segunda-feira, 14 de abril de 2025

Stendhal - O Vermelho e o Negro: (XLV)

Livro II

Ela não é galante,
não usa ruge algum.


Sainte-Beuve

Capítulo XLV


–  NÃO QUERO CAUSAR àquele pobre padre Chas-Bernard o incômodo de mandá-lo chamar, disse a Fouqué; ele ficaria três dias sem comer. Mas procura trazer-me um jansenista, amigo do sr. Pirard e inacessível à intriga.

     Fouqué esperava essa abertura com impaciência. Julien cumpriu com decoro tudo o que se deve à opinião pública, na província. Graças ao abade de Frilair, e apesar da má escolha do confessor, Julien era, em seu cárcere, o protegido da Congregação; com mais vontade de emendar-se, teria podido escapar. Mas, sob o efeito do ar insalubre do cárcere, sua razão diminuía. Ele ficou ainda mais feliz com o retorno da sra. de Rênal.

– Meu primeiro dever é para contigo, disse ela, beijando-o; escapei de Verrières...

      Julien não sentiu nenhum amor-próprio em relação a ela, contou-lhe todas as suas fraquezas. Ela foi bondosa e meiga com ele.
     À noite, assim que saiu da prisão, ela mandou chamar à casa de sua tia o padre que se agarrara a Julien como a uma presa; como ele queria apenas ter crédito junto às mulheres jovens da alta sociedade de Besançon, a sra. de Rênal não teve dificuldade de convencê-lo a fazer uma novena na abadia de Bray-le-Haut.
     Nenhuma palavra pode exprimir o excesso e a loucura do amor de Julien.
     À força de dinheiro, e usando e abusando do crédito de sua tia, devota célebre e rica, a sra. de Rênal conseguiu permissão de vê-lo duas vezes por dia.
     A essa notícia, o ciúme de Mathilde chegou às raias do desvario. O sr. de Frilair confessara-lhe que sua influência não podia desafiar todas as conveniências a ponto de conseguir autorizá-la a ver seu amigo mais de uma vez por dia. Mathilde mandou seguir a sra. de Rênal, a fim de conhecer seus menores passos. O sr. de Frilair esgotava todos os recursos de um espírito muito habilidoso para provar-lhe que Julien era indigno dela.
     Em meio a todos esses tormentos ela o amava ainda mais, e quase todo dia fazia-lhe uma cena horrível.
     Julien queria a todo custo ser honesto até o fim com essa pobre moça que ele tão estranhamente comprometera; mas a todo instante o amor desenfreado que sentia pela sra. de Rênal o dominava. Quando, com más razões, não conseguia convencer Mathilde da inocência das visitas da sra. de Rênal, ele pensava: Agora o fim do drama deve estar muito próximo; para mim é uma desculpa se não sei dissimular melhor.
     A srta. de La Mole ficou sabendo da morte do marquês de Croisenois. O sr. de Thaler, homem muito rico, permitira-se dizer coisas desagradáveis sobre o desaparecimento de Mathilde; o sr. de Croisenois foi pedir-lhe que as desmentisse: o sr. de Thaler mostrou-lhe cartas anônimas a ele endereçadas, com detalhes dispostos com tanta habilidade que o pobre marquês não pôde deixar de entrever a verdade.
     O sr. de Thaler permitiu-se gracejos desprovidos de fineza. Possuído de cólera e de desgosto, o sr. de Croisenois exigiu reparações com tal firmeza que o milionário preferiu o duelo. A tolice triunfou; e um dos homens de Paris mais dignos de serem amados encontrou a morte com menos de vinte e quatro anos.
     Essa morte causou uma impressão estranha e mórbida sobre a alma enfraquecida de Julien.

– O pobre Croisenois, ele dizia a Mathilde, foi realmente um homem muito razoável e muito honesto com você; ele deveria ter-me odiado pelas imprudências que você cometeu no salão de sua mãe, e exigido de mim satisfações; pois o ódio que sucede ao desprezo é geralmente furioso...

     A morte do sr. de Croisenois mudou todos os planos de Julien sobre o futuro de Mathilde; ele passou vários dias a provar-lhe que devia aceitar a mão do sr. de Luz. É um homem tímido, não muito jesuíta, ele argumentava, e certamente será um dos pretendentes. Com uma ambição mais sombria e mais contínua que o pobre Croisenois, e sem ducado na família, não verá nenhuma dificuldade em desposar a viúva de Julien Sorel.

– E uma viúva que despreza as grandes paixões, replicou friamente Mathilde; pois ela viveu o bastante para ver, depois de seis meses, seu amante preferir outra mulher, e uma mulher que originou todas as desgraças.
– Você é injusta; as visitas da sra. de Rênal darão argumentos importantes ao advogado de Paris encarregado de meu pedido de indulto; ele descreverá o criminoso honrado pelos cuidados da vítima. Isso pode impressionar, talvez um dia me verá transformado no assunto de algum melodrama etc. etc.

