Origens do Totalitarismo
3. Raça e Burocracia
Hannah Arendt
Parte II
IMPERIALISMO
Se eu pudesse, anexaria os planetas.
Cecil Rhodes
3.1 - O Mundo Fantasma do Continente Negro
Até o fim do século XIX, os empreendimentos coloniais dos povos marítimos da Europa
produziram duas formas principais de realizações: nos territórios recém-descobertos e
escassamente povoados, a colonização por meio da fundação de centros populacionais, que adotavam as instituições políticas e legais do país de
origem; e nos países bem conhecidos, embora exóticos, entre povos estrangeiros, o
estabelecimento de entrepostos marítimos e comerciais, cuja função única era a de facilitar a
troca, nem sempre muito pacífica, das riquezas do mundo. A colonização ocorreu na América e
na Austrália, dois continentes que, sem cultura ou história próprias, haviam caído nas mãos dos
europeus. Já os entrepostos comerciais foram característicos da Ásia, onde, durante séculos, os
europeus não haviam demonstrado qualquer ambição de domínio permanente ou de conquista,
não pretendendo dizimar a população nativa nem estabelecer-se de modo duradouro.[4] Ambas as
formas desses empreendimentos ultramarinos surgiram ao cabo de um longo processo, que
começou no século XVI. Desde então, alguns povos gradualmente conseguiram conquistar a sua
independência, enquanto os entrepostos comerciais passavam das mãos de uma nação para as de
outra, de acordo com o seu relativo poder ou fraqueza na Europa.
O único continente que a Europa não havia tocado no decurso de sua história colonial era a
África. Só seu litoral norte, habitado desde o século VIII por povos e tribos arabizados, era bem
conhecido, por ter pertencido na Antiguidade à área de influência europeia. Demasiado
povoadas para atrair colonizadores e demasiado pobres para serem exploradas, essas regiões
sofreram todas as modalidades de domínio estrangeiro e todos os tipos de abandono anárquico,
mas, por mais estranho que pareça, desde o declínio do império egípcio e a destruição de
Cartago, nunca, até a década 60 do século XX, alcançaram independência genuína ou
organização política estável. É certo que os países europeus tentavam, volta e meia, atravessar o
Mediterrâneo e impor o seu domínio às terras árabes e o cristianismo aos povos muçulmanos,
mas sem tratar os territórios da África do Norte como possessões ultramarinas: pelo contrário,
aspiraram muitas vezes a incorporá-los aos respectivos países colonizadores. Essa antiga
tradição, seguida ainda em tempos recentes pela Itália e pela França, foi quebrada na década de
80 do século XIX, quando a Inglaterra dominou o Egito para proteger o canal de Suez, mas,
ainda assim, sem qualquer intenção de conquista ou de incorporação política do país, já que a
Inglaterra, não se situando nas praias do Mediterrâneo, como a França ou a Itália, não podia de
forma alguma estar interessada no Egito [como esses dois países se interessaram pela Argélia ou
Líbia, respectivamente], precisando dele tão-só por causa das riquezas da índia.
Enquanto o imperialismo transformava o Egito de país ocasionalmente cobiçado em entreposto
militar a caminho da índia e ponto de apoio para as eventuais expansões futuras, com a África do Sul ocorria exatamente o oposto. Desde o século
XVII, a importância do cabo da Boa Esperança dependia da índia, centro da riqueza colonial:
por conseguinte, qualquer país que estabelecesse ali seus entrepostos comerciais precisava de
um apoio logístico no Cabo, que de fato só foi abandonado quando acabou o comércio
unilateralmente explorado com a índia. No fim do século XVIII, a Companhia das índias
Orientais britânica derrotou Portugal, Holanda e França e conquistou o monopólio do comércio
com a índia; logicamente, seguiu-se a essa vitória a ocupação da África do Sul. Se o
imperialismo simplesmente continuasse as tradicionais tendências do comércio colonial (que é
tão freqüentemente confundido com o imperialismo), a Inglaterra teria liquidado a sua posição
na África do Sul após a abertura do canal de Suez em 1869.[5] Mesmo quando a África do Sul
pertencia à Comunidade Britânica, sempre foi diferente dos outros domínios da coroa; seu solo
não sendo fértil e a população não sendo escassa, o país carecia de dois pré-requisitos para o
estabelecimento definitivo do colonizador. O único esforço para instalar ali mil colonos — 5 mil
ingleses desempregados — ocorreu ainda no começo do século XIX e acabou em fracasso. Não
somente as correntes migratórias britânicas evitaram a África do Sul durante todo o século XIX,
mas, curiosamente, a África do Sul era o único domínio do qual emigrantes retornavam para a
Inglaterra ainda em tempos recentes.[6] A África do Sul, que se tornou "solo de cultivo do
imperialismo" (Damce), não foi reclamada nem sequer pelos mais radicais defensores ingleses
da "saxonidade" e não fazia parte das visões dos mais românticos sonhadores de um Império
Asiático. Isso demonstra quão pequena foi a influência da empresa colonial pré-imperialista no
desenvolvimento do próprio imperialismo. Se a política pré-imperialista houvesse prevalecido, a
colônia do Cabo teria sido abandonada justamente quando era maior a sua importância.
