baitasar
dormir em paz, tomar um café com um sorriso, querendo dias melhores sem ficar para trás, na memória para sempre, viver em um dia por vez, querer o próximo que já está vindo, daí o caminho do sol aparece do nada, e tagarela não apareço sozinho, delícia a voz doce do agora, Quero continuar me apresentando, posso?
Podeeeee!!!!
o tempo é tecido com fios de esperança e demora, tantas vidas cheias de vontade, ainda me tenho e me vejo com alegria, sonhos, espinhos espreitando essa busca por felicidade e paz, uma mistura de esperança e realidade, é simples, o dia que se passa se torna memória, olho o presente e vejo futuro sentado na minha frente, Grato. Vou continuar... sou o professor Marko, professor de educação física. Vocês sabem dizer o que é isso?
o silêncio desconhecedor doce do agora ou do desinteresse, talvez seja apenas a mudez do desconhecimento ou vergonha do erro impedindo a autenticidade no agir, responder e desejo de agradar, evitar julgamentos e embaraços, superar esse medo exige aceitação e autocompaixão, Ninguém vai se arriscar responder?
O quê, professor?
Quem é que sabe?
Sabe o quê, professor?
O que é a educação física?
sigilo, mudez e calmaria, até que uma menina ergue a mão, pergunto seu nome, Mariana, ela me responde
Muito bem, Mariana. Você sabe o que fazemos nas aulas de educação física?
A gente pula corda!
Joga bola, Muito bem, temos aqui mais uma voz, pergunto seu nome, João Carlos, responde
Muito bem! A Mariana e o João Carlos acertaram, mas é só pular corda ou jogar bola?
silêncio, novamente, o silêncio que a dúvida trás, um vazio cheio de perguntas que se perdem, não há respostas para uma voz sem som, uma sombra do que pode ser, a incerteza que insiste em se esconder, o coração esperando passar o silêncio de duvidar das respostas, é um caminho sem mapas, uma floresta de sons e cheiros onde pulsam segredos
Professor, na escolinha de futebol é só jogar bola.
Mas, João... na escolinha não têm brincadeiras? Vocês não fazem corridas com bola e corridas sem a bola? Não pulam?
Ah! Isso tem também.
Então, nas aulas de educação física podemos correr, pular, brincar, jogar bola com os pés, mas também podemos jogar bola com as mãos.
Obaaa!
percebo outra mão erguida se agitando no ar, um gesto ligeiro, cortando o espaço sutil e passageiro, dança e traça o que quer, uma palavra sem voz, o corpo é uma linguagem e aquela chama acena das janelas ensolaradas, a mão que se agita não quer só falar, descobre no gesto o que a alma quer ser, Professor, posso ir no banheiro?
Como é o teu nome?
Felipe, professor.
está sentado no lado das janelas ensolaradas, o sol das manhãs, duas classes antes do fundão, os olhos inquietos, parece ter uma energia abundante, mãos desassossegadas que contam histórias no próprio agitar, desconfio das suas intenções, talvez seja riso, talvez seja dor, parece querer explorar um ambiente mais movimentado fora da sala de aula, uma ponte suspensa entre a quietude e a agitação, faço a pergunta de costume, um hábito adquirido ao longo dos anos, Felipe, você não pode esperar um pouquinho?
Tô apertado, professor, me convence, precisa ir ao banheiro, Tudo bem, querido. Vai... mas não esquece que é um pé lá e outro cá, outra recomendação costumeira, normas que o tempo repete, Não esqueça o casaco, vai esfriar, leva o lanche, vai que demora, olha para os dois lados, presta atenção, não fale de boca cheia, nem muito alto, seja gentil, mas firme também, nem todo conselho vem de quem convém, diga já volto, só para me acalmar
Eu também quero, outras duas mãos se agitam ansiosas, Calma, meninos. É um por vez.
o guri sai apressado e fecha a porta, vou até a janela ensolarada, observo o danado pulando e fazendo caretas, caminho até a porta sem pressa, a turma sorrindo em silêncio, a expectativa submissa ao espanto e a promessa de punição, abro o portal da liberdade, tudo muito rápido, o brilho ensolarado em meus olhos, hesito, Onde está o danado, ele desvigora ao me escutar, Já passou a vontade de ir ao banheiro?
resiste ao espanto, olha para mim, desiste de me enfrentar, está mudo e assustado, vira de costas e corre, preciso desmanchar meu sorriso antes de voltar e retornar ao púlpito, Então, crianças... o que mais fazemos na escola?
