domingo, 30 de maio de 2021

Stendhal - O Vermelho e o Negro: A Rainha Marguerite (X)

 Livro II 


Ela não é galante,
não usa ruge algum.

Sainte-Beuve



Capítulo X

A RAINHA MARGUERITE




Amor! Em que loucura não nos fazes encontrar prazer?

CARTAS DE UMA RELIGIOSA PORTUGUESA





JULIEN RELEU SUAS CARTAS. Quando ouviu a sineta do almoço, pensou: Como devo ter sido ridículo aos olhos dessa boneca parisiense! Que loucura dizer-lhe realmente aquilo em que eu pensava! Mas talvez loucura não tão grande. A verdade, naquele momento, era digna de mim.
Por que vir interrogar-me sobre coisas íntimas? A pergunta foi indiscreta da parte dela, foi uma falta de educação. Meus pensamentos sobre Danton não fazem parte do serviço para o qual seu pai me paga.
Ao chegar à sala de jantar, o mau humor de Julien foi surpreendido pelo luto pesado da srta. de La Mole, que o impressionou ainda mais porque nenhuma outra pessoa da família estava vestida de preto.
Depois do almoço, viu-se completamente livre do acesso de entusiasmo que o obsedara durante a jornada. Por sorte, o acadêmico que sabia latim estava presente. É o homem que menos zombará de mim, pensou, se, como presumo, minha pergunta sobre o luto da srta. de La Mole for descabida.
Mathilde olhava-o com uma expressão singular. Aí está a coqueteria das mulheres desta cidade, tal como a sra. de Rênal me havia pintado, pensou Julien. Não fui amável com ela esta manhã, não cedi à sua vontade de conversar. Assim aumento de valor aos olhos dela. Certamente o diabo nada perde com isso. Mais tarde, sua altivez desdenhosa saberá vingar-se. Desafio-a a fazer pior. Que diferença em relação àquela que perdi! Sua naturalidade encantadora! Sua ingenuidade! Eu sabia seus pensamentos antes dela, via-os nascer; meu único antagonista, em seu coração, era o medo da morte dos filhos; era uma afeição razoável e natural, amável mesmo para mim, que padecia com ela. Fui um tolo. As ideias que eu fazia de Paris impediram-me de apreciar aquela mulher sublime.
Que diferença, meu Deus! E o que encontro aqui? Vaidade seca e orgulhosa, todos os matizes do amor-próprio e nada mais.
Deixavam a mesa. Não posso perder meu acadêmico, pensou Julien. Aproximou-se dele quando passavam ao jardim, assumiu um ar afável e submisso e partilhou seu furor contra o sucesso de Hernani.

– Se ainda estivéssemos no tempo das ordens de prisão emitidas pelo rei!... ele disse.

– Então ele não teria ousado, exclamou o acadêmico, com um gesto à Talma.

A propósito de uma flor, Julien citou algumas palavras das Geórgicas, de Virgílio, e achou que nada se comparava aos versos do abade Delille. Em suma, adulou o acadêmico de todas as maneiras, para então dizer, com o ar mais indiferente:

– Suponho que a srta. de La Mole recebeu a herança de um tio pelo qual veste o luto.

– Como! O senhor é da casa, disse o acadêmico, estacando, e não conhece essa mania? Em realidade, é estranho que sua mãe permita tais coisas; mas, cá entre nós, não é precisamente pela força de caráter que se brilha nesta casa. A srta. Mathilde tem essa força por todos eles, e os dirige. Hoje é 30 de abril! E o acadêmico deteve-se, olhando para Julien com um ar esperto. Julien sorriu do jeito mais espirituoso que pôde.

Que relação pode haver entre dirigir toda uma família, usar um vestido preto e o dia 30 de abril?, ele pensava. Devo ser ainda mais ignorante do que imaginava.

– Confesso-lhe..., disse ao acadêmico, e seu olhar continuava a interrogar.

– Vamos dar uma volta pelo jardim, disse o acadêmico, entrevendo com entusiasmo a ocasião de fazer uma longa narração elegante. Então é possível que não saiba o que se passou em 30 de abril de 1574?

– E onde?, perguntou Julien, espantado.

– Na praça de Grève.

Julien estava tão espantado que nada associou a esse nome. A curiosidade, a expectativa de uma informação trágica, tão de acordo com seu caráter, davam-lhe aqueles olhos brilhantes que um narrador tanto gosta de ver na pessoa que o escuta. O acadêmico, encantado de encontrar um ouvido virgem, contou longamente como, em 30 de abril de 1574, o moço mais bonito de seu século, Boniface de La Mole, e seu amigo Annibal de Coconasso, fidalgo piemontês, foram decapitados na praça de Grève. La Mole era o amante adorado da rainha Marguerite de Navarra; e observe, acrescentou o acadêmico, que a srta. de La Mole chama-se Mathilde-Marguerite. La Mole era ao mesmo tempo o favorito do duque d’Alençon e amigo íntimo do rei de Navarra, depois Henrique IV, marido de sua amante. Na terça-feira gorda daquele ano de 1574, a corte achava-se em Saint-Germain com o pobre rei Carlos IX, que estava morrendo. La Mole quis libertar os príncipes, seus amigos, que a rainha Catarina de Médicis retinha como prisioneiros na corte. Fez avançar duzentos cavalos contra os muros de Saint-Germain; o duque d’Alençon teve medo, e La Mole foi entregue ao carrasco.

– Mas o que comove a srta. Mathilde, o que ela mesma confessou-me, há sete ou oito anos, quando tinha apenas doze, pois é uma inteligência, uma inteligência!... e o acadêmico ergueu os olhos ao céu, o que a impressionou nessa catástrofe política é que a rainha Marguerite de Navarra, escondida numa casa da praça de Grève, ousou mandar pedir ao carrasco a cabeça do amante. E na noite seguinte, à meia-noite, foi ela mesma enterrá-la numa capela ao pé da colina de Montmartre.

– Será possível?, exclamou Julien, comovido.

– A srta. Mathilde despreza o irmão, porque, como vê, ele não dá a menor importância a essa história antiga e não veste luto em 30 de abril. Foi depois desse famoso suplício, e para lembrar a amizade íntima de La Mole por Coconasso – o qual, como italiano que era, chamava-se Annibal –, que todos os homens desta família passaram a ter esse nome. E o acadêmico acrescentou, baixando a voz: esse Coconasso, no dizer do próprio Carlos IX, foi um dos mais cruéis assassinos do 24 de agosto de 1572. Mas como é possível, meu caro Sorel, que ignore essas coisas, o senhor, comensal da casa?

– Eis então por que, duas vezes no jantar, a srta. La Mole chamou seu irmão de Annibal. Julguei ter ouvido mal.

– Era uma censura. É estranho que a marquesa tolere tais manias... O marido dessa moça inteligente terá muitas surpresas!

