terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Marcel Proust - No Caminho de Swann (III - um amor de swann, Só ia vê-la de noite - g)

em busca do tempo perdido


volume I
No Caminho de Swann


ao senhor gaston calmette
como um testemunho de profundo e afetuoso reconhecimento
— marcel proust


um amor de swann


III(g) 


     Só ia vê-la de noite, e nada sabia do emprego do seu tempo durante o dia, como nada sabia de seu passado, de modo que lhe faltava até esse insignificante dado inicial que, permitindo-nos imaginar o que não sabemos, nos dá desejos de o conhecer. Assim, não indagava consigo o que ela podia fazer nem qual fora a sua vida. Sorria apenas algumas vezes ao pensar que, anos antes, quando não a conhecia, lhe haviam falado de uma mulher que, se bem se lembrava, devia sem dúvida ser ela, como de uma cortesã, uma mulher sustentada, uma dessas mulheres a quem ele ainda atribuía, em vista de sua pouca convivência com elas, o caráter inteiriço, fundamentalmente perverso, com que por muito tempo as dotou a imaginação de certos romancistas. Considerava que basta muitas vezes tomar ao contrário as reputações que o mundo engendra para julgar exatamente uma pessoa, quando, a tal caráter, contrapunha o de Odette, bondosa, ingênua, idealista, quase tão incapaz de faltar com a verdade que, pedindo-lhe ele uma vez, para jantar a sós com ela, que escrevesse aos Verdurin alegando doença, vira-a no dia seguinte, quando a sra. Verdurin lhe perguntou se estava melhor, enrubescer, balbuciar, refletindo sem querer na fisionomia o desgosto e o suplício que lhe causava a mentira, e, enquanto multiplicava os detalhes fantasiosos sobre a pretensa indisposição da véspera, parecia pedir perdão, com os seus olhos súplices e a sua voz desolada, da falsidade de suas palavras.
     Certas tardes, no entanto, mas de raro em raro, ia ela à casa de Swann interromper as suas cismas ou aquele ensaio sobre Vermeer a que ele voltara a dedicar-se ultimamente. Vinham dizer-lhe que a sra. de Crécy o esperava na saleta. Swann ia ao seu encontro e, quando abria a porta, pelo rosto róseo de Odette, logo que o avistava — mudando a forma de sua boca, o mirar de seus olhos, o modelado de suas faces —, espalhava-se um sorriso. Ficando a sós, revia Swann aquele sorriso, outro que ela tivera na véspera, outro com que o acolher; em tal ou tal vez, aquele que lhe dera em resposta, no carro, quando, ao arranjar-lhe as catleias, lhe perguntara ele se aquilo não lhe era desagradável; e a vida de Odette, durante o resto do tempo, como ele não conhecia nada a seu respeito, lhe aparecia com o seu fundo neutro e sem cor, semelhante a essas folhas de estudo de Watteau, onde se veem aqui e ali, em todos os lugares, em todos os sentidos, desenhados a três cores sobre o papel pardo, inumeráveis sorrisos. Mas às vezes, enchendo um canto daquela vida que Swann via inteiramente vazia, embora o seu espírito lhe dissesse que não o era, simplesmente porque não a podia imaginar, algum amigo que, percebendo que eles se amavam, só se arriscaria a dizer coisas insignificantes a respeito dela, descrevia-lhe o vulto de Odette, que ele avistara naquela mesma manhã, subindo a pé a rua Abbattucci, com uma “visita” guarnecida de skunks, um chapéu à Rembrandt e um ramo de violetas no peito.[1] Este simples croqui abalava Swann porque o fazia aperceber-se de súbito de que Odette possuía uma vida que não era inteiramente dele; queria saber a quem procurava ela agradar com aquela toalete que ele não conhecia; resolvia perguntar-lhe aonde ia naquele momento, como se em toda a vida incolor — quase inexistente, porque lhe era invisível — da sua amante não houvesse senão uma coisa além de todos aqueles sorrisos a ele dirigidos: aquela saída de Odette, com um chapéu à Rembrandt e um ramo de violetas no peito.
     A não ser quando lhe pedia a frase de Vinteuil em vez da Valsa das rosas,[2] Swann nunca a fazia tocar as coisas de que ele gostava, e nem em música, nem em literatura, procurava corrigir o mau gosto de Odette. Bem sabia que ela não era inteligente. Ao dizer a Swann que gostaria de que lhe falasse dos grandes poetas, Odette imaginara que ia logo conhecer coplas heroicas e romanescas no gênero das do visconde de Borelli, ou coisa mais emocionante ainda.