Adoro esses banhos!
Estou imersa nos vapores e aromas florais. Profundamente relaxada pelo piano
de Arabesque, acalmo minha cobiça. Debussy silencia e quando a música recomeça,
é uma melodia maluca que provoca minha sede de ser uma pessoa normal. Permaneço
imobilizada pela vontade das minhas arestas. Ele veio e estou pronta. Namoro
ser sua mulher esperada. Chega cantarolando, tento parecer preocupada,
controlando minha maluques
─ Querido, você deve estar
cansado, tantas horas...
─ Madame, nada que um bom
banho não possa resolver.
Olho para cima e o vejo na majestade da nudez.
Meu Deus, a cada vez que abro meus olhos para este homem, penso comigo
que a beleza dói. Quero-o aqui, entre minhas pernas. Não digo nada, apenas as
afasto capengas. A voz do soldado beleza murmura tudo que quero ouvir. Ele
entra. Começamos a misturar as carnes
─ Meu Deus, nasci pra isso.
Sinto as mãos cruas do soldado em meus joelhos e tornozelos. São ásperas
e marcadas por uma dureza calosa. Vou à desforra dos seus pequenos beliscões em
meus seios, espremo as minhas mãos agarradas em seu varal de carruagem. Fecho
os olhos e não descuido a minha vontade de ser comida enquanto perambulo em sua
montaria. Fico atenta àquelas mãos que empunham as rédeas daquele passeio. Levam-me
em viagens de fantasia. Acariciam-me o corpo demoradamente. Deslizam pelas
minhas ruas e esquinas. Eis as mãos que me empunham e revelam meus
esconderijos. O soldado me solta e move-as pelo ventre das águas até minhas
vontades submersas. Deixo que me percorra como o peixe-voador percorre as
águas, com pequenos vôos próximos a superfície. Delícia. Encontra-me arrepiada.
Fazemos uma dança de subir e descer o escondido. Adoro me arredar, assim,
totalmente aberta. Irremediavelmente comida.
Meus gritos abafados são as denúncias daquela agonia prolongada ao extremo
─ Himineu, cuida bem dos
dedos.
─ Por quê?
─ Adoro os dedos destas
mãos voadoras...
Não preciso dos olhos para sentir o olhar desfiando minhas carnes de
desejo. Minha respiração ofegante é uma prostituta elegante, intensa e
silenciosa. Meus hábitos de boa senhora se fingem perdidos entre os gemidos de
espanto, enquanto o hálito do soldado se mistura ao sopro da minha devassidão. Brotam
vapores e perfumes, saem de mim misturados aos sabores que corrompem com os
favores da carne. Sou toda luxúria e pecado. Solto meus roucos e gemidos
desvergonhados.
Mas é quando ele se afunda que as minhas vontades se perdem
definitivamente. Fico entregue aos seus movimentos de enfiar e desfiar minha
cobiça. Peço que desapareça cada vez mais fundo. Encaixo as unhas em sua carne
e continuo a ser estocada com a sua chicha rústica. Firme. Constante
─ Quero te montar!
Devorada num surto de muito desejo pelo seu esporão, quero mais forte e
mais fundo
─ Que delícia!
Grito para ficar sentado e me deixar sobre o animal como se estivesse a
cavalo. Ele obedece. Soldado sempre corresponde. Dirijo o galope pelos meus
caