quinta-feira, 28 de julho de 2011

Queria poder morrer de prazer


Sonâmbula
baitasar
Permaneço com preguiça, entediando; diriam alguns.
Penso em descansar, seguir pendurando meus enleios em Moriá. Já a encontro sonhando acordada. Mistura suas ilusões com outras vidas. Sai caminhando e conversa. Vai, minha amada. Não age pela incidência do hábito. Pisa seu passo além do rumo determinado, metódico, sem medo do escuro
(Uma pacata mulher passeando pelos sonhos.)
Uns dizem que a sua maneira de sonhar é atrapalhada e a chamam de sonâmbula, parece estar muito ligada em mim. Mentem, tu és, minha amada, sonhadora lúcida procurando uma vida simples e digna. Irrepreensíveis nos juízos do bem e do mal.
Vais por aí, deixando vestígios no caminho. Tuas entranhas, algum tique nervoso. Como o piscar recorrente de um olho mais excitado ou o leve treme-treme do lábio superior. Tudo por nervosismo, quase tudo por amor. Espera o sono que precisa chegar antes do sonho. Em plena madrugada olha para o teto, está sonhando é o que penso, cansou de esperar pela letargia da sonolência
(Sou uma formiga sem asas. Uma rainha.)
Resolvo que canto canções de ninar, lentamente. Pareço descansar balançando no berço, flutuando sobre flocos de nuvens brancas. Escutando vozes, as minhas vozes dentro de ti
(Mamãe quer o colo.) (Papai quer a teta.)
Ressoam através de mim nas quimeras à-toa. Não tenho corpo masculino ou feminino. Não tenho a cor das etnias, nem a religião do sobrenatural, mas tenho medo. Desconheço o sentido das reuniões políticas, literárias ou recreativas, peço atenção à-toa
(Psiu... silêncio.)
As esquinas se voltam caladas; as pessoas continuam se esquivando por elas.
Gosto de ficar imaginando coisas que poderíamos fazer juntando, lembrando dos mistérios em outros tempos.
Brincamos com nosso cheiro, com a nossa memória. Ouço vozes aproximando o meu febril delírio, estremecendo meu corpo. Provo o calor dos meus restos imortais. Sinto o perfume, o gosto, está tentativa obscena deixa meus pés contraídos, como uma câimbra esperada, amando em mim a percorro em sonhos.
Meu coração dispara tremores, anseio por força, vigor, estar junto, absolutamente confinante. Gosto do cheiro mágico e o gosto de adormecer nos braços da minha amada. Quero respostas às perguntas que faço ao espaço das estrelas. Ouço as estrelas. A razão de estar aqui é querer estar junto.
Precisamos sair da cortina suspensa no andar do segredo. Insisto para dar contornos ao amor. Peço que se arrisque. Sugiro juntar numa só fôrma, afiançar por absoluta harmonia das carnes as estrelas da via láctea.
Reviver o tempo é como se tudo outra vez voltasse a passar, um beijo um toque um abraço, uma palavra um olhar um gesto. Quero estar de volta, dando voltas, adormecendo na mesma cama, tendo tardes belas, grandes dias, noites, anos, minha amada eterna.
Não sei como constituir ou transformar a experiência que tenho de mim. Perdi-me em algum canto sinistro. É sempre divino, muito simples e gostoso, como pão quente com manteiga. Deixo-me invadir sem defesa, desarmamento, marcada por mordidas de afeto, invadida, sem defesa, inerme. Maravilha viver a emoção do prazer carregada pela mulher adorada.
Quase adormecidas, quase acordadas, lembrando pela enésima vez o que escrevemos com as mãos, tentando imaginá-las com som, cor e forma, algo difícil e complicado. Minha agonia olhava para você, assim, maravilhosa e as fantasias brincavam com meu corpo e contentamento.
Aqueço-me com teu hálito, sou teu corpo, não resisto mais. Ah, mulher de um sonho cresce ao sol, sem pressa, demora e mostra-te aos meus olhos encantados, ah, mulher de meus sonhos leva-me em teus banhos de amor encantado e revela meu corpo aos teus olhos. Ah, mulher com sonhos continues a sonhar os sons delicados do amor, aparece ao luar e, preguiçosamente, mostra-te encantada.
