O Idiota
Fiódor Dostoiévski
Tradução portuguesa por José Geraldo Vieira
Quarta Parte
4. A hora marcada tinha sido “ao meio-dia”, mas o príncipe se atrasou sem querer
e, ao regressar a casa, já encontrou o general. Notou, ao primeiro relance, que o
velho estava ofendido, evidentemente, pelo fato de ter estado a esperar.
Desculpando-se, o príncipe se apressou em sentar-se, mas se sentiu de tal
maneira tímido que foi como se o seu interlocutor fosse de porcelana e temesse
quebrá-lo. Antes, nunca se sentira intimidado na presença do general, nem a ideia
de que isso pudesse acontecer lhe passara jamais pela cabeça. Além disso, era
fácil verificar que se achava diante de um homem completamente diverso do da
véspera. Em vez de uma agitada incoerência, deparou com uma indisfarçável e
marcada reserva.
Via que ali estava um homem que havia tomado uma
resolução irrevogável. (Essa atitude era mais aparente, do que real.) Mas,
mesmo através dessa reservada dignidade, o visitante manteve uma tranquilidade
cavalheiresca, nas maneiras. Passou, mesmo, a tratar o príncipe com ar de
condescendência, como certas pessoas orgulhosas que se comportam de maneira
fidalga, desculpando um insulto gratuito. Falou afavelmente; só a entonação
estava ligeiramente modificada.
- Aí está o livro que me emprestou, no outro dia- disse, mostrando, significativamente, um volume que trouxera, e que jazia
sobre a mesa. - Muito obrigado.
- Ah! Sim. Leu aquele artigo, general? Gostou? Não achou interessante? - o príncipe comprazia-se com a oportunidade de iniciar conversa através de um
assunto qualquer, mesmo que fosse, como aquele o era, inadequado.
- Interessante, talvez, mas indigesto; e portanto, absurdo. Para cada sentença uma
mentira provável.
O general falava com aprumo, e até contornava as palavras, um pouco.
- Ah!
Trata-se de uma história despretensiosa; recordações de um veterano que foi
testemunha ocular da chegada dos franceses a Moscou. Mas há alguns trechos
bem interessantes. E não há dúvida de que uma informação dada por uma
testemunha é sempre preciosa, seja ela qual for.
- Pois fosse eu o editor, não a
imprimia. E, de um modo geral, no que concerne a qualquer descrição dessas
chamadas testemunhas oculares, há sempre gente mais inclinada a acreditar em
mentirosos grosseiros do que em
um homem de valor que tenha estado a servir. Quanto a mim, posso gabar-me
de saber mais do que as descrições contam a respeito do ano de 1812... Príncipe,
cheguei à seguinte resolução: vou abandonar definitivamente a casa de
Liébediev. - o general olhou Míchkin de modo significativo.
- O senhor tem os
seus cômodos próprios, em casa de sua filha aqui em Pávlovsk... - disse o
príncipe, porque não achou outra coisa a dizer. (Lembrou- se de que o general
ficara de vir pedir-lhe conselho sobre assunto importante, do qual dependeria o
seu destino.)
- Em casa de minha mulher! Ou, em outras palavras, na casa de minha filha.
- Desculpe-me, eu...
- E abandono a casa de Liébediev, meu caro príncipe, porque rompi com esse
indivíduo. Rompi ontem, à noite, e lastimo não o haver feito muito antes. Insisto a
tal respeito, príncipe, e desejo ser compreendido por aqueles a quem galardoo o
meu coração. Príncipe, acabo sempre galardoando o meu coração e sempre
tenho de me arrepender, decepcionadíssimo. Esse homem não é merecedor do
que lhe doei.
- Há muita coisa nele que é extravagante - observou o príncipe, discretamente
em linhas gerais; mas entre elas se pode perceber um coração que não é mau e,
através de muitas simulações, uma inteligência que diverte.
A beleza das
expressões e a respeitabilidade do tom desvaneceram o general que, apesar
disso, continuou a olhar para o príncipe com certa desconfiança. Mas os modos
do príncipe eram tão sinceros que o general acabou por não suspeitar mais dele.
