terça-feira, 23 de junho de 2020

Cruz e Sousa - Poesias Completas: Outros Sonetos XLV - [Deixemo-nos Ficar...]

Cruz e Sousa

Obra Completa
Volume 1
POESIA



O Livro Derradeiro
Primeiros Escritos

Cambiantes
Outros Sonetos Campesinas
Dispersas
Julieta dos Santos




OUTROS SONETOS 







[DEIXEMO-NOS FICAR...]


Deixemo-nos ficar pelo menos apenas
Um momento ao frescor das verdes arueiras
Pintalgadas de sangue. Hão de vir as serenas
Aves de Abril cantar nos leques das palmeiras.

Todo este mar recorda um tendal de açucenas
A luz do sol descendo as altas cordilheiras...
E essa voz musical é a voz das cantilenas
Dos que vêm a remar nas célebres baleeiras.

Neste lindo lugar, se existe a f’licidade,
Sentimo-na no peito, em plena alacridade.
E, portanto, Maria, a hora que nós passamos

Nesta Ilha tão formosa, é um bem que me parece
Nunca mais acabar! Ah! quem morar pudesse
Não numa casa, mas na frescura dos ramos...






BOM DIA


Muito bom dia. Vejo-a incomparável
Com seus ares radiosos de Madona;
Quer parecer-me que esta nossa zona
Meridional tornou-a bem saudável.

Gosto de ver a cor tão adorável,
Essa onda de sol que funciona
No rosto mais grácil de quem é dona
Como a senhora, dum olhar amável.

Lindos campos em fora sei que habita,
No ninho dum chalé por entre flores,
Cheio de graça lírica, infinita.

Pois muito bem. Saúdo-a com ardores!
E agora que já está forte e bonita,
Diga-me lá, como se vai de amores?!






FRUTAS E FLORES
                 (Presente de festa)


Laranjas e goiaba, quanto às frutas,
Quanto às flores, porém, ah, quanto às flores,
Trago-te dálias rubras, dessas cores
Das brilhantes auroras impolutas.

Venho de ouvir as misteriosas lutas
Do mar chorando lágrimas de amores;
Isto é, venho de estar entre os verdores
De um sítio cheio de asperezas brutas;

Mas onde as almas, pássaros que voam,
Vivem sorrindo às músicas que ecoam
Dos campos livres na rural pureza.

Trago-te frutas, flores, só, apenas,
Porque não pude, irmã das açucenas,
Trazer-te o mar e toda a natureza.


                   1887





"Livre", Cruz e Sousa







interessante...








História da discriminação racial na educação brasileira
- Silvio Almeida 
- Escola da Vila 2018





"Se não fosse a educação... o racismo não teria como se reproduzir."





Lethycia Dias:

"Muitos escritores que hoje são reconhecidos, viveram muito mal. Lima Barreto é mais um exemplo. Discriminado por ser negro, pobre e boêmio... Por escrever sobre as pessoas simples, como donas de casa, bêbados, "vagabundos". Existem tantos exemplos de escritores que passaram por dificuldades em vida!"



"Desse tipo de erro ninguém reclama nos livros didáticos"



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Leia também:

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De fato, a inteligência, criatividade e ousadia de Cruz e Sousa eram tão vigorosos que, mesmo vítima do preconceito racial e da sempiterna dificuldade em aceitar o novo, ainda assim o desterrense, filho de escravos alforriados, João da Cruz e Sousa, “Cisne Negro” para uns, “Dante Negro” para outros, soube superar todos os obstáculos que o destino lhe reservou, tornando-se o maior poeta simbolista brasileiro, um dos três grandes do mundo, no mesmo pódio onde figuram Stephan Mallarmé e Stefan George. A sociedade recém-liberta da escravidão não conseguia assimilar um negro erudito, multilíngue e, se não bastasse, com manias de dândi. Nem mesmo a chamada intelligentzia estava preparada para sua modernidade e desapego aos cânones da época. Sua postura independente e corajosa era vista como orgulhosa e arrogante. Por ser negro e por ser poeta foi um maldito entre malditos, um Baudelaire ao quadrado. Depois de morrer como indigente, num lugarejo chamado Estação do Sítio, em Barbacena (para onde fora, às pressas, tentar curar-se de tuberculose), seu
corpo foi levado para o Rio de Janeiro graças à intervenção do abolicionista José do Patrocínio, que cuidou para que tivesse um enterro cristão, no cemitério São João Batista.


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Organização e Estudo
Lauro Junkes
Presidente da Academia Catarinense de Letras


© Copyright 2008
Avenida Gráfica e Editora Ltda.

Projeto Gráfico, Editoração e Capa
ESPAÇO CRIAÇÃO ARQUITETURA DESIGN E COMPUTAÇÃO GRÁFICA LTDA.
www.espacoecriacao.com.br
Fone/Fax: (48) 3028.7799

Revisão Linguístico-Ortográfica
PROFª Drª TEREZINHA KUHN JUNKES
PROF. Dr. LAURO JUNKES

Impressão e Acabamento
Avenida Gráfica e Editora Ltda.

Formato
14 x 21cm




FICHA CATALOGRÁFICA

Catalogação na fonte por M. Margarete Elbert - CRB14/167



S725o      Sousa, Cruz e, 1861-1898

                        Obra completa : poesia / João da Cruz e Sousa ; organização
                  e estudo por Lauro Junkes. – Jaraguá do Sul : Avenida ; 2008.
                         v. 1 (612 p.)

                         Edição comemorativa dos 110 anos de falecimento e do
                  traslado dos restos mortais de Cruz e Sousa para Santa Catarina.

                            1. Sousa, Cruz e, 1861-1898. 2. Poesia catarinense. I.
                  Junkes, Lauro. II. Titulo.

                                                                                      CDU: 869.0(816.4)-1



"A gente só tem saída na política."




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