[3] Quanto a Vermeer de Delft, indagou se ele não sofrera por alguma mulher, se fora uma mulher que o inspirara, e, como Swann lhe confessasse que nada se sabia a respeito, Odette perdeu todo interesse pelo referido pintor. Costumava dizer: “A poesia? Sim, não duvido, não haveria nada de mais lindo se fosse verdade, se os poetas pensassem tudo o que dizem. Mas em geral não há ninguém mais interesseiro do que essa gente. Bem o sei, eu que tinha uma amiga que amava uma espécie de poeta. Nos seus versos ele só falava do amor, do céu, das estrelas. Ah!, muito lhe serviu a ela! O poeta devorou-lhe mais de trezentos mil francos”. Se então procurava Swann ensinar-lhe em que consistia a beleza artística, como se deviam admirar os versos ou os quadros, ao fim de um instante ela parava de escutar, dizendo: “Ah…, pois eu não imaginava que fosse assim”. E Swann notava nela tal decepção que preferia mentir, dizendo que tudo aquilo ainda não era nada, simples bagatela, que ele não tinha tempo de abordar o fundo, que havia outra coisa. Mas Odette indagava vivamente: “Outra coisa? O quê?… Dize-me então”. Mas ele não o dizia, sabendo o quanto aquilo lhe pareceria insignificante e diferente do que ela esperava, menos sensacional e menos tocante, e temendo também que Odette, desiludida da arte, também se desiludisse do amor.
     E com efeito, Swann lhe parecia intelectualmente inferior ao que havia imaginado. “Nunca perdes o sangue-frio, não consigo definir-te.” O que mais a espantava era a indiferença de Swann pelo dinheiro, a sua polidez para com todos, a sua delicadeza. E de fato, seguidamente acontece com pessoas de mais valor que Swann, com um sábio, com um artista, se é apreciado pelos que o cercam, que o sentimento que vem provar que a sua inteligência se impôs a eles não é a admiração por suas ideias, que lhes escapam, mas o respeito por sua bondade. Era também um sentimento de respeito que inspirava a Odette a situação que tinha Swann na alta sociedade, mas nunca desejou que ele procurasse introduzi-la naquele ambiente. Pensava talvez que Swann não o conseguiria e temia decerto que, só de falar nela, viesse ele a provocar terríveis revelações. A verdade é que o fizera prometer que nunca pronunciaria o seu nome. A razão por que não queria frequentar a sociedade, dissera-lhe certa vez, era uma briga que tivera um dia com uma amiga sua, a qual para vingar-se começara a falar mal dela. “Mas essa tua amiga não conhece todo mundo”, objetava Swann. “Sim, mas essas coisas se alastram como nódoa de azeite, e o mundo é tão perverso…”. Por um lado Swann não compreendeu muito bem a história, mas por outro lado sabia que estas proposições: “o mundo é tão perverso”, “uma calúnia é como nódoa de azeite” são tidas geralmente como verdadeiras; devia haver casos aos quais se aplicassem. E o caso de Odette seria um desses? Indagava-o consigo, mas não por muito tempo, pois também era sujeito a essa pesadez de espírito que se abatia sobre o seu pai quando se propunha um problema difícil. Aliás, esse mundo que causava tanto medo a Odette talvez não lhe inspirasse grandes desejos, pois se achava demasiado longe do mundo que conhecia para que o pudesse imaginar nitidamente. No entanto, tendo-se conservado verdadeiramente simples em alguns pontos (mantinha amizade, por exemplo, com uma costureirinha retirada do ofício e subia quase que diariamente a escada íngreme, escura e malcheirosa da casa de sua amiga), tinha sede de chique, mas não fazia disso a mesma ideia que as pessoas da alta sociedade. Para estas, o chique é uma emanação de algumas raras pessoas que o projetam num raio bastante amplo — e com maior ou menor força, segundo a distância a que se está da sua intimidade — sobre o círculo dos seus amigos ou dos amigos de seus amigos, cujos nomes formam uma espécie de repertório. As pessoas da alta sociedade o guardam de memória, e têm sobre essas matérias uma erudição de que tiram uma espécie de gosto e de tato peculiares, de modo que Swann, por exemplo, sem necessidade de apelar para a sua ciência mundana, quando lia no jornal os nomes das pessoas que se encontravam num jantar, podia dizer imediatamente a nuança de chique desse jantar, como um letrado, à simples leitura de uma frase, aprecia exatamente a qualidade literária de seu autor. Mas Odette era dessas pessoas (muito numerosas, embora não o creiam os da alta sociedade, e como as há em todas as classes sociais) que, como não possuem essas noções, imaginam um chique inteiramente diverso, que assume diferentes aspectos conforme o meio a que pertencem, mas tem como característica essencial — seja o chique com que sonhava Odette ou o chique ante o qual se inclinava a sra. Cottard — a de ser diretamente acessível a todos. O outro, o das pessoas da alta sociedade, também o é, mas demanda algum tempo. Dizia Odette de alguém:

— Só vai aos lugares chiques.

     E se Swann perguntava o que queria dizer com isso, ela retrucava um tanto desdenhosamente:

— Mas ora! Os lugares chiques! Se na tua idade é preciso que te ensinem o que são lugares chiques… Que sei eu! Por exemplo, a avenida da Imperatriz nos domingos de manhã, a margem do Lago às cinco horas, as quintas do Eden Teatro, as sextas do Hipódromo, os bailes…[4] 
— Mas que bailes? 
— Mas os bailes que dão em Paris, os bailes chiques, quero eu dizer. Sabes o Herbinger, aquele que trabalha com o agiota? Sim, deves conhecer, é um dos homens mais em moda de Paris, um rapaz alto, loiro, muito esnobe, tem sempre uma flor na lapela, uma risca atrás, e paletós claros; anda com aquela velhota que ele leva a todas as estreias. Pois bem! No outro dia ele deu um baile, havia lá tudo o que há de chique em Paris! Como eu gostaria de ter ido! Mas era preciso apresentar o convite à porta, e eu não pude conseguir nenhum. Bem, no fundo, prefiro mesmo não ter ido, havia tanta gente que eu não poderia ver nada. Era só para poder dizer que já estive no Herbinger. Tu sabes, a vaidade! De resto, podes acreditar, de cem pessoas que dizem que foram, metade não estava lá… Mas espanta-me que tu, um homem tão pschutt, não tenhas ido.[5] 

     Mas Swann não procurava absolutamente fazer com que Odette modificasse esse conceito do chique; considerando que o seu conceito não era mais verdadeiro, mas igualmente tolo e sem importância, não achava nenhum interesse em instruir a amante a esse respeito, tanto assim que, após alguns meses, ela só se interessava pelas relações de Swann quanto às entradas que ele poderia obter para o Hipódromo ou as estreias de teatro. Desejava que ele cultivasse relações tão úteis, mas inclinava-se a julgá-las muito pouco chiques, depois que vira passar na rua a marquesa de Villeparisis com vestido preto de lã e touca de fitas.

— Mas ela tem o ar de uma operária, de uma porteira, darling. Uma marquesa, aquilo! Eu não sou nenhuma marquesa, mas teriam de pagar-me muito bem para que eu saísse daquele jeito!