- Lá que ele tenha boas qualidades - concordou o general - fui o primeiro a
declarar, quando galardoei a minha amizade a esse cavalheiro. Todavia não
preciso da casa dele e nem da sua hospitalidade, tendo, como tenho, uma família
própria. E repare que não estou aqui tentando justificar as minhas falhas. Fui
fraco; bebi com ele, e agora só posso lamentar-me disso. (Releve, príncipe, a
rudeza de um homem que foi destratado.) - Mas não foi somente por causa da
bebida que me tornei amigo dele. O que me permitiu isso foi, justamente, ter-lhe
verificado qualidades. Mas apenas até certo ponto, mesmo no que se refere às
qualidades. Mas já que ele, subitamente, teve a impudência de declarar na cara
de quem quer que fosse - e todavia foi na minha! - que, em 1812, quando devia
ser simplesmente uma criança, perdeu a perna esquerda e que a enterrou no
cemitério de
Vagánskovskíi em Moscou, então ultrapassa os limites e se mostra
desrespeitoso e impertinente...
- Deve ter dito por brincadeira, para despertar risada!
- Compreendo. Uma
brincadeira inocente, mesmo que seja grosseira, pode, de fato, ser dita apenas
para despertar gargalhada, e não fere, concordo, um coração humano. Um
homem pode mentir, ninguém lhe proíbe, simplesmente por camaradagem
íntima, para agradar a um outro homem com que esteja falando. Mas se houver
indícios que sejam, indícios de desrespeito, se ele pretende, justamente, com tal
desrespeito, mostrar que está farto dessa camaradagem, nada mais resta a esse
outro homem, se tiver honra, senão ir embora e romper todas as ligações,
repondo o ofensor em seu conveniente lugar.
O general positivamente enrubescia, enquanto estava falando nisso.
- Ora,
Liébediev não podia ter estado em Moscou, em 1812! Não tem idade para isso;
trata-se de um despautério.
- Primeiramente, isso. Mas, supondo que pudesse, então, já ter nascido, como
pode ele declarar na cara de quem quer que seja que o chasseur francês fez
pontaria com um canhão e atirou na perna dele, apenas por gracejo? E como
ousa declarar que apanhou a perna e a carregou para casa, e que, depois, a foi
enterrar no cemitério de Vagánskovskii? E acrescentar que mandou erigir, por
cima, um monumento, tendo em um lado a inscrição: “Aqui jaz a perna do
assessor colegial Liébediev” e no outro lado: “Descansai. cinzas amadas, até ao
dilúculo da ressurreição”? E sustentar que assiste, cada ano, a um serviço oral,
sacro (o que não está longe de ser blasfêmia), e que cada ano timbra em ir a
Moscou, para assistir essa cerimônia? E que desaforo é esse de, para provar isso,
me convidar a ir até Moscou, para me mostrar, não só a tumba, como até
mesmo o tal canhão tomado aos franceses e que jaz, presentemente, no
Kremlin? E ter a imaginação acesa a tal ponto que me declara, a mim, senhor,
que se trata do décimo sétimo canhão depois dos portões. e que por sinal que é
um falconete francês de marca antiquada?!
- Além do que ele tem as pernas
intatas, segundo creio eu - riu o príncipe. - Asseguro-lhe que foi um inofensivo
gracejo. Não fique zangado.
- Mas permita, ao menos, que eu tenha a minha
opinião! Quanto a ter ele as duas pernas, lá isso não é absolutamente improvável;
declarou-me que arranjou uma perna com Tchernosvítov.
- Ah! Sim. Dizem que até se pode dançar, com as pernas desse fabricante.
- Estou perfeitamente ciente disso. Quando Tchernosvítov inventou a sua
perna; lá dele, a primeira coisa que fez foi vir, correndo, mostrar-me. Mas tais
pernas foram inventadas muitíssimo mais tarde, são quase que recentes, de hoje!
