terça-feira, 4 de março de 2025

Alexandre Pushkin

Poeta e escritor russo

Aleksandr Serguêievitch Púchkin (em russo: Алекса́ндр Серге́евич Пу́шкин; Moscou, 6 de junho de 1799 — São Petersburgo, 10 de fevereiro de 1837.) foi um poeta, escritor e dramaturgo russo da Era Romântica.

É considerado o maior poeta russo e o fundador da moderna literatura russa. Nascido na nobreza russa, seu pai, Serguei Lvovitch Púchkin, pertencia a uma antiga e nobre família. Seu bisavô materno era o general de brigada Abram Petrovitch Gannibal, nobre de origem africana sequestrado em sua terra natal e criado na corte da imperatriz como seu afilhado. Púchkin foi pioneiro no uso do discurso vernacular em seus poemas e peças teatrais, criando um estilo de narrativa que misturava drama, romance e sátira associada com a literatura russa, influenciando fortemente desde então os escritores russos seguintes. Ele também escreveu ficção histórica. Sua Marie: Uma História de Amor Russa fornece uma visão da Rússia durante o reinado da imperatriz Catarina II.


O DEMÔNIO

Quando não me era ainda insossa
cada impressão da vida outrora
– rumor de bosque, olhar de moça,
canção de rouxinol na aurora –
e quando a liberdade, o amor,
a glória, as artes, o melhor
da inspiração e altas idéias
turvavam-me o sangue nas veias,
um certo espírito nefando,
trazendo angústia e me anuviando
horas confiantes de prazer,
passou, em sigilo, a me ver.
O nosso encontro era sombrio
e ele sorria com o olhar
cheio de escárnio ao me instilar
dentro da alma um veneno frio.
Pois caluniava sem receio
e desafiava a Providência,
julgava o Belo – um devaneio,
a Inspiração – tolice imensa,
o amor e a liberdade – vis.
E, olhando altivo, com profundo
desprezo, a vida, ele não quis
abençoar nada em todo o mundo.

(1823)
A dama de espadas: prosa e poemas. [tradução de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher]. Coleção Leste. São Paulo: Editora 34, 1999; 3ª ed., 2013.



O SEMEADOR
O semeador saiu para semear

Eu semeador, deserto afora,
da liberdade, fui com mão
pura lançar, antes que a aurora
nascesse, o grão que revigora
no sulcos vis da escravidão.
Mas todo esforço foi em vão:
joguei vontade e tempo fora.

Pasce, pois eu te repudio,
ralé submissa e surda ao brio.
Libertar gado é faina ingrata,
pois gado se tosquia e mata.
Herda, por gerações a fio,
canga, chocalhos e chibata.

(1823)

A dama de espadas: prosa e poemas. [tradução de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher]. Coleção Leste. São Paulo: Editora 34, 1999; 3ª ed., 2013.



PARA ***

Recordo o luminoso instante
quando eu, tomado de surpresa,
te vi: súbita imagem, diante
de mim, da essência da beleza.

Desesperado e triste, a sós
no caos do mundo, ouvi durante
anos, em mim, a tua voz,
vi, no meu sonho, teu semblante.

Passou o tempo; um vento atroz
varreu meu sonho ao seu talante,
e não ouvi mais tua voz,
deixei de ver o teu semblante.

Minha existência se esvaía
no exilio inóspito e incolor,
sem vida, lágrimas, poesia,
sem divindade nem amor.

Reapareceste e nesse instante
minha alma despertou surpresa;
revi, súbita imagem distante
de mim, a essência da beleza.

Meu peito, cheio de alegria,
bate de novo; há no interior
dele outra vez vida, poesia,
lágrimas, divindade, amor.

(1825)
A dama de espadas: prosa e poemas. [tradução de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher]. Coleção Leste. São Paulo: Editora 34, 1999; 3ª ed., 2013.


Púchkin e sua esposa, Natalya Goncharova, com quem se casou em 1831, tornar-se-iam regulares frequentadores da corte. Em 1837, diante dos boatos, cada vez mais insistentes, de que sua esposa começara um escandaloso caso extraconjugal, Púchkin desafiou o dito amante, Georges d'Anthès, para um duelo. Mortalmente ferido pelo oponente, Púchkin faleceria dois dias depois. Encontra-se sepultado no Svyatogorsk monastery Cemetery, Pushkinskiye Gory, Pskovskaya Oblast' na Rússia.






QUESTIONAMENTOS

Presente inútil, presente acidental,
Vida, por que me deste?
Ou, por que pelo destino misterioso
À tortura estás condenado?

Quem com poder hostil me
chamou do nada?
Quem minha alma com paixão emocionou,
Quem meu espírito com dúvida encheu?…

Não há meta diante de mim,
Meu coração é vazio, minha mente é vã
E com tristeza me cansa
A barulhenta monotonia da vida.

Encontrado no livro Poemas de Alexander Pushkin
Ivan Panin, trad.



MINHA MUSA

Nos dias da minha juventude ela gostava de mim,
E a flauta de sete hastes ela me entregou.
Para mim com um sorriso ela escutou; e já gentilmente
Ao longo das aberturas ecoando das florestas
Estava tocando eu com dedos ternos:
Ambos os hinos solenes, inspirados por Deus
E a canção pacífica do pastor frígio.
De manhã até a noite na sombra muda do carvalho
Para a intenção de ensino da estranha donzela eu escutei;
E com parcimoniosa recompensa me alegrando
Jogando para trás seus cachos de sua querida testa,
De minhas mãos a flauta ela mesma pegou.
Agora a madeira estava cheia de sopro divino
E o coração com encantamento sagrado cheio.

Encontrado no livro oemas de Alexander Pushkin
Ivan Panin, trad.




"Lembro-me de um momento mágico"





A Dama de Espadas





     A longa noite de inverno passou veloz no salão da casa de Narumov, oficial da Cavalaria. Totalmente envolvidos pelos jogos de cartas, os convidados se surpreenderam quando a refeição foi servida, por volta das cinco da manhã. Os que haviam ganho estavam famintos. Já os perdedores mal tocavam na comida. Limitavam-se a deixar o olhar perdido nos pratos vazios. Somente quando os garçons começaram a abrir garrafas de champanhe é que a conversa ganhou ânimo: 

— E como você se saiu, Surine? — perguntou o anfitrião. 
— Ah, eu perdi, como sempre. Devo ser o sujeito mais azarado do mundo. Mesmo me esforçando e mantendo a concentração, eu não consigo ganhar.

Capítulo 1, A dama e a espada



The Deadly Duel
Alexander Pushkin vs. Georges d’Anthès




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