Essa tirada foi seguida de cinco ou seis frases satíricas. A satisfação e a intimidade que brilhavam nos olhos do acadêmico chocaram Julien. Parecemos dois criados a falar mal dos patrões, pensou. Mas nada deve espantar-me da parte desse homem de academia.
Um dia, Julien surpreendera-o ajoelhado ante a marquesa de La Mole; pedia-lhe um emprego de fiscal de tabaco para um sobrinho da província. À noite, uma camareira da srta. de La Mole, que o cortejava, como Elisa outrora, fez Julien pensar que o luto da patroa não era para chamar a atenção. Essa esquisitice tinha fundamento em seu caráter. Ela amava realmente aquele La Mole, amante da rainha mais inteligente de seu século, e que morreu por ter querido dar a liberdade aos amigos, e que amigos! O príncipe herdeiro e Henrique IV.
Acostumado à naturalidade perfeita que brilhava na conduta da sra. de Rênal, Julien via apenas afetação nas mulheres de Paris; e, mesmo quando não se aborrecia com elas, nada encontrava para lhes dizer. A srta. de La Mole foi uma exceção.
Ele começava a não mais tomar como secura de coração esse tipo de beleza associado à nobreza do porte. Teve longas conversas com a srta. de La Mole, que, às vezes depois do almoço, passeava com ele pelo jardim, ao longo das janelas abertas do salão. Um dia ela disse-lhe que estava lendo a história de d´Aubigné, e Brantôme. Leitura singular, pensou Julien; e a marquesa não lhe permite ler os romances de Walter Scott!
Um dia ela contou, com aqueles olhos brilhantes que provam a sinceridade da admiração, um episódio que acabara de ler nas Memórias, de l’Étoile: durante o reinado de Henrique III, uma dama, ao descobrir a infidelidade do marido, o apunhalou.
O amor-próprio de Julien sentia-se lisonjeado. Uma pessoa cercada de tantos respeitos, e que, nas palavras do acadêmico, dirigia toda a casa, dignava-se falar-lhe de um jeito que podia quase parecer amizade.
Eu estava enganado, pensou logo em seguida Julien; não se trata de familiaridade, sou apenas um confidente de tragédia, é a necessidade de falar. Sou tido por sábio nesta família. Vou ler Brantôme, d’Aubigné, l’Étoile, assim poderei contestar algumas das anedotas de que me fala a srta. de La Mole. Quero deixar esse papel de confidente passivo.
os poucos, suas conversas com essa moça, de um porte tão imponente e ao mesmo tempo tão desembaraçado, tornaram-se mais interessantes. Ele esquecia seu triste papel de plebeu revoltado. Achava-a uma pessoa culta, e mesmo razoável. Suas opiniões no jardim eram muito diferentes das que ela mostrava no salão. Às vezes tinha com ele um entusiasmo e uma franqueza que formavam um contraste perfeito com sua maneira de ser usual, tão orgulhosa e fria.
As guerras da Liga são os tempos heroicos da França, disse ela um dia, com olhos faiscantes de gênio e de entusiasmo. Cada um combatia então para obter uma certa coisa desejada, para fazer triunfar seu partido, e não para ganhar vulgarmente uma medalha como no tempo do seu imperador. Convenha que havia menos egoísmo e mesquinhez. Gosto daquele século.

– E Boniface de La Mole foi seu herói, disse ele.

– Pelo menos, foi amado como talvez seja doce sê-lo. Que mulher atualmente viva não teria horror de tocar a cabeça de seu amante decapitado?

A sra. de La Mole chamou a filha. A hipocrisia, para ser útil, deve ocultar-se; e Julien, como se percebe, fizera à srta. de La Mole uma semiconfidência sobre sua admiração por Napoleão.
Eis a imensa vantagem que eles têm sobre nós, pensou Julien, tendo ficado a sós no jardim. A história de seus antepassados os eleva acima dos sentimentos vulgares, e eles não precisam pensar em sua subsistência! Que miséria! Acrescentava com amargor, sou indigno de pensar sobre esses grandes assuntos. Minha vida não passa de uma série de hipocrisias, porque não tenho mil francos de renda para manter-me.

– Em que está pensando, senhor?, disse-lhe Mathil de, que retornava correndo.

Julien estava cansado de desprezar-se. Por orgulho, disse francamente o que pensava. Corou muito ao falar de sua pobreza a uma pessoa tão rica. Procurou mostrar claramente, por seu tom orgulhoso, que não estava pedindo nada. Ele nunca parecera tão belo a Mathilde, que viu nele uma expressão de sensibilidade e de franqueza que com frequência lhe faltava.
Menos de um mês depois, Julien passeava pensativo pelo jardim da mansão de La Mole; mas seu rosto não tinha mais a dureza e a arrogância filosófica que nele imprimia o sentimento contínuo de sua inferioridade. Acabava de reconduzir até a porta do salão a srta. de La Mole, que dizia ter torcido o pé ao correr com seu irmão.
Ela apoiou-se em meu braço de um modo bastante singular!, dizia-se Julien. Sou um presumido ou seria verdade que ela gosta de mim? Escuta-me com um ar tão doce, mesmo quando lhe confesso os sofrimentos de meu orgulho! Logo ela, tão orgulhosa com todo o mundo! Ficariam muito espantados no salão se lhe vissem tal fisionomia. Essa expressão doce e amável, é certo que não a tem com ninguém.
Julien procurava não exagerar essa singular amizade, comparando-a a um comércio armado. Todo dia ao reencontrarem-se, antes de retomarem o tom quase íntimo da véspera, era como se perguntassem: seremos hoje amigos ou inimigos? Julien compreendera que deixar-se ofender impunemente uma única vez por aquela jovem orgulhosa era perder tudo. Se devo indispor-me, não será melhor que seja desde o início, defendendo os justos direitos de meu orgulho, e não repelindo as marcas de desprezo que logo acompanhariam o menor abandono do que devo à minha dignidade pessoal?
Várias vezes, em dias de mau humor, Mathilde tentou adotar com ele o tom de uma grande dama, o que fazia com rara delicadeza; mas Julien repelia rudemente essas tentativas.
Certo dia, ele a interrompeu bruscamente:

– A senhorita de La Mole tem alguma ordem a dar ao secretário de seu pai?, perguntou. Ele deve escutar suas ordens e executá-las com respeito; mas, de resto, não tem a obrigação de dirigir-lhe a palavra. Ele não é pago para comunicar-lhe seus pensamentos.