      Um ciúme furioso e impossível de vingar, a continuidade de uma infelicidade sem esperança (pois, mesmo supondo Julien salvo, como reconquistar seu coração?), a vergonha e a dor de amar mais que nunca esse amante infiel, haviam lançado a srta. de La Mole num silêncio melancólico, e do qual nem os cuidados solícitos do sr. de Frilair, nem a rude franqueza de Fouqué conseguiam tirá-la.
     Quanto a Julien, exceto nos momentos usurpados pela presença de Mathilde, ele vivia de amor e quase sem pensar no futuro. Por um estranho efeito da paixão, quando ela é extrema e sem fingimento algum, a sra. de Rênal também quase compartilhava essa despreocupação e essa doce alegria.

– Outrora, dizia-lhe Julien, quando eu poderia ter sido feliz durante nossos passeios pelos bosques de Vergy, uma ambição impetuosa arrastava minha alma para lugares imaginários. Em vez de apertar contra meu coração esse braço encantador que estava tão perto de meus lábios, o futuro arrebatava-me de ti; eu pensava nos inúmeros combates que teria de enfrentar para construir uma fortuna colossal... Não, eu teria morrido sem conhecer a felicidade se não tivesses vindo me ver nesta prisão.

     Dois acontecimentos vieram perturbar essa vida tranquila. O confessor de Julien, mesmo sendo jansenista, não escapou de uma intriga dos jesuítas e, sem que o soubesse, tornou-se o instrumento deles.
     Um dia ele lhe disse que, a menos que cometesse o terrível pecado do suicídio, Julien devia fazer todos os esforços possíveis para obter seu indulto. Ora, tendo o clero muita influência no ministério da justiça em Paris, um meio fácil apresentava-se: bastava converter se de forma ostensiva...

– De forma ostensiva!, repetiu Julien. Ah! Vejo o senhor também, meu caro padre, representando a comédia como um missionário...
– Sua idade, retomou gravemente o jansenista, o papel interessante que a Providência lhe reservou, o motivo mesmo de seu crime, que permanece inexplicável, os esforços heroicos que a srta. de La Mole vem despendendo em seu favor, tudo enfim, até mesmo a surpreendente amizade que demonstra por sua vítima, contribuiu para transformá-lo no herói das mulheres jovens de Besançon. Elas esqueceram tudo por sua causa, mesmo a política... Sua conversão repercutiria nos corações delas e deixaria uma marca profunda. O senhor pode ser de grande utilidade à religião, e acaso eu hesitaria pela frívola razão de que os jesuítas agiriam da mesma forma em tal situação? Assim, mesmo neste caso particular que escapa à rapacidade deles, eles continuariam prejudicando! Que não seja assim... As lágrimas que sua conversão fará espalhar anularão o efeito corrosivo de dez edições das obras ímpias de Voltaire.
– E o que me restará, respondeu friamente Julien, se desprezo a mim mesmo? Fui ambicioso, não quero de modo algum reprovar-me por isso, pois agia então segundo as conveniências da época. Agora vivo o dia a dia. Mas eu seria muito infeliz se, à vista de todo o mundo, me entregasse a uma covardia...

     O outro incidente, que sensibilizou Julien de um modo bem diferente, partiu da sra. de Rênal. Não sei que amiga intrigante conseguira convencer essa alma ingênua e tão tímida que era seu dever partir para Saint-Cloud e lançar-se aos pés do rei Carlos X. 
    Ela fizera o sacrifício de separar-se de Julien e, depois de tal esforço, o desagrado de oferecer-se em espetáculo, que em outros tempos lhe teria parecido pior que a morte, nada mais significava para ela.

– Irei ao rei, confessarei abertamente que és meu amante: a vida de um homem, e de um homem como Julien, deve prevalecer sobre todas as considerações. Direi que foi por ciúme que atentaste contra minha vida. Há inúmeros casos de pobres moços salvos, em tal situação, pela humanidade do júri ou do rei...
– Deixo de te ver, mando impedir tua entrada na prisão, exclamou Julien, e com certeza mato-me de desespero no dia seguinte, se não me juras não tomar nenhuma providência que nos exponha, a ambos, em espetáculo ao público. Essa ideia de ir a Paris não é tua. Diz-me o nome da intrigante que te sugeriu isso...