As descobertas de minas de ouro e de jazidas de diamantes nos anos 70 e 80 teriam tido
consequências insignificantes, se não tivessem servido de agente catalisador para as forças
imperialistas. É notável a alegação dos imperialistas de terem encontrado numa corrida em busca da matéria-prima mais supérflua da terra a solução
permanente para o problema da superfluidade. A importância do ouro é mínima quando
comparada à do ferro, do carvão, do petróleo e da borracha; por outro lado, é o mais antigo
símbolo da riqueza. Em sua inutilidade para a produção industrial, o ouro se assemelha ao
dinheiro supérfluo que financiou a sua mineração e aos homens supérfluos que cavaram as suas
minas. À pretensão dos imperialistas de haverem descoberto a salvação permanente para uma
sociedade decadente e uma organização política antiquada, acrescentava-se outra suposição: a
da perene estabilidade gerada pelo ouro e sua independência de todos os outros fatores
funcionais. É significativo que uma sociedade, às vésperas de romper com todos os tradicionais
valores absolutos, começasse a buscar um valor absoluto no mundo da economia, onde, na
verdade, não existe nem pode existir valor absoluto, já que tudo é funcional e mutável por
definição. Essa ilusão do valor absoluto fez com que a produção do ouro desde os tempos
antigos fosse a atividade de aventureiros, jogadores e criminosos, de elementos alheios à
sociedade normal e sadia. A novidade na corrida do ouro sul-africano era que os aventureiros
não eram de todo alheios à sociedade civilizada, mas, ao contrário, constituíam o seu
subproduto, um resíduo inevitável do sistema capitalista, representantes de uma economia que
originava e produzia incessantemente homens e capital supérfluos.
Os homens supérfluos, "os boêmios dos quatro continentes"[7] que acorreram ao Cabo, ainda
tinham muito em comum com os antigos aventureiros. Eles também diziam, como Kipling:
"Ponham-me num navio que vá para leste de Suez, onde o bom é como o mau, onde não
existem os Dez Mandamentos e onde todos os desejos são permitidos". A diferença não estava
na sua moralidade ou imoralidade, mas sim no fato de que, se se uniam a esse bando de homens
"de todas as nações e de todas as cores",[8] não era por escolha própria; não se haviam retirado
voluntariamente da sociedade, mas sim tinham sido cuspidos por ela; eram suas vítimas sem
função e sem uso. Sua única escolha havia sido negativa: haviam optado contra os movimentos
operários, onde os rejeitados da sociedade criavam uma espécie de contra-sociedade através da
qual podiam voltar ao mundo da camaradagem e do bom senso. Não resultavam de realizações
próprias: eram símbolos vivos do que lhes havia acontecido, testemunhas vivas do absurdo das
instituições humanas. Ao contrário dos antigos aventureiros, eram sombras de acontecimentos
com os quais nada tinham a ver. Como o sr. Kurtz, em "Heart of Darkness" de Conrad, eram
"ocos por dentro", "arrojados sem atrevimento, cobiçosos sem audácia e cruéis sem coragem".
Em nada acreditavam, mas "podiam chegar a crer em tudo". Expulsos de um mundo com
valores sociais estabelecidos e jogados à mercê de si mesmos, sequer tinham onde se apoiar, a
não ser lampejos de talento que os tornariam tão perigosos quanto Kurtz, se um dia lhes fosse
permitido voltar aos seus países. Pois o único talento que germinava em suas almas vazias era o dom do fascínio que
marca o "esplêndido líder de um partido extremista". Os mais talentosos eram encarnações vivas
do ressentimento, como o alemão Carl Peters (possível modelo de Kurtz), que confessava
abertamente estar "farto de ser considerado pária", ele que "queria pertencer a uma raça de
senhores".[9] Mas, talentosos ou não, "topavam tudo, desde jogar cara-e-coroa até matar alguém",
e para eles a vida do próximo "tanto fazia como tanto fez". Assim, trouxeram consigo ou logo
aprenderam o código de boas maneiras ajustado ao futuro tipo de assassino, que só conhecia um
pecado imperdoável: perder a calma.
