sábado, 20 de setembro de 2025

Thomas Mann - A Montanha Mágica: Como um soldado, como um valente (d)

Thomas Mann

A Montanha Mágica
 
Capítulo VI
Como um soldado, como um valente

continuando...

     Settembrini abandonara a papeleira de humanista, junto à janelinha, e aproximara-se da mesa redonda com a garrafa de água. Acercou-se então de seu discípulo, que estava sentado no divã, sem se recostar, apoiando o cotovelo no joelho e o queixo na mão. 

Caro – disse.o Sr. Settembrini. – Caro amico! Será necessário tomar decisões, decisões de importância inestimável para a felicidade e o futuro da Europa, e elas caberão ao seu país. Situado entre o Oeste e o Leste, terá de escolher, terá de declarar-se definitiva e conscientemente por uma ou outra das duas esferas que lhe disputam a natureza. O senhor é jovem. O senhor participará dessa decisão. Sua vocação é contribuir para ela. Bendigamos, pois, o destino, embora o tenha arrastado até estas paragens medonhas. Mas ao mesmo tempo me proporcionou uma oportunidade para exercer influência sobre a sua juventude maleável, por meio das minhas palavras, que não são inteiramente desprovidas de experiência e de vigor, uma oportunidade para fazê-lo sentir a responsabilidade que pesa sobre essa juventude, sobre a sua pátria, perante a civilização...

     Hans Castorp continuava sentado, com o queixo apoiado na mão cerrada. Olhava para fora, através da janelinha do sótão, e nos singelos olhos azuis podia-se perceber uma certa recalcitrância. Permaneceu calado. 

– O senhor não responde? – perguntou o Sr. Settembrini, comovido. – O senhor e o seu país guardam um silêncio cheio de reserva, um silêncio cuja falta de transparência não permite avaliar-lhe a profundidade. Não gostam da palavra, ou não sabem servir-se dela, ou ainda a tratam, de modo pouco amistoso, como coisa sagrada; em todo caso, o mundo articulado ignora e não está sendo informado a quantas anda. Isso é perigoso, meu amigo. A língua é a própria civilização... Toda palavra, até a mais antagônica, estabelece contato... Mas o mutismo isola. Os outros chegam a suspeitar que vocês procurarão romper esse isolamento por meio de atos. Vocês farão avançar o primo Giacomo (Settembrini, para maior comodidade, tinha o costume de chamar Joachim de “Giacomo”)... farão o primo Giacomo marchar à frente do seu silêncio, “e com golpes poderosos, mata dois; os outros fogem”...

     Como Hans Castorp se pusesse a rir, também o Sr. Settembrini esboçou um sorriso, satisfeito, pelo menos momentaneamente, com o efeito das suas palavras plásticas. 