     Não compreendia que Swann morasse naquela casa do cais de Orléans que, sem ousar confessá-lo, achava indigna dele. 
     Tinha a pretensão de amar as “antiguidades” e tomara um ar extasiado para dizer que adorava passar um dia inteiro a “bibelotar”, a procurar bricabraque, coisas “antigas”. Embora timbrasse, como por uma questão de honra (e como se obedecesse a algum preceito de família) em nunca responder às interrogações nem “prestar contas” quanto ao emprego dos seus dias, falou uma vez a Swann de uma amiga que a convidara e em cuja casa era tudo “de época”. Mas Swann não conseguiu que ela lhe dissesse qual era a época. Contudo, depois de refletir, respondeu que era “medieval”. Queria dizer com isso que havia revestimentos de madeira nas paredes. Algum tempo depois tornou a falar-lhe da sua amiga e acrescentou, no tom hesitante e com o ar entendido de quem cita alguém com quem jantou na véspera e cujo nome nunca ouvira antes mas que os anfitriões pareciam considerar uma personagem tão famosa que é de esperar que o interlocutor saiba de quem se trata: “Ela tem uma sala de jantar do… século xviii!”. De resto, achava aquilo horrível, muito desnudado, como se a casa não estivesse acabada, as mulheres pareciam horríveis naquele ambiente e a moda não pegaria. Pela terceira vez enfim falou neste assunto e mostrou a Swann o endereço do homem que fabricara a sala de jantar e a quem desejava mandar chamar quando tivesse dinheiro, para ver se não poderia fazer-lhe, não uma igual, mas a que ela sonhava e que infelizmente as dimensões de seu pequeno apartamento não comportavam, com altos aparadores, móveis Renascença e lareiras como as do castelo de Blois. Naquele dia, deixou escapar diante de Swann o que pensava do seu apartamento do cais de Orléans: como ele houvesse criticado que a amiga de Odette desse, não para o estilo Luís XVI, pois, dizia ele, embora seja coisa que não se fabrique, bem pode ser encantador, mas para o falso antigo: “Não hás de querer que ela viva, como tu, no meio de móveis quebrados e tapetes gastos”, disse-lhe ela, pois o convencionalismo da burguesia mais uma vez dominava o diletantismo da cocote.
     Daqueles que gostavam de objetos de arte, apreciavam os versos, desprezavam os cálculos mesquinhos, sonhavam com honra e amor, fazia ela uma elite superior ao resto da humanidade. Não era necessário que tivessem realmente esses gostos, contanto que o proclamassem; de um homem que lhe confessara, à mesa, que gostava de flanar, de empoeirar os dedos nas velhas lojas, que nunca seria apreciado por este século comercial, pois não lhe preocupavam os seus interesses e pertencia por isso a outra época, dizia ela, na volta: “Um espírito adorável! Que sensibilidade! Eu não tinha notado!”, e sentia por aquele homem um imenso e repentino afeto. Mas aqueles que tinham esses mesmos gostos e nunca se referiam a isso, como era o caso de Swann, deixavam-na indiferente. Por certo era obrigada a confessar que Swann não ligava ao dinheiro, mas acrescentava com ar amuado: “Mas, quanto a ele, é outra coisa”; com efeito, o que lhe falava à imaginação não era a prática do desinteresse, mas seu vocabulário.
     Vendo que muitas vezes não podia realizar os sonhos de Odette, ao menos procurava fazer com que ela se sentisse bem na sua companhia, e não contrariava aquelas ideias vulgares, aquele mau gosto que ela possuía em todas as coisas, e que ele aliás amava como tudo que provinha dela, que o encantavam até, pois eram traços peculiares graças aos quais a essência daquela mulher se lhe tornava aparente e visível. Assim, quando tinha Odette um ar feliz porque devia ir à Reine Topaze,[6] ou quando o seu olhar se tornava sério, inquieto e voluntarioso, porque tinha medo de perder a festa das flores,[7]ou simplesmente a hora do chá, com mufins e toasts, no “Chá da Rua Royale”,[8] cuja frequentação achava indispensável para consagrar a reputação de elegância de uma mulher, Swann, arrebatados como ficamos nós com a naturalidade de uma criança ou a verdade de um retrato que só falta falar, de tal modo sentia a alma de sua amante aflorar-lhe ao rosto que não podia resistir à tentação de ir tocá-la com os lábios. “Ah!, com que então a pequena Odette quer que a levem à festa das flores, quer fazer-se admirar? Pois bem! Nós a levaremos, só temos de ceder a seus desejos.” Como era um pouco fraco de vista, Swann teve de resignar-se a usar óculos para trabalhar em casa e adotar em público o monóculo, que o desfigurava menos. Da primeira vez em que o viu com ele, Odette não pôde conter a alegria: “Acho que para um homem, não há o que dizer, é muito chique! Como ficas bem assim! Tens o ar de um verdadeiro gentleman. Só te falta um título!”, acrescentou, com uma nuança de pesar. Gostava que Odette fosse assim, da mesma forma que, se estivesse enamorado de uma bretã, estimaria mais vê-la de touca e ouvi-la dizer que acreditava em fantasmas. Até então, como muitos homens cujo gosto artístico se desenvolve independentemente da sensualidade, houvera uma estranha disparidade entre as satisfações que concedia a uma e outra coisa, gozando, na companhia de mulheres cada vez mais grosseiras, a sedução de obras mais e mais refinadas, levando, por exemplo, uma criadinha a um camarote reservado, para assistir à representação de uma peça decadente que ele tinha vontade de ouvir ou a uma exposição de pintura impressionista, e persuadido, aliás, de que uma mulher do mundo cultivado não compreenderia muito mais do que a criada, mas não saberia calar-se tão gentilmente. Pelo contrário, desde que amava Odette, era-lhe tão grato simpatizar com ela e aspirar a não ter mais que uma alma para ambos, que procurava gostar das coisas que ela preferia, e tanto mais profundamente se comprazia não só em imitar seus hábitos, mas em adotar suas opiniões, porquanto, como não tinham nenhuma raiz em sua própria inteligência, apenas lhe lembravam o seu amor, devido ao qual lhes dera preferência. Se ia duas vezes a Serge Panine,[9] se procurava ensejo de ouvir Olivier Métra dirigir uma orquestra, era pela doçura de ser iniciado em todas as concepções de Odette e sentir-se participante de todos os seus gostos. Esse encanto de o aproximar de Odette, que tinham as obras ou os lugares que ela amava, lhe parecia mais misterioso que o encanto intrínseco a coisas mais belas, mas que não lhe lembravam Odette. Tendo aliás deixado enfraquecerem as crenças intelectuais da sua juventude, e havendo o seu ceticismo de mundano penetrado até elas, sem que o soubesse, pensava (ou pelo menos o pensara tanto tempo que ainda o dizia) que os objetos do nosso gosto não possuem em si mesmos um valor absoluto, mas que tudo é questão de época, de classe, tudo consiste em modas, as mais vulgares das quais valem tanto como as que passam por mais distintas. E como achava que a importância que atribuía Odette ao arranjo de um convite para a vernissage não era em si mesma alguma coisa de mais ridículo que o prazer que ele sentia outrora em almoçar com o príncipe de Gales, tampouco pensava que a admiração que ela dedicava a Monte Carlo ou ao Righi fosse mais desarrazoada que o gosto que tinha ele pela Holanda, que ela imaginava feia, e por Versalhes, que ela achava triste. [10] Abstinha-se, assim, de ir a esses lugares, e sentia prazer em pensar que o fazia por ela, que apenas com ela queria sentir e amar as coisas deste mundo.
 