É verdade que entre eles havia cavalheiros autênticos, como ò sr. Jones do Victory de Conrad,
que, por enfado, pagavam de bom grado o preço de viver no "mundo do perigo e da aventura",
ou como o sr. Heyst, cheio de desprezo por tudo o que era humano, até que foi levado na
correnteza "como uma folha solta (...) sem jamais se agarrar a nada". Sentiam-se
irresistivelmente atraídos por um mundo onde tudo era uma piada que lhes podia ensinar o
gracejo máximo que é "controlar o desespero". O cavalheiro perfeito e o canalha perfeito vieram
a conhecer muito bem um ao outro na "grande selva selvagem sem lei", e verificaram ser
"parecidos em sua dissimilitude, almas idênticas em disfarces diferentes". Conhecemos a
conduta da alta sociedade francesa durante o Caso Dreyfus e vimos Disraeli descobrir a relação
social entre o vício e o crime; mais uma vez estamos diante da alta sociedade que se apaixona
por seu próprio submundo, e do criminoso que se sente enaltecido quando, desde que com frieza
civilizada, sem esforço desnecessário e com boas maneiras, lhe é permitido criar uma atmosfera
de refinado vício em torno de seus crimes. Esse refinamento, o próprio contraste entre a
brutalidade do crime e a maneira de cometê-lo, cria um laço de profunda compreensão entre o
criminoso perfeito e o cavalheiro perfeito. Mas aquilo que, afinal, levou décadas para surgir na
Europa, dado o efeito retardador dos valores éticos sociais, explodiu subitamente como um
curto-circuito no mundo fantasma da aventura colonial.
Longe de qualquer controle e da hipocrisia social, tendo como pano de fundo só o mundo dos
nativos, o cavalheiro e o criminoso sentiam não apenas a afinidade de homens da mesma cor e
origem, mas também o impacto de um mundo que oferecia possibilidades infinitas para crimes
em nome da diversão, para uma mistura de horror e de riso, ou seja, para a plena realização de
suas existências fantasmas. A vida nativa forrava esses eventos fantasmagóricos com aparente
garantia contra quaisquer consequências, uma vez que os nativos pareciam a esses homens
"mero movimento de sombras. Sombras em movimento, a raça dominante podia caminhar entre
elas impunemente e sem ser percebida, em busca de seus incompreensíveis propósitos e
necessidades" ("Heart of darkness").
O mundo dos selvagens nativos compunha perfeito cenário para homens
(9) Citado por Paul Ritter, Kolonien im deutschen Schriftum [As colônias na literatura alemã], 1936 que haviam fugido da realidade da civilização. Sob o sol inclemente, rodeados pela natureza
hostil, deparavam com seres humanos que, vivendo sem um determinado alvo para o futuro e
sem um passado que incorporasse as suas realizações, pareciam-lhes tão incompreensíveis como
os loucos de um hospício. "Esse homem pré-histórico nos amaldiçoava, implorava ou dava as
boas-vindas? Quem poderia saber? Entre nós e o meio ambiente não havia qualquer
entendimento; passávamos entre eles como fantasmas, cheios de espanto mas secretamente
apavorados, como homens sãos diante da exaltada rebeldia de loucos. (...) A terra parecia aqui
um outro mundo (...), e os homens. (...) Não, não eram inumanos. Mas isso era o pior, essa
suspeita que me invadia aos poucos de que não eram inumanos. Porque, ao urrarem e pularem, e
darem cambalhotas, e fazerem trejeitos horríveis, o que nos impressionava era justamente a
ideia de que fossem humanos como nós, e foi difícil pensar em nosso remoto parentesco com
esse tumulto selvagem e violento" ("Heart of darkness").
É estranho que, do ponto de vista histórico, a existência de "homens pré-históricos" tenha tido
tão pouca influência sobre o homem ocidental antes da corrida para a África. No entanto, o fato
é que nada aconteceu enquanto tribos selvagens, apesar da desvantagem numérica dos
colonizadores, eram exterminadas, enquanto navios negreiros levavam-nas como escravos,
enquanto eram apenas alguns indivíduos que se embrenhavam no interior do Continente Negro,
onde os selvagens eram suficientemente numerosos para constituírem seu mundo próprio, um
mundo de loucura ao qual o aventureiro europeu acrescentava a loucura da caça ao marfim.
Muitos desses aventureiros haviam enlouquecido na vastidão silenciosa daquele continente,
onde a presença de seres humanos somente agravava a enorme solidão, e onde uma natureza
intacta, avassaladoramente hostil, que jamais ninguém se dispusera a transformar em ambiente
humano, parecia aguardar com sublime paciência que "acabasse a fantástica invasão" do
homem. Mas, enquanto não passava de experiências individuais, essa loucura era sem
consequências.
Isso mudou com os homens que chegaram durante a corrida colonialista para a África. Já não se
tratava de indivíduos solitários: toda a Europa contribuía para a corrida. Concentraram-se na
parte sul do continente, onde encontraram os bôeres, um grupo de holandeses desgarrados, já
quase esquecidos pela Europa, mas que agora serviam como guias naturais no desafio do novo
ambiente. A reação dos homens supérfluos foi, em grande parte, determinada pela reação do
único grupo europeu que jamais tivera de viver num mundo de selvagens negros, embora em
completo isolamento.
Os bôeres descendem de colonos holandeses que, em meados do século XVII, habitavam um
posto marítimo no Cabo, destinado a fornecer carne e legumes aos navios que demandavam a
índia. Um pequeno grupo de hugue-notes franceses os seguiu no decorrer do século XVIII.
Graças à alta taxa de natalidade, o pequeno bando de holandeses pôde chegar à categoria de
modesto grupo populacional. Completamente isolados da corrente da história europeia escolheram um caminho que "poucas nações haviam percorrido antes deles, e quase nenhuma
com sucesso".[10]
Os dois principais fatores materiais do desenvolvimento dos bôeres foram o solo de péssima
qualidade, que só podia ser usado para a criação de gado, e a numerosa população negra,
organizada em tribos nômades que viviam da caça.[11] O solo adverso tornava inviável a
construção de povoados, impedindo que aqueles camponeses holandeses imitassem a
organização urbana de sua terra natal. As grandes famílias, isoladas umas das outras por vastas
regiões incultiváveis, formaram uma espécie de organização clânica, e somente a constante
ameaça de um inimigo comum, muito mais numeroso que os colonos brancos, impedia que
esses clãs guerreassem entre si. Á solução para a falta de fertilidade do solo foi a pecuária; e
para a abundância de nativos, a escravidão.[12]
Contudo, escravidão é uma palavra insuficiente para descrever o que realmente aconteceu. Em
primeiro lugar, a escravidão, embora domesticasse certa parte da população selvagem, nunca
atingiu a todos, de sorte que os bôeres jamais puderam esquecer o primeiro horrível susto diante
de homens que seu orgulho e seu senso de dignidade não permitiam aceitar como semelhantes.
Esse pavor de algo semelhante a nós que, contudo, não devia, de modo algum, ser semelhante a
nós justificou em termos ideológicos a escravidão e constituiu a base da sociedade racista.
A humanidade conhece a história dos povos, mas seu conhecimento de tribos pré-históricas é
apenas lendário. O termo "raça" só chega a ter um significado preciso, quando e onde os povos
com história conhecida se defrontam com tribos das quais não têm nenhum registro histórico e
que ignoram a sua própria história. E não sabemos se essas tribos representam o "homem pré-histórico", os espécimes das primeiras formas de vida humana na terra que por acaso
sobreviveram, ou se são os sobreviventes "pós-históricos" de algum desastre desconhecido que
pôs fim a alguma civilização. Parecem, sem dúvida, sobreviventes de alguma grande catástrofe
seguida de desastres menores, até que a monotonia catastrófica passou a ser a condição natural
da sua vida. De qualquer modo, só se encontravam raças desse tipo em regiões onde a natureza
era particularmente hostil. O que os fazia diferentes dos outros seres humanos não era
absolutamente a cor da pele, mas o fato de se portarem como se fossem parte da natureza;
tratavam-na como sua senhora inconteste; não haviam criado um mundo de domínio humano, uma realidade humana, e, portanto, a natureza havia
permanecido, em toda a sua majestade, como a única realidade esmagadora, diante da qual os
homens pareciam meros fantasmas, irreais e espectrais. Pareciam tão amalgamados com a
natureza que careciam de caráter especificamente humano, de realidade especificamente
humana; de sorte que, quando os europeus os massacravam, de certa forma não sentiam que
estivessem cometendo um crime contra homens.
Além disso, os insensatos massacres das tribos do Continente Negro pelos brancos não
destoavam das próprias tradições dessas mesmas tribos. O extermínio de grupos hostis foi
norma em todas as guerras entre os nativos africanos, que não foi abolida nem mesmo quando
um líder negro veio a unir várias tribos sob o seu comando. O rei Tchaka, que no início do
século XIX uniu as tribos zulus para formar uma organização extraordinariamente disciplinada e
guerreira, não chegou na realidade a estabelecer uma nação de zulus. Conseguiu apenas
exterminar mais de 1 milhão de membros das tribos mais fracas.[13] Como a disciplina e a
organização militar, por si sós, não podem estabelecer uma estrutura política, a destruição ficou
como um episódio não registrado num processo irreal e incompreensível, que não pôde ser
aceito pelo homem e, portanto, não é relembrado pela história humana.
A escravidão, no caso dos bôeres, foi uma forma de ajustamento de um povo europeu a uma
raça negra;[14] apenas superficialmente lembra fenômenos históricos resultantes da conquista ou
do comércio escravo. Nenhuma estrutura política, nenhuma organização comunitária unia os
bôeres, nenhum território delimitado foi definitivamente colonizado por eles, e os escravos
negros não serviam a nenhuma civilização branca. Os bôeres haviam perdido tanto a sua relação
de camponeses com o solo quanto o seu sentimento civilizado de solidariedade humana. A regra
do país preconizava a necessidade de "cada um fugir da tirania da presença do vizinho",[15] e
assim cada família bôer repetia em completo isolamento a mesma experiência geral dos bôeres
que viviam entre selvagens negros e os dominavam em completo desrespeito às leis, sem serem
impedidos por "bondosos vizinhos, prontos a te aplaudir ou cair em cima de ti, interpondo-se
delicadamente entre o assassino e o policial, num santo horror de escândalo, de cadeia e asilo de
lunáticos" (Joseph Conrad). Dominando tribos e vivendo aparasitados ao seu trabalho, passaram
a ocupar uma posição muito semelhante à dos chefes tribais nativos, cujo poder haviam
liquidado. Fosse como fosse, os nativos reconheciam neles uma forma superior de liderança
tribal, uma espécie de deidade natural à qual era mister obedecer, de sorte que o divino papel
dos bôeres não foi imposto apenas pela escravização dos negros, mas também livremente assumido por eles. E, para esses deuses brancos de escravos negros, lei
significava apenas a redução da própria liberdade, e governo significava apenas restrições à
desenfreada arbitrariedade do seu clã.[16] Os bôeres descobriram nos nativos a única "matéria
prima" que a África lhes oferecia em abundância, e a usaram não para produzir riqueza mas
apenas para a satisfação das suas necessidades básicas.
Os escravos negros da África do Sul tornaram-se rapidamente a única parte da população que
trabalhava. Seus esforços portavam a marca de todas as desvantagens do trabalho escravo: falta
de iniciativa, preguiça, desleixo com as ferramentas e ineficiência geral. Suas atividades,
portanto, mal permitiam manter vivos os seus senhores e nunca produziram a abundância que
sustenta a civilização. Essa absoluta dependência do trabalho alheio e o completo desprezo por
qualquer forma de produtividade e pelo trabalho transformaram o holandês no bôer e deram ao
seu conceito de raça um significado primordialmente econômico.[17]
Os bôeres foram o primeiro grupo europeu a alienar-se completamente do orgulho que o homem
ocidental sentia em viver num mundo criado e fabricado por ele mesmo.[18] Tratavam os nativos
como matéria-prima e viviam à custa deles como se vive dos frutos de uma árvore. Preguiçosos
e improdutivos, concordaram em vegetar mais ou menos no mesmo nível em que as tribos
negras haviam vegetado durante milhares de anos. O grande horror que se apossara dos
europeus por ocasião de sua primeira confrontação com a vida nativa foi inspirado exatamente
por essa qualidade que transformava os seres humanos em parte da natureza, tanto quanto os
animais. Mas os bôeres viviam à custa dos escravos do mesmo modo como os nativos viviam à
custa da natureza, despreparada e inculta. Quando os bôeres, em seu pavor e miséria, decidiram
usar esses selvagens como se eles fossem apenas uma forma de vida animal como qualquer
outra, deram início a um processo que só podia terminar fazendo-os degenerar num grupo racial
branco que vivia ao lado — em separação, mas em conjunto — com as raças negras, das quais
finalmente iriam diferir apenas na cor da pele.
Os brancos pobres da África do Sul, que em 1923 constituíam 10% de toda a população
branca,19 e cujo padrão de vida não diferia muito dos membros das tribos bantus, são um claro
exemplo desta afirmação. Sua pobreza resulta quase exclusivamente do desprezo pelo trabalho
e, também, da adaptação ao modo de vida das tribos negras. Como os negros, abandonavam as
terras quando o solo deixava de produzir o pouco que lhes era necessário, ou quando haviam
exterminado os animais da região.[20] Juntamente com os seus antigos escravos, iam para os
centros auríferos e diamantíferos, abandonando as fazendas quando os trabalhadores negros
partiam. Mas, ao contrário dos nativos, que eram imediatamente empregados como mão-de-obra
barata e não-qualificada, exigiam e recebiam caridade como um direito naturalmente
decorrente de sua pele branca, tendo perdido a noção de que normalmente um homem não
ganha a vida às custas da cor de sua pele.[21] Seus sentimentos raciais são hoje violentos, não
apenas porque nada têm a perder exceto sua associação com outros brancos, mas também
porque o conceito de raça parece definir a sua condição bem melhor que a dos seus antigos
escravos, que estão gradualmente se tornando trabalhadores, ou seja, parte normal da civilização
humana.
O racismo como instrumento de domínio foi usado nessa sociedade de brancos e negros antes
que o imperialismo o explorasse como ideia política. Sua base e sua justificativa ainda eram a
própria experiência, uma terrível experiência de algo tão estranho que ficava além da
compreensão e da imaginação: para os brancos foi mais fácil negar que os pretos fossem seres
humanos. No entanto, a despeito de todas as explicações ideológicas, o homem negro
teimosamente insistia em conservar suas características humanas, só restando ao homem branco
reexaminar a sua própria humanidade e concluir que, nesse caso, ele era mais do que humano,
isto é, escolhido por Deus para ser o deus do homem negro. Era uma conclusão lógica e
inevitável no caminho da radical negação de qualquer laço comum com os selvagens; na prática,
significou que o cristianismo não pôde atuar como força repressiva contra as perigosas
perversões da consciência humana, o que prenunciava sua ulterior ineficácia em outras
sociedades raciais.[22] Os bôeres simplesmente negavam a doutrina cristã da origem comum dos homens; e aquelas passagens do Antigo Testamento que ainda não
transcendiam os limites da velha religião nacional israelita, eles as transformaram numa
superstição que nem poderia ser chamada de heresia.[23] Como os judeus, acreditavam firmemente
que eram o povo escolhido,[24] com a diferença fundamental de que haviam sido escolhidos não
para a divina salvação da humanidade, mas para a ociosa dominação de outra espécie,
condenada a um trabalho forçado não menos ocioso.[25] Esta é a vontade de Deus na Terra,
segundo a Igreja Reformada Holandesa, que diverge dos missionários de todas as outras
denominações cristãs.[26]
O racismo bôer, em contraste com outros tipos de racismo, caracteriza-se por uma certa
autenticidade. A completa ausência de literatura local e de outras realizações intelectuais é a
melhor prova desta afirmação.[27] Resultou de uma reação desesperada a condições de vida
desesperadoras, e era mudo e inconsequente enquanto o mundo o ignorava. A situação mudou
após a chegada dos ingleses, que demonstravam pouco interesse por sua mais nova colônia à
qual, em 1849, ainda chamavam de posto militar. Mas a sua presença e a sua atitude diferente
em relação aos nativos, nos quais não viam mera espécie diferente de animais, bem como suas
tentativas posteriores de abolir a escravidão e seus esforços de fixar limites às terras
particulares, tudo isso levou a estagnada sociedade bôer a reações violentas. É típico dos bôeres
reagirem segundo o padrão que repetiam durante todo o século XIX: os fazendeiros bôeres
escapavam à lei britânica fugindo em carros de boi para o interior do país, abandonando sem
remorsos os seus lares e as suas fazendas. A aceitar limitações de suas posses, preferiam
abandoná-las de todo.[28] Isso não significa que os bôeres não se sentissem em casa onde quer que estivessem; sentiam-se e ainda se sentem muito mais em casa na
África do que quaisquer imigrantes depois deles — mas na África, e não em qualquer território
especificamente limitado. Suas fantásticas jornadas em carros de boi demonstraram claramente
que eles haviam virado uma tribo, tendo perdido o apego europeu a um território, a uma pátria
própria. Portavam-se exatamente como as tribos negras que haviam vagado pelo Continente
Negro durante séculos, sentindo-se à vontade onde quer que o grupo estivesse, e fugindo, como
quem foge da morte, de qualquer tentativa de permanência.
O desarraigamento é característico de todas as organizações raciais. O que os movimentos
racistas europeus conscientemente almejavam — a transformação do povo numa horda — pode
ser estudado, como num teste de laboratório, na velha e triste tentativa dos bôeres. O
desarraigamento como objetivo consciente baseava-se principalmente no ódio a um mundo onde
não havia lugar para homens "supérfluos", de sorte que a destruição desse mundo podia tornar
se supremo objetivo político; mas o desarraigamento dos bôeres foi o resultado normal de uma
prematura emancipação do trabalho e da completa ausência de um meio ambiente construído
por seres humanos. A mesma semelhança existe entre os "movimentos" e a interpretação bôer
do conceito de "escolha". Mas, enquanto nos movimentos pangermânicos, paneslavos ou
poloneses messiânicos o conceito de escolha era um instrumento mais ou menos consciente para
fins de domínio, a perversão do cristianismo dos bôeres era solidamente enraizada na terrível
realidade em que miseráveis "homens brancos" eram adorados como divindades por "homens
negros" igualmente infelizes. Vivendo num ambiente que não podiam transformar em mundo
civilizado, não conseguiram encontrar nenhum valor que fosse superior à imagem de si mesmos.
Não obstante, quer o racismo resulte de uma catástrofe, quer seja instrumento consciente para
provocá-la, está sempre intimamente ligado ao desprezo pelo trabalho, à rejeição de limitações
de posse, ao desarraigamento geral e à fé na divina escolha do seu grupo.