     Sejamos felizes durante os poucos dias desta curta vida. Escondamos nossa existência; meu crime é por demais conhecido. A srta. de La Mole conta com todo o crédito em Paris, considera que ela vem fazendo o que é humanamente possível. Aqui na província, tenho contra mim todos os homens ricos e considerados. Teu procedimento irritaria ainda mais esses ricos e sobretudo moderados, para quem a vida é uma coisa fácil... Não nos exponhamos ao riso dos Maslon, dos Valenod, e de mil outros que valem mais.
      O ar insalubre do cárcere tornava-se insuportável para Julien. Por felicidade, no dia em que lhe anunciaram que ia morrer, um belo sol alegrava a natureza, e Julien estava disposto à coragem. Caminhar ao ar livre foi para ele uma sensação deliciosa, como o passeio em terra para o navegador que por muito tempo esteve no mar. Vamos, tudo vai bem, pensou, não me falta coragem.
      Nunca essa cabeça fora tão poética como no momento em que ia rolar. Os mais doces momentos que ele tivera outrora nos bosques de Vergy voltavam-lhe em turbilhão ao pensamento e com uma extrema energia.
     Tudo transcorreu de forma simples, conveniente e, da parte dele, sem nenhuma afetação. 
     Na antevéspera, ele dissera a Fouqué:

– Quanto à emoção, não posso garantir; este cárcere tão feio, tão úmido, me causa momentos de febre em que não me reconheço; mas medo, não, não me verão empalidecer.

      Ele fizera arranjos antecipados para que, na manhã do último dia, Fouqué levasse embora Mathilde e a sra. de Rênal.

– Leva-as na mesma carruagem, ele dissera. Trata de obter cavalos de posta acostumados ao galope. Elas cairão nos braços uma da outra, ou mostrarão um ódio mortal recíproco. Em ambos os casos, as pobres mulheres terão sua atenção desviada da terrível dor.

      Julien exigira da sra. de Rênal o juramento de que viveria para cuidar do filho de Mathilde.

– Quem sabe ainda tenhamos sensações após a morte!, ele dizia a Fouqué. Gostaria muito de repousar, pois repousar é a palavra, naquela pequena gruta da montanha que domina Verrières. Diversas vezes, como te contei, retirado à noite nessa gruta, e com a vista lançando se às mais ricas províncias da França, a ambição inflamou meu coração: era essa então minha paixão... Enfim, essa gruta me é cara e não se pode negar que está situada de um modo a fazer inveja à alma de um filósofo... Pois bem! Esses bons congregantes de Besançon fazem dinheiro de tudo; se souberes como agir, eles te venderão meus restos mortais...

      Fouqué foi bem-sucedido nessa triste negociação. Ele passava a noite em seu quarto, junto ao corpo do amigo, quando, para sua grande surpresa, viu entrar Mathilde. Poucas horas antes ele a deixara a dez léguas de Besançon. Ela tinha o olhar desvairado.

– Quero vê-lo, ela disse.

     Fouqué não teve a coragem de falar nem de levantar-se. Mostrou com o dedo um grande manto azul sobre o soalho; ali estava envolvido o que restava de Julien.
     Ela caiu de joelhos. A lembrança de Boniface de La Mole e de Marguerite de Navarra deu-lhe certamente uma coragem sobre-humana. Suas mãos trêmulas abriram o manto. Fouqué desviou os olhos.
     Ele ouviu Mathilde andar com precipitação pelo quarto. Ela acendia várias velas. Quando Fouqué teve forças para olhá-la, ela havia colocado sobre uma pequena mesa de mármore, à frente dela, a cabeça de Julien e a beijava na fronte...
     Mathilde acompanhou seu amante até o túmulo que ele escolhera. Um grande número de padres escoltavam o caixão e, sem que ninguém soubesse, sozinha em sua carruagem acortinada, ela levou sobre os joelhos a cabeça do homem que tanto amara.
      Tendo assim chegado ao ponto mais elevado de uma das mais altas montanhas do Jura, em meio à noite, naquela pequena gruta magnificamente iluminada por uma quantidade imensa de círios, vinte padres celebraram o ofício dos mortos. Todos os habitantes das pequenas aldeias da montanha, atravessadas pelo cortejo, haviam-no seguido, atraídos pela singularidade dessa estranha cerimônia.
     Mathilde apareceu no meio deles em longas vestes de luto e, no final do serviço, mandou distribuir-lhes vários milhares de moedas de cinco francos.
     Ficando a sós com Fouqué, ela quis sepultar com as próprias mãos a cabeça do amante. Fouqué esteve a ponto de enlouquecer de dor.
     Por cuidados de Mathilde, essa gruta selvagem foi ornada de mármores ricamente esculpidos na Itália.
     A sra. de Rênal foi fiel à sua promessa. Não procurou de maneira nenhuma atentar contra sua vida; mas, três dias depois de Julien, morreu abraçando os filhos.

FIM

 O inconveniente do reinado da opinião pública, que aliás busca a liberdade, é que ela se mistura ao que não lhe diz respeito: por exemplo, a vida privada. Daí a tristeza da América e da Inglaterra. Para evitar tocar na vida privada, o autor inventou uma pequena cidade, Verrières, e, quando teve necessidade de um bispo, de um júri, de um tribunal, colocou tudo isso em Besançon, onde ele jamais esteve. 

Leia também:

O Vermelho e o Negro: Uma Hora da Madrugada (XVI)
O Vermelho e o Negro: Uma Velha Espada (XVII)
O Vermelho e o Negro:  (XLV)
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ADVERTÊNCIA DO EDITOR

Esta obra estava prestes a ser publicada quando os grandes acontecimentos de julho [de 1830] vieram dar a todos os espíritos uma direção pouco favorável aos jogos da imaginação. Temos motivos para acreditar que as páginas seguintes foram escritas em 1827.
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DATAS E FATOS
1699: Nascimento em Grenoble do grande Pierre Beyle, avô de Stendhal, futuro procurador no Parlamento de Grenoble. 
1728: Nascimento em Grenoble de Henri Gagnon, avô materno de Stendhal. 
1747: Nascimento em Grenoble de Chérubin Beyle, pai de Stendhal. Em 1757 nasce Henriette Gagnon, sua mãe. Em 1781 acontece o casamento de seus pais.
1783-1799: INFÂNCIA EM GRENOBLE
 1783, 23 de janeiro: nasce Henri Beyle, em Grenoble, na casa paterna, à rua des Vieux Jésuites, atualmente rua Jean-Jacques Rousseau. Três anos depois nascerá sua irmã Pauline e, em 1788, sua segunda irmã, Zénaïde-Caroline, que ele detestará e acusará de “mexeriqueira”. Em 23 de novembro de 1790, o jovem Henri terá o desgosto de ver falecer a mãe que, segundo sua própria confissão, ele adorava. De seu pai já o separa um ódio inexpiável; Chérubin Beyle, desesperado pela morte da mulher, vive no isolamento e, segundo o filho, no tédio e na mesquinhez. Essa primeira infância deixará a Henri Beyle amargas lembranças. Sua tia Séraphie, que, segundo ele, o pai cortejava, o teria perseguido; ele só encontra ternura e compreensão junto ao avô Gagnon, médico renomado e homem esclarecido, e à irmã deste, a tia Élisabeth de coração “espanhol” e máximas generosas. Passa longas horas na casa do avô na praça Grenette, numa casa muito bela com um terraço coberto de caramanchão, que ainda existe.
1788: É o ano das primeiras lembranças revolucionárias. Henri Beyle, cujo avô paterno será, em dezembro, deputado nos Estados provinciais de Romans, assiste, entre outras, a algumas cenas da famosa “jornada das Telhas”.
1791: Henri, que não conhece ainda os arredores de Grenoble, onde o pai possui terras e onde fará passeios tristonhos, encontra uma efêmera felicidade ao passar uma temporada na casa do tio Romain Gagnon, em Les Échelles, na Savoia; as florestas e as cachoeiras deixam-no maravilhado.
Dezembro de 1792: É o começo da pior época de sua infância, a tirania Raillane; esse padre austero, “verdadeiro jesuíta”, o teria oprimido, despertando-lhe para sempre uma repugnância à hipocrisia e à autoridade. O padre execrado coincide em suas lembranças com a figura do Pai, do qual é apenas o instrumento despótico. Esse período dura até 1794.
1793-1795: Por uma desforra imediata, Henri vê o pai aterrorizado pela morte de Luís XVI. Mais tarde, ele se orgulhará de já ter sido um jacobino e um patriota intransigente. Chérubin Beyle, “notoriamente suspeito”, é detido e só será libertado definitivamente em julho de 1794. Henri Beyle assiste ao Terror em Grenoble, diverte-se às vezes com o pavor de seus parentes, partidários da realeza ou “moderados”, que rezam aos domingos uma missa clandestina. Uma noite, no inverno de 1794-1795, ele escapa de casa e assiste, com um pouco de repulsa, a uma sessão da Sociedade dos Jacobinos. Mas a visão dos belos cavaleiros do exército republicano o entusiasma. 
1796-1797: Henri Beyle ingressa na Escola Central de Grenoble. Seu avô participou da organização da escola e pronuncia um discurso na sessão de abertura. Henri, até então solitário e escravo, desfruta de um pouco mais de liberdade. Tanto mais que a terrível tia Séraphie morre em 1797. Ele conhece enfim jovens de sua idade, alguns dos quais permanecerão seus amigos. Ficará três anos na Escola Central, a princípio sem se destacar, depois como aluno brilhante; obtém menções honrosas, prêmios em desenho, belas-letras, e sobretudo matemática; conta, para deixar Grenoble, com um sucesso na Escola Politécnica. É também a época das primeiras paixões: ele ama timidamente a irmã de seu amigo Bigillion, e não menos timidamente a atriz Virginie Kubly. Finalmente, em 30 de outubro de 1799, parte para Paris, onde deve prestar o exame de ingresso na Politécnica, lá chegando em 10 de novembro, isto é, 19 de brumário.
1799-1806: AMORES E LEITURAS
1799: Henri Beyle logo esquece o exame, encerra-se na solidão e no tédio; reside na casa dos Daru, na rua de Lille, encarregados de protegê-lo.
1800: É o grande ano de Beyle. A partir de janeiro, passa a trabalhar com Pierre Daru no ministério da guerra.Pierre Daru, inspetor de tropas, faz que ele participe da campanha da Itália. Henri Beyle atravessa os Alpes e tem seu batismo de fogo no forte de Bard. Sua chegada na Itália é uma série de encantamentos; em Ivrea, no Piemonte, ouve “O casamento secreto” de Cimarosa; em Milão, descobre o amor venal e o amor paixão na pessoa de Angela Pietragua, que será sua amante. No outono, graças a seus protetores, veste o uniforme do 6º Regimento dos Dragões e, sem disparar um tiro, é promovido a subtenente. No ano seguinte, na Itália do Norte, acompanha de cidade em cidade o general Michaud, do qual é auxiliar de campo. Mas vem o tédio e, no final de 1801, obtém uma dispensa e volta à França. Aprendeu italiano, escreve seus primeiros ensaios dramáticos e começa seu Diário.
1802-1805: Henri Beyle vive em Paris, que ele só abandona para temporadas mais ou menos longas em Grenoble. É lá que conhece, em janeiro de 1802, Victorine Mounier, sua nova paixão, tão platonicamente amada quanto as anteriores. É o momento, sobretudo, em que Beyle devora livros e forja sua doutrina pessoal, a “Filosofia nova”, consignada em cadernos de apontamentos e reflexões. Pede demissão do exército e não sonha mais igualar-se a Molière. Apaixona-se por sua prima Adèle Rebuffel, mas só consegue ser o amante da mãe dela. Ingressa no mundo do teatro, toma aulas de declamação e fica conhecendo a jovem atriz Mélanie Guilbert, que ele seduzirá, não sem dificuldade, mediante uma minuciosa estratégia. A política tenta-o às vezes: ele reage como republicano ante o advento do Império. Mas o grande acontecimento, mais do que a concepção de Letellier, peça jamais terminada, é a leitura apaixonada de A ideologia, de Tracy.
1805: Beyle tornou-se um dândi, mas seu pai é avarento, donde a ideia de fazer dinheiro em Marselha com seu amigo Mante. Mélanie possui justamente um negócio por lá. No final de julho, está estabelecido em Marselha, amante de Mélanie e empregado na casa de produtos coloniais C. Meunier et Cie. Será o começo de uma rápida fortuna no ramo dos negócios?
1806: Não, é o tédio outra vez. Beyle, que prossegue suas leituras e reflexões, cansa-se de Mélanie e do comércio, condenado à estagnação pela guerra. Sente necessidade de aproximar se novamente dos Daru, de participar da corrida aos cargos. De volta a Paris em julho, torna a partir de lá em 16 de outubro, acompanhando Martial Daru. Terá entrado em Berlim com Napoleão, como dirá, tendo à mão pistolas carregadas? O certo é que no final do ano está em Brunswick, na qualidade de adjunto provisório aos comissários das Guerras napoleônicas.
1806-1814: A PAIXÃO DA AMBIÇÃO
1806-1808: Para conquistar fortuna e títulos e viver como lhe apraz, Henri Beyle torna-se funcionário imperial graças aos Daru. Permanece primeiro em Brunswick no mesmo cargo, depois é encarregado de administrar os domínios imperiais do departamento de Ocker e, além disso, de vigiar os bens do rei da Vestefália. Enamora-se, sem esperança, de Mina de Griesheim. Escreve Voyage à Brunswick [Viagem a Brunswick] e diversos ensaios históricos. Inicia-se na literatura inglesa, percorre a Alemanha e enfrenta uma sedição em setembro de 1808.
1809: Chamado de volta a Paris, no final de 1808, torna a partir em abril para a campanha de Wagram. Acompanha o exército, não assiste à grande batalha, mas recolhe cruéis depoimentos de guerra. Em Viena, onde ouve o Requiem pela morte de Haydn, trabalha para Martial Daru, intendente da província, que lhe confia uma missão na Hungria. Enamora-se de uma certa Babet e apaixona-se pela condessa Pierre Daru, mulher de seu protetor.
