Elias Canetti
MALTA E RELIGIÃO
O Fogo Sagrado em Jerusalém
A festa grega da semana santa em Jerusalém culmina num
acontecimento de natureza inteiramente inusual. No sábado de aleluia,
na igreja do Santo Sepulcro, o fogo sagrado desce do céu para a terra.
Milhares de peregrinos do mundo todo encontram-se reunidos para
acender suas velas na chama sagrada, tão logo ela se lança para fora do
túmulo do Redentor. O fogo em si é considerado inofensivo; os fiéis
estão convencidos de que ele não lhes pode fazer mal algum. Mas a luta
para consegui-lo já custou a vida a alguns peregrinos.
Numa viagem em 1853, Stanley, que mais tarde tornou-se deão de
Westminster, participou da festa da Páscoa na igreja do Santo Sepulcro,
dela nos dando uma detalhada descrição.
A capela que contém o Santo Sepulcro situa-se no centro da igreja. Em dois grandes círculos, isolados por duas leiras de soldados, os fiéis, apertados bem junto uns dos outros, reúnem-se ao redor da tumba. Soldados turcos mantêm desimpedida a faixa que separa esses círculos. Lá em cima, nas galerias, ficam sentados os espectadores. Estamos na manhã do sábado de aleluia e, por enquanto, está tudo calmo. Nada prenuncia os acontecimentos que se seguirão. Dois ou três peregrinos seguram-se firmemente à abertura na parede da capela do Sepulcro.
Por volta do meio-dia, um confuso amontoado de cristãos árabes irrompe pela faixa mantida livre, circundando-a tresloucadamente até serem presos pelos soldados. Os árabes parecem acreditar que, se não correrem uma ou duas vezes em torno do sepulcro, o fogo não virá. Por duas horas têm lugar, então, esses saltos de júbilo em torno da tumba. Vinte, trinta, cinquenta homens põem-se subitamente a correr e se agarrar; erguem um deles sobre seus ombros ou cabeças e lançam-se adiante carregando-o, até que ele salta para o chão e um outro o sucede. Alguns vestem peles de carneiro; outros estão quase nus. Em geral, um deles vai à frente, na condição de porta-voz. Ele bate palmas, os outros fazem o mesmo e gritam desvairadamente: “Esta é a tumba de Jesus Cristo. Deus proteja o sultão. Jesus Cristo nos salvou”. O que começou em pequenos grupos, logo se intensifica, até que, por m, toda a faixa circular entre os soldados é tomada por uma corrida, um turbilhão, uma torrente avassaladora de criaturas frenéticas. Paulatinamente, o frenesi esmorece, ou é reprimido. A passagem é liberada e, provinda da igreja grega, uma longa procissão se aproxima e circunda o sepulcro com suas bandeiras bordadas.
A partir desse momento, a excitação, que até então se restringira aos corredores e dançarinos, faz-se generalizada. As duas enormes massas de peregrinos separadas pelos soldados mantêm-se ainda em seus lugares, mas irrompem todos juntos numa desvairada série de gritos por entre os quais se ouvem, de tempos em tempos — o que soa assaz estranho —, os cantos da procissão. Esta circunda por três vezes o sepulcro. Na terceira vez, ambas as leiras de soldados turcos se unem, juntando-se ao final do cortejo. Num único e grande movimento, a massa oscila de um lado para o outro. Aproxima-se o ponto culminante do dia. A presença dos turcos descrentes, acredita se, impede a descida do fogo, e é chegado o momento de expulsá-los da igreja. Eles se deixam expulsar, e uma confusão que lembra batalha e vitória toma conta da igreja. De todas as direções, o povo delirante precipita-se sobre as tropas, que batem em retirada pelo canto sudeste da igreja — a procissão é interrompida, as bandeiras tremulam e oscilam.
Em meio a uma pequena, mas compacta multidão de pessoas, o bispo de Petra — que é agora o “bispo do fogo” e representa o patriarca — é trazido rapidamente para a capela do Sepulcro, e a porta é fechada após sua passagem. A igreja toda é agora um único mar de cabeças a ressoar retumbante. Um único pedaço dela permanece desimpedido: uma estreita passagem conduz desde a abertura na face norte da capela até o muro da igreja. Junto à abertura encontra-se postado um padre, para apanhar o fogo. De ambos os lados da passagem, até onde a vista alcança, centenas de braços nus estendem-se feito os galhos de uma floresta a estremecer sob violenta tempestade.