Os primeiros conquistadores britânicos da África do Sul, com os seus missionários, soldados e
exploradores, não compreenderam que a atitude dos bôeres era baseada até certo ponto na
realidade. Não compreenderam que a absoluta supremacia europeia — na qual eles, afinal,
estavam tão interessados quanto os bôeres — não poderia ser mantida senão através do racismo,
na medida em que a população europeia era irremediavelmente suplantada em quantidade de homens,[29] e ficavam chocados ao ver "europeus radicados na África agindo como
selvagens, pelo fato de ser esse o costume do país".[[30] Para seu espírito simples e utilitário,
parecia tolice sacrificar a produtividade e o lucro por amor a um mundo fantasma de deuses
brancos que comandavam sombras negras. Somente com o estabelecimento colonial dos
ingleses e outros europeus durante a corrida do ouro na África do Sul é que se adaptaram
gradualmente a uma população que não podia ser atraída de volta à civilização europeia, nem
mesmo com a motivação do lucro, e que havia perdido contato até com os mais simples
incentivos do homem europeu ao renunciar às suas motivações mais elevadas, porque tudo
perde seu sentido e atração numa sociedade em que ninguém quer realizar nada e todos são
deuses.
continua página 213...
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Parte II Imperialismo (3.1 - O Mundo Fantasma do Continente Negro)
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[4] É importante ter em mente que a colonização da América e da Austrália desenrolou-se concomitantemente com a rápida e cruel
liquidação dos nativos, talvez em parte devido à fraqueza numérica destes, enquanto, "para compreender a gênese da sociedade sul
africana moderna, é muito importante saber que a terra que se situava além do Cabo não era aberta, como a que se estendia diante do
colonizador australiano. Era uma área povoada — e povoada por uma grande população bantu". Ver C. W. de Kiewiet, A history of
South África, social and economic (Oxford, 1941), p. 59.
[5] "Ainda em 1884, o governo britânico havia estado disposto a diminuir a sua autoridade e influência na África do Sul" (Kiewiet,
op. cit., p. 113).
[6] Os seguintes dados de imigração e emigração britânicas na África do Sul entre 1924 e 1928 mostram que os ingleses eram mais
inclinados a deixar o país do que outros imigrantes e que, com uma exceção, cada ano mostrava um número maior de ingleses
deixando o país que chegando:
Imigração ano Imigração britânica Emigração total Emigração britânica Total
1924 1.724 5.265 5.275 5.857
1925 2.400 5.426 4.019 4.483
1926 4.094 6.575 3.512 3.799
1927 3.681 6.595 3.717 3.988
1928 3.285 7.050 3.409 4.127
17.184 30.911 19.932 22.254
(Cf. L. Barnes, Caliban in África. An impression of colour madness, 1931, Filadélfia, p. 59.)
[7] J. A. Froude, "Leaves from a South African journal" (1874), em Short studies on great subjects, 1867-82, vol. IV.
[8] Ibid.
[9] Citado por Paul Ritter, Kolonien im deutschen Schriftum [As colônias na literatura alemã], 1936, prefácio.
[10] Lorde Selbourne em 1907: "Os povos brancos da Ãfrica do Sul escolheram um caminho que poucas nações
trilharam antes deles, e quase nenhuma com sucesso". Ver Kiewiet, op. cit., cap. 6.
[11] Ver especialmente o cap. iii de Kiewiet, op. cit.
[12] "Juntos, os escravos e os hotentotes provocaram notáveis mudanças no pensamento e nos hábitos dos
colonizadores, pois o clima e a geografia não foram os únicos fatores formadores das características da raça dos
bôeres. Os escravos e as secas, os hotentotes e o isolamento, a mão-de-obra e a terra barata combinaram-se para criar
as instituições e os hábitos da sociedade sul-afrí-cana. Os filhos e filhas dos robustos holandeses e huguenotes
aprenderam a ver o trabalho do campo e todo esforço físico intenso como funções de uma raça servi!" (Kiewiet, op.
cit., p. 21).
[13] Ver James, op. cit.,p. 28.
[14] "A verdadeira história da colonização da África do Sul é a história da evolução não de uma povoação de
europeus, mas de uma sociedade inteiramente nova e singular de raças, cores e culturas diferentes, caracterizada por
conflitos de herança racial e pela luta entre grupos sociais desiguais" (Kiewiet, op. cit., p. 19).
[15] Kiewiet, op. cit., p. 19.
[16] "A sociedade [dos bôeres] era rebelde, mas não revolucionária" (ibid., p. 58)
[17] "Pouco esforço foi feito para elevar o padrão de vida ou aumentar as oportunidades dos escravos e dos servos.
Assim, a limitada riqueza da colônia era o privilégio da população branca. (...) Cedo, portanto, a África do Sul
aprendeu que um grupo consciente de si mesmo pode fugir aos piores males da vida numa terra pobre e nefasta,
transformando as distinções de raça e de cor em meios de discriminação social e econômica" {ibid., p. 22).
[18] Enquanto "nas índias Ocidentais um número tão grande de escravos como o que existia no Cabo teria sido um
sinal de riqueza e uma fonte de prosperidade", "no Cabo, a escravidão era sinal de economia estagnada (...) cujo
trabalho era usado com desperdício e ineficiência" (ibid.). Isso levou Barnes (op. cit., p. 107) e muitos outros
observadores à conclusão de que "a África do Sul é um país estrangeiro, não apenas no sentido de que tem pontos de
vista definitivamente alheios aos da Inglaterra, mas também no sentido muito mais radical de que sua própria raison
d'être, como tentativa de sociedade organizada, está em contradição com os princípios sobre os quais se baseiam os
países cristãos".
