A Lente do
Amor
Fernanda
Young
A lente do
amor grudou na retina e trouxe a realidade
para a paixão.
Agora, nela,
vê-se poros abertos, veias desconcertantes
e azuis ao
lado das narinas, que inspiram e expiram
o cansaço
enfisêmico dos pulmões que já inflaram de
êxtase e susto
espera e dor.
Como é engraçada a miopia dos amantes histéricos.
E aqueles ,
antes cegos, quase idiotas, reconhecem
primeiro a
sombra, depois os relevos,
enfim as cores
e as texturas.
E as lentes
preenchem a transparência, entupindo-a
de estômagos,
pâncreas, fígados e intestinos,
não dando mais
para ver-se – vê-se o outro.
Então há o horror, e por fim, que é começo, o amor.
Como é engraçada a vida, posto que é só isso.
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Fernanda Young, ed. Rocco Digital. 1a. ed. 2012
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