quinta-feira, 21 de julho de 2011

A filho dado, não se olhe os dentes


Negrinho do pastoreio

baitasar

Quando Supimpa acordou, as claridades do dia ameaçavam os últimos vestígios da noite.

Adormeceu ao lado do pai, protegendo sua morte.

As lembranças enchiam a cabeça do polícia com pesadelos. Voltou à realidade que resiste longe dos sonhos.

Encontrou o pai desaparecido, morto e escondido na terra como mendigo.

Precisava de um plano para desvelar o desaparecimento da mãe Memória e da irmã Cariciosa, Pensa moleque... pensa, precisa agir rápido.

O ultimato da chantagem.

Apostou tudo que revelar a morte do pai traria sua mãe à vida.

Foi o melhor plano que conseguiu pensar em tão urgente tempo. As chances eram quase nenhuma.

Acendeu vela ao Negrinho do Pastoreio.

Tinha dúvidas, mas se colocou de joelhos para rezar. Sabia que o assunto precisava conserto de especialista.

Mandou para o delegado Calçacurta cópias do dossiê sobre o desaparecimento de Virgílio Silva e Ana Silva.

Esperou por sua busca e apreensão.

Sem demoras ou delongas retornou ao Porão. Reconhecia as técnicas.

Não pediu.

Não suplicou.

Encarou todos, decido. Ainda, era um deles. Canalhas.

O delegado Calçacurta entrou na sala, O que você está pretendendo, meu filho, Meu filho, ô caralho, tu não é a metade do homem que foi o meu pai, nem a metade do Ogum, E daí, Quero a minha gente de volta, Isso não está em minhas mãos, Nada foge ao braço-de-ferro da besta assassina, Você não acredita que... O delegado viu o dossiê.

Supimpa não tirava os olhos do vulto atrás da luz. O homem que foi seu mestre, agora, era o seu executor, O que você quer com essa merda toda, Mando para os jornais, Manda, seu filho-da-puta, ninguém se importa com um bando de macacos... nem sabem que desapareceram.

Virou às costas.

Não restava nada ao metido à besta.

Um último olhar do carcereiro, enquanto assobiava a desforra, Essa coisa de cornos na testa não me cai bem.

Os dois sabiam que a cama da Clara iria esfriar da presença do jovem aprendiz de polícia.

O delegado até sentia vontade nas próprias carnes de estar em casa. Por certo, sua Clara estaria mais atenta ao seu general, recém promovido, Chuparracha, Sim senhor, general, Chama essa gente com a papelada de adoção, Alguma criança em vista, senhor, Uma menina, Pra quem será a doação, Minha esposa, perdeu seus cachorrinhos, Coitada, Não há de ser nada... a meninada que sobrar a gente distribui.

A filho dado, não se olhe os dentes.

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