Em épocas passadas e mais ousadas, uma pomba aparecia nesse momento sobre a cúpula da capela, tornando visível a descida do Espírito Santo. Tal aparição caiu em desuso, mas a crença na descida segue existindo, e é somente quando se sabe disso que se pode compreender totalmente a intensificada excitação dos momentos que se seguem. Uma clara chama, como a da madeira a queimar, aparece no interior da abertura — chama esta que, como todo grego culto sabe e admite, é acendida pelo bispo no interior da capela. Os peregrinos todos, porém, acreditam que se trata da luz da descida de Deus ao Santo Sepulcro. Tudo se confunde, então, na excitação geral que impregna a igreja; mais nenhum detalhe ou acontecimento deixa-se apreender com nitidez. Lenta e paulatinamente, o fogo se propaga pela imensa multidão, de mão em mão, de vela em vela, até que, finalmente, toda a edificação, desde as galerias até embaixo, compõe uma única e ampla fogueira de milhares de velas a arder.
Esse é o momento no qual, nos ombros do povo, o bispo ou patriarca é carregado em triunfo para fora da capela, quase desfalecido, para causar a impressão de que o sobrepujou a glória do Todo-Poderoso, em cuja presença acabara de estar.
Tem início, então, uma grande investida, tendo por objetivo escapar ao calor sufocante e levar para as ruas e casas de Jerusalém as velas acesas. As pessoas comprimem-se para fora da única porta da igreja; o aperto é, por vezes, tão grande que conduz a desgraças como a de 1834, quando custou a vida a centenas de pessoas. Por um breve período de tempo, os peregrinos seguem ainda correndo para lá e para cá, esfregando o rosto e o peito no fogo, a m de comprovar-lhe o caráter inofensivo no qual acreditam. O entusiasmo selvagem termina, porém, com a transmissão do fogo. O rápido e completo declínio de um frenesi de tamanha intensidade não constitui a porção menos impressionante do espetáculo. A agitação furiosa da manhã encontra-se em singular oposição com a profunda calma da noite, quando a igreja volta a encher-se e recobrir-se de uma única massa de peregrinos, agora a dormir profundamente. Assim aguardam eles pela missa da meia-noite.
Também a grande desgraça de 1834 teve um inglês por testemunha:
Robert Curzon. Seu relato da catástrofe é de uma terrível vivacidade.
Seguem-se seus trechos essenciais.
À meia-noite da sexta-feira santa, Curzon foi-se com seus amigos
para a igreja do Santo Sepulcro, a m de assistir à procissão dos gregos.
Cada janela, cada canto, cada cubículo capaz de abrigar o pé de um ser
vivo parecia estar repleto de gente, à exceção da galeria, que fora
reservada para Ibrahim Pascha — o governador turco de Jerusalém — e
seus convidados ingleses. Conta-se que havia 17 mil peregrinos na
cidade, e quase todos tinham vindo para ver o fogo sagrado.Na manhã seguinte, soldados abriram um caminho em meio à multidão para Ibrahim Pascha, que foi recebido com uma espécie de procissão maluca e acomodou-se na galeria.
As pessoas foram se tornando, então, paulatinamente desvairadas. Haviam passado a noite toda em pé, em meio àquela massa, e estavam exaustas. Ao aproximar-se a hora da exibição do fogo sagrado, não podiam mais conter-se de alegria. Sua excitação aumentou. Por volta da uma hora, chegou uma grandiosa procissão, provinda da capela dos gregos. Conduziram o patriarca três vezes ao redor do Sepulcro. Este despiu, então, seus paramentos, feitos de tecido bordado com prata, e entrou na tumba, cuja porta foi fechada. A excitação dos peregrinos atingira seu ápice, e eles soltavam gritos estridentes. A densa massa de homens oscilava de um lado para o outro, qual um trigal ao vento.
Por um buraco redondo, o fogo sagrado é retirado para um ponto da capela do Sepulcro. O homem que pagara a soma mais alta por essa honra foi conduzido ao local por uma tropa de soldados. Por um instante, fez-se silêncio; da tumba surgiu então uma luz, e o feliz peregrino recebeu do patriarca, que estava lá dentro, o fogo sagrado. Este consistia em um feixe de velas delgadas acesas. As velas encontravam-se presas a uma moldura de ferro; pretendia-se evitar com isso que a multidão as arrebatasse, apartando-as e apagando-as. E isso porque uma furiosa batalha teve início de imediato. Cada um estava imbuído de tamanho ardor por obter o fogo sagrado que alguns, na tentativa de acender suas próprias velas, acabavam por apagar a de seu vizinho.
