domingo, 13 de abril de 2025

A Montanha Mágica - O termômetro (b)

Thomas Mann

A Montanha Mágica 


Capítulo IV

O termômetro

continuando...

     O tempo ia se arrastando. O prazo parecia infinito. Somente dois minutos e meio haviam passado quando ele olhou os ponteiros, receando ter ultrapassado o momento marcado. Fez então um sem-número de coisas: agarrou objetos e os recolocou no lugar, saiu à sacada, procurando esquivar-se à atenção do primo, deixou que os olhos vagassem por sobre a paisagem, esse vale situado a grande altura, já profundamente familiar ao seu espírito, em todas as suas formas, com seus picos, cordilheiras e paredes rochosas, onde, do lado esquerdo, avançava o platô de Brämenbühl, cuja encosta se inclinava para a aldeia e cujos flancos eram cobertos pelo matagal agreste dos prados alpinos, com as formações das montanhas, à direita, cujos nomes aprendera também, e com a Alteinwand que, vista do lugar onde se achava Hans Castorp, parecia fechar o vale do lado do sul. E seu olhar passava por sobre as veredas e os canteiros do terraço ajardinado, com a gruta rupestre e o abeto. Escutava um murmúrio que subia do alpendre, onde alguns pensionistas se entregavam ao repouso. Voltou então ao quarto, enquanto procurava melhorar a posição do instrumento na boca. A seguir avançou o braço, para afastar a manga do pulso e aproximar o relógio do rosto. Com muito trabalho e esforço, por assim dizer sob o efeito de empurrões, golpes e pontapés, haviam decorrido seis minutos. Mas, como então se deixasse estar no quarto e se abandonasse a devaneios, dando livre curso aos seus pensamentos, passou despercebido o último minuto, como nas patas silenciosas de um gato até que um novo movimento do braço lhe revelasse a sua fuga clandestina. E já era um pouco tarde; a terça parte do oitavo minuto já se escoara, quando Hans Castorp, dizendo consigo que isso não tinha importância, não fazia mal nem modificava o resultado, tirou o termômetro da boca e cravou nele os olhos desorientados.
     Não conseguiu decifrar imediatamente a indicação do instrumento. O brilho do mercúrio confundia-se com o reflexo luminoso do achatado tubo de vidro. A coluna parecia ora ter subido muito ora não existir de todo. Hans Castorp achegou o termômetro aos olhos, virou-o de um lado para outro e não distinguiu nada. Finalmente, depois de um movimento feliz, a imagem tornou-se nítida; ele reteve-a e submeteu-a depressa ao trabalho da sua inteligência. Com efeito, o mercúrio dilatara-se, dilatara-se consideravelmente. A coluna subira bastante alto e parará a vários décimos acima do limite normal. Hans Castorp tinha 37,6.
     Em pleno dia, entre as dez e as dez e meia, 37,6 era demais; era temperatura elevada, era uma febre que resultava de uma infecção à qual estava predisposto, e restava apenas saber de que tipo de infecção se tratava. 37,6! O próprio Joachim não tinha mais; ninguém ali tinha mais, com exceção daqueles que se achavam acamados por estarem gravemente enfermos ou até moribundos; nem a Kleefeld, com o seu pneumotórax, nem... nem tampouco Mme. Chauchat. Naturalmente, no seu caso particular não era a mesma coisa; ele tinha o que lá embaixo chamava de uma simples gripezinha. Mas seria difícil estabelecer uma diferença clara. Hans Castorp não sabia com certeza desde quando andava com essa temperatura, e se era somente desde que se resfriara. Lamentou não ter interrogado o mercúrio mais cedo, logo no início da sua estadia ali, como lhe aconselhara o Dr. Behrens. Era um conselho bem sensato, como se manifestava agora, e Settembrini fizera muito mal ao rir-se dele daquele modo ruidoso e zombeteiro – aquele Settembrini com sua república e seu belo estilo! Hans Castorp desprezava a república e o belo estilo, enquanto examinava uma e outra vez a indicação do termômetro, que não raro se lhe esquivava, em virtude dos reflexos, e que então ele voltava a apanhar, virando e revirando fervorosamente o instrumento. Eram 37,6, e isso de manhã!
     Experimentou uma violenta emoção. Pôs-se a atravessar o quarto de um lado para outro, com o termômetro na mão, que mantinha horizontalmente, a fim de evitar o mínimo abalo por uma sacudidela em sentido vertical. Depois colocou-o com todo o cuidado no anteparo do lavatório e, pegando o sobretudo e os cobertores, foi entregar-se ao repouso. Sentado, envolveu se nos cobertores, assim como aprendera, pelos dois lados e por baixo, manejando-os um após outro com a habilidade já adquirida. A seguir permaneceu imóvel até a hora do café da manhã, à espera da entrada de Joachim. Às vezes sorria, e era como se sorrisse a alguém. Às vezes levantava-se-lhe o peito num tremor angustiado, o que o fazia tossir, com o peito opresso pelo catarro.
     Joachim encontrou-o ainda deitado, quando, às onze horas, depois das badaladas do gongo, foi buscá-lo para a refeição.