1810-1811: É o apogeu de sua carreira. Em agosto de 1810, é admitido como auditor no Conselho de Estado; logo é nomeado inspetor do mobiliário e das construções da Coroa. Possui cocheiro, carruagem e amante, a atriz Angeline Béreyter, ao mesmo tempo em que elabora relatórios minuciosos sobre o mobiliário das residências imperiais e dos museus. Mas não é bem-sucedido na arte de obter favores nem nas conquistas amorosas. A batalha empreendida, depois de maduras reflexões, para possuir a condessa Daru é uma batalha perdida. Para desforrar-se, viaja à Itália, onde escreve o Diário e volta a ser o amante cumulado e certamente enganado de Angela Pietragua. Revê Milão, descobre Florença, Roma, Nápoles, tem a ideia de escrever a Histoire de la Peinture en Italie. Mas, ao retornar, a ambição marca passo e Beyle não fará mais progressos.
1812: Em 23 de julho, após uma audiência com a Imperatriz, parte para juntar-se ao quartel general do Imperador, munido da pasta dos ministros; alcança-o em 14 de agosto e, um mês depois, entra em Moscou. Precedendo a retirada, parte de lá em 16 de outubro, encarregado de dirigir os aprovisionamentos em Smolensk, Mohilev e Vitebsk. Enfrenta os perigos e os sofrimentos físicos com um inalterável sangue-frio. Mas perde os manuscritos da História da pintura.
1813: Seu novo posto é na Silésia, em Sagan, onde cumpre as funções de intendente. Está cansado e desiludido: não é nem barão, nem governador, nem consultor do Conselho de Estado. Em Bautzen, é atacado pelos cossacos. Uma licença oportuna permite-lhe rever Milão e sua querida Lombardia.
1814: Está em Grenoble, como auxiliar do conde de Saint-Villier, comissário extraordinário da 7ª região militar. É preciso organizar a resistência à invasão. Mas o “fogo sagrado” extinguiu-se; cansado das intrigas administrativas, cansado da ambição e do Império, solicita sua dispensa. Encontra-se em Paris no momento da entrada dos Aliados. É a queda de sua fortuna. Beyle ainda tenta um cargo com a proteção da sra. Beugnot. Em maio e junho escreve as Lettres sur Haydn, Mozart e Métastase [Cartas sobre Haydn, Mozart e Metastásio], em que o plágio é cínico. Finalmente, em julho, deixa Paris por Milão: foge dos Bourbons, da obscuridade e do aborrecimento? Ele começa sua verdadeira vida, enfim, de escritor, de diletante.
1814-1821: MILANÊS
1814: Em Milão, reata sua relação tempestuosa com Angela. Enquanto seu pai, reacionário, é condecorado com a Legião de Honra, e torna-se prefeito de Grenoble, Henri viaja, escreve, desesperado com o desprezo de Angela.
1815: O retorno de Napoleão da ilha de Elba não o faz voltar à França; mas Waterloo o entristece. Viaja a Turim e a Veneza. Trabalha muito na História da pintura. O final do ano é marcado pelo rompimento, doloroso, com Angela.
1816: Ele passa quase o ano inteiro em Milão, que abandona apenas para uma temporada de abril a junho em Grenoble, e uma viagem a Roma no fim do ano. Encontra-se em Grenoble, certamente por acaso, no momento do complô de Didier. Apoquentam-no por causa de seus vencimentos de inativo. Pensa em fazer fortuna na Rússia. Mas uma noite, no Scala em Milão, no camarote do monsenhor di Breme, é apresentado a Byron. Nesse ano, ele descobre o verdadeiro romantismo com a Edimburgh Review.
1817: Stendhal está em Roma, Nápoles, Milão, depois, na primavera, em Grenoble e em Paris, finalmente em Londres, em agosto, voltando a Milão no fim do ano. A Histoire de la Peinture en Italie, assinada por M. B. A. A., é publicada no fim de julho, e Rome, Naples et Florence en 1817, do sr. de Stendhal, oficial de cavalaria, é anunciado em setembro na Bibliographie de France. As cartas sobre Haydn, traduzidas em inglês, aparecem em Londres. Novo encontro memorável: com Destutt de Tracy, a 4 de setembro, em Paris.
1818: O ano se passa em Milão, junto aos lagos, na Brianza. Em dois momentos, ele trabalha na impublicável Vie de Napoleón, iniciada no ano anterior. Resolve intervir na querela do “romanticismo”, ligando-se ao futuro grupo do Conciliatore. Mas, em março, apaixona-se perdidamente por Métilde Dembovski, que quase em seguida o trata muito mal. É talvez o acontecimento maior de sua vida, que irá ocupá-lo inteiramente por longos anos e que ele jamais poderá evocar sem perturbar-se.
1819: Comete mil extravagâncias por Métilde. Em vão: ela não quer mais saber dele. Stendhal só deixa a Itália para ir a Grenoble e Paris: seu pai morreu, é preciso tratar da herança, que se revela minguada. Como é eleitor, aproveita para votar a favor do convencional Grégoire. 
1820: Sua paixão é sem esperança. Novo desgosto: durante algum tempo é visto por seus amigos milaneses como um espião. Escreve De l’Amour [Do amor], que termina e envia à França. 