Essa foi a cerimônia toda: nenhum sermão, nenhuma reza, alguma cantoria durante a procissão. Logo podiam-se ver as luzes multiplicando-se em todas as direções; todos haviam acendido suas velas na chama sagrada; as capelas, galerias, cada canto onde era possível exibir uma vela — tudo refulgia num mar de luz. Em seu frenesi, as pessoas metiam no rosto, nas mãos e no peito os maços de velas acesas, a m de purificar-se de seus pecados.
Logo a fumaça das velas obscureceu tudo; eu a via evadir-se em grandes nuvens pela abertura no centro da cúpula, lá no alto. Imperava um odor pavoroso. Três desafortunados, vítimas do calor e do péssimo ar, despencaram das galerias superiores, arrebentando-se contra as cabeças das pessoas lá embaixo. Uma pobre mulher armênia, de dezessete anos de idade, morreu sentada, de calor, sede e esgotamento.
Por fim, depois de vermos tudo o que havia para ver, Ibrahim Pascha levantou-se e saiu. Com violência, seus numerosos guardas abriram-lhe caminho por entre a densa massa de homens que lotava a igreja. Tal massa era gigantesca, razão pela qual esperamos um pouco até tomarmos todos juntos o caminho de volta rumo a nosso mosteiro. Eu fui na frente; atrás de mim vinham meus amigos; os soldados nos abriram caminho pela igreja. Eu havia atingido o local onde Nossa Senhora estivera postada durante a crucificação, quando vi um certo número de pessoas jazendo no chão, em toda a minha volta e, tanto quanto pude perceber, até a porta. Procurei avançar o melhor que pude por entre elas, até o ponto em que jaziam tão juntas uma da outra que pisei, de fato, num grande amontoado de corpos. Somente então ocorreu-me, de súbito, que estavam todas mortas. Não o percebera de início; pensei apenas que os esforços ao longo da cerimônia as havia debilitado tanto que se haviam deitado ali para descansar. Ao me aproximar, porém, do amontoado maior, olhei para baixo e notei lhes a expressão facial rígida e dura, que não dava margem a dúvidas. Alguns rostos apresentavam-se totalmente pretos, em consequência do sufocamento, e, mais adiante, outros jaziam ensanguentados e cobertos dos miolos e tripas daqueles que haviam sido pisoteados e despedaçados pela massa.
Nessa parte da igreja, não havia mais nenhuma massa viva; um pouco adiante, contudo, na virada rumo à entrada principal, as pessoas seguiam ainda comprimindo-se para a frente em seu pânico, cada um fazendo o máximo possível para escapar. Do lado de fora, os guardas, assustados com a afluência de pessoas provindas do interior da igreja, julgaram que os cristãos pretendiam atacá-los, e a confusão logo se transformou numa batalha. Com suas baionetas, os soldados mataram muitos pobres-diabos já à beira de sucumbir; as paredes ficaram salpicadas do sangue e dos miolos dos homens mortos feito gado pelas coronhas dos soldados. Cada um buscava defender-se ou salvar-se. Todos quantos caíam em plena luta eram imediatamente pisoteados até a morte pelos demais. O combate fez se tão selvagem e desesperado que até mesmo os peregrinos, assustados e em pânico, pareciam, por m, mais preocupados em destruir os outros do que em salvar-se a si próprios.
Tão logo percebi o perigo, gritei para meus companheiros que voltassem, o que eles, de fato, zeram. Eu próprio, porém, fui compelido adiante pela multidão, até próximo da porta, onde todos lutavam por suas vidas. Ali, vi que certamente morreria e envidei todos os esforços para conseguir retroceder. Tão alarmado quanto eu, um oficial de Pascha — pela estrela, podia-se ver que era coronel — buscava também retroceder. Ele me agarrou pela roupa e puxou me para baixo, sobre o corpo de um homem idoso, já em via de dar seu último suspiro. O oficial empurrava-me para baixo e, munidos da coragem de que nos dota o desespero, lutamos um contra o outro, em meio a moribundos e mortos. Lutei com esse homem até derrubá-lo. Consegui, então, pôr-me novamente de pé. — Mais tarde, descobri que ele jamais tornou a levantar-se.
Por um momento, permaneci em meio à contenda, sobre o desconfortável chão de cadáveres e mantido em pé pela densa massa que se comprimia naquela estreita porção da igreja. Durante alguns instantes, ficamos todos quietos. De súbito, então, a massa começou a oscilar. Um grito ecoou; a massa abriu-se, e eu me vi postado no meio de uma leira de homens, tendo diante de mim uma outra leira, todos pálidos e medonhos, com roupas rasgadas e ensanguentadas. Ali ficamos nós, encarando-nos fixamente. Logo, um repentino impulso apoderou-se de nós, e, com um grito que ecoou pelas compridas naves da igreja do Santo Sepulcro, ambas as leiras rivais lançaram-se uma sobre a outra. Não tardou muito para que eu agarrasse um homem semidespido, cuja perna se apresentava suja de sangue, e me atracasse com ele. A massa voltou a seu estado anterior; lutando desesperadamente e mediante um duro combate, logrei recuar para o interior da igreja, onde encontrei meus amigos. Conseguimos alcançar a sacristia dos católicos e, a partir dali, o local que os monges nos haviam destinado. À entrada da sacristia, tivemos ainda de enfrentar um furioso combate com uma multidão de peregrinos que procuravam projetar-se conosco para o seu interior. Agradeço a Deus por minha salvação, que se deu por um triz.
Os mortos jaziam em amontoados; vi bem uns quatrocentos desafortunados, entre mortos e vivos, todos confusamente amontoados; em alguns pontos, os montes tinham mais de um metro e meio. Ibrahim Pascha deixara a igreja apenas uns poucos minutos antes de nós, escapando com vida também por um triz. A massa o apertara por todos os lados; alguns o atacaram. Somente graças ao grande empenho de seu séquito — e vários de seus homens foram mortos —, lograra ele alcançar o pátio externo. Durante o combate, desmaiara mais de uma vez; sua gente teve de abrir caminho para ele a golpes de sabre por entre a densa massa de peregrinos. Uma vez lá fora, Pascha ordenou a remoção dos corpos e mandou sua gente retirar dos amontoados de mortos os corpos daqueles que pareciam ainda estar vivos.
Depois da terrível catástrofe na igreja do Santo Sepulcro, o exército de peregrinos em Jerusalém foi tomado pelo pânico, cada um buscando fugir da cidade o mais rápido possível. Circulava um boato de que a peste grassava. Juntamente com os demais, tomamos as providências para nossa partida.
A fim de compreender o que se passou aí, é necessário fazer uma
distinção entre o curso regular das festas da Páscoa e esse pânico do ano
de 1834, do qual Curzon foi testemunha.
Trata-se da festa da ressurreição. A malta de lamentação que se
formou em torno da morte de Cristo e de sua tumba transforma-se
numa malta de vitória. A ressurreição é a vitória, e como tal ela é
festejada. O fogo atua aí como um símbolo de massa da vitória. Ele deve
comunicar-se a todos, a fim de que a alma de cada um participe dessa
ressurreição. Cada um precisa, por assim dizer, transformar-se no
mesmo fogo que provém do Espírito Santo; faz, pois, sentido que todos
acendam nele suas velas. Da igreja leva-se, então, o precioso fogo para
casa.
O engodo relativo à maneira como o fogo se origina é irrelevante.
Essencial é a transformação da malta de lamentação numa malta da
vitória. As pessoas participam da morte do Redentor na medida em que
se reúnem ao redor de sua tumba. Acendendo, contudo, suas velas no
fogo pascal que se projeta para fora do sepulcro, participam também de
sua ressurreição.
Bastante bela e significativa é a multiplicação das luzes: o modo pelo
qual, de uma única, fazem-se repentinamente milhares de luzes. A massa
dessas luzes é a massa daqueles que irão viver, porque creem. Ela nasce a
uma velocidade gigantesca — tão velozmente quanto apenas o fogo é
capaz de alastrar-se. Este último é o melhor símbolo para a
subtaneidade e a velocidade com que a massa se forma.
Mas, antes que isso aconteça, antes que o fogo nasça realmente, tem
se de lutar por isso. Os descrentes soldados turcos, presentes na igreja,
precisam ser expulsos; enquanto estiverem ali, o fogo não pode
aparecer. Sua retirada faz parte do ritual da festa, e seu momento chega
depois da procissão dos dignitários gregos. Os turcos encaminham-se
para a saída, mas os crentes também os empurram, como se eles os
tivessem expulsado, e um tumulto de batalha e vitória passa de súbito a
imperar na igreja.