Mas, ouça mais esta, príncipe: ele afirma que a sua defunta mulher não chegou a
saber nunca que ele, seu marido (e quanto tempo não estiveram eles casados!),
tinha uma perna de pau. Quando me permiti fazer-lhe sentir quanto tudo isso era
estapafúrdio, disse-me (e eu sei por que foi que ele disse): “Pois mesmo o senhor
que foi pajem ou camareiro de Napoleão, em 1812, me teria permitido enterrar
a minha perna em Vagánskovskii.”
- Mas o senhor, realmente...? - e o príncipe
logo se interrompeu, embaraçado.
O general também mostrou laivos de perturbação, mas instantaneamente fitou
Míchkin com distinta condescendência, e -até mesmo com ironia.
- Continue,
príncipe, continue! - interferiu, com proposital suavidade - Posso fazer
concessões. Fale!
Confesse que se diverte ante o pensamento de estar vendo diante de si um
homem em seu presente estado de degradação... e imprestabilidade, e ouvir que
esse homem já foi, todavia, testemunha ocular de grandes acontecimentos. Ele
já não lhe tagarelou isso também?
- Não, nunca ouvi nada de Liébediev, se é que o senhor se está referindo a ele.
- Hum! Supus o contrário. A conversa particular teve lugar ontem, entre nós, a
propósito desse estranho artigo dos Arquivos. Fiz um reparo relativamente a
absurdos contidos ali, já que eu fora uma testemunha ocular... Mas o senhor está
sorrindo, príncipe, na minha cara? Já várias vezes, ao espelho, reparei que
pareço ainda mocetão! - o general destacava bem as sílabas. - Mas sou,
efetivamente, mais velho do que aparento. Em 1812 eu estava no meu décimo,
ou undécimo ano. Não posso dizer, exatamente, a minha idade. Na lista de
serviço, ela está bem diminuída; foi sempre o meu fraco, toda a minha vida, dar
me por mais moço do que sou.
- Asseguro-lhe, general, que não acho estranho
que o senhor tenha estado em Moscou, em 1812... e naturalmente que o senhor
poderia narrar acontecimentos como qualquer outro que lá também tenha estado.
Um dos nossos escritores começa a sua autobiografia dizendo que, quando era
criança de colo, em 1812, foi alimentado com papinhas de pão fornecidas pelos
soldados franceses.
- Ora aí está. Vê o senhor? - aprovou condescendentemente o general. - O
que me aconteceu a mim foi, e era lógico, fora do comum, mas que pode haver
nisso, de incrível? Muitas verdades, amiudadamente, parecem impossíveis.
Pajem... Camareiro!... Hum... Realmente, soa estranho. Mas as aventuras de
uma criança poderão, talvez, ser explicadas justamente pela sua idade. O que se
deu comigo, não se daria se eu já tivesse quinze anos, pois, com esta idade eu não
correria, como corri, no dia da entrada de Napoleão, em Moscou, para fora da
casa de madeira, da Rua Stáraia Basmánnaia, onde eu vivia com minha mãe
que, não podendo ter deixado a cidade a tempo, estava petrificada pelo pânico.
Aos quinze anos, também eu teria tido medo; mas, aos dez, não temia nada, e
abri passagem através da turbamulta, até aos degraus do palácio, justamente na
hora em que Napoleão estava desapeando do seu cavalo.
- Certamente. A
observação, de que aos dez anos não se tem medo. é verdadeira - concordou o
príncipe, envergonhado, esforçando-se para não corar.
- Mais do que certo. E tudo aconteceu de um modo tão simples natural quanto era
mais do que possível na realidade. Meta-se um novelista a trabalhar neste artigo e
vê-lo-emos a bracejar em um mar de incríveis e improváveis redundâncias.
- Nem há dúvida - fez o príncipe. - Veio-me a mesma ideia, ainda há pouco.
Conheço o caso verdadeiro de um assassínio, por causa de um relógio. Os jornais
estão dando. Se qualquer autor o inventasse, os críticos e aqueles que sabem a
vida do povo gritariam imediatamente que era falso e inverossímil; lendo-o nos
jornais. Como coisa que acontece mesmo, a gente só tem de, através desses
fatos, ir estudando a vida russa, em sua múltipla realidade. A sua observação foi
excelente, general - concluiu o príncipe, afogueado. Sentindo alívio por ter
descoberto um refúgio para o seu rubor.