Não diz que sim, nem afirma que não. Sem pressa ou lamúrias, apenas sorri e celebra. Abre a boca e finge que grita, meus ouvidos zunem, minhas terras tremem. Sou molhada por tuas lágrimas. Não cedo a vontade de dizer para correr e se afiançar nesse abraço, nessa vontade, nesse sonho em movimento. Também me acovardo. Fico de lado.
Sou arrebatada pelo sorriso que inventas a cada olhar que vejo. Estou apaixonada. É maravilhoso. Entre nós, tuas razões são próprias. Temperamento difícil, o meu. Decisões incompreendidas. Não consigo entendê-las, nem ao celibato. Exigências do ofício. Celibatária, estéril e despojada. Perdoa meus pecados insanos.
Confesso que não queria você apaixonada por mim porque não quero estar apaixonada por ti. Sofro muito. Pensa que sabes o que sinto, mas não sabe da minha solidão muda, da minha ineficácia amordaçada e morta, minha incompletude. Sou mal vivida. Covardia tem preço
(Ama tanto e não basta.)
Confesso, tenho a ambição louca de não sair mais de perto, o desejo, as taquicardias, a adrenalina, dopamina, conservo presa em mim como vício, essa doce gula, adoro provar. Pronto, incurável. Tu és quem quer
(E você quem é?)
Confesso, sou quem pensa em deixar, mas tu chegas e vejo estrelas em mim. Tudo o que quero é amar tuas mãos que me buscam, têm a força que encontro em teus olhos e tremo de vontade, sinto o calor da cobiça que me provoca tremores e não resisto.
Confesso um amor inquieto, o medo que sinto dos homens que já a tiveram e do teu amor já experimentaram. Sinto a rivalidade naqueles que a amaram sem saber que amavam ou naqueles que a amavam sem forças de dizer do amor, apenas sonhavam, e andam por aí, soltos, a tua espera, a minha espreita. Experimento ciúmes dos que ainda te amam e se afastam e se aproximam, sou apanhada de raiva por aqueles que a usaram sem te amar.
Confesso meus ciúmes. Queria que você ao menos soubesse dos meus cuidados e zelo. Em cada sonho posso buscar pedacinhos, cacos que me carregam até você.
Confesso, minha amada, o sonho em meus sonhos são contraditórios com a vida que vivemos. Minhas culpas são tantas que não conseguem me aconselhar ou encorajar, estão observando, apontando para além de mim
(Um poema doce que vive os conflitos de uma crise pessoal de fé e amor.)
Falamos de coragem uma à outra, mas não há razão para que no teu e no meu coração não brilhe o sol. Consigo ler teus sonhos como um texto pedagógico, ouço neles tuas palavras ao meu ouvido, leio tua boca no meu sexo, adivinho minhas mãos pelo teu corpo, nele te leio em mim e eu em ti. Passei a vida inteira querendo ser decifrada sem precisar esperar pela madrugada. Sonho este amor doido, entendo a contradição, talvez sinta ciúmes de quantos possam invadir teus sonhos, quem sabe, aí esteja minha dificuldade
(Apenas, quero ir ao cinema.)
Minha amada põe as vistas em mim e o chão me pisa, vejo refletida em teus olhos outra mulher, a menina da infância tão longa na distância. Experimento o encanto. Sinto o perfume do chicle e suor e terra, a cada tentativa obscena deixo meus pés contraídos, como uma câimbra esperada. O coração dispara e meus tremores anseiam por sua beleza e seu desejo.
O medo do feminino é imprevisível, vivemos encantadas. Prontas uma para a outra.
Falando entre soluços. Orando entre sorrisos, mãos unidas ao peito, joelhos dobrados, olhos para o alto, Moriá recita pequenas luzes da memória
(Queria poder morrer de prazer.)
Fico móvel enquanto vem com a boca beijando minha boca, a língua buscando a minha e eu me deixo beijar. Os lábios roçando meu sexo e me deixo roçar.
Preciso do amor que tu tens e abono-me do que tenho.
Permaneço preguiçosa, entediada... diriam alguns.

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