1821: Stendhal é envolvido no turbilhão das conjurações liberais. Seus amigos são carbonários, a própria Métilde é suspeita de sê-lo. Aconselham-no a partir. A 13 de junho, desesperado, ele deixa Milão, onde só voltará em 1828 para ser imediatamente expulso. Instala-se em Paris e passa algumas semanas em Londres. 
1821-1830: A VIDA PARISIENSE
1822: Em Paris, Stendhal publica De L´Amour, anunciado em 17 de agosto na Bibliographie de France, e começa a colaborar com revistas britânicas que, apesar de algumas interrupções, receberão artigos seus até 1828. Ele frequenta o salão do conde de Tracy e a água-furtada de Delécluze. 
1823: Stendhal, amigo íntimo da cantora italiana Pasta, conhece seu primeiro verdadeiro sucesso ao apresentar Rossini ao público francês: sua Vie de Rossini é anunciada em novembro na Bibliographie de France. Ele colocou-se no front do romantismo literário com o panfleto Racine et Shakespeare, publicado em março. Termina o ano com uma temporada em Florença e Roma.
1824: Em maio, torna-se o amante da condessa Curial, dita Menti, que ele amará com violência até 1826. Diletante especialista, escreve sobre pintura e música no Journal de Paris. O Le Globe também publica seus artigos. Ele torna-se quase importante no romantismo liberal. 
1825: É o ano dos panfletos, o segundo Racine et Shakespeare, em março, Un nouveau complot contre les industriels, em dezembro. Amigo de Courier, de Mérimée, de Jacquemont, frequentador dos grandes salões liberais, será temido por seu “espírito”. 
1826: Fim do caso de amor com a condessa Curial. Viagem à Inglaterra. Publica uma segunda edição muito modificada de Rome, Naples et Florence, e escreve Armance, que sairá em 1827. 
1827: Ano meio parisiense, meio italiano.
1828: 1o-2 de janeiro, Stendhal é expulso de Milão. Está em dificuldades financeiras, as revistas inglesas não pagam mais; conta apenas com seus vencimentos de inativo. É obrigado a solicitar favores: será arquivista, bibliotecário? Nomeiam-no verificador auxiliar dos brasões, cargo que não lhe rende nada. Pensa em suicídio. Levado pela moda das “cenas históricas”, escreve Henri III. 
1829: Escreve e publica Promenades en Rome [Passeios em Roma], anunciados em 5 de setembro pelo Journal de la Librairie. Levam a sério seu conhecimento do Estado romano, e o governo lhe teria pedido um relatório sobre os cardeais com possibilidades de chegar ao papado. Ligação com Alberthe de Rubempré, dita Sanscrit, ou Madame Azul, que ele ama vigorosamente. Sentindo-se rejeitado, parte em viagem para o sul da França e a Espanha (de onde é expulso): ao voltar, em dezembro, vê-se definitivamente suplantado por seu amigo Mareste. Mas traz a ideia de Le Rouge et le Noir [O vermelho e o negro] e escreve Vanina Vanini, Le Coffre et le Revenant [O baú e a alma do outro mundo], que serão publicados na Revue de Paris, e Mina de Vanghel, que permanecerá inédito durante sua vida. 
1830: Escreve Le Philtre [O filtro], Le Rouge et le Noir, colabora com as publicações Le National e Le Temps, conhece em janeiro o outro líder do romantismo, Hugo. Na mesma época, Giulia Rinieri declara que o ama apesar de sua idade e sua feiura; prudentemente, ele não cede de imediato; em 22 de março, torna-se seu amante. Enquanto termina Le Rouge, a Revolução de 1830 o alegra e o vinga. Anota os progressos da sedição às margens do Memorial de Santa Helena. Pela primeira vez, ama e estima os parisienses. Solicita um cargo de governador, posteriormente de cônsul; em 25 de setembro é nomeado cônsul em Trieste. Parte em 6 de novembro; no mesmo dia pede Giulia em casamento. No dia 13, o Journal de la Librairie anuncia O vermelho e o negro.
 1830-1842: CÔNSUL DA FRANÇA
1830-1831: A polícia e o governo austríacos inquietam-se e, em 4 de dezembro, poucos dias depois de Stendhal assumir seu posto, Les Débats anunciam que Viena recusou-lhe o exequatur. Ele deixa Trieste em 31 de março e é nomeado cônsul em Civita-Vecchia. O governo pontifício, embora não satisfeito com essa nomeação, prefere evitar um incidente com a França e concede o exequatur em 25 de abril. Stendhal, que chegou a seu posto dia 17, vai e vem entre Civita-Vecchia e Roma. De meados de agosto a meados de setembro, viagens a Siena, Florença, Prato, Viterbo. Ele escreve, no final de setembro, San Francesco a Ripa, que não publica. 
