A Montanha Mágica
Capítulo VI
Mais alguém
.
continuando...
Settembrini, como já fizera em outra ocasião, achou censurável essa indiferença.
Demonstrou imediatamente estar a par dos acontecimentos importantes, que julgou com
otimismo, uma vez que as coisas estavam tomando um rumo favorável para a civilização. A
atmosfera geral da Europa estava cheia de pensamentos pacíficos e de planos de desarmamento.
A ideia democrática achava-se em marcha. O italiano assegurou ter recebido informações
confidenciais, segundo as quais os Jovens Turcos acabavam de ultimar os preparativos para uma
empresa revolucionária. A Turquia como Estado nacional e constitucional – que triunfo do
espírito humano!
– A liberalização do Islã! – escarneceu Naphta. – Essa é boa! O fanatismo esclarecido;
ótimo! A propósito, esse assunto interessa ao senhor – acrescentou, dirigindo-se a Joachim. – Se
Abdul Hamid cair, terminará a influência alemã na Turquia, e a Inglaterra vai arvorar-se em
protetora... Convém que os senhores tomem muito a sério as relações e as informações do nosso
Settembrini – prosseguiu, e também isso soava um tanto impertinente, uma vez que ele próprio
parecia julgá-los inclinados a não prezar devidamente o italiano. – Ele anda muito bem informado
sobre as questões nacionais-revolucionárias. Na terra dele há pessoas que mantêm muito boas
relações com a comissão inglesa dos Bálcãs. Mas que será dos convênios de Reval, Sr. Lodovico,
se os seus turcos progressistas levarem a melhor? Eduardo VII já não poderá conceder aos russos
a abertura dos Dardanelos e se a Áustria, apesar de tudo, se decidir a fazer uma política balcânica
ativa...
– Sempre as suas profecias sinistras! – ripostou Settembrini. – Nicolau ama a paz. A ele se
devem as conferências de Haia, que representam feitos morais de primeira ordem.
– Ora, a Rússia precisava obter algum descanso, depois do seu pequeno desastre no
Oriente.
– Acho muito feio, da sua parte, zombar do desejo de aperfeiçoamento social que sente a
humanidade. O povo que contrariasse um esforço desse gênero indubitavelmente cairia no
ostracismo moral.
– De que serviria a política se não desse a uns e outros uma oportunidade para se
comprometer moralmente?
– O senhor está adotando a causa do pangermanismo?
Naphta encolheu os ombros, cujo nível era um tanto desigual. Além da sua fealdade
parecia mesmo um pouco torto. Não se dignou responder. Settembrini concluiu:
– Em todo caso é cínico o que acaba de dizer. No generoso empenho que faz a
democracia para impor-se internacionalmente, o senhor quer ver um mero ardil político...
– E o senhor deseja que eu encontre em tudo isso idealismo ou até religiosidade? Trata-se
dos derradeiros e muito débeis arrancos de um restinho de instinto de auto conservação, que
ainda sobra a um já condenado sistema do mundo. A catástrofe virá e deve vir; está avançando
por todos os caminhos e de todos os modos. Considere, por exemplo, a política britânica. A
necessidade que sente a Inglaterra de garantir a esplanada da fortaleza indiana é legítima. Mas
quais são as consequências? Eduardo sabe tão bem como o senhor e eu que os governantes de
Petersburgo têm de desforrar-se do revés sofrido na Manchúria e precisam urgentemente desviar
o perigo da revolução. Mesmo assim orienta – e não tem outra escolha – o expansionismo russo
em direção à Europa, desperta rivalidades adormecidas entre Petersburgo e Viena...
– Ora, Viena! O senhor se preocupa com esse obstáculo ao progresso do mundo
provavelmente por reconhecer, no império caduco de que ela é a capital, a múmia do Santo
Império Romano-Germânico.
– E eu acho que o senhor é russófilo, provavelmente devido a uma simpatia humanística
pelo césaro-papismo.
– Senhor, até mesmo do Kremlin a democracia pode esperar mais do que da corte de
Viena, e é vergonhoso para o país de Lutero e de Gutenberg que...
– Talvez não seja somente vergonhoso, mas também estúpido. No entanto, tal estupidez
é igualmente um instrumento da fatalidade...
– Ah, deixe-me em paz com a fatalidade! Basta que a razão humana queira ser mais forte
do que ela, e logo o consegue.
– Não se pode querer senão o destino. A Europa capitalista quer o seu.
– Quem não abomina a guerra com suficiente intensidade acredita na sua vinda.
– A sua abominação é logicamente abrupta, enquanto não tomar o próprio Estado como
ponto de partida.