[19] Isso correspondia a cerca de 160 mil indivíduos (Kiewiet, op. cit., p. 181). James (op. cit., p. 43) calculava o
número de brancos pobres em cerca de 500 mil em 1943, o que corresponderia a cerca de 20% da população branca.
[20] "O branco pobre, vivendo no mesmo nível de subsistência dos bantus, é o resultado da incapacidade, ou da
obstinada recusa dos bôeres de aprenderem a ciência da agricultura. Como o bantu, o bôer gosta de vagar de uma área
para outra, trabalhando o solo até que deixe de ser fértil, matando a caça até que deixe de existir" (ibid.).
[21] "A raça era a sua garantia de superioridade sobre os nativos, e executar trabalhos manuais não condizia com a
dignidade que a raça lhes outorgava. (...) Essa aversão degenerou, entre os mais desmoralizados, na exigência da
caridade como um direito" (Kiewiet, op. cit., p. 216).
[22] A Igreja Reformada Holandesa está à vanguarda da luta dos bôeres contra a influência dos missionários cristãos
no Cabo. Em 1944, ela adotou, "sem uma voz em contrário", uma moção que se opunha aos casamentos de bôeres
com cidadãos de língua inglesa. (Segundo o Times do Cabo, editorial de 18 de julho de 1944. Citado pelo New África,
Council on African Affairs, boletim mensal, outubro de 1944.)
[23] Kiewiet (op. cit., p. 181) menciona "a doutrina de superioridade racial extraída da Bíblia e reforçada pela
interpretação popular que o século XIX dava às teorias de Darwin".
[24] "O Deus do Velho Testamento tem sido para eles uma figura nacional, quase tanto quanto o foi para os judeus.
(...) Lembro-me de uma cena memorável num clube da Cidade do Cabo, onde um ousado inglês, jantando por acaso
com três ou quatro holandeses, observou que Cristo, não sendo europeu, teria sido, do ponto de vista legal, proibido
de imigrar para a União da África do Sul. Os holandeses ficaram tão chocados com essa observação que quase caíram
das cadeiras." (Barnes, op. cit., p. 33.)
[25] "Para a família bôer, a separação e a degradação dos nativos resultam de mandamento de Deus, e é crime e
blasfêmia dizer o contrário." (Norman Bentwich, "South África. Dominion of racial problems", em Political Quartely,
1939, vol. X, n? 3.)
[26] "Até hoje o missionário é, para o bôer, o traidor fundamental, o homem branco que defende o preto contra o
branco." (S. Gertrude Millin, Rhodes, Londres, 1933, p. 38.)
[27] "Como tinham pouca arte, menos arquitetura e nenhuma literatura, dependiam de suas fazendas, suas bíblias e
seu sangue para se distinguirem dos nativos e dos estrangeiros." (Kiewiet, op. cit., p. 121.)
[28] "O verdadeiro Vortrekker [nome que se aplicava ao bôer que emigrava para o interior em carros de boi]
detestava fronteiras. Quando o governo inglês insistiu em limites fixos para a colônia e suas fazendas, o bôer sentiu
como se lhe roubassem algo. (...) Sentia-se mais seguro além do limite do poder inglês, onde havia água e terra livre e
nenhum governo inglês para revogar as Leis de Vagabundagem, e onde o homem branco não seria arrastado aos
tribunais para responder a queixas de seus servos" (ibid., pp. 54-5). "A Grande Fuga [em carros de boi], movimento
único na história da colonização" (p. 58) "foi a derrota de uma política de colonização mais intensa. A prática que exigia a área
de todo um município canadense para o estabelecimento de dez famílias foi estendida a toda a África do Sul. Ela
impossibilitou para sempre a segregação das raças branca e negra em áreas diferentes de fixação. (...) Ao colocar os
bôeres além do alcance da lei britânica, a Grande Fuga possibilitou-lhes estabelecer relações 'adequadas' com a
população nativa" (p. 56). "Nos anos seguintes, a Grande Fuga iria ser mais que um protesto: tomar-se-ia uma revolta
contra a administração britânica e a pedra fundamental do racismo anglo-bôer do século XX" (James, op. cit., p. 28).
[29] Em 1939, a população total da União Sul-Africana era de 9,5 milhões de habitantes, dos quais 7 milhões eram nativos e 2,5
milhões europeus. Desses últimos, mais de 1,25 milhão era bôeres, cerca de um terço eram ingleses e 100 mil eram judeus. Ver
Norman Bentwich, op. cit.
[30] J. A. Froude, op. cit., p. 375.
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