continua na página 166...
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Leia também:

Volume 1
No Caminho de Swann (III - um amor de swann, Só ia vê-la de noite - g)
Volume 2
Volume 3
Volume 4
Volume 5
Volume 6
Volume 7
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[1] O termo “visita” refere-se a um casaco curto e skunks, à pele de gambá. No segundo volume, o herói descobrirá um “croqui” de Odette da mesma época e com o mesmo traje, descortinando ele próprio todo um período da vida dela que, muito provavelmente, escapava aos olhos de Swann. Será mais um exemplo da revelação súbita de “linhas invisíveis” que desenham cenários insuspeitados do “tempo perdido”. [n. e.]
[2] Composição de Olivier Métra, autor muito admirado por Odette. [n. e.]
[3] O poeta Borelli, três vezes agraciado pela Academia Francesa, aparece como sinônimo de poesia fácil e de exaltação gratuita já no primeiro “romance” inacabado de Proust, Jean Santeuil. [n. e.]
[4] A avenida da Imperatriz perde esse nome com a queda do Segundo Império e se transforma na avenida do Bois, posterior avenida Foch. O “lago” é justamente o do Bois de Boulogne. O teatro Eden, situado na rua Boudreau, perto da Ópera, era a sala de espetáculos mais luxuosa de Paris. Já o Hipódromo era um grande circo com pista oval, podendo receber até 10 mil espectadores. Os “lugares chiques” de Odette eram do interesse da Terceira República, lugares totalmente fora do Faubourg Saint-Germain, frequentado por Swann. [n. e.]
[5] Pschutt: neologismo que significa “chique”, “elegante”. [n. e.]
[6] Ópera-cômica de Victor Massé — o narrador citará uma série de obras de menor valor e hoje esquecidas, sublinhando o mau gosto artístico de Odette e seu apego às novidades. [n. e.]
[7] A festa das flores acontecia em junho na alameda das Acácias, no Bois de Boulogne. [n. e.]
[8] Elegante casa de chá à moda inglesa. [n. e.]
[9] Drama de Georges Ohnet envolvendo falsidade, casamento por interesse e assassinato redentor — mais adiante, a sra. Cottard externará sua admiração pela intensidade dramática desses ingredientes. [n. e.]
[10] Monte Carlo e Righi aparecem como referências ao turismo de luxo, a Holanda por sua tradição de pintores, e Versalhes pelo interesse de Swann pela corte de Luís xiv, já exemplificado por suas leituras das Memórias do duque de Saint-Simon, no início de “Combray”. [n. e.]

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