Fila, professor.
um rito, quase uma oração, muitas vezes não há razão, um passo depois outro e ninguém pode furar nem empurrar, a vez esperando chegar, uma floresta de vontades, intimidades e tensão, na escola parece que ela dura a vida inteira, algumas filas andam, umas dormem ou esmorecem, outras se formam, têm as justas e as que enganam e dobram a esquina, a escola diz que a fila ensina e quem entra aceita a rotina da fila, uma promessa que um dia chega o fim da fila
Minha mãe disse que podemos voltar pra casa depois do almoço na escola.
a fome não fala, mas diz tudo, pode andar nas ruas, sentada no chão, na fórmica verde, mora no estômago vazio, no nó da garganta, no prato de lata vazio que ronda a criança, espreita o indigente, bate à porta e entra sem ser convidada, isso é coisa antiga que veste a pele do desempregado, está no quintal sem espaço para nada, no preço da feira, na vida pequena
Humm... e o que mais?
Estudar.
Humm... e o que mais?
Estudar.
fome também é mais do que pão, é fome de livro, de luz, um mundo mais justo em que o homem não sirva à fome, quem sente a fome de aprender não esquece e o corpo não se cala
Isso! Muito bem! Como você se chama?
Grazi... Graziela.
Isso mesmo, Graziela. Na escola, vamos aprender a ler e escrever, descobrir as letrinhas e as palavras, olho as paredes daquela sala, procuro algum material de apoio, algum cartaz, gravuras, sei lá, algo em que possa me apoiar, uma muleta pedagógica, mas não encontro nada, as paredes estão nuas, até que viro, e ali está, atrás de mim, o meu socorro, Aqui está o nosso começo, suspiro aliviado, ao lado do quadro de giz, a gravura grande elegante, linda e feliz, deve ter sobrado da limpeza higiênica das paredes de um ano para o outro, Como não vi isso, me pergunto espantado, devo estar muito assustado, no pescoço está desenhada uma régua gigante, essa gravura com certeza foi usada para as medições do crescimento da criançada, o tamanho de cada uma no início e ao término do ano letivo, É isso... ela vai salvar a manhã!
volto às crianças, pergunto se conhecem aquele animal
É uma girafaaa!!!
a resposta é imediata e animada, acabara de encontrar a minha tábua de salvação quando tudo parecia desmoronar e o chão teimava em fugir, ali estava ela, me agarrei para não afundar completamente, uma tábua simples, silenciosa, mas poderosa, sussurrando de propósito, Você tem a força que nem sabe que tem, uma chance para não desistir despertando, sempre existe algo que vale a pena guardar, ia continuar resistindo junto com essa criançada
O que vocês sabem sobre a girafa? Vocês sabem onde ela vive?
as mãos erguidas são simultâneas e espontâneas, as vozes confiantes, Tem o pescoço comprido!
As pernas, também!
Ela mora no zoológico!
É boazinha!
interrompo aquela euforia de revelações e exibições, Sim... podemos encontrá-la no zoológico, mas o lugar em que ela vive na natureza é bem longe daqui.
O zoológico não é a casa dela?
Ela vive presa no zoológico?
Como é que ela veio? Quem foi buscar a girafa?
o rio caudaloso e veloz da curiosidade se movimenta no coração das vozes, parece saber que nunca tem frio na sua nascente pura e cristalina, desliza na penumbra, nas curvas, sedento de explorar, sonhos e desejos navegam suas águas, uma correnteza de perguntas, um influxo infinito de segredos a desvendar que se estão só na cabeça podem estar em lugar nenhum, redemoinho que transforma água viva em conhecimento, olho suas mãos erguidas impacientes, escuto suas vozes, faço uma pequena oração silenciosa, Nunca parem de correr inquietas e vorazes, é nessa correnteza que nossa humanidade se refaz.