– Muito bem, riamo-nos! – disse. – O senhor sempre me encontrará disposto para a alegria. “O riso é o reflexo resplandecente da alma”, diz um escritor antigo. Além disso, perdemos o fio da conversa e nos desviamos para assuntos que, não o nego, estão em conexão com as dificuldades que se opõem aos nossos trabalhos preparatórios em prol da fundação da liga universal maçônica, dificuldades que têm sua origem sobretudo na Europa protestante... – E o Sr. Settembrini prosseguiu falando com ardor acerca da ideia dessa liga, que nascera na Hungria, e cuja esperada realização estava destinada a outorgar à maçonaria um poder decisivo nas questões mundiais. A essa altura apontou para cartas relativas ao assunto, que recebera de próceres estrangeiros da associação; mostrou um bilhete do próprio punho do Grão-Mestre da Suíça, o irmão Quartier la Tente, do grau 33, e comentou o projeto de fazer do esperanto o idioma oficial da organização. Elevado por seu zelo até a esfera da alta política, dirigiu os olhos para todas as direções imagináveis e avaliou as probabilidades de triunfo que a ideia republicano revolucionária tinha no seu próprio país, bem como na Espanha e em Portugal. Afirmou corresponder-se também com os dirigentes da grã-loja desse último reino, onde indubitavelmente as coisas se encaminhavam para uma decisão. Que Hans Castorp se lembrasse das suas palavras, quando, dentro em breve, os acontecimentos ali começassem a precipitar-se. O jovem prometeu fazê-lo.
     Convém observar que essas palestras maçônicas, mantidas entre o discípulo e cada um dos mentores em separado, se haviam efetuado numa época anterior à da volta de Joachim. A discussão que relataremos agora teve lugar depois dessa data na sua presença, umas nove semanas após o regresso, em princípios de outubro. Se Hans Castorp conservou na memória a referida reunião sob o sol outonal, em frente da estância de “Platz”, com bebidas refrescantes na mesa, é porque naquele dia se preocupava secretamente com Joachim. Essa preocupação era causada por indícios e fenômenos que normalmente não costumam inspirar cuidados, a saber, dores de garganta e rouquidão. Tratava-se, pois, de moléstias inofensivas, mas que se apresentavam ao jovem Hans Castorp sob uma luz especial, que era precisamente aquela que ele pensava descobrir no fundo dos olhos do primo, esses olhos que sempre haviam sido grandes e meigos, mas precisamente nesse dia, e não antes, lhe apareciam maiores e mais profundos. Era como se tivessem assumido expressão meditativa e – deve-se acrescentar a estranha palavra – ominosa, além daquela já mencionada iluminação que lhes vinha de dentro. Seria absolutamente errado afirmar que Hans Castorp não gostava dessa expressão; pelo contrário, ela até lhe agradava muito, deixando-o, entretanto, preocupado. Numa palavra, não se pode falar dessas impressões de outra forma a não ser daquela maneira confusa que correspondia ao seu próprio caráter.
     A palestra, ou melhor, a controvérsia – travada, naturalmente, entre Naphta e Settembrini – girava em torno de um assunto diferente e tinha um nexo apenas frouxo com a maçonaria. Além dos primos, Ferge e Wehsal também se achavam presentes, e o interesse de todos era grande, embora alguns não estivessem à altura da discussão. O Sr. Ferge, por exemplo, observou isso expressamente. Contudo, uma luta disputada, como se a própria vida estivesse em jogo, mas cujo espírito e esmero faziam supor que não se tratava da vida, senão de um torneio elegante – como acontecia em todas as contendas de Naphta e Settembrini –, tal luta é obviamente e de per si interessante, mesmo para quem pouco entende do assunto e apenas vagamente lhe enxerga o alcance. Até pessoas estranhas, nas mesas vizinhas, escutavam a troca de palavras, admiradas e atraídas pela paixão e pela graça do diálogo.
     Como já dissemos, isso se deu defronte à estância, depois do chá da tarde. Ali os quatro pensionistas do Berghof haviam-se encontrado com Settembrini e, por casualidade, Naphta se reunira a eles. Estavam todos agrupados em volta de uma mesinha de metal, na qual se achavam diversas bebidas diluídas com água de soda, bem como cálices com anis e vermute. Naphta, que nesse local costumava tomar a merenda, pedira vinho e doces, que evidentemente constituíam uma reminiscência do seu noviciado. Joachim umedecia, com muita freqüência, a garganta enferma com limonada, que tomava muito concentrada e bem azeda, porque assim ela lhe contraía os tecidos e lhe dava algum alívio. Settembrini bebia simples água açucarada, mas servia se de um canudo com tanto prazer como se saboreasse o mais fino de todos os refrescos. 

– Que é que ouvi, engenheiro? – disse ele, caçoando. – Que rumor acaba de chegar aos meus ouvidos? Voltará a sua Beatriz? A sua guia através das nove esferas giratórias do Paraíso? Bem, espero que, apesar disso, o senhor não rejeite por completo a mão amiga e orientadora de seu Virgílio. Aqui o nosso eclesiástico lhe pode confirmar que o mundo do medio evo não é completo enquanto falta à mística franciscana o pólo oposto do conhecimento tomista.

     Todos riram de tanta erudição bem-humorada. Olharam Hans Castorp, que também se riu e levantou o cálice de vermute à saúde do “seu Virgílio”. Parece incrível que um interminável conflito de ideias enchesse a hora seguinte em resultado dessas palavras inofensivas, se bem que rebuscadas, de Settembrini. Naphta, que em certo sentido se julgava provocado, passou imediatamente ao ataque e investiu contra o poeta latino, notoriamente idolatrado pelo humanista, que o colocava acima de Homero. Naphta, por sua vez, já demonstrara em diversas ocasiões o maior desdém por ele como por todos os demais poetas latinos, e com presteza e malícia aproveitou-se também dessa oportunidade para fazê-lo. Observou que da parte do grande Dante era uma atitude parcial, muito bondosa e arraigada na época, essa de cercar de tanta solenidade um versejador medíocre e de outorgar-lhe no seu poema um papel tão importante, ainda que o Sr. Lodovico atribuísse a esse papel caráter demasiado maçônico. Que valor tinha, afinal, esse cortesão laureado, bajulador da Casa Júlia, com sua retórica pomposa, mas desprovida da menor centelha de espírito criador, esse literato de cidade grande, cuja alma, se é que possuía uma, era indiscutivelmente de segunda mão e que de maneira alguma era poeta, mas apenas um francês de peruca empoada em plena era de Augusto?
     O Sr. Settembrini não duvidou de que o seu interlocutor soubesse encontrar meios e caminhos para conciliar o menosprezo que sentia pela fase da mais alta civilização romana com as suas funções de professor de latim. No entanto, pareceu-lhe necessário indicar a Naphta outra contradição mais grave, em que o enredavam as suas opiniões; punham-no em desacordo com os seus séculos prediletos, que não somente de forma alguma haviam desprezado Virgílio, senão feito justiça, ingenuamente, à sua grandeza, convertendo-o num mago poderoso e sábio.
     Era em vão, retrucou Naphta, que o Sr. Settembrini chamava em seu auxílio a ingenuidade daquela época matutina, triunfante, que conservara a sua força inventiva até no endemoniamento daquilo que vencera. Por outra parte, os doutores da jovem Igreja não se haviam cansado de advertir os seus alunos contra as mentiras dos filósofos e poetas antigos, e especialmente contra o perigo de serem maculados pela exuberante eloquência de Virgílio. E nos nossos dias, quando novamente uma era se aproximava do túmulo, e mais uma vez raiava a aurora proletária, cumpria ter compreensão dessa sua atitude! E para liquidar a questão, acrescentou que o Sr. Lodovico podia ficar persuadido de que ele, Naphta, exercia com toda a necessária reservatio mentalis aquela profissãozinha burguesa a que o outro tivera a bondade de aludir. Não era sem ironia que se enquadrava num sistema de ensino clássico-retórico, ao qual nem os maiores otimistas podiam prometer mais que alguns decênios de duração. 