Essa maneira de ser e as dúvidas singulares de Julien fizeram desaparecer o tédio que ele sentia regularmente naquele salão magnífico, onde havia um medo de tudo e onde não era conveniente fazer qualquer gracejo.
Seria divertido se ela me amasse. Quer me ame ou não, continuava Julien, tenho por confidente íntima uma mulher de espírito, diante da qual vejo tremer a casa inteira e, mais do que todos, o marquês de Croisenois, esse jovem polido, amável, corajoso, que reúne todas as vantagens de nascimento e de fortuna, das quais uma só já deixaria meu coração tão à vontade! Ele está loucamente apaixonado, quer casar com ela. Quantas cartas o sr. de La Mole fez-me escrever aos dois notários para arranjar o contrato! E eu, que me vejo tão subalterno ao redigi-las, duas horas depois, aqui no jardim, triunfo desse jovem tão amável: pois, enfim, as preferências são visíveis, diretas. Pode ser também que ela odeie nele um futuro marido. Tem bastante altivez para isso. E as amabilidades que demonstra comigo, obtenho-as a título de confidente subalterno.
Mas não, ou estou louco, ou ela me corteja; quanto mais mostro-me frio e respeitoso com ela, mais ela me procura. Isso poderia ser uma atitude fingida; mas vejo seus olhos animarem-se quando apareço de improviso. Sabem as mulheres de Paris fingir a esse ponto? Que importa! Tenho a aparência a meu favor, desfrutemos das aparências. Meu Deus, como ela é bela! Como seus grandes olhos azuis me agradam, vistos de perto, e olhando-me como o fazem com frequência! Que diferença entre esta primavera e a do ano passado, quando eu vivia infeliz e sustentando-me à força de caráter, em meio a trezentos hipócritas perversos e sórdidos! Eu estava ficando quase tão perverso quanto eles.
Nos dias de desconfiança, Julien pensava: Essa moça zomba de mim. Está de conluio com o irmão para ludibriar-me. Mas ela dá a impressão de desprezar tanto a falta de energia desse irmão! Ele é corajoso, nada mais que isso, ela me disse. Não tem um pensamento que ouse afastar-se da moda. Sou sempre eu que sou obrigada a defendê-lo, eu, uma moça de dezenove anos! Com essa idade, pode-se ser fiel, a cada instante do dia, à hipocrisia prescrita?
Por outro lado, sempre que a srta. de La Mole fixa em mim seus grandes olhos azuis com uma certa expressão singular, o conde Norbert afasta-se. Isso é suspeito; ele não deveria indignar-se com o fato de a irmã distinguir um cria do de sua casa? Foi com essa palavra que ouvi o duque de Chaulnes referir-se a mim. A tal lembrança, a cólera substituía em Julien qualquer outro sentimento: Esse duque maníaco diz isso por amor à linguagem antiga?
Bem, mas ela é bonita! continuava Julien, com olhares de tigre. Eu a terei, depois cairei fora, e ai de quem perturbar-me em minha fuga!
Essa ideia tornou-se a única preocupação de Julien, não conseguia mais pensar noutra coisa. Seus dias passavam como horas.
A todo instante, buscando ocupar-se de algum assunto sério, seu pensamento abandonava tudo, e ele despertava um quarto de hora depois, o coração palpitando, a cabeça confusa, e sonhando com esta ideia: ela me ama?


continua página 214...

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ADVERTÊNCIA DO EDITOR

Esta obra estava prestes a ser publicada quando os grandes acontecimentos de julho [de 1830] vieram dar a todos os espíritos uma direção pouco favorável aos jogos da imaginação. Temos motivos para acreditar que as páginas seguintes foram escritas em 1827.

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Henri-Marie Beylemais conhecido como Stendhal (Grenoble, 23 de janeiro de 1783 — Paris, 23 de março de 1842) foi um escritor francês reputado pela fineza na análise dos sentimentos de seus personagens e por seu estilo deliberadamente seco.
Órfão de mãe desde 1789, criou-se entre seu pai e sua tia. Rejeitou as virtudes monárquicas e religiosas que lhe inculcaram e expressou cedo a vontade de fugir de sua cidade natal. Abertamente republicano, acolheu com entusiasmo a execução do rei e celebrou inclusive a breve detenção de seu pai. A partir de 1796 foi aluno da Escola central de Grenoble e em 1799 conseguiu o primeiro prêmio de matemática. Viajou a Paris para ingressar na Escola Politécnica, mas adoeceu e não pôde se apresentar à prova de acesso. Graças a Pierre Daru, um parente longínquo que se converteria em seu protetor, começou a trabalhar no ministério de Guerra.
Enviado pelo exército como ajudante do general Michaud, em 1800 descobriu a Itália, país que tomou como sua pátria de escolha. Desenganado da vida militar, abandonou o exército em 1801. Entre os salões e teatros parisienses, sempre apaixonado de uma mulher diferente, começou (sem sucesso) a cultivar ambições literárias. Em precária situação econômica, Daru lhe conseguiu um novo posto como intendente militar em Brunswick, destino em que permaneceu entre 1806 e 1808. Admirador incondicional de Napoleão, exerceu diversos cargos oficiais e participou nas campanhas imperiais. Em 1814, após queda do corso, se exilou na Itália, fixou sua residência em Milão e efetuou várias viagens pela península italiana. Publicou seus primeiros livros de crítica de arte sob o pseudônimo de L. A. C. Bombet, e em 1817 apareceu Roma, Nápoles e Florença, um ensaio mais original, onde mistura a crítica com recordações pessoais, no que utilizou por primeira vez o pseudônimo de Stendhal. O governo austríaco lhe acusou de apoiar o movimento independentista italiano, pelo que abandonou Milão em 1821, passou por Londres e se instalou de novo em Paris, quando terminou a perseguição aos aliados de Napoleão.
"Dandy" afamado, frequentava os salões de maneira assídua, enquanto sobrevivia com os rendimentos obtidos com as suas colaborações em algumas revistas literárias inglesas. Em 1822 publicou Sobre o amor, ensaio baseado em boa parte nas suas próprias experiências e no qual exprimia ideias bastante avançadas; destaca a sua teoria da cristalização, processo pelo que o espírito, adaptando a realidade aos seus desejos, cobre de perfeições o objeto do desejo.
Estabeleceu o seu renome de escritor graças à Vida de Rossini e às duas partes de seu Racine e Shakespeare, autêntico manifesto do romantismo. Depois de uma relação sentimental com a atriz Clémentine Curial, que durou até 1826, empreendeu novas viagens ao Reino Unido e Itália e redigiu a sua primeira novela, Armance. Em 1828, sem dinheiro nem sucesso literário, solicitou um posto na Biblioteca Real, que não lhe foi concedido; afundado numa péssima situação económica, a morte do conde de Daru, no ano seguinte, afetou-o particularmente. Superou este período difícil graças aos cargos de cônsul que obteve primeiro em Trieste e mais tarde em Civitavecchia, enquanto se entregava sem reservas à literatura.
Em 1830 aparece sua primeira obra-prima: O Vermelho e o Negro, uma crónica analítica da sociedade francesa na época da Restauração, na qual Stendhal representou as ambições da sua época e as contradições da emergente sociedade de classes, destacando sobretudo a análise psicológica das personagens e o estilo direto e objetivo da narração. Em 1839 publicou A Cartuxa de Parma, muito mais novelesca do que a sua obra anterior, que escreveu em apenas dois meses e que por sua espontaneidade constitui uma confissão poética extraordinariamente sincera, ainda que só tivesse recebido o elogio de Honoré de Balzac.
Ambas são novelas de aprendizagem e partilham rasgos românticos e realistas; nelas aparece um novo tipo de herói, tipicamente moderno, caracterizado pelo seu isolamento da sociedade e o seu confronto com as suas convenções e ideais, no que muito possivelmente se reflete em parte a personalidade do próprio Stendhal.
Outra importante obra de Stendhal é Napoleão, na qual o escritor narra momentos importantes da vida do grande general Bonaparte. Como o próprio Stendhal descreve no início deste livro, havia na época (1837) uma carência de registos referentes ao período da carreira militar de Napoleão, sobretudo a sua atuação nas várias batalhas na Itália. Dessa forma, e também porque Stendhal era um admirador incondicional do corso, a obra prioriza a emergência de Bonaparte no cenário militar, entre os anos de 1796 e 1797 nas batalhas italianas. Declarou, certa vez, que não considerava morrer na rua algo indigno e, curiosamente, faleceu de um ataque de apoplexia, na rua, sem concluir a sua última obra, Lamiel, que foi publicada muito depois da sua morte.
O reconhecimento da obra de Stendhal, como ele mesmo previu, só se iniciou cerca de cinquenta anos após sua morte, ocorrida em 1842, na cidade de Paris.



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Leia também:

Stendhal - O Vermelho e o Negro: A Rainha Marguerite (X)


mulheres descalças: o café esfriou

 mulheres descalças



o café esfriou
Ensaio 102Ba1 – 2ª edição 1ª reimpressão


baitasar



todo começo da manhã, dia com sol ou chuva, ventania do minuano ou quentura mormacenta, tinha um caso novo prus trêis palavreá – mais um quarto vivente da gente do bem que sempre chegava depois do café e dos assunto tá servido – na taberna do café e leite inté as metade das manhã, depois o bolicho tomava conta, as cachaça começava sê água benta usada como iguaria à mesa enquanto uspretu era descido do pelôrinho, tumbém servido como iguaria e entretenimento na vida costumêra e ajustada aos afazeres da villa, todo começo de dia ensolarado, nuviado ou mormacento, gelado ou calorento, foi igual ano depois de ano

Maneco, vosmecê viu a correria na praça?

a prugunta fez usdois sentado à mesa voltá as vista pru dono da casa das bebida quente e fria, tava vestido com sua armadura branca qui usava amarrada na cintura, ainda cuas mancha duso dias antes

E correria na praça tem novidade? Tem para todos os gostos. Já teve negro enfiado na canga, já teve acorrentado pelo pescoço, puxado, empurrado, enforcado, arranhado ou esfolado, tudo com cabelo duro, espetado ou raspado. O que não falta é rastro de suor e sangue.

Não se tem sossego...

No fim de tudo, é a polícia pública que corre atrás ou serviço é feito pela gente de bem na Villa. 

Negro fujão precisa ser preso.

Isso mesmo...

Boa vontade se paga com boa vontade, ingratidão se paga com canga e um bom corretivo no pelourinho, Juca.

as vontade duódio parecia qui se resistia mais e mais, dia depois do dia, ali na praça, na villa toda, nas casa e nas cama do nascimento inté morrê

Acho que quando chega nestes termos, uotro sentado pru café parecia muntu na sua vontade entre os grito de justiçamento qui brotava devagarzinho, o ajuntamento tinha começado sem pressa, é preciso um castigo exemplar. Só assim se vai desencorajar outras rebeldias.

Isso vai longe.

Tenho minhas dúvidas, acho que colocam as mãos no negrinho antes da metade do dia.

Hum... tenho cá... minhas dúvidas...

usdois resolveu num retrucá, as vista continuô na praça depois do sinal da cruz feito, a manda tava se ajuntando, corria prum lado e otro pra tê o meió lugá divê, assumbiava febrenta, a villa parecia tá só limpado a garganta seca com tanta babação e usóio esbugaiado, num tem ninguém ali qui se importa cuas injustiça, esquecidos e injustiçados fazendo injustiça cuas mão própria de tanto comê pirão frio, morrê ou mata passô num tê importância

Isso tudo não faz crescer o entusiasmo por esse lugar esquecido do Império. É fácil aprender a viver...

Ou morrer...

Acredito que o destino de cada um já está tramado, o cafetêro pegô com as duas mão a ponta da armadura de linho manchada... e secô a testa, mais um pão com linguiça?

Pode trazer, essa correria toda me abre o apetite...

Amém, e sem combinação ou intenção de fazê junto, usdois ergueu as taça do café e leite, um contentamento qui dava pra vê, qui se vê, um nó cego na obediência dócil da vontade qui num vê pruqui num qué vê, uma fascinação alucinada, tudo quié contrário num pode existí, villêro num consegue se controlá do costume disê infeliz, é só deixá eles falá e sabê escutá

É... começou mais cedo... antes, bem antes do café esfriar, continuô o joca dos lampião

Vagabundo demais e polícia pública de menos, reclamô maneco coxa, desse jeito a praça não consegue se acomodar.

O mesmo assunto todos os dias, já está ficando chato.

Hum... cansativo...? O movimento é bom, às vezes, um pouco exagerado, mas é só sentar e observar. Olha lá, viu? A praça está sempre se mexendo.

Principalmente, as negrinhas... não é? Seu manco desavergonhado...

Eita gingado do demônio, é muita provocação... não tem santo que resista...

Calma, Maneco... e a linguiça...

o cafetêro num se apressô respondê

O que me incomoda aqui na botica é ver a mendicância que continua aumentando. Entram sem pedir licença e a cachorrada entra junto, o palavreado parô, a luz alaranjada se mostrô nos telhado e na praça, tingindo as ruas sem querê sabê e sem pruguntá se podia subí, dá nojo andar nas ruas... o movimento está fraco. As pessoas de bem da Villa parecem com medo de caminhar nas ruas, a claridade alaranjada do sol nas água do rio fez a botica toda silenciá, só a beleza talentosa do mundo faz as boca dubem emudecê, num muda curação nenhum, mais consegue um trégua, tumbém num dura muntu mais qui uma piscadela suspensa

Para acabar com esse medo não tem solução outra, meu amigo. O pecado é juntar no mesmo cesto do negrinho bom os negrinhos já estragados com a rebeldia no sangue. É preciso separar e fazer os ruins sangrarem marcando com ferro e fogo.

Tem que existir um jeito seguro de separar no nascedouro os negrinhos azedos e mimados do negrinho respeitoso e trabalhador.

Concordo, meu amigo, palavreô maneco coxa, batendo com a mão pesada na mesa, isso seria de muita utilidade para prevenir problemas futuros.

Eu não ajudo mendicância. Não tem como separar quem precisa realmente e crioulo vagabundo que não quer trabalhar de teimoso e preguiçoso. Tem que ter um jeito de separar o negro bom da crioulada ruim.

Na virada... toda ajuda eles trocam por cachaça.

Eu ajudo, vez que outra. Mas é ajuda tipo um pouquinho de cada vez... para não acostumar o coitado mal.

otra calação das boca, desta veiz pra recebê o augusto torto

Então, perdi alguma coisa?

Ora, ora... Augusto. Nada diferente de ontem ou amanhã... mas o café esfriou...

e o dia num tinha esquentado ainda


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é bão lê, tumbém... sequisé:

histórias de avoinha: Sinto-me tão só
histórias de avoinha: um império invisível
histórias de avoinha: uma sombra sem corpo não cruza as pernas
histórias de avoinha: Bagaço hipócrita!
histórias de avoinha: a vaga de marido
histórias de avoinha: a lua na escuridão
histórias de avoinha: chegô no piano
histórias de avoinha: o silêncio no brejo dos pensamento
histórias de avoinha: borboleta preta
histórias de avoinha: Obrigada, Açunta!
histórias de avoinha: ôum velório de vida
histórias de avoinha: o feitiço das trança
histórias de avoinha: o siô ajeitado e as duas miúda
histórias de avoinha: Simão
mulheres descalças: é mansa...
mulheres descalças: Mas você devia!
mulheres descalças: Dez sacas, o amigo concorda?
mulheres descalças: café ralo e mandioca cuzida
mulheres descalças: o descuido da miúda
mulheres descalças: a traste
mulheres descalças: até quando
mulheres descalças: uma sombra silenciosa
mulheres descalças: a perigosa é ela
mulheres descalças: uma resposta deboche
mulheres descalças: gostar sem resistir
mulheres descalças: buraco do barranco
mulheres descalças: caridade é uma brisa morna
mulheres descalças: hipócrita, egoísta e cega d’ódio
mulheres descalças: a pulícia pública
mulheres descalças: a vida num é simples
mulheres descalças: na solidão sozinha
mulheres descalças: usdois contra cadum
mulheres descalças: fofocando comigo mesma
mulheres descalças: felicidade não existe
mulheres descalças: um gosto diódio

mulheres descalças: o café esfriou



Machado de Assis - Na Arca: Capítulo B

  Avulsos - ...


Machado de Assis




NA ARCA
 TRÊS CAPÍTULOS INÉDITOS DO GÊNESIS 



CAPÍTULO B



1. — Ora, Jafé, tendo curtido a cólera, começou a espumar pela boca, e Cam falou-lhe palavras de brandura,

2. — Dizendo: — “Vejamos um meio de conciliar tudo; vou chamar tua mulher e a mulher de Sem”.

3. — Um e outro, porém, recusaram dizendo que o caso era de direito e não de persuasão.

4. — E Sem propôs a Jafé que compensasse os dez côvados perdidos, medindo outros tantos nos fundos da terra dele. Mas Jafé respondeu:

5. — “Por que me não mandas logo para os confins do mundo? Já te não contentas com quinhentos côvados; queres quinhentos e dez, e eu que fique com quatrocentos e noventa.

6. — “Tu não tens sentimentos morais? não sabes o que é justiça? não vês que me esbulhas descaradamente? e não percebes que eu saberei defender o que é meu, ainda com risco de vida?

7. — “E que, se é preciso correr sangue, o sangue há de correr já e já,

8. — “Para te castigar a soberba e lavar a tua iniquidade?”

9. — Então Sem avançou para Jafé; mas Cam interpôs-se, pondo uma das mãos no peito de cada um;

10. — Enquanto o lobo e o cordeiro, que durante os dias do dilúvio, tinham vivido na mais doce concórdia, ouvindo o rumor das vozes, vieram espreitar a briga dos dois irmãos, e começaram a vigiar-se um ao outro.

11. — E disse Cam: — “Ora, pois, tenho uma idéia maravilhosa, que há de acomodar tudo;

12. — “A qual me é inspirada pelo amor, que tenho a meus irmãos. Sacrificarei pois a terra que me couber ao lado de meu pai, e ficarei com o rio e as duas margens, dando-me vós uns vinte côvados cada um.”

13. — E Sem e Jafé riram com desprezo e sarcasmo, dizendo: — “Vai plantar tâmaras! Guarda a tua ideia para os dias da velhice”. E puxaram as orelhas e o nariz de Cam; e Jafé, metendo dois dedos na boca, imitou o silvo da serpente, em ar de surriada.

14. — Ora, Cam, envergonhado e irritado, espalmou a mão dizendo: — “Deixa estar!” e foi dali ter com o pai e as mulheres dos dois irmãos.

15. — Jafé porém disse a Sem: — “Agora que estamos sós, vamos decidir este grave caso, ou seja de língua ou de punho. Ou tu me cedes as duas margens, ou eu te quebro uma costela.”

16. — Dizendo isto, Jafé ameaçou a Sem com os punhos fechados, enquanto Sem, derreando o corpo, disse com voz irada: “Não te cedo nada, gatuno!”

17. — Ao que Jafé retorquiu irado: “Gatuno és tu!”

18. — Isto dito, avançaram um para o outro e atracaram-se. Jafé tinha o braço rijo e adestrado; Sem era forte na resistência. Então Jafé, segurando o irmão pela cinta, apertou-o fortemente, bradando: “De quem é o rio?”

19. — E respondendo Sem: — “É meu!” Jafé fez um gesto para derrubá-lo; mas Sem, que era forte, sacudiu o corpo e atirou o irmão para longe; Jafé, porém, espumando de cólera, tornou a apertar o irmão, e os dois lutaram braço a braço,

20. — Suando e bufando como touros.

21. — Na luta, caíram e rolaram, esmurrando-se um ao outro; o sangue saía dos narizes, dos beiços, das faces; ora vencia Jafé,

22. — Ora vencia Sem; porque a raiva animava-os igualmente, e eles lutavam com as mãos, os pés, os dentes e as unhas; e a arca estremecia como se de novo se houvessem aberto as cataratas do céu.

23. — Então as vozes e brados chegaram aos ouvidos de Noé, ao mesmo tempo que seu filho Cam, que lhe apareceu clamando: “Meu pai, meu pai, se de Caim se tomará vingança sete vezes, e de Lameque setenta vezes sete, o que será de Jafé e Sem?”

24. — E pedindo Noé que explicasse o dito, Cam referiu a discórdia dos dois irmãos, e a ira que os animava, e disse: — “Correi a aquietá-los”. Noé disse: — “Vamos”.

25. — A arca, porém, boiava sobre as águas do abismo.




continua página 47 mais avulsos...

