domingo, 10 de julho de 2011

I - Contos Africanos

um leque de penas vermelhas na cauda
O papagaio que não gostava de mentiras

Adilson Martins

O papagaio africano conhecido como Odidé, é todo cinzento e possui um leque de penas vermelhas na cauda.

Uma mulher muito mentirosa que tinha um papagaio desses ensinou-o a falar, criando assim um grande problema.

O pássaro falante não gostava de mentiras e, logo que ouvia uma, desmascarava o mentiroso, contando a verdade.

O papagaio se tornou tão inconveniente para ela que, depois de algum tempo, a mulher resolveu dá-lo a outra pessoa.

Um dia, a mentirosa chamou um homem que passava diante de sua casa e lhe ofereceu o animal de presente. Desconfiado, o homem perguntou por que razão desejava se livrar de um bichinho tão inteligente.

A mulher respondeu que queria se livrar dele porque comia demais e ela, sendo muito pobre, não podia mais sustentá-lo.

Ouvindo aquilo, Odidé gritou:
—        É mentira!
 
O homem, sem perceber o que se passava, agradeceu o presente e levou a ave para sua casa.

Ao ver o papagaio no ombro do marido, sua mulher quis saber onde o conseguira. O homem disse que, quando passava pela floresta, Odidé pousara em seu ombro e o acompanhara até em casa.

—        É mentira! — gritou a ave.

Em pouco tempo, depois de passar por muitas decepções, o homem descobriu como era perigoso ter em casa um animal tão sincero e resolveu torcer o pescoço do falador.

Mas antes que pudesse ser morto, Odidé, esperto, voou para cima do telhado.

Acontece que aquele homem era um ladrão e em sua casa havia um buraco onde escondia os objetos de valor que roubava pelas estradas.

Quando seus roubos foram descobertos, os guardas do rei foram fazer uma revista em sua casa.

Depois de revirarem tudo sem nada encontrar, foram obrigados a considerar o homem inocente. Mas, ao dizerem isso, o papagaio, de cima da casa, gritou:
—        É mentira!

Sem que soubessem quem falava, os guardas resolveram interrogar o homem e, a cada declaração de inocência feita por ele, Odidé gritava:
—        É mentira!

Foi então que os guardas resolveram examinar melhor a casa e, assim, descobriram o buraco onde ele guardava tudo o que roubava.

Comprovado o roubo, o ladrão foi preso e o papagaio Odidé levado para o palácio real, onde recebeu a função de assistir a todos os interrogatórios feitos por Sua Majestade.

Sempre que alguém mentia diante do rei, o papagaio gritava:
—        É mentira!

Os magos do reino, que não gostavam de mentiras, passaram então a ter um odidé em suas casas. E até hoje os adivinhos de Ifá (o oráculo dos iorubas) têm esse costume.

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O papagaio cinzento africano, o odidé, é um animal sagrado entre os povos da África Central e Ocidental. O papagaio cinzento aprende a falar, gosta muito de brincar e pode ser criado como animal de estimação. As penas vermelhas da cauda do odidé são símbolos de realeza. Quando reis e rainhas são coroados, ou os sacerdotes são ordenados, pelo menos uma pena de odidé deve ser colocada na cabeça da pessoa. Antigamente, no Império Iorubá, o conselho dos representantes do povo podia julgar a conduta do rei. Se o conselho decidisse que ele estava governando mal, mandava-lhe um ovo de odidé. Era uma mensagem que dizia que o rei devia abdicar do trono.

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Martins, Adilson, 1940 –
            O papagaio que não gostava de mentiras e outras fábulas africanas / Adilson Martins; [Luciana Justiniani Hees, ilustradora]. — 1ª ed. — rio de janeiro: Pallas, 2008.
            40p. :il.


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