– Vocês, o senhor e seus amigos – exclamou Settembrini –, os têm estudado, com o suor do seu rosto, a esses poetas e filósofos antigos. Vocês procuraram apoderar-se da sua preciosa herança, assim como exploraram o material dos edifícios antigos para a construção das suas igrejas. Ora, vocês sentiram claramente que não seriam capazes de produzir uma nova forma de arte apenas com as próprias forças da sua alma proletária. Vocês esperaram derrotar a Antiguidade com as armas dela. Isso se repetirá, sempre e sempre! O espírito matutino de vocês, em toda a sua bronquice, terá de frequentar a escola daqueles que vocês querem desprezar e fazer os outros desprezarem. Pois, sem cultura, vocês não poderiam existir ante os olhos da humanidade, e não há senão uma única cultura, aquela que vocês qualificam de burguesa, e que em realidade é humana! – O fim da educação humanística, uma questão de decênios? Somente a polidez impedia o Sr. Settembrini de dar uma gargalhada tão despreocupada quanto zombeteira. Uma Europa que sabia guardar os seus bens eternos passaria, com toda a calma, à ordem do dia da razão clássica, sem se importar com os apocalipses proletários com que sonhavam certas pessoas.

     Mas era precisamente a ordem do dia, replicou Naphta sarcasticamente, o que o Sr. Settembrini parecia ignorar. Nela se achava como problema o que o seu interlocutor preferia tratar como fato consumado, a questão de saber se a tradição mediterrâneo-clássico-humanista era uma causa da humanidade e por conseguinte humana e eterna, ou se não passava de uma forma espiritual e de um acessório de uma determinada época, a época burguesa e liberalista, morrendo com esta. À história caberia decidir essa questão, e o Sr. Settembrini faria muito bem não se fiando muito seguramente numa sentença favorável ao seu conservantismo latino.
     Chamar Settembrini, o servidor declarado do progresso, de conservador era uma insolência particular do pequeno Naphta. Todos perceberam isso, e o humanista assim melindrado o fez com particular amargura. Cofiando nervosamente o sinuoso bigode, preparava o golpe de vingança. Dessa forma deixou ao adversário o tempo suficiente para novas investidas contra o ideal de formação clássica, contra o espírito retórico-literário do ensino e da pedagogia europeus, e contra o seu spleen gramático-formal que nada mais era senão um acessório conservado no interesse da supremacia da classe burguesa, mas que desde havia muito parecia ridículo ao povo. Sim, poucos se davam conta de quanto o povo se divertia com aqueles títulos de doutor, com todo o mandarinato de formação e com a escola primária pública, esse instrumento da ditadura da classe burguesa, que o manejava na ilusão de que cultura popular era forma diluída da cultura erudita. O povo sabia muito bem onde encontrar aquela cultura e aquela educação de que precisava na luta contra a burguesia caduca, e não a procurava nessas casas de correção do ensino oficial. Já não era segredo para ninguém que o próprio tipo das nossas escolas, tal como se desenvolveu das escolas dos conventos medievais, representava um anacronismo, uma grotesca velharia; que ninguém, em todo o vasto mundo, devia à escola a sua verdadeira formação, e que um ensino livre, acessível a todos, por meio de conferências públicas, de exposições, do cinema, etc, era muitíssimo superior a qualquer ensino escolar.
     O Sr. Settembrini respondeu que nessa mistura de revolução e de obscurantismo, que Naphta acabava de oferecer aos seus ouvintes, a parte obscurantista predominava de forma pouco apetitosa. A satisfação que se sentia ao vê-lo tão preocupado com a iluminação do povo era diminuída pelo receio de que, na realidade, agisse nele a instintiva tendência de envolver o povo e o mundo nas trevas do analfabetismo.