– O Estado nacional é o princípio deste mundo, que o senhor gostaria de atribuir ao
Diabo. Mas torne as nações livres e iguais, proteja as pequenas e fracas contra a opressão, faça
justiça, crie fronteiras nacionais...
– A fronteira do Brenner, já sei. A liquidação da Áustria! Se eu ao menos soubesse como
o senhor pretende realizar isso sem uma guerra...
– E eu gostaria de saber quando e onde condenei a guerra nacional.
– Mas parece-me que ouvi...
– Não, senhor, posso confirmar as palavras do Sr. Settembrini – interveio Hans Castorp,
que acompanhara a discussão, caminhando com a cabeça inclinada para o lado e deixando o olhar
atento passar de um a outro interlocutor. – Meu primo e eu tivemos diversas vezes o prazer de
conversar com ele sobre esse assunto e outros semelhantes; isto é, em realidade limitamo-nos a
escutar, enquanto ele desenvolvia e formulava as suas opiniões. E assim sou capaz de confirmar,
e também meu primo deve ainda lembrar-se, que o Sr. Settembrini mais de uma vez nos falou
com grande entusiasmo do princípio do movimento, da rebelião e do aperfeiçoamento do
mundo, que, por natureza, não é um princípio muito pacífico, segundo me parece. E ele afirmava
que esse princípio teria ainda de vencer grandes obstáculos antes de triunfar em toda parte e antes
de se realizar a república universal, grande e feliz. Eram essas as suas palavras, embora,
naturalmente, se expressasse de uma forma muito mais plástica e mais literária do que eu; isso se
entende. Mas uma coisa eu sei com absoluta certeza e até gravei textualmente na minha memória,
porque me assustei na minha qualidade de fanático civil; foi quando disse que esse dia havia de
chegar, se não pelos pés das pombas, sobre as asas das águias. O que me causava espanto eram as
asas das águias; disso me recordo ainda. Acrescentou que era preciso aniquilar a Áustria, para
abrir caminho à felicidade. Não se pode, portanto, dizer que o Sr. Settembrini reprove a guerra
em si. Tenho razão, Sr. Settembrini?
– Mais ou menos – disse o italiano, laconicamente, desviando o rosto e brandindo a
bengala.
– Que lástima! – sorriu Naphta, malicioso. – O seu próprio discípulo apresenta as provas
das tendências bélicas do senhor. Assument pennas ut aquilae...
– Até Voltaire admitiu a guerra civilizadora e recomendou a Frederico II a guerra contra
os turcos.
– Em vez de fazê-la, este se aliou a eles, ah, ah! E depois, a república universal! Não me
atrevo a perguntar o que será dos princípios do movimento e da rebelião uma vez alcançadas a
felicidade e a união. Nesse instante, a rebelião se tornaria um crime...
– O senhor sabe perfeitamente, e também esses jovens sabem, que se trata de um
progresso da humanidade, concebido como infinito.
– Mas todo movimento é circular – objetou Hans Castorp. – No espaço e no tempo; é
isso o que nos ensinam as leis da conservação da massa e da periodicidade. Recentemente, meu
primo e eu conversamos a esse respeito. Será que se pode, em presença de um movimento
fechado, sem rumo constante, ainda falar de um progresso? Quando fico deitado, à noite, e
contemplo o Zodíaco, isto é, a metade que é visível, e penso naqueles povos antigos, cheios de
sabedoria...
– Engenheiro, ao senhor não convém cismar e devanear – interrompeu-o Settembrini. –
Cumpre-lhe confiar-se decididamente aos instintos dos seus anos e da sua raça, que devem
obrigá-lo à atividade. Também a sua formação científica deve associá-lo à ideia do progresso. O
senhor vê como em períodos indeterminados a vida perfez uma evolução que a elevou desde o
infusório até o homem. Diante disso não pode duvidar de que haja ainda infinitas possibilidades
de aperfeiçoamento a se abrirem ao homem. Mas, se o senhor insistir na matemática, conduza a
sua marcha circular de perfeição em perfeição e conforte-se com o conceito do século XVIII,
segundo o qual o homem, originalmente bom, feliz e perfeito, foi depravado e corrompido
somente pelos erros sociais e, graças a um trabalho crítico na estrutura da sociedade, voltará a ser
bom, feliz e perfeito...