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Leia também:



Machado de Assis - O alienista: 01 - De Como Itaguaí Ganhou Uma Casa De Orates
Machado de Assis - O alienista: 02 - Torrente De Loucos
Machado de Assis - O alienista: 03 - Deus sabe o que faz
Machado de Assis - O alienista: 04 - Uma Teoria Nova
Machado de Assis - O alienista: 05 - O Terror
Machado de Assis - O alienista: 06 - A Rebelião
Machado de Assis - O alienista: 07 - O Inesperado
Machado de Assis - O alienista: 08 - As Angústias do Boticário
Machado de Assis - O alienista: 09 - Dois Lindos Casos
Machado de Assis - O alienista: 10 - A Restauração
Machado de Assis - O alienista: 11 - O assombro de Itaguaí
Machado de Assis - O alienista: 12 - O Final do § 4º
Machado de Assis - O alienista: 13 - Plus Ultra!
Machado de Assis - Teoria do medalhão
Machado de Assis - A chinela turca
Machado de Assis - Na Arca: Capítulo A
Machado de Assis - Na Arca: Capítulo B
Machado de Assis - Na Arca: Capítulo C


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ÍNDICE:


ADVERTÊNCIA 
O ALIENISTA 
TEORIA DO MEDALHÃO 
A CHINELA TURCA 
NA ARCA 
D. BENEDITA 
O SEGREDO DO BONZO 
O ANEL DE POLÍCRATES
O EMPRÉSTIMO 
A SERENÍSSIMA REPÚBLICA 
O ESPELHO 
UMA VISITA DE ALCIBÍADES 
VERBA TESTAMENTÁRIA 
NOTAS DO AUTOR
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Papéis Avulsos

Texto-fonte:
Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994. 
Publicado originalmente por Lombaerts & Cia, Rio de Janeiro, 1882.




Nada tenho que ver com a ciência; mas se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?


Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (28)

Honoré de Balzac - A Comédia Humana / Vol 1



1
Estudos de Costumes 
- Cenas da Vida Privada




Memórias de duas jovens esposas





PRIMEIRA PARTE



XXVIII – RENATA DE L’ESTORADE A LUÍSA DE MACUMER 


Dezembro de 1825 

Minha muito feliz Luísa, deslumbraste-me. Durante alguns instantes sustive. nas mãos tua carta, na qual brilhavam ao sol poente algumas lágrimas minhas, ficando de braços caídos e sozinha ao pé do rochedo árido, onde mandei colocar um banco. Ao longe, como uma lâmina de aço, brilha o Mediterrâneo. Algumas árvores fragrantes sombreiam este banco, junto do qual fiz plantar um enorme jasmineiro, madressilvas e algumas giestas. O rochedo, um dia, ficará completamente coberto de trepadeiras. Já lá tenho vinhas virgens. Mas o inverno se aproxima, e toda essa verdura parece uma velha tapeçaria. Quando estou aqui ninguém me vem perturbar, pois sabem que desejo estar só. Esse banco se chama o banco de Luísa. Não equivale isso a dizer-te que não fico sozinha aqui, embora só?

Se te refiro esses detalhes, tão insignificantes para ti, se te pinto essa verdejante esperança que, por antecipação, reveste esse rochedo nu, imponente, no alto do qual os acasos da vegetação colocaram um dos mais belos pinheiros, é porque encontrei aqui imagens a que me afeiçoei.

Alegrando-me com teu feliz casamento (e por que não te confessarei tudo?), invejando-o com todas as minhas forças, senti o primeiro movimento de meu filho, que, das profundezas de minha vida, reagiu sobre as profundezas de minha alma. Essa surda sensação que é ao mesmo tempo um aviso, um prazer, uma dor, uma promessa, uma realidade; essa felicidade que é só minha no mundo e que se mantém um segredo entre mim e Deus, esse mistério me revelou que o rochedo seria um dia recoberto de flores, que os alegres risos de uma família ali ressoariam, que as minhas entranhas estavam por fim abençoadas e dariam vida a jorros. Senti que nascera para mãe! Por isso a primeira certeza que tive de trazer em mim uma outra vida me deu benfazejas consolações. Uma imensa alegria coroou todos estes longos dias de dedicação que já fizeram a felicidade de Luís.

— Dedicação! — a mim mesma perguntei. — Não serás tu mais do que o amor? Não és tu a mais profunda volúpia, por seres uma volúpia abstrata, a volúpia geradora? Não serás tu, ó Dedicação, a faculdade superior ao efeito? Não és tu a misteriosa e infatigável divindade oculta sob as inúmeras esferas, num centro desconhecido por onde passam sucessivamente todos os mundos? A Dedicação, sozinha no seu segredo, cheia de prazeres saboreados em silêncio, sobre os quais ninguém dirige um olhar profano e que ninguém suspeita, a Dedicação, densa, ciosa e acabrunhante, deusa vencedora e forte, inesgotável por participar da própria natureza das coisas e que é assim sempre igual a si mesma, apesar do derramamento de suas forças, a Dedicação, eis pois o signo de minha vida.

O amor, Luísa, é um esforço de Felipe sobre ti, mas a irradiação de minha vida sobre a família provocará uma reação incessante desse pequenino mundo sobre mim! Tua bela messe dourada é passageira; mas a minha, embora retardada, não será por isso mais durável? Renovar-se-á de momento a momento. O amor é o mais lindo furto que a sociedade soube fazer à natureza; mas a maternidade não é a natureza na sua felicidade? Um sorriso secou-me as lágrimas. O amor torna o meu Luís feliz: mas o casamento fez-me mãe e também quero ser feliz! Voltei então vagarosamente ao meu branco bastião de persianas verdes para escrever-te esta.

Portanto, querida, o fato mais natural e mais surpreendente em nós firmou-se em mim faz cinco meses; mas posso dizer-te baixinho que em nada ele perturba meu coração, nem minha inteligência. Vejo-os a todos felizes: o futuro avô usurpa os direitos do neto, tornou-se uma espécie de criança; o pai toma ares graves e inquietos; todos me cercam de cuidados, falam da felicidade de ser mãe. Ai de mim! Se eu nada sinto e não me animo a confessar o estado de insensibilidade perfeita em que estou.