Crianças... agora façam silêncio e prestem atenção. Vou tentar responder, depois da proposta fico calado, esperando, os corações desacelerando, as mãos abaixando, as vozes se aquietando, até que chega o silêncio, A girafa mora no zoológico por uma combinação de motivos. Alguns animais são ou foram tão caçados pelos homens maus que colocamos no zoológico aqueles animais que sobreviveram, um cuidado que pode parecer exagerado, mas é para não serem mortos. Muitos são levados ao zoológico para terem seus filhotes em lugar seguro e depois serem devolvidos à natureza. Outro motivo é que seu habitat, lugar onde viviam, está destruído. Têm aqueles que foram resgatados do tráfico de animais, sofreram maus tratos, não têm condições de retornar à natureza. Eu sei, é um jeito triste de conhecer melhor esses animais e ajudá-los. E claro, o zoológico também foi criado para oferecer entretenimento e lazer às pessoas.
E dá pra ir no zoológico?
Isso! Muito bem! Como você se chama?
Grazi... Graziela.
Isso mesmo, Graziela. Na escola, vamos aprender a ler e escrever, descobrir as letrinhas e as palavras, olho as paredes daquela sala, procuro algum material de apoio, algum cartaz, gravuras, sei lá, algo em que possa me apoiar, uma muleta pedagógica, mas não encontro nada, as paredes estão nuas, até que viro, e ali está, atrás de mim, o meu socorro, Aqui está o nosso começo, suspiro aliviado, ao lado do quadro de giz, a gravura grande elegante, linda e feliz, deve ter sobrado da limpeza higiênica das paredes de um ano para o outro, Como não vi isso, me pergunto espantado, devo estar muito assustado, no pescoço está desenhada uma régua gigante, essa gravura com certeza foi usada para as medições do crescimento da criançada, o tamanho de cada uma no início e ao término do ano letivo, É isso... ela vai salvar a manhã!
volto às crianças, pergunto se conhecem aquele animal
É uma girafaaa!!!
a resposta é imediata e animada, acabara de encontrar a minha tábua de salvação quando tudo parecia desmoronar e o chão teimava em fugir, ali estava ela, me agarrei para não afundar completamente, uma tábua simples, silenciosa, mas poderosa, sussurrando de propósito, Você tem a força que nem sabe que tem, uma chance para não desistir despertando, sempre existe algo que vale a pena guardar, ia continuar resistindo junto com essa criançada
O que vocês sabem sobre a girafa? Vocês sabem onde ela vive?
as mãos erguidas são simultâneas e espontâneas, as vozes confiantes, Tem o pescoço comprido!
As pernas, também!
Ela mora no zoológico!
É boazinha!
interrompo aquela euforia de revelações e exibições, Sim... podemos encontrá-la no zoológico, mas o lugar em que ela vive na natureza é bem longe daqui.
O zoológico não é a casa dela?
Ela vive presa no zoológico?
Como é que ela veio? Quem foi buscar a girafa?
o rio caudaloso e veloz da curiosidade se movimenta no coração das vozes, parece saber que nunca tem frio na sua nascente pura e cristalina, desliza na penumbra, nas curvas, sedento de explorar, sonhos e desejos navegam suas águas, uma correnteza de perguntas, um influxo infinito de segredos a desvendar que se estão só na cabeça podem estar em lugar nenhum, redemoinho que transforma água viva em conhecimento, olho suas mãos erguidas impacientes, escuto suas vozes, faço uma pequena oração silenciosa, Nunca parem de correr inquietas e vorazes, é nessa correnteza que nossa humanidade se refaz.
Crianças... agora façam silêncio e prestem atenção. Vou tentar responder, depois da proposta fico calado, esperando, os corações desacelerando, as mãos abaixando, as vozes se aquietando, até que chega o silêncio, A girafa mora no zoológico por uma combinação de motivos. Alguns animais são ou foram tão caçados pelos homens maus que colocamos no zoológico aqueles animais que sobreviveram, um cuidado que pode parecer exagerado, mas é para não serem mortos. Muitos são levados ao zoológico para terem seus filhotes em lugar seguro e depois serem devolvidos à natureza. Outro motivo é que seu habitat, lugar onde viviam, está destruído. Têm aqueles que foram resgatados do tráfico de animais, sofreram maus tratos, não têm condições de retornar à natureza. Eu sei, é um jeito triste de conhecer melhor esses animais e ajudá-los. E claro, o zoológico também foi criado para oferecer entretenimento e lazer às pessoas.
E dá pra ir no zoológico?
Sim, esse é um passeio que sempre fazemos, mas precisa entrar na fila dos outros passeios.
Obaaa!!!
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um professor bagunceirinho (6)
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