– O Sr. Settembrini deixa de acrescentar – aparteou Naphta – que o idílio de Rousseau é
uma trivialização racionalista da doutrina eclesiástica da fase primitiva em que o homem era livre
do Estado e do pecado, a fase inicial da proximidade de Deus e da relação filial com Ele, que nos
incumbe reencontrar. O restabelecimento da Cidade de Deus, porém, após a dissolução de todas
as formas terrenas, acha-se situado no ponto em que se tocam a terra e o céu, o que é acessível
aos sentidos e o que os ultrapassa. A salvação é transcendental, e quanto à sua república universal
capitalista, meu caro doutor, é bastante estranho ouvir o senhor falar de “instinto”, referindo-se a
ela. A tendência instintiva toma inteiramente o partido do nacionalismo, e o próprio Deus
implantou nos homens o instinto natural que induz os povos a se separarem uns dos outros,
formando Estados diferentes. A guerra...
– A guerra – gritou Settembrini. – Até a guerra, meu caro, já teve que servir ao progresso,
como o senhor não pode deixar de admitir, ao lembrar-se de certos acontecimentos da sua época
preferida; falo das Cruzadas. Essas guerras civilizadoras favoreceram de modo sumamente feliz as
relações entre os povos, no que diz respeito ao intercâmbio econômico e político-comercial.
Reuniram a humanidade ocidental sob o signo de uma ideia.
– O senhor mostra-se bem tolerante para com a ideia. Em compensação, empregarei
muita cortesia numa pequena retificação: as Cruzadas, assim como a intensificação comercial que
produziram, absolutamente não exerceram uma influência internacionalista. Pelo contrário,
ensinaram os povos a se distinguirem entre si e estimularam fortemente o desenvolvimento da
ideia do Estado nacional.
– É exato no que se refere à relação entre os povos e o clero. Sim, senhor, naqueles
tempos começou a firmar-se a consciência do Estado nacional, contra a presunção hierárquica...
– E, todavia, isso que o senhor chama de presunção hierárquica é apenas a ideia da união
dos homens sob o signo do espírito.
– Já conhecemos esse espírito. Não precisamos dele, obrigado.
– É lógico que o senhor, com a sua mania nacionalista, abomine o cosmopolitismo da
Igreja que triunfa sobre o mundo. Eu gostaria apenas de saber como tenciona conciliar isso com
o horror que sente com relação à guerra. O seu culto do Estado, à maneira antiga, deve fazer do
senhor um paladino da concepção positiva do direito, e como tal...
– Chegamos a falar do direito? No direito dos povos, meu caro senhor, continua viva a
ideia do direito natural e da razão universalmente humana...
– Qual! O seu direito dos povos é outra trivialização rousseauniana do jus divinum, que
nada tem que ver com a natureza nem com a razão, mas se baseia na revelação...
– Deixemos de discutir a terminologia, professor! Continue o senhor tranquilamente a
chamar de jus divinum o que eu reverencio sob os nomes de direito natural e direito dos povos. O
essencial é que acima dos direitos positivos dos Estados nacionais se eleva um outro direito,
superior e geral, permitindo resolver, mediante arbitragem, as questões de interesses em litígio.
– Arbitragens! Ora! Um tribunal de árbitros burgueses, que decide acerca das questões da
vida, descobre a vontade de Deus e determina o curso da história! Bem, aí temos os pés das
pombas. E onde ficam as asas das águias?
– A moralidade burguesa...
– Olhe, a moralidade burguesa não sabe o que quer. De um lado gritam pelo combate à
diminuição da natalidade e exigem que se reduzam as despesas necessárias para a educação dos
filhos e para o seu preparo profissional. E do outro lado, estamos sufocando no meio da
multidão; todas as profissões estão de tal modo abarrotadas, que a luta pelo pão de cada dia
ofusca os horrores de todas as guerras passadas. Praças arborizadas e cidades ajardinadas!
Fortalecimento da raça! Mas para que o fortalecimento, quando a civilização e o progresso
desejam que não haja mais guerras? A guerra seria o remédio contra tudo e para tudo. Para o
fortalecimento e mesmo contra a diminuição da natalidade.
– O senhor está brincando. Isso já deixa de ser sério. A nossa discussão está se
desintegrando, e o faz no momento oportuno. Chegamos! – disse Settembrini, e com a sua
bengala mostrou aos primos a casinha, diante de cuja cancela acabavam de parar. Estava situada
perto da entrada da “aldeia”, à beira da estrada, da qual a separava apenas um estreito jardim. Era
de aparência modesta. Uma parreira silvestre, brotando de raízes desnudas, rodeava o portão da
casa e estendia um braço retorcido ao longo do muro, na direção da janelinha do rés– do– chão, à
direita, onde se achava a vitrine de um pequeno armarinho. O rés-do-chão pertencia ao
“merceeiro”, como explicou Settembrini. A habitação de Naphta ficava no primeiro andar, ao
lado da oficina do alfaiate, e ele, Settembrini, estava domiciliado na água-furtada, onde tinha um
estúdio quieto.