Minto um pouco para não lhes toldar a alegria. Como contigo me é permitido ser franca, confesso-te que, na crise em que me acho, a maternidade começa apenas na imaginação. Luís ficou tão surpreendido, como eu mesma, de minha gravidez. Não equivale isso a dizer-te que esta criança veio por si mesma, sem ter sido desejada mais do que pelos votos impacientemente expressos pelo pai? O acaso, querida, é o deus da maternidade. Porquanto, segundo diz nosso médico, esses acasos estejam em harmonia com os desígnios da natureza, ele não me negou que as crianças, que tão graciosamente são denominadas filhas do amor, deviam ser belas e inteligentes; que suas vidas eram, muitas vezes, como que protegidas pela felicidade que, brilhante estrela!, irradiara por ocasião da sua concepção. Talvez, portanto, Luísa, terás em tua maternidade alegrias que devo ignorar na minha. É possível que se queira mais ao filho de um homem adorado, como tu adoras Felipe, que ao de um marido que se desposou por conveniência, ao qual nos entregamos por dever, para afinal de contas sermos mulheres! Esses pensamentos, guardados no fundo do meu coração, concorrem para aumentar minha gravidade de mãe, em esperança. Mas, como não há família sem filhos, meu desejo quisera apressar o instante no qual começarão para mim os prazeres da família, que deverão constituir toda a minha existência. Neste momento minha vida é uma vida de espera e de mistério, na qual o mais nauseabundo sofrimento habitua, sem dúvida, a mulher a outros sofrimentos. Observo-me. Apesar dos esforços de Luís, cujo amor me cerca de cuidados, de carinhos e de ternuras, tenho vagas inquietações, às quais se misturam os enjoos, as perturbações, os singulares desejos da gravidez. Para te dizer toda a verdade, correndo embora o risco de te causar alguma repugnância pelo ofício, confesso-te que não compreendo a fantasia que experimento por certas laranjas, gosto estranho, mas que acho natural. Meu marido vai buscar em Marselha para mim as mais belas laranjas do mundo; ele as faz vir de Malta, de Portugal e da Córsega; eu, porém, as desprezo. Vou a Marselha algumas vezes a pé devorar laranjas ordinárias, de um vintém, quase podres, numa ruazinha estreita que desce para o porto a dois passos da Municipalidade; e seu bolor azulado ou esverdeado brilha a meus olhos como diamantes; vejo nele flores, não tenho impressão nenhuma de seu cheiro corrompido e acho-lhe um sabor irritante, um calor vinhoso, um delicioso gosto. Pois aí está, meu anjo, são essas as primeiras sensações amorosas da minha vida. Essas horríveis laranjas são os meus amores. Tu não desejas tanto Felipe quanto eu uma dessas frutas em decomposição. Enfim, saio algumas vezes furtivamente, corro até Marselha com passo célere e sinto estremecimentos voluptuosos quando me aproximo da rua: tenho medo de que a vendedora não tenha laranjas podres, atiro-me sobre elas, como-as, devoro-as ao ar livre. Parece-me que essas frutas vêm do paraíso e constituem o mais suave alimento. Vi Luís desviar-se para não lhes sentir o mau cheiro. Lembrei-me daquela frase atroz de Obermann,[1] elegia sombria que me arrependo de ter lido: As raízes se desalteram numa água fétida! Desde que comi essas frutas, nada mais sinto no coração, e minha saúde se restabeleceu. Essas depravações têm um sentido, pois são um efeito natural, e a metade das mulheres sente desses desejos, algumas vezes monstruosos. Quando minha gravidez se tornar bastante visível não sairei mais da Crampade, não me agradaria ser vista nessas condições.

Estou excessivamente curiosa por saber em que momento da vida começa o sentimento materno. Não pode ser no instante das pavorosas dores que eu temo.

Adeus, minha feliz! Adeus, tu, em quem torno a nascer e por quem me são revelados os belos amores, os ciúmes por causa de um olhar, essas palavras sussurradas ao ouvido e esses prazeres que nos envolvem como uma outra atmosfera, um outro sangue, uma outra luz, uma outra vida! Ah! Mimosa, também eu compreendo o amor. Não te canses de me dizer tudo. Cumpramos rigorosamente o que convencionamos. Quanto a mim, nada te pouparei. Por isso, eu te direi para terminar sisudamente esta carta que, ao reler-te, fui assaltada por um profundo e invencível terror. Pareceu-me que esse esplêndido amor desafiava Deus. O soberano senhor do mundo, o Infortúnio, não irá zangar-se por não ter um lugar no vosso festim? Quantas soberbas fortunas não derrubou ele? Ah! Luísa, não te esqueças, em meio a tua felicidade, de rogar a Deus. Faze o bem, sê caridosa e boa; enfim, exorciza a adversidade com a tua modéstia. Depois do meu casamento, eu me tornei mais devota ainda do que era no convento. Nada me dizes da religião em Paris. Na tua adoração por Felipe, parece-me que te diriges, contra o provérbio, mais ao santo do que a Deus. Meu terror, porém, é excesso de amizade. Vocês vão juntos à igreja e praticam o bem em segredo, não é? Vais achar-me, talvez, demasiado provinciana neste fim de carta. Lembra-te, porém, que meus temores encobrem uma extrema amizade, a amizade como a entende La Fontaine,[2] a que se inquieta e se alarma com um sonho, com uma ideia no estado de nuvem. Mereces ser feliz, pois que pensas em mim na tua felicidade, da mesma forma que eu penso em ti na minha vida monótona, um pouco incolor, mas cheia, sóbria, mas produtiva: sê pois bendita!



continua pág 308...
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[1]Obermann (1804): famoso romance melancólico de Senancour, cujo herói é um parente francês do Werther, de Goethe. O livro, formado por uma série de cartas sem resposta a um amigo, nas quais Obermann conta suas desilusões, sua desorientação, a inquietação de seu espírito, era muito lido e ainda mais citado durante a primeira parte do século XIX.

[2] Alusão à fábula Os dois amigos (Fábulas, VIII, 11).

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Honoré de Balzac (Tours, 20 de maio de 1799 — Paris, 18 de agosto de 1850) foi um produtivo escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna.[1][2] Sua magnum opus, A Comédia Humana, consiste de 95 romances, novelas e contos que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815.

Entre seus romances mais famosos destacam-se A Mulher de Trinta Anos (1831-32), Eugènie Grandet (1833), O Pai Goriot (1834), O Lírio do Vale (1835), As Ilusões Perdidas (1839), A Prima Bette (1846) e O Primo Pons (1847). Desde Le Dernier Chouan (1829), que depois se transformaria em Les Chouans (1829, na tradução brasileira A Bretanha), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pintura dos ambientes rurais, como em Os Camponeses, de 1844.[1] Além de romances, escreveu também "estudos filosóficos" (como A Procura do Absoluto, 1834) e estudos analíticos (como a Fisiologia do Casamento, que causou escândalo ao ser publicado em 1829).

Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava.[1] De certo modo, suas despesas foram a razão pela qual, desde 1832 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust, Zola, Dickens, Dostoyevsky, Flaubert, Henry James, Machado de Assis, Castelo Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. Participante da vida mundana parisiense, teve vários relacionamentos, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polonesa Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer.


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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Balzac, Honoré de, 1799-1850. 
          A comédia humana: estudos de costumes: cenas da vida privada / Honoré de Balzac;                            orientação, introduções e notas de Paulo Rónai; tradução de Vidal de Oliveira; 3. ed. – São                  Paulo: Globo, 2012. 

          (A comédia humana; v. 1) Título original: La comédie humaine ISBN 978-85-250-5333-1                    0.000 kb; ePUB 

1. Romance francês i. Rónai, Paulo. ii. Título. iii. Série. 

12-13086                                                                               cdd-843 

Índices para catálogo sistemático: 
1. Romances: Literatura francesa 843

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Leia também:

Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada - Ao "Chat-Qui-Pelote" (1)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: O Baile de Sceaux (01)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: O Baile de Sceaux (07)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (1)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (1a)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (2)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (3)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (4)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (5)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (6)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (7)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (8)
Honoré Balzac - A Comédia Humana / Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (9)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (10)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (11)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (12)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (12b)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (13)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (14)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (15)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (16)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (17)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (18)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (19)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (20)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (21)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (22)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (23)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (24)
Honoré Balzac - A Comédia Humana/Cenas da Vida Privada: Memórias de duas jovens esposas (28)


sábado, 29 de maio de 2021

Grande... Guinga!

 Guinga, mais um músico incompreendido?


essa conversa sobre o músico brasileiro Guinga se originou do bate-papo que escutei no Chão de Taco #4... valeu galera do taco no chão... do chão no taco... tacotitacotitacotitaco!


A sorte está lançada
A valsa está cansada
Logo vai cessar.

No próximo compasso
Vai sumir no espaço
Vai se dissipar!



Guinga | Baião de Lacan (Guinga) | Instrumental SESC Brasil





A terra em transe franze
Racha pela beira
Feito cabaço de freira
Solta e lá vem um!
Mas o Brasil ainda batuca na ladeira:
Bafo, Congo, Exu, Taieira
Mais Cacique e Olodum...
Deus salve o budum!
Viva o murundum!
E é tuntum, e é tumtum!
Eu ouço muito elogio à barricada
Procuro as nossa por aqui
Não vejo nada
Só tomo arroto
E perdigoto no meu molho
Se tento ver mais longe
Tacam o dedo no meu olho
Quem fica na barreira
Pode até ficar roncolho
Um empresário quis
Que eu fosse a Massachutis
Oquêi, my boy! -
Cheguei pra rebentar e putz!
Voltei sem calça e um quis me seqüestrar...
Ao conferir o saldo
No vermelho fui parar
To com João Ubaldo:
Chega dessa Calcutá
- Eu to Amil por aí
Atleta do Juqueri
Um sócio a mais da Golden Cross
De carteirinha...
Tanto sofri nesse afã
Que um seguidor de Lacan
Diagnosticou stress
E me mandou pra roça descansar...
Eu fui pro Limoeiro
E encontrei o Paul Simon lá
Tentando se proclamá gerente do maufá...
Se os peão não chiá
O Boi Bumba vai virar vaca


Guinga - "Baião de Lacan" [Part.Especial Leila Pinheiro] 
(Delírio Carioca/1993)







Canção Necessária - Mônica Salmaso e Guinga





Luísa Lacerda - Canção Desnecessária
( Guinga e Mauro Aguiar )


"Guinga se emociona com Luísa Lacerda. 
Um dos momentos mais sublimes da arte musical é o instante em que a canção encontra a sua intérprete. A emoção de Guinga ao final da interpretação de Luisa Lacerda, suas palavras e seu olhar não deixam dúvida: para a nossa Canção Desnecessária viver em sua plenitude faz-se necessária a voz precisa e encantada de Luísa Lacerda. Nossa gratidão por esse presente que o tempo entrega, unindo gerações no idioma amoroso da música e da poesia." Mauro Aguiar




Enlace o meu silêncio
E valse a valsa avessa
Que te fiz em pranto.

É valsa em si contrária.
Só pisando em falso
Se pressente o chão.

A música ilusória
Quase te atravessa
Sem você dar conta.

E tanta antimatéria
Sem querer se apossa
Do seu coração.

Esqueça o tempo então
E valse um sentimento
Por dentro a valsa esquece o som
Extemporânea
Imaginária
Etérea como o amor
Até quem sabe o Grande Amor!
Amor que vem na valsa
Mas que só se confessa
Quando a valsa cessa
Amor.

Abrace o precipício
E valse a valsa imersa
Num silêncio insano.

É valsa involuntária
mansa em seu ofício
de soar em vão.

Canção desnecessária
Quase sempre acessa
Seu fundo oceano.

Se você perde o senso
Nasce na memória
Súbito salão.

Esqueça o tempo então
E valse um sentimento
Por dentro a valsa esquece o som
Extemporânea
Imaginária
Etérea como o amor
Até quem sabe o Grande Amor!
Amor que vem na valsa
Mas que só se confessa
Quando a valsa cessa
Amor.

A sorte está lançada
A valsa está cansada
Logo vai cessar.

No próximo compasso
Vai sumir no espaço
Vai se dissipar!

Enlace o universo
E valse a valsa imensa
Que te fiz sonhando.

Por mais que não pareça
nessa valsa avessa
Pulsa um coração.




Olá, Povo! 

Mais um episódio do Chão de Taco. E não só isso, mais uma série nova que estamos estreando, a série: Incompreendidos. Nessa série a gente vai trazer à luz alguns nomes que as vezes não estão presente na vida do grande público. 

E pra começar nós escolhemos o (todo mundo já leu o título; não é surpresa pra ninguém) Grande Guinga! Vem que o papo tá legal! Host: Nathália Boeira; Edição: Tiago Marques; Bancada: Madalena Rasslan, Nathália Boeira, Tiago Marques e Victória Cristina.




Entrevista com Guinga 

- Vida e Obra Guinga | FMCB 6



A idealizadora do FMCB, Thais Nicolau, entrevista o grande compositor e violonista brasileiro Guinga, homenageado no FMCB 6. Ele conta sobre sua vida, trajetória na música e inspirações em suas composições. 

Ficha técnica: Thais Nicolau (entrevistadora), Guinga (entrevistado). Local: Campinas, SP 

O FMCB (Festival de Música Contemporânea Brasileira) é um festival que alia a performance à pesquisa. O evento ocorre todos os anos, na cidade de Campinas, SP e a cada edição, dois compositores são homenageados, tendo suas obras revisitadas por outros artistas e pesquisadores. Os músicos homenageados estão presentes durante todo evento, permitindo com isso, maior interação com os participantes e o público. 

Além das comunicações orais e das apresentações artísticas em teatros, o FMCB promove também, ações culturais em diversos espaços de Campinas com o objetivo de democratizar a música e a cultura.


segunda-feira, 24 de maio de 2021

Uma Sinfonia para o Mundo

 A 9ª Sinfonia de Beethoven pelo mundo



Ludwig van Beethoven está em todo lugar. Sua 9ª Sinfonia é uma das obras clássicas mais tocadas ao redor do mundo. A DW visitou três continentes e encontrou marcas do gênio alemão num coro de 10 mil cantores em Osaka, numa orquestra na República Democrática do Congo e num projeto social de música clássica na favela paulistana de Heliópolis.




A Nona Sinfonia de Beethoven tem um status especial para os japoneses. Dez mil cantores amadores se reuniram em Osaka para um espetáculo brilhante: Eles apresentaram o "DAIKU", como é chamada a 9ª sinfonia.





Symphony No. 9 (Beethoven) 
- De Ros with Orchestra 
(guitarra e orquestra)





Una sinfonía para el mundo
- Doumentário completo