     Naphta sorriu. O analfabetismo! Com isso pensava o seu interlocutor, sem dúvida, ter pronunciado uma palavra verdadeiramente horripilante, persuadido de que todo mundo empalideceria devidamente em face dessa cabeça de Górgona. Ele, Naphta, lamentava ter de desapontar o seu oponente ao dizer-lhe que o pavor que os humanistas experimentavam diante do conceito do analfabetismo simplesmente o fazia rir. Era preciso ser um literato renascentista, um precioso, um homem do Secento, um marinista, um palhaço do estilo culto, para atribuir às artes de ler e de escrever toda essa primazia pedagógica, a ponto de se imaginar que as trevas do espírito reinavam onde faltasse conhecimento dessas disciplinas. Recordava-se o Sr. Settembrini de que o maior poeta da Idade Média, Wolfram von Eschenbach, tinha sido analfabeto? Naquela época haviam julgado vergonhoso na Alemanha enviar à escola um menino que não quisesse ser sacerdote, e esse menosprezo aristocrático e popular pelas artes literárias fora em todos os tempos um sinal de nobreza fundamental da alma, ao passo que o literato, esse filho genuíno do humanismo e da burguesia, sabia, na verdade, ler e escrever, o que o fidalgo, o guerreiro e o povo ignoravam ou sabiam apenas mal. Mas era só isso que ele sabia e entendia de todas as coisas do mundo. Continuava sendo um doidivanas latinista que dominava a língua e abandonava a vida às pessoas honradas. Por isso transformava a política num saco cheio de vento, isto é, cheio de retórica e de belas-letras, o que no linguajar dos partidos se chamava radicalismo ou democracia, etcétera, etcétera...
     Ao ouvir isso, o Sr. Settembrini não se conteve mais. Exclamou que era excessiva a temeridade com que o outro exibia o seu gosto pela piedosa barbárie de certas épocas, escarnecendo do amor à forma literária, sem a qual de fato se tornaria impossível e inimaginável a humanidade. Sim, senhores, impossível e inimaginável! Tinha sido pronunciada a palavra “nobreza”. Unicamente quem odiasse o gênero humano era capaz de dar esse nome à ausência do Verbo, ao materialismo brutal e mudo. Deveras nobre era apenas um certo luxo distinto, a generosità, que se manifestava na atitude de conceder à forma um valor humano próprio, independente do conteúdo, o culto da oratória como arte pela arte, essa herança da civilização greco-romana, que os humanistas, os uomini letterati, haviam devolvido pelo menos aos países neolatinos, e que era a fonte de todo o idealismo ulterior, relacionado com o conteúdo também do idealismo político. – Sim, senhor! – continuou Settembrini. – O que o senhor deseja envilecer, qualificando-o como divórcio entre a língua e a vida, não é outra coisa que uma unidade superior no diadema da beleza, e eu prevejo sem temor qual dentre os dois partidos a juventude valorosa tomará numa luta cujas alternativas se chamam literatura ou barbárie.
   
continua pág 338...
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Leia também:

Capítulo I
A Chegada
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Como um soldado, como um valente  (d)
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A Montanha Mágica (Der Zauberberg, no original alemão) é um romance de Thomas Mann que foi publicado em 1924. É considerado o romance mais importante de seu autor e um clássico da literatura de língua alemã do século XX que foi traduzido para inúmeros idiomas, sendo de domínio público em países como Estados Unidos, Espanha, Brasil, entre outros.
Thomas Mann começou a escrever o romance em 1912, após uma visita à sua esposa no Wald Sanatorium em Davos, onde ela foi hospitalizada. Ele inicialmente o concebeu como um romance curto, mas o projeto cresceu ao longo do tempo para se tornar um trabalho muito maior. A obra narra a permanência de seu personagem principal, o jovem Hans Castorp, em um sanatório nos Alpes suíços, onde inicialmente vinha apenas como visitante. A obra tem sido descrita como um romance filosófico, pois, embora se enquadre no molde genérico do Bildungsroman ou romance de aprendizagem, introduz reflexões sobre os mais variados temas, tanto pelo narrador quanto pelos personagens (especialmente Nafta e Settembrini, aqueles encarregados da educação do protagonista). Entre esses temas, o do "tempo" ocupa um lugar preponderante, a ponto de o próprio autor o descrever como um "romance do tempo" (Zeitroman), mas muitas páginas também são dedicadas a discutir a doença, a morte, a estética ou a política.
O romance tem sido visto como um vasto afresco do modo de vida decadente da burguesia europeia nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.

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