Com uma amabilidade surpreendente e acentuada, Naphta expressou a esperança de que
esse encontro fosse seguido por muitos outros. – Não deixem de visitar-nos – pediu. – Eu diria:
venham visitar-me, não tivesse o Dr. Settembrini direitos mais antigos à amizade dos senhores.
Apareçam quando quiserem, cada vez que tiverem vontade de palestrar um pouco. Aprecio muito
o intercâmbio com a juventude, e também não me falta por completo a tradição pedagógica... Se
o nosso grão-mestre adjunto – e apontou para Settembrini – pretende conferir ao humanismo
burguês o monopólio da capacidade e da vocação pedagógica... é preciso desmenti-lo. Até breve!
O italiano fez algumas objeções. Havia certas dificuldades, segundo disse. Os dias que o
tenente ainda passaria ali em cima estavam contados, e o engenheiro, sem dúvida, redobraria o
seu zelo na observação do regime, para que pudesse segui-lo o mais depressa possível e partir
para a planície.
Os jovens concordaram com ambos, primeiro com um e depois com o outro. Acabavam
de aceitar, com uma mesura, o convite de Naphta, e reconheceram, momentos após, a inteira
razão dos argumentos de Settembrini. Dessa forma, tudo ficou no ar.
– Como é que ele o chamou? – perguntou Joachim, enquanto subiam pela curva da
estrada que conduzia ao Berghof.
– Eu entendi “grão-mestre adjunto” – respondeu Hans Castorp. – Estou justamente
pensando a respeito disso. Deve tratar-se de algum gracejo. Eles usam entre si uns títulos
esquisitos. Settembrini intitulou Naphta de princeps scholasticorum, o que também não está mal.
Acho que os escolásticos eram os sábios teólogos da Idade Média, filósofos dogmáticos, se me
lembro bem. De fato mencionaram diversas vezes a Idade Média, e com isso me recordei de uma
observação que Settembrini fez logo no primeiro dia: que havia aqui em cima muita coisa que lhe
parecia medieval. Viemos a falar nisso por causa do nome de Adriática von Mylendonk... E lhe
agradou o homem?
– O baixinho? Não muito. Ele disse certas coisas de que gostei. Claro que as arbitragens
não passam de poltronaria. Mas o próprio homem não é do meu gosto; que me adianta que
alguém diga coisas bem ditas, se ele mesmo é um sujeito duvidoso? E você não pode negar que
esse Naphta é um tipo suspeito. Aquela história do lugar da coabitação é indubitavelmente
escabrosa. Além disso, ele tem um nariz de judeu; você não viu? Só os semitas têm esses corpos
minguados. Será que você pretende seriamente visitar esse indivíduo?
– Naturalmente vamos visitá-lo – declarou Hans Castorp. – Quanto ao físico minguado,
você julga como militar. Olhe, os caldeus tinham o mesmo tipo de nariz e todavia sabiam muito
bem a quantas andavam, não somente em matéria de ciências ocultas. O Naphta também tem
qualquer coisa de ocultista. Ele me interessa bastante. Não quero afirmar que já possa formar
uma opinião a seu respeito, mas se a gente se encontrar mais amiúde com ele, talvez chegue a
entendê-lo, e não acho impossível que a nossa inteligência em geral saia lucrando com isso.
– Ora, rapaz, você torna-se cada vez mais inteligente aqui em cima, com a sua biologia e
botânica e com os seus pontos de inflexão inevitáveis. E desde o primeiro dia se preocupou com
o “tempo”. Mas me parece que estamos aqui para ficar mais sadios e não mais sábios; mais sadios
e completamente sãos, até que enfim nos devolvam a liberdade e nos enviem à planície como
curados.
– “Nas montanhas vive a liberdade” – cantarolou Hans Castorp frivolamente. – Diga-me
primeiro o que significa a liberdade! – acrescentou, falando. – Naphta e Settembrini também
discutiram isso e não chegaram a um acordo. “A liberdade é a lei do amor aos homens”, diz
Settembrini, e isso me lembra o seu avô, o carbonário. Mas, por mais corajoso que fosse o
carbonário e por mais corajoso que seja o nosso amigo Settembrini...
– Pois é, ele ficou furioso quando se falou da coragem pessoal...
– ...creio contudo que ele tem medo de certas coisas que o pequeno Naphta não teme;
compreende? Na liberdade e na coragem dele acho que há muita bobagem. Você acredita que
Settembrini teria bastante valor de se perdre ou même de se laisser dépérir?
– Por que se mete a falar francês?
– Porque... Bem, a atmosfera aqui é tão internacional... Não sei qual dos dois deve gostar
mais dela, se Settembrini, por causa da república universal burguesa, ou se Naphta, com sua
cosmópole hierárquica. Prestei muita atenção, como vê, mas não consegui me esclarecer sobre
isso. Pelo contrário, tive a impressão de que aquela discussão virou uma bruta mixórdia.
– É sempre assim. Você pode ter certeza de que dos bate-bocas e das trocas de opiniões
sai somente confusão. Eu já lhe disse: o que importa não são as opiniões que um homem tem,
mas sim a questão de saber se é ou não é um tipo decente. O melhor é não ter opinião e cumprir
o dever.
– Pois sim, você pode falar desse modo porque é um lansquenete e leva uma existência
puramente formal. Mas comigo é diferente: sou civil e me sinto, por assim dizer, responsável. E
me irrita ver tamanha confusão quando um prega a república universal, internacional, e abomina
a guerra por princípio, mas ao mesmo tempo é tão patriota que reclama a todo custo a fronteira
do Brenner, ao passo que o outro considera o Estado uma obra do Diabo e decanta a união geral
que surge no horizonte, mas no próximo instante defende o direito do instinto natural e zomba
das conferências de paz. Temos de visitá-los para formar uma opinião. Você diz, na verdade, que
estamos aqui não para nos tornar mais inteligentes, mas para melhorar nossa saúde. Mas, meu
caro, acho que deve ser possível combinar essas duas coisas. Caso contrário, você chegaria a
dividir o mundo, e isso não pode dar certo.
continua pág 252...
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Leia também:
Capítulo II
Da pia batismal e dos dois aspectos do avô
Da pia batismal e dos dois aspectos do avô
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Mais alguém (c)
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A Montanha Mágica (Der Zauberberg, no original alemão) é um romance de Thomas Mann que foi publicado em 1924. É considerado o romance mais importante de seu autor e um clássico da literatura de língua alemã do século XX que foi traduzido para inúmeros idiomas, sendo de domínio público em países como Estados Unidos, Espanha, Brasil, entre outros.
Thomas Mann começou a escrever o romance em 1912, após uma visita à sua esposa no Wald Sanatorium em Davos, onde ela foi hospitalizada. Ele inicialmente o concebeu como um romance curto, mas o projeto cresceu ao longo do tempo para se tornar um trabalho muito maior. A obra narra a permanência de seu personagem principal, o jovem Hans Castorp, em um sanatório nos Alpes suíços, onde inicialmente vinha apenas como visitante. A obra tem sido descrita como um romance filosófico, pois, embora se enquadre no molde genérico do Bildungsroman ou romance de aprendizagem, introduz reflexões sobre os mais variados temas, tanto pelo narrador quanto pelos personagens (especialmente Nafta e Settembrini, aqueles encarregados da educação do protagonista). Entre esses temas, o do "tempo" ocupa um lugar preponderante, a ponto de o próprio autor o descrever como um "romance do tempo" (Zeitroman), mas muitas páginas também são dedicadas a discutir a doença, a morte, a estética ou a política.
O romance tem sido visto como um vasto afresco do modo de vida decadente da burguesia europeia nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.
Thomas Mann começou a escrever o romance em 1912, após uma visita à sua esposa no Wald Sanatorium em Davos, onde ela foi hospitalizada. Ele inicialmente o concebeu como um romance curto, mas o projeto cresceu ao longo do tempo para se tornar um trabalho muito maior. A obra narra a permanência de seu personagem principal, o jovem Hans Castorp, em um sanatório nos Alpes suíços, onde inicialmente vinha apenas como visitante. A obra tem sido descrita como um romance filosófico, pois, embora se enquadre no molde genérico do Bildungsroman ou romance de aprendizagem, introduz reflexões sobre os mais variados temas, tanto pelo narrador quanto pelos personagens (especialmente Nafta e Settembrini, aqueles encarregados da educação do protagonista). Entre esses temas, o do "tempo" ocupa um lugar preponderante, a ponto de o próprio autor o descrever como um "romance do tempo" (Zeitroman), mas muitas páginas também são dedicadas a discutir a doença, a morte, a estética ou a política.
O romance tem sido visto como um vasto afresco do modo de vida decadente da burguesia europeia nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.
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