A cerimônia principia com duas massas estanques separadas por
soldados. Pequenas maltas rítmicas formadas por cristãos árabes
movimentam-se entre elas, estimulando-as. Essas maltas frenéticas e
fanáticas atuam como cristais de massa e contagiam com sua excitação
aqueles que aguardam pelo fogo. Começa, então, a procissão dos
dignitários, uma massa lenta que, no entanto, nessa ocasião, atinge sua
meta mais rapidamente do que nunca: o patriarca semidesfalecido, que
posteriormente ao acendimento do fogo é carregado, é testemunha viva
disso.
O pânico de 1834 deriva com terrível coerência da luta, um elemento
que faz parte da cerimônia. O perigo do pânico diante do fogo num
espaço fechado é sempre grande. Aqui, porém, ele é reforçado pela
oposição entre os descrentes, inicialmente presentes na igreja, e os
crentes que desejam expulsá-los. A descrição de Curzon é rica em
detalhes que clarificam esse aspecto do pânico. Em um de seus muitos
momentos aparentemente absurdos e sem sentido, Curzon, em meio a
uma leira de homens, se vê subitamente defronte de uma outra leira,
esta inimiga. Ambas se lançam uma sobre a outra e, sem saber quem
pertence a um lado ou ao outro, travam uma luta de vida ou morte.
Curzon fala ainda dos amontoados de cadáveres sobre os quais se pisa e
se busca a salvação. A igreja do Santo Sepulcro transformou-se num
campo de batalha. Mortos e vivos jazem juntos e empilhados em muitos
montes. A ressurreição converteu-se em seu oposto — numa derrota de
todos. A imagem de um amontoado ainda maior de mortos — a ideia
da peste — apodera-se dos peregrinos, e todos fogem da cidade do
Santo Sepulcro.
continua página 253...
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Título original Masse und Macht
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Leia também:
Massa e Poder - Malta e Religião: O Fogo Sagrado em Jerusalém
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ELIAS CANETTI nasceu em 1905 em Ruschuk, na Bulgária, filho de judeus sefardins. Sua família estabeleceu-se na Inglaterra em 1911 e em Viena em 1913. Aí ele obteve, em 1929, um doutorado em química. Em 1938, fugindo do nazismo, trocou Viena por Londres e Zurique. Recebeu em 1972 o prêmio Büchner, em 1975 o prêmio Nelly-Sachs, em 1977 o prêmio Gottfried-Keller e, em 1981, o prêmio Nobel de literatura. Morreu em Zurique, em 1994.
Além da trilogia autobiográfica composta por A língua absolvida (em A língua absolvida Elias Canetti, Prêmio Nobel de Literatura de 1981, narra sua infância e adolescência na Bulgária, seu país de origem, e em outros países da Europa para onde foi obrigado a se deslocar, seja por razões familiares, seja pelas vicissitudes da Primeira Guerra Mundial. No entanto, mais do que um simples livro de memórias, A língua absolvida é a descrição do descobrimento do mundo, através da linguagem e da literatura, por um dos maiores escritores contemporâneos), Uma luz em meu ouvido (mas talvez seja na autobiografia que seu gênio se evidencie com maior clareza. Com este segundo volume, Uma luz em meu ouvido, Canetti nos oferece um retrato espantosamente rico de Viena e Berlim nos anos 20, do qual fazem parte não só familiares do escritor, como sua mãe ou sua primeira mulher, Veza, mas também personagens famosos como Karl Kraus, Bertolt Brecht, Geoge Grosz e Isaak Babel, além da multidão de desconhecidos que povoam toda metrópole) e O jogo dos olhos (em O jogo dos olhos, Elias Canetti aborda o período de sua vida em que assistiu à ascensão de Hitler e à Guerra Civil espanhola, à fama literária de Musil e Joyce e à gestação de suas próprias obras-primas, Auto de fé e Massa e poder. Terceiro volume de uma autobiografia escrita com vigor literário e rigor intelectual, O jogo dos olhos é também o jogo das vaidades literárias exposto com impiedade, o jogo das descobertas intelectuais narrado com paixão e o confronto decisivo entre mãe e filho traçado com amargo distanciamento), já foram publicados no Brasil, entre outros, seu romance Auto de fé e os relatos As vozes de Marrakech, Festa sob as bombas e Sobre a morte.
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"Não há nada que o homem mais tema do que o contato com o desconhecido."
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