores.
[4] Katz, op. cit., p. 196.
[5] Ibid, p. 6.
[6] Ibid.,p.7.
[7] A única exceção é o historiador nazista e antissemita Walter Frank, chefe do Reichs-institut für Geschichte des Neuen
Deutschlands [Instituto Estatal para a História da Nova Alemanha] e editor de nove volumes de Forschungen zur Judenfrage
[Pesquisas sobre a questão judaica] publicados entre 1937 e 1944. As contribuições de Frank ainda podem ser consultadas com
proveito.
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