1832: Stendhal é encarregado do serviço financeiro das tropas francesas desembarcadas em Ancona. Depois dessa missão, viaja e abandona seu posto; vai a Roma, a Siena, onde encontra Giulia, ainda apaixonadamente amada, a Florença, aos Abruzos. De 20 de junho a 4 de julho, escreve Souvenirs d´égotisme [Lembranças do egotismo] e, em setembro-outubro, esboça um romance: Une position sociale.
1833: Vai outra vez a Siena para ver Giulia. Mas ela se casa em junho. Stendhal encontrou os “manuscritos italianos” e começa a preparar sua adaptação. De 11 de setembro a 4 de dezembro, está em Paris, de licença. Na volta, viaja de Lyon a Marselha com Musset e George Sand, que vão a Veneza. 
1834: Ano de permanência em Civita-Vecchia, que ele só abandona para ir a Roma. Primeiras escaramuças com seu chanceler, Lysimaque Tavernier, e com o ministério, por conta de suas ausências. “Morro de tédio”, escreve Stendhal em maio, que resolve empreender por conta própria uma ideia de romance de sua amiga, sra. Gaulthier: é Lucien Leuwen, no qual trabalha “com raiva” durante dezenove meses.
1835: Ainda permanência e tédio. Stendhal sente seu posto ameaçado, embora em janeiro tenha recebido a Legião de Honra como homem de letras. Está um pouco enamorado da condessa Cini, que ele chama Sandre. Em setembro, abandona Lucien Leuwen e, em novembro, começa La Vie d´Henry Brulard. Mas o desgosto e a inquietude crescem: “Terei de viver e morrer nesta praia solitária?... Estou cansado do sol...” Enfim, em março de 1836, obtém uma licença de três meses; deixa esboçado Henry Brulard e, em 24 de maio, desembarca em Paris. 
1836-1839: Sua licença de três meses irá durar, graças à proteção do conde Molé, três anos. Ele tenta primeiro reatar com a condessa Curial; depois, empreende a batalha, mas em vão, pela sra. Gaulthier, sua velha amiga. De novembro de 1836 a junho de 1837, trabalha nas Mémoires sur Napoléon; de abril a junho de 1837, escreve Rose et Vert; ainda em 1837, publica na Revue des deux Mondes, Vittoria Accoramboni (1º de março) e Les Cenci (1º de julho). Do fim de maio ao início de julho de 1837, faz uma viagem pelo centro e o oeste da França; logo ao voltar, escreve Les Mémoires d´un Touriste, que serão anunciadas em junho de 1838 na Bibliographie de France. De março a julho de 1838, volta a fazer uma longa viagem pelo sudoeste e o sudeste da França, a Suíça, a Renânia, a Holanda e a Bélgica. Ao voltar, publica La Duchesse de Palliano [A duquesa de Palliano] (15 de agosto); em setembro, tem a primeira ideia de La Chartreuse de Parme [A cartuxa de Parma]. Mas é somente depois de retornar de uma breve viagem à Bretanha e à Normandia que escreve sua obra-prima, entre 4 de novembro e 26 de dezembro de 1838. Publica a seguir, na Revue des deux MondesA´Abbesse de Castro [A Abadessa de Castro], que começara em setembro de 1838: a primeira parte aparece em 1º de fevereiro de 1839 e a segunda em 1º de março. A cartuxa é anunciada pelo Journal de la Librairie em 6 de abril. Esboça ainda duas novelas italianas: Suora Scolastica, Trop de faveur tue [Favor em excesso mata], duas novelas francesas, Le Chevalier de Saint-Ismier, Feder, e concebe o romance Lamiel. Mas, em 24 de junho, é obrigado a partir de volta a seu consulado, que reassume em 10 de agosto.
1839-1841: Só abandona seu posto para ir a Roma, a Nápoles, que visita com Mérimée (outubro-novembro de 1839), a Florença, durante o verão de 1840 e sempre por causa de Giulia, que tornara a encontrar em Paris. Em Civita-Vecchia ocupa-se de escavações e caçadas, prossegue incansavelmente Lamiel, começa uma novela, Don Pardo, corrige A cartuxa. Em 1840, apaixona-se por Earline; mas essa nova “batalha” por uma misteriosa desconhecida é mais uma vez perdida, em junho. Em 15 de março de 1841, sofre um ataque de apoplexia; recupera-se rapidamente, mas já “engalfinhou-se com o nada”. Segue-se uma última intriga com “Madame Bouche”; depois, munido de uma licença, volta à França em novembro de 1841. 
1842: Stendhal só consegue retomar o trabalho em março de 1842: cogita uma nova coletânea de novelas. Mas, em 22 de março, tem um novo ataque de apoplexia, na calçada da rua Neuve des Capucines. Morre durante a noite sem recobrar os sentidos. 

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