quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L3 Capitulo XXVIII(a): Que trata da nova e agradável aventura

D. Quixote de la Mancha

Miguel de Cervantes

Vol 1

O Engenhoso Fidalgo 
D. Quixote de la Mancha 
Miguel de Cervantes


PRIMEIRA PARTE

LIVRO QUARTO

CAPÍTULO XXVIIi

Que trata da nova e agradável aventura sucedida na mesma serra ao cura e ao barbeiro.


      DITOSOS e felicíssimos tempos, em que ao mundo veio o tão audaz cavaleiro D. Quixote de la Mancha pela sua mui honrada determinação de restituir ao mundo a já quase esquecida ordem da cavalaria andante! Saboreamos nós agora, nesta idade tão falta de passatempos alegres, a doçura de estarmos lendo a sua verdadeira história e os contos que nela se travam como episódios; estes em boa parte não são menos agradáveis, artificiosos e verdadeiros que a história mesma.
   Conta ela, prosseguindo o seu tortuoso fio, que tanto como o cura começava de preparar-se para consolar a Cardênio, o atalhou uma voz, que lhe chegou aos ouvidos, e que em tons magoados se lastimava assim:

— Ai, Deus! será possível ter eu já achado lugar, em que sepulte a ocultas este corpo, que tão sobreposse vou arrastando? espero que sim, se me não mente a soledade que estas serras me afiançam. Ai desditosa! quão mais agradável companhia não farão estas penhas e moitas ao meu sentimento, pois me proporcionarão comunicar estas queixas com o céu, e não a criaturas humanas! Na terra já não há com quem se possa tomar conselho nas incertezas, alívio nos queixumes, nem remédio na desgraça.

   Tudo isto ouviram distintamente o cura e os mais que ali eram; e por lhes parecer que perto dali estava a pessoa que tais queixas proferia, se levantaram para ir ter com ela. Não tinham andado vinte passos, quando de trás de um penhasco viram sentado ao pé de um freixo um mancebo entrajado à lavradora, ao qual, por estar com a cabeça baixa, a lavar os pés num regatinho, não puderam imediatamente divisar o rosto. Aproximaram-se-lhe tão calados, que não foram dele pressentidos, de atento que estava na sua lavagem dos pés; e tais eram eles, que não pareciam senão dois pedaços de puro cristal entre as outras pedras da corrente. Maravilhou-os a alvura e lindeza daquelas plantas, que não pareciam feitas a pisar torrões, nem a seguir arados e bois, como inculcava o vestuário do dono. Assim, vendo que não tinham sido por ora sentidos, o cura, que ia adiante, fez sinal aos outros dois para que se agachassem e escondessem por trás de uns pedaços de penha que ali havia. Assim o executaram todos, reparando com atenção para o que o moço fazia.
   Trazia este um roupãozinho pardo de duas abas, muito bem cingido ao corpo com uma toalha branca. Trazia uns calções e polainas de pano pardo, e na cabeça uma gorra também parda. As polainas tinha-as levantadas até meia perna, que na alvura alembrava alabastro.
   Acabados de lavar os formosos pés, enxugou-os com um lenço da cabeça, o qual tirou da gorra; e, quando já ia para retirar-se, ergueu o rosto; com o que tiveram lugar os que o estavam olhando de descobrir uma formosura incomparável, e tal, que Cardênio disse baixinho para o cura:

— Esta, como não é Lucinda, não é criatura humana; deve ser por força divindade.

   O moço tirou a gorra e, sacudindo a cabeça para uma e outra parte, começou a espalhar os cabelos, que bem puderam aos do sol fazer inveja. Conheceram então que o suposto rústico não era senão mulher, e mimosíssima; pelo menos, a mais formosa que ambos eles com seus olhos jamais tinham visto. Outro tanto encareceria Cardênio, se não conhecera Lucinda, cuja lindeza, como depois declarou, era a única para se comparar àquela. Os cabelos compridos e louros não só lhe cobriam as costas, mas toda em derredor a velavam; tanto, que, afora os pés, nada de todo o corpo lhe aparecia. Para os alisar serviram de pente mãos, que em brancura ainda aos pés se avantajavam.
   Todo aquele conjunto acrescentava ainda nos três espectadores a admiração e o desejo de saberem quem fosse. Por isso se deliberaram a aparecer.
   Ao movimento que fizeram para se erguer, alçou a gentil moça a cabeça, e arredando dos olhos os cabelos com as mãos ambas, procurou ver donde o ruído provinha. Tanto que os descobriu pôs-se em pé; e, sem se deter a calcar-se, ou recolher os cabelos, apanhou muito à pressa um volume como de roupa, que junto lhe estava, e quis pôr-se em fugida, cheia de perturbação e sobressalto. Mas seis passos não teria ainda dado, quando, não lhe podendo mais os delicados pés com a aspereza das pedras, se deixou cair. Correram para ela os três, sendo o cura o primeiro que lhe falou, dizendo:

— Detende-vos, senhora, quem quer que sejais. Os que vedes aqui só ambicionam servir-vos. Não há porque nos fujais; nem vós podeis correr assim descalça, nem nós outros consentir-vo-lo.

   A nada disto ela respondia palavra, a poder de atônita e confusa. 
   Chegados pois a ela, o cura, travando-lhe da mão, prosseguiu:

— Os vossos cabelos, senhora, bem estão desmentindo o vosso trajo. De pouco tomo não devem ser as causas de se ter a vossa lindeza disfarçado em vestuário tão indigno, e em tão funda soledade como esta. Dita foi que vos achássemos; se não para darmos remédio aos vossos males, ao menos para vos ajudar com algum bom conselho. Não há desventura tão cansada, nem tão posta no cabo, enquanto não degenera em morte, que deva esquivar-se a um alvitre oferecido com bom ânimo. Portanto, senhora, ou senhor, ou o que mais quiserdes ser, tornai a vós do sobressalto que a nossa presença vos causou, e contai-me o vosso caso, seja qual for. Todos e cada um de nós vos acompanharemos, ao menos no sentimento dos vossos trabalhos.

   Enquanto o cura assim discorria, estava ela como fora de si, olhando para todos sem boquejar. Dava por longe a lembrar um sáfaro aldeão, a quem de repente se mostram coisas raras, que ele nunca viu; mas, recomeçando o cura mais razões ao mesmo propósito encaminhadas, ela, dando um profundo suspiro, quebrou o silêncio, e disse: 

— Uma vez que o solitário destas serras não bastou para me esconder, e estes meus cabelos desmentem enganos, por demais fora fingir eu por mais tempo o que vós só por cortesia mostraríeis acreditar. Isto suposto, agradeço-vos, senhores, os vossos oferecimentos; tanto, que por eles me julgo obrigada a satisfazer-vos em tudo que me pedis, se bem que temo que a narração das minhas desditas vos cause, além da compaixão, desconsolo não pequeno, porque afinal nem atinareis remédio para o que padeço, nem consolações que me suavizem. Apesar de tudo isto, e para que lá por dentro dos vossos juízos não ande estremecida a ideia da minha honra, por saberdes já que sou mulher, moça, sozinha, e neste trajo, coisas todas (e bastava qualquer delas) para arrasar má reputação, devo enfim dizer-vos o que bem quisera calar-vos, se me fora possível. 

   Tudo isto disse sem se interromper, com fala tão pronta e voz tão suave, que não menos maravilhou por discreta, do que já maravilhara por formosa. Iam reiterar prometimentos e rogativas para que satisfizesse o prometido, quando ela, sem se fazer mais rogar, calçando-se com toda a honestidade, e apanhando as madeixas, se assentou numa pedra, ficando os três em derredor; e, forcejando para reprimir lágrimas, que aos olhos lhe acudiam, com voz serena a sonora começou desta maneira a sua história:

 — Há nesta Andaluzia um lugar, donde toma nome um Duque, dos que chamam Grandes de Espanha. Tem ele dois filhos; o mais velho, herdeiro do seu estado, e dos seus bons costumes também (segundo parece), e o mais novo, herdeiro não sei de que, se não for das traições de Belido, e dos embustes de Galalão. Deste Duque são vassalos meus pais, humildes de geração, porém tão ricos dos bens da fortuna, que, se o nascimento lhos igualasse, nem eles teriam mais que desejar, nem eu temeria nunca ver-me na desgraça em que me vejo. Talvez que a minha pouca ventura só nascesse da que também lhes faltou a eles por não nascerem ilustres. Verdade é que não são tão humildes, que se devam envergonhar do seu estado, nem também tão altos, que me tirem a cisma em que estou de ser a minha desgraça efeito da sua humildade. Em suma: são lavradores, gente chã sem nódoas na geração, e (como se costuma dizer) cristãos-velhos e rançosos, mas não tão rançosos, que a sua riqueza e magnífico trato lhes não vá a pouco e pouco adquirindo nome de fidalgos e cavalheiros, ainda que a maior riqueza e nobreza de que eles se prezavam era terem-me por filha. Por não terem outro nem outra que deles herdasse, como porque eram pais, e pais extremosíssimos, era eu uma das mais regaladas filhas que jamais houve. Eu o espelho em que se reviam, o bordão da sua velhice e o alvo de todas as suas ambições, que se levantavam até ao céu. Dessas ambições, por tão santas que eram, não discrepavam as minhas nem um til; tão senhora era eu dos seus corações, como dos seus haveres; por mim se recebiam e despediam os criados; a conta das sementeiras e colheitas corria toda por minha mão; das moendas de azeite, das lagaradas de vinho, do gado maior e menor, dos colmeais, finalmente de tudo aquilo que um lavrador opulento, como meu pai, deve ter, e tem, a administração fazia-a eu. Era a mordoma e senhora, com tanto desvelo meu, e tão a seu contento, como não posso encarecer. Os pedaços que no dia me sobravam destes lavores, depois de ter dado a devida atenção aos maiorais ou capatazes, e a outros jornaleiros, entretinha-os em exercícios, que às donzelas são tão lícitos como necessários, tais como os de agulha e de almofada, e a roca muitas vezes; e quando, para espairecer, interrompia estes exercícios, recorria ao entretenimento de ler algum livro devoto, ou a tocar uma harpa, porque a experiência me tinha ensinado ser a música uma suavizadora dos ânimos alterados e um alívio para os trabalhos do espírito. Tal era a vida que eu levava em casa de meus pais. Se tão por miúdo a contei, não foi por ostentação, nem por alardo de riquezas, mas só para que se reconheça quanto sem culpa caí daquele bom estado neste em que hoje me vejo. É o caso que, passando eu a vida em tantas ocupações, e num tal recato, que se podia comparar ao de um mosteiro, sem ser vista (supunha eu) de pessoa alguma, afora os criados de casa (porque os dias em que ia à missa era tão de manhãzinha, tão acompanhada de minha mãe e de criadas, e toda eu tão coberta e recatada, que apenas via por onde punha os pés); apesar de tudo aquilo, os olhos do amor, ou da ociosidade, por melhor dizer, que são mais que olhos de lince, descobriram-me entre as outras cortejadas de D. Fernando, que assim se chama o filho mais novo do Duque de quem já vos falei.

   Ao nome, apenas proferido, de D. Fernando, mudou-se a Cardênio a cor do rosto, e começou a suar, com tão grande alteração, que, reparando nele o cura e o barbeiro, temeram ser-lhe chegado algum daqueles ataques de loucura, de que já tinham notícia. Mas Cardênio o que só fez foi continuar a tressuar, porém quieto, com os olhos fitos na lavradora, imaginando quem ela era. 
   Esta, sem reparar, prosseguiu a sua história, dizendo: 

— Apenas me tinha avistado, quando (segundo ele depois contou) ficou tão possuído de amores meus, quanto as suas obras o deram a entender. Mas, para abreviar o sem fim das minhas desditas, quero passar em silêncio as diligências que D. Fernando fez para me declarar a sua vontade. Subornou toda a gente da minha casa; deu e ofereceu dádivas e mercês a meus parentes; todos os dias eram de festa e regozijo na minha rua; de noite ninguém podia pegar no sono, com as músicas; os bilhetes que me vinham à mão, sem eu saber como, eram infinitos, cheios de namoradas frases e oferecimentos, com menos letras que promessas e juras. Tudo aquilo não só me não abrandava, mas até me endurecia de maneira, como se proviera de inimigo mortal. Tudo que ele fazia para me reduzir à sua vontade redundava-lhe sempre no efeito contrário; não era por me desagradar a gentileza de D. Fernando, nem por achar demasiadas as suas finezas, porque em verdade me dava não sei que contentamento ver-me tão querida e estimada de cavaleiro tão principal; e não me descontentava do que ele escrevia em meu louvor (que neste particular, por feias que sejamos, tenho para mim que todas as mulheres nos lisonjeamos quando nos ouvimos celebrar de bonitas). A tudo porém resistia a minha honestidade e os conselhos incessantes de meus pais, já então conhecedores e certos das pretensões de D. Fernando; que admira se ele próprio já se não importava de que todo o mundo lhes soubesse! Repetiam-me meus pais que a honra deles permanecia confiada toda na minha virtude, e que me lembrasse da distância que ia de mim a D. Fernando, prova clara de que os seus desejos, por mais que os ele disfarçasse, mais se encaminhavam ao seu gosto que a meu proveito, e que, se eu quisesse pôr de algum modo estorvo, que o descorçoasse daquela imperdoável teima, eles me casariam sem dilação com quem eu mais levasse em gosto, ou fosse do nosso lugar, ou dos circunvizinhos, que para tudo lhes davam confiança o seu cabedal e a minha fama. Com estas promessas e com a verdade que as acompanhava, me ia eu fortalecendo para resistir; nunca jamais respondi a D. Fernando palavra, que lhe mostrasse, nem por sombras, esperança de me alcançar. Todos estes recatos meus, que a ele se deviam figurar desdéns, creio que ainda avivaram mais o seu apetite desonesto, que outra coisa não era o afeto que me ele encarecia. A ter sido verdadeiro, não vos estaria eu agora contando isto, nem haveria de que me queixar. Soube afinal D. Fernando que meus pais andavam em diligências de me casar, para lhe tirarem a ele toda a esperança de me possuir, ou, pelo menos, para eu ter mais quem me guardasse. Que faria com tal novidade D. Fernando? Ides sabê-lo. Uma noite, estando eu no meu aposento com a companhia única de uma donzela do meu serviço, com as portas bem fechadas para acautelar qualquer perigo, não sei nem imagino como, no meio destes resguardos, e na solidão de tamanho encerro, vejo-o diante de mim. Tal foi a minha perturbação, que me fugiu a vista e a fala; não podia gritar por socorro, nem ele, creio eu, me consentiria. Chegou-se logo a mim, e, tomando-me entre os braços, (como havia eu de me defender na turbação daquele repente?) começou a dizer-me tais coisas, que não sei como é possível que se inventem; com as lágrimas e suspiros do traidor se acreditavam os seus dizeres. Eu pobrezinha! eu entre os meus desamparada, inexperiente de semelhantes apuros, comecei, não sei como, a ter por sinceras todas aquelas falsidades, mas não tanto, ainda assim, que me abalassem a compadecer-me repreensivelmente de tantos extremos de lágrimas e gemidos. Passado o primeiro sobressalto, recobrei algum tanto o espírito amortecido, e, com mais ânimo do que eu própria pensei que tivesse, lhe disse: “Se estivera, como estou, senhor, nos vossos braços, nos de um leão feroz, e me certificassem de que lhes escaparia com dizer ou fazer fosse o que fosse em prejuízo da minha honestidade, tão impossível me fora isso, como me foi impossível deixar de me portar como me portei. Tendes o meu corpo cativo entre os vossos braços, e eu tenho a minha alma segura com os meus bons propósitos; são eles tão outros dos vossos, como vereis, se, teimando, quiserdes violentar-me. Sou vossa vassala, mas não vossa escrava; a nobreza do vosso sangue não tem nem deve ter licença para desonrar a humildade do meu. Sou vilã e lavradora, mas nem por isso me aprecio em menos do que vós vos estimais por senhor e cavalheiro. Comigo não hão de aproveitar as vossas forças, nem valer as vossas opulências, nem as vossas palavras hão de lograr seduzir-me, nem suspiros e lágrimas enternecer-me. Se alguma destas coisas que digo a visse num esposo escolhido por meus pais, à sua vontade seria dócil a minha, como ficava com honra, ainda que sem gosto, de grado entregaria o que vós, senhor, agora com tanto esforço ambicionais. Digo tudo isto, porque não há cuidar que de mim alcance coisa alguma quem não for meu legítimo esposo.” — “Se nisso está a tua dificuldade, belíssima Dorotéia” — (assim se chama esta desditada) — disse o desleal cavaleiro — “desde aqui te dou com esta mão a certeza de o ser teu; tomo por testemunhas os céus, a que nada se esconde, e esta imagem de Nossa Senhora que tens aqui.”

continua página 170...

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D. Quixote - Cervantes Vol 1 - Ao Livro de D. Quixote de la Mancha
D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L1 Capitulo I
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D. Quixote - Cervantes Vol 1 - 1ª Parte L4 Capitulo XXVIII(a) 
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D. QUIXOTE 
VOL. I 
Cervantes 
D. Quixote de La Mancha — Primeira Parte 
(1605) 
Miguel de Cervantes [Saavedra] 
(1547-1616)
Tradução: 
Francisco Lopes de Azevedo Velho de Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho (1809- 1876) Conde de Azevedo 
Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875) 
Visconde de Castilho
Edição 
eBooksBrasil www.ebooksbrasil.com 
Versão para eBook 
eBooksBrasil.com 
Fonte Digital 
Digitalização da edição em papel de Clássicos Jackson, Vol. VIII Inclusões das partes faltantes confrontadas com a edição em espanhol da eBooksBrasil.com 
(1999, 2005)
Copyright 
Autor: 1605, 2005 Miguel de Cervantes 
Tradução Francisco Lopes de Azevedo Velho de Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho 
António Feliciano de Castilho 
Capa: Honoré-Victorin Daumier (1808-1879) 
Retrato de Cervantes: Eduardo Balaca (1840-1914) 
Edição: 2005 eBooksBrasil.com

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