domingo, 1 de janeiro de 2012

Indomável e selvagem... Lambida e enroscada


Jamais uma costela, jamais um detalhe... la razón de la vida




baitasar


Esses homens com os olhos doendo por horas de contemplação...

... enquanto ela adormece ao lado... serena de amor acabado... as dobras e as rugas reclamam as ausências. Indomável e selvagem. Lambida e enroscada. Toda preenchida. Macia.


Enfio as mãos em um pequeno saco de linho branco e retiro alguns tocos e raízes. Trouxe essa planta com a recomendação de um dia abrir esta cerimônia, purificando meu corpo e minha memória, para alcançar a visão das coisas e das pessoas, como foram antes, e tudo corra bem. A fumaça perfumada se eleva e parece convidar muitos mais para a cerimônia.


Enquanto o incenso queima e o rastro do perfume envolve os espíritos antigos, nuvens brancas de mistérios dançam a nossa volta, passando com suavidade por carnes e ossos. Reencontro-me, abro os olhos e a mente para o meu passado, um labirinto de recuerdos dulces, suaves y infames. A união do céu com a terra através de alianzas, impaciências, pecados y el amor incondicional.

Tenho as lembranças, um pouco raladas pelo tiempo e a distância, além dos espíritos que me abraçavam querendo reconciliação com suas histórias, cantando suas cantorias. Jamais vi os espíritos antigos, otros diziam que ouviam e rezavam junto com os ancestrais. Eu não precisava ouvi-los, me bastava saber que estavam ali. Ela estava ali.

Olhei para cima e estava parada olhando para baixo, colocava as vistas em mim. Não pode deixar de me encantar com a sua generosidade de mulher não escravizada pela beleza. A moldura daquela via leitosa estrelada – mais acima de su cabeza – ou a saudade da minha juventude, pouco importa, aquela Mulher era la mujer más hermosa que había visto en mi vida.
Su cabello negro descia da cabeça e parecia chegar ao chão de piedrasfino y sedoso, o queixo arredondado con una pequeña depresión, os lábios carnudos, as narinas arredondas: perfecta. Os olhos negros brilhavam como dos estrellas del suelo de piedra, diamantes campesinos.

O sangue ferveu minhas facetas de palhaço, a boa escuridão me protegia.

Essa mulher tem um encantamento que a deixa encantada, vulnerável, pronta para ser colhida. Uma mulher graciosa de pura beleza germinada en la vida, suspira as ervas e as flores do campo.
Eu nada entendia dos acontecimentos de encantamento, mas reconhecia o sorriso em seus olhos. Ela foi ateada no fogo do meu amor.
O milagre desse feitiço se dá para mis ojos en las piernas mestiças, meus olhos são acordados pelo feitiço encantado en las piernas. A ternura da paixão tem mais força que o bruxedo das ervas. Quando o mundo do homem entra en la mujer, tudo se aquieta, os barulhos de la mujer silenciam as guerras, acabam as dores que se aproveitavam do medo, os sofrimentos ficam encantados em uma nuvem cinzenta assoprada pelos espíritos para longe, ao redor do mundo, descobrindo e ouvindo, cantando e sorrindo, assim, quando retornarem, estarei com as feridas cicatrizadas. Não evito um sorriso irreprimível, um sorriso malicioso, um olhar esbugalhado.
La mujer amorosa es mi amor.
Sentei na esteira acolchoada e esperei: se aconchegou sobre meu colo. Senti a simplicidade da vida se derramando toda líquida, ela é o pântano das águas. Fui empurrado para trás até ficar todo estendido e nu, as ordens de permanecer deitado chegavam pelos dedos mágicos da mulher em reboliço. O pelo emaranhado do cabo roçando na pele avermelhada fez la mujer sorrir de cócegas e mostrar seus dentes brancos com a cera do leite. Talvez eu não merecesse la mujer atrevida com suas carnes, talvez... Os lábios se enchiam avermelhados e úmidos, como beijos desaforados. Sabia que as cercas só existem para os mortos, coloquei a mão do coração nos cabelos daquela mujer.

Desgrudou os cabelos da nuca e num movimento para trás se fincou mais fundo. Não precisava escapar-me. E como um bicho domado mi sonrisa apareció.
Ficamos assim, parados, montados em silêncio, sem medos e alargados. Enfiados en la tierra... E Deus Criou a Mulher

Até que os olhos nos doam por horas de contemplação...

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