- Pois não é? Pois não é? - gritou o
general, com os olhos fulgurando de prazer. - Um garoto, uma criança, que ignora o que seja medo, cava uma passagem na
multidão, para ver a parada, os uniformes, o séquito e o grande homem de quem
ouvia falar tanto. Pois, naquele tempo, não se falou em outra coisa, durante anos
e anos. O mundo regurgitava com esse nome. Posso dizer que o bebi com o meu
leite. Napoleão estava a dois passos, quando notou o meu olhar. Eu parecia um
nobrezinho. Vestiam-me sempre com muito capricho. Não havia ninguém com o
apuro com que eu estava em toda a multidão, pode crer.
- Não há dúvida que isso o deve ter impressionado, além de que
patenteava que nem todo o mundo tinha deixado Moscou e que até nobres havia
ainda, por lá, com seus filhos.
- Nem mais, nem menos! Justamente! Ele quis ganhar a simpatia dos boyards!
Pois bem, quando lançou o seu olhar de águia para mim, os meus olhinhos
devem ter fulgurado, em resposta aos dele. “Voilà un garçon bien éveillé! Qui est
ton père?” Respondi-lhe, prontamente,
quase sem ar, de tamanha excitação: “Um general que morreu no campo de
batalha, por sua pátria!” “Le fils d’un boyard et d’un brave par dessus le marché!
J’aime les boyards. M’aimes tu, petit?” A esta rápida pergunta, respondi ainda
mais apressadamente: “Um coração russo pode discernir um grande homem,
mesmo no inimigo da sua pátria”. Isto é, não me lembro bem se usei,
literalmente, estas palavras... Eu era uma criança... Mas deve ter sido este o fluxo
de minhas palavras.
Napoleão ficou estarrecido. Pensou um pouco e disse ao seu séquito: “Gosto da
altivez desta criança. Se todos os russos pensassem o mesmo, então...,, Não disse
mais nada. Encaminhou-se para o palácio. Imediatamente, misturei-me ao
cortejo, sempre no seu encalço. Abriram-se alas e era como se já me
considerassem um favorito. Mas tudo isso se deu em um momento... Só me
recordo que o imperador chegou ao primeiro salão e parou diante do quadro que
representava a Imperatriz Catarina; ficou a olhar, muito tempo, profundamente;
e por fim proferiu: “Foi uma grande mulher!” Dito o quê, prosseguiu. Dentro de
dois dias eu era conhecido de todo o mundo no palácio e no Kremlin;
chamavam-me: “Le petit boyard”. Eu só voltava para casa, para dormir.
É claro que em casa estavam todos nervosíssimos com isso. Dois dias depois, um
dos pajens de Napoleão, o Barão de Basencour, morria, exausto pela campanha.
Napoleão lembrou-se logo de mim. Vieram buscar-me; levaram-me sem
nenhuma explicação.
Experimentaram em mim o uniforme do pajem falecido - um garoto de doze
anos. E quando me conduziram, envergando o uniforme, diante do Imperador, e
ele fez, com a cabeça, que estava muito bem, então foi que me participaram
(mas eu já havia adivinhado) que eu fora considerado merecedor da graça, e
designado pajem à disposição de Sua Majestade. Fiquei contente. Eu me sentia
extraordinariamente atraído para ele.., e, além disso, como é fácil de
compreender, um uniforme brilhante é muita coisa, para uma criança. Eu usava
uma espécie de casaca verde-musgo, de longas abas estreitas, com botões
dourados, alamares amarelos, trabalhados a ouro, nas folhas, e tinha um
colarinho grande, ereto, trabalhado também em ouro e com bordados até as
pontas.
Uns calções de espesso pelo de camurça, um colete de seda branca, meias de
seda até aos joelhos, e sapatos com fivelas... E quando o Imperador saía a cavalo
eu fazia parte do cortejo, com minhas botas de cano alto. Conquanto a situação
não fosse nada promissora, e houvesse uma sensação de terrível catástrofe no ar,
a etiqueta era conservada o mais possível; e, com efeito, quanto maior a previsão
da catástrofe, maior e mais rigorosa a pragmática da corte.
- Sim, naturalmente - murmurou o príncipe, com ar quase desesperado. - As suas
memórias devem.., ser extremamente interessantes.
O general, logicamente,
estava a repetir a história que tinha contado a Liébediev, na véspera, e por isso é
que se achava assim tão fluente. Mas, a esta altura, deitou uma olhadela para
Míchkin, desconfiado, de novo.
- As minhas memórias! - ia ele conduzindo com
redobrada dignidade. - Escrever as minhas memórias?! Ora aí está uma coisa
que não me tenta muito, príncipe! Mas já que estamos neste pé, as minhas
memórias já estão escritas.., e permanecem, todavia, fechadas na minha
escrivaninha. Quando os meus olhos estiverem fechados para sempre na tumba,
elas poderão ser publicadas! E não tenho dúvidas de que serão traduzidas em
vários idiomas estrangeiros, não tanto por seu valor literário, mas,
principalmente, pela importância dos tremendos acontecimentos mundiais de que
fui testemunha eventual, embora como mera criança. Mais por isto, com efeito.
Por ser criança, eu tinha ingresso, por assim dizer, até no quarto de dormir do
“Grande Homem”. A noite eu ouvia as lamentações deste “Titã em agonia”. Por
que haveria ele de ter pejo de se lamentar e mesmo chorar, diante de uma
criança que, no entanto, já tinha entendido que a causa da sua angústia era o
silêncio do Imperador Alexandre?
- Parece até que ele escreveu cartas, como preliminares de paz... - insinuou o
príncipe.
- Não estamos aptos a informar sobre quais preliminares teria ele escrito; mas
escrevia o dia todo, horas inteiras, carta após carta. Estava tremendamente
agitado! Certa noite, estando nós sozinhos, precipitei-me para ele, a chorar. (Oh!
Eu o amava!) “Pede, pede perdão ao Imperador Alexandre!” - exclamei eu.
Naturalmente que, em vez dessa expressão, eu devera ter dito “Faze as pazes
com o Imperador Alexandre!” Mas, como criança ingênua, naturalmente eu me
expressava conforme sentia. “Oh! Meu filho!” - exclamou ele, dando passadas
largas, para cima e para baixo, no imenso salão. - “Oh! Meu filho!” Deixara de
ver em mim um garoto de apenas dez anos e gostava de conversar comigo. “Oh!
Meu filho! Estou pronto a beijar os pés do Imperador Alexandre! Mas... esse Rei
da Prússia, e esse Imperador da Áustria! Ah! Para estes, o meu ódio é perpétuo...
e afinal, naturalmente que não podes, ainda, saber nada de política!” Parece que,
nisto, se deu conta de com quem estava a se externar, e parou. Mas, muito tempo
depois, ainda havia raios de fogo em seus olhos. Ora, dirão, já que fui testemunha
ocular de tão grandes acontecimentos, e que tão bem os descrevo, dirão que
publique as minhas memórias... E então, todos os críticos, todas as vaidades
literárias, toda a inveja, toda a camarilha... Não! Não cai nisso este seu humilde
servidor!...
- Lá quanto à camarilha, não resta dúvida de que a sua observação é verdadeira,
e eu concordo com o senhor - observou o príncipe, serenamente, depois de
momentâneo silêncio. - Li, não há muito tempo, um livro de Charras, sobre a batalha de Waterloo.
Trata-se, evidentemente, de um livro sério, e dizem os entendidos que foi escrito
com conhecimento integral do fato. Realmente, nele, a cada passo, se verifica o
achincalhamento de Napoleão; e se lhe tivesse sido possível anular o gênio de
Napoleão, em cada uma das outras batalhas e campanhas, Charras teria ficado
muito contente e o faria. Aliás não dou razão a esta obra, conquanto séria, pois há
nela espírito de partido. O senhor tinha muito o que fazer, na qualidade de pajem
de Napoleão?
continua página 450...
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