–  Então? – perguntou admirado, aproximando-se da espreguiçadeira.

     Hans Castorp permaneceu calado durante um momento, olhando apenas para a frente. Por fim respondeu:

– Quer saber da última? Estou com uma temperatura um pouco elevada. 
– Que significa isso? – perguntou Joachim. – Você tem a impressão de estar com febre?

     Hans Castorp mais uma vez demorou um pouco a dar a resposta, antes de replicar com certa indolência:

– Olhe, meu caro, já faz tempo que me sinto febril, desde que estou aqui. Desta vez não se trata de impressões subjetivas, mas de uma verificação exata. Tirei a temperatura. 
– Você tirou a temperatura? Com quê? – gritou Joachim, assustado. 
– Com um termômetro, ora essa – respondeu Hans Castorp, com um ar irônico e severo. – Comprei um da enfermeira-chefe. O que não sei é por que ela trata a gente de “rapaz”. Pelo menos não acho isso muito correto. Mas me vendeu a toda pressa um ótimo termômetro, e se você quiser convencer-se da temperatura que ele indica, pode ver ali dentro, no lavatório. É uma elevação insignificante.

     Joachim deu bruscamente meia-volta e entrou no quarto. Quando saiu outra vez, disse num tom hesitante:

– Pois é, são 37,5. 
– Nesse caso baixou um pouco – tornou Hans Castorp imediatamente. – Eram 37,6. 
– Não se pode dizer que isso seja insignificante, já pela manhã – opinou Joachim. – É uma bonita surpresa – acrescentou, plantando-se em frente da espreguiçadeira do primo, como para admirar a “bonita surpresa”, com as mãos à cintura, e com a cabeça baixa. – Você terá de ficar na cama. 

     Hans Castorp já estava com a resposta preparada.

– Não vejo nenhum motivo – retrucou – para ficar deitado com 37,6 quando você e tantos outros que têm a mesma temperatura andam passeando livremente. 
– Mas isso é diferente – disse Joachim. – No seu caso trata-se de uma coisa aguda e inofensiva. Você tem febre porque está resfriado. 
– Primeiro – replicou Hans Castorp, subdividindo o seu discurso em “primeiro” e “segundo” –, não compreendo por que com uma febre inofensiva – admitamos que exista uma coisa dessas – por que com uma febre inofensiva a gente deva ficar na cama, e com outra febre não. E segundo, já lhe disse que o resfriado não me fez mais quente do que eu estava antes. Na minha opinião – concluiu – 37,6 é igual a 37,6. Se vocês podem passear com uma temperatura dessas, eu também posso. 
– Mas quando cheguei aqui tive que permanecer deitado durante quatro semanas – objetou Joachim. – E só quando verificaram que a cama não fazia desaparecer a febre foi que me deram licença para levantar-me.

     Hans Castorp sorriu.

– E daí? – perguntou. – Eu pensava que o seu caso fosse diferente. Tenho a impressão de que você se contradiz a si mesmo. Primeiro estabelece uma diferença e logo depois equipara. Isto é lero-lero...

     Joachim deu meia-volta sobre os calcanhares, e quando novamente se dirigiu ao primo, viu que seu rosto trigueiro se tornara ainda mais escuro. 

– Não, senhor – disse ele. – Não equiparo nada. Quem faz confusão é você. Eu acho apenas que você anda resfriadíssimo. Basta ouvir a sua voz. E você deveria meter-se na cama para abreviar a coisa, uma vez que tenciona partir na semana que vem. Mas, se não quiser... quer dizer, se não tiver vontade de ficar na cama, deixe. Eu não lhe dou ordens. Em todo caso está na hora do segundo café da manhã. Ligeiro, já estamos atrasados. 
– Perfeitamente. Vamos então – disse Hans Castorp, afastando os cobertores. Entrou no quarto, para arrumar o penteado com a escova. Enquanto o fazia, Joachim foi ao lavatório a fim de olhar mais uma vez o termômetro, como Hans Castorp observou de longe. Depois desceram, sem falar, e voltaram a instalar-se nos seus lugares, na sala de refeições, que, como sempre a essa hora, resplandecia branca de tanto leite. 

     Quando a anã levou a Hans Castorp a cerveja Kulmbach, este a recusou com um ar de grave renúncia. Preferia hoje não tomar cerveja; não beberia nada, obrigado; quando muito, um copo d'água. Isso causou surpresa a seu redor. Mas como? Que novidades eram aquelas? Por que não queria cerveja?

– Tenho uma temperatura levemente elevada – disse Hans Castorp displicentemente. – 37,6. Coisa insignificante.

     Eis que todos o advertiram com o dedo. Era estranho de ver. Tornavam-se engraçadinhos, inclinavam a cabeça para o lado, piscavam um olho e coçavam a orelha com o indicador, como para ouvirem melhor as coisas escabrosas, picantes, a respeito de alguém que até então se fingira inocente.

– Ora, ora, meu amigo! – disse a professora, e suas faces ruborizaram-se, enquanto o advertia sorrindo. – Ouve-se cada coisa! Vejam só! 
– Imaginem! – gritou a Srª. Stöhr, enquanto erguia o curto dedo avermelhado à altura do nariz. – Ele tem tempus, o nosso visitante. Essa é boa! Que grande gozador!  

     A própria tia-avó, na outra extremidade da mesa, advertiu-o com o dedo, irônica e manhosamente, quando a novidade chegou até ela. A bela Marusja, que até então mal prestara atenção a ele, inclinou-se para enxergá-lo melhor e olhou-o com seus grandes olhos redondos, apertando contra os lábios o lencinho perfumado de flor de laranjeira. Também o Dr. Blumenkohl, ao qual a Srª. Stöhr acabava de comunicar o fato, não pôde deixar de fazer o gesto que todos faziam. Unicamente Miss Robinson mostrou-se indiferente e reservada como sempre. Joachim, numa atitude muito correta, mantinha os olhos baixos.
     Hans Castorp, satisfeito pelo interesse que despertava, acreditou ser do seu dever desmenti-los modestamente.

– Não, senhores – disse –, estão enganados. A minha febre é a coisa mais inofensiva que se pode imaginar. Estou apenas resfriado. Estão vendo: meus olhos lacrimejam, tenho o peito opresso, e ando tossindo a noite toda. É bastante desagradável. – Mas eles não aceitaram as suas desculpas; riam-se, e com a mão faziam-lhe sinais, para que deixasse de insistir, enquanto gritavam: – Sim, sim, sim! É conversa fiada! Já se conhece essa do resfriado, já se conhece! – E todos exigiram subitamente que Hans Castorp se apresentasse sem demora a um exame médico. Essa notícia excitara-os. Dentre as sete mesas foi esta, durante o café da manhã, a mais animada. Sobretudo a Srª. Stöhr, com o estúpido rosto todo vermelho por cima do jabô, e com pequenas gretas na pele das faces, demonstrou uma loquacidade quase frenética. Pôs-se a fazer digressões a respeito da natureza fascinante da tosse. Sim, era mesmo uma distração e um prazer sentir como no fundo do peito se intensificava e crescia o prurido, que as pessoas procuravam, por assim dizer, pegar, esforçando-se convulsivamente e comprimindo-se para acalmar a irritação. E um divertimento análogo era oferecido pelo espirro, quando o desejo de soltá-lo aumentava poderosamente e se tornava irresistível, a ponto de a gente, como que inebriada, fazer algumas respirações violentas, antes de se entregar com delícia, esquecendo o resto do mundo ante a felicidade da explosão. E essa delícia podia produzir-se duas ou três vezes seguidas. Eram esses os prazeres gratuitos da vida, entre os quais também figurava o de coçar as frieiras, na primavera, quando elas picavam tão docemente – coçar-se com um fervor cruel, até sair sangue, abandonando-se à raiva e ao gozo, e quem, por acaso, se olhasse no espelho, num momento desses, depararia com uma careta diabólica. Com essa minúcia horrorosa, a inculta Srª. Stöhr discursou até o fim da curta mas substanciosa refeição intermediária. Então, os dois primos começaram o seu segundo passeio matinal, que os levaria a Davos-Platz. Joachim andava meio absorto e Hans Castorp, gemendo de tão resfriado que estava, dava pigarros do fundo do peito enferrujado. Ao regressarem, Joachim disse: 
– Vou lhe fazer uma proposta. Hoje é sexta-feira. Amanhã, depois do almoço, tenho o meu exame mensal. Não se trata de um exame geral; o Behrens percute um pouquinho e manda o Krokowski tomar notas. Você poderia me acompanhar e pedir que aproveitem a ocasião para auscultá-lo rapidamente. É mesmo ridículo... Se isso lhe acontecesse em casa, mandaria chamar o Heidekind. E aqui onde temos dois especialistas, você dá passeios, sem ter ideia a quantas anda nem a que ponto vai a infecção; nem sequer sabe se não seria melhor meter-se na cama.  
– Ótimo! – disse Hans Castorp. – Boa ideia! Claro que posso fazer isso. Será até interessante para mim assistir a um exame médico. 

     Estava, pois, tudo combinado, e, quando chegaram ao sanatório, quis o acaso que encontrassem o Dr. Behrens em pessoa. Assim tinham uma oportunidade favorável para formular imediatamente o seu pedido.
     Da ala avançada do edifício saía o alto vulto de Behrens, com o pescoço vigoroso, as faces azuladas e os olhos saltados. Tinha o chapéu-coco atirado para trás e um charuto na boca. Parecia em plena atividade, a ponto de se dirigir para a aldeia, a fim de visitar sua clientela particular. Segundo declarou, acabava de trabalhar na sala de operações.

– Salve, cavalheiros! – exclamou. -sempre passeando, hein? Que tal o mundo grã-fino? Eu volto justamente de um duelo desigual, a faca e serra. Um caso sério, sabem? Ressecção de costelas. Antigamente ficavam na mesa uns cinquenta por cento. Agora temos mais jeito, mas ainda acontece que o prazer se acabe antes do fim, mortis causa. Bem, o de hoje não era nenhum desmancha-prazeres. Por enquanto aguenta firme... Uma coisa louca, um tórax humano que já se foi todo. É uma pasta mole, sabem? Nada bonito! Por assim dizer, uma leve adulteração da ideia!... Bem, e os senhores? Como vai a prezada constituição? A existência é mais divertida a dois; não é, Ziemssen, velha raposa? Mas, por que está chorando, senhor turista? – acrescentou, dirigindo-se de repente a Hans Castorp. – É proibido chorar em público. É contra o regulamento da casa. Se todo mundo fizesse isso... 
– É por causa do meu resfriado, doutor – respondeu Hans Castorp. – Não sei onde o peguei, mas estou com uma gripe terrível. Tenho também tosse, e meu peito está opresso... 
– Vejam só! – exclamou Behrens. – Nesse caso, talvez fosse conveniente consultar um bom médico. 

     Os dois desataram a rir, e Joachim explicou, juntando os calcanhares:

– É o que tencionávamos fazer, senhor conselheiro. Amanhã é o dia do meu exame, e queríamos justamente pedir-lhe que tivesse a bondade de auscultar meu primo na mesma ocasião. Trata-se. de saber se ele poderá partir na terça-feira. 
– S.a.o. – disse Behrens. -sempre às ordens! Com o maior prazer. Já deveríamos ter feito isso há muito tempo. Quem está aqui em cima não deve deixar de aproveitar a oportunidade. Mas, afinal de contas, a gente não quer insistir. Pois então, amanhã às duas, logo depois da boia. 
– É que tenho também um pouco de febre – recomeçou Hans Castorp. 
– Não diga! – gritou Behrens. – O senhor me conta uma grande novidade. Pensa que não tenho olhos para ver? – E com o formidável indicador apontou para os dois bugalhos injetados, lacrimosos, de um azul úmido. – A propósito, qual é a sua temperatura?

     Hans Castorp disse-a timidamente.

– Já de manhã? Nada mau! Para um principiante não lhe falta talento. Pois é, está combinado, amanhã às duas apareçam os dois. Será uma grande honra para mim. Boa digestão! – E com os joelhos dobrados, remando com as mãos, pôs-se a descer pelo caminho íngreme, enquanto a fumaça do charuto se desfraldava atrás dele. 
– Está tudo arranjado como você desejava – disse Hans Castorp. – Não podia, ser melhor. Agora tenho hora marcada. No meu caso, ele não poderá fazer grande coisa. O máximo que me prescreverá será um xarope ou um peitoral, mas de qualquer jeito é agradável receber um pouco de reconforto por parte de um médico, para quem se sente tão mal como eu. Só queria saber por que ele usa essa linguagem exagerada e cínica. No começo me diverti com isso, mas agora não acho mais graça nenhuma. “Boa digestão!” Horrível! Pode-se dizer: “Bom proveito!” “Proveito” é uma palavra de certo cunho poético, assim como “o pão nosso de cada dia”, e se harmoniza bem com o adjetivo “bom”. Mas “digestão” é termo puramente fisiológico, e fazer votos pelo seu desenvolvimento feliz parece-me pura blasfêmia. Também não me agrada ver como ele fuma. Isso me deixa nervoso, porque sei que o charuto não lhe faz bem e o põe melancólico. Settembrini diz que a jovialidade de Behrens é forçada, e Settembrini é, indiscutivelmente, um homem crítico, de juízo seguro. Eu mesmo deveria, talvez, formar com mais frequência uma opinião própria, em vez de aceitar as coisas como se apresentam. Nesse ponto, ele tem toda a razão. Mas acontece, então, que enquanto se está disposto a julgar, a criticar, a escandalizar-se, de repente se intromete qualquer coisa completamente diversa, que nada tem a ver com o juízo, e logo se acaba a indignação moral, e a república e o belo estilo só nos parecem insípidos... 

     Murmurou ainda algumas palavras indistintas. Tinha-se a impressão de que ele mesmo não sabia com clareza o que queria dizer. O primo limitou-se a olhá-lo de lado e disse:

– Até logo. – E ambos se dirigiram aos seus quartos e às respectivas espreguiçadeiras. 
– Quanto? – perguntou Joachim depois de algum tempo, em voz abafada, apesar de não ter observado como Hans Castorp tornara a consultar o termômetro. Este respondeu num tom indiferente: 
– Nada de novo.

continua pág 114...
___________________

Leia também:

Capítulo I
A Chegada
Capítulo III
Capítulo IV
O termômetro (b)
___________________

A Montanha Mágica (Der Zauberberg, no original alemão) é um romance de Thomas Mann que foi publicado em 1924. É considerado o romance mais importante de seu autor e um clássico da literatura de língua alemã do século XX que foi traduzido para inúmeros idiomas, sendo de domínio público em países como Estados Unidos, Espanha, Brasil, entre outros.
Thomas Mann começou a escrever o romance em 1912, após uma visita à sua esposa no Wald Sanatorium em Davos, onde ela foi hospitalizada. Ele inicialmente o concebeu como um romance curto, mas o projeto cresceu ao longo do tempo para se tornar um trabalho muito maior. A obra narra a permanência de seu personagem principal, o jovem Hans Castorp, em um sanatório nos Alpes suíços, onde inicialmente vinha apenas como visitante. A obra tem sido descrita como um romance filosófico, pois, embora se enquadre no molde genérico do Bildungsroman ou romance de aprendizagem, introduz reflexões sobre os mais variados temas, tanto pelo narrador quanto pelos personagens (especialmente Nafta e Settembrini, aqueles encarregados da educação do protagonista). Entre esses temas, o do "tempo" ocupa um lugar preponderante, a ponto de o próprio autor o descrever como um "romance do tempo" (Zeitroman), mas muitas páginas também são dedicadas a discutir a doença, a morte, a estética ou a política.
O romance tem sido visto como um vasto afresco do modo de vida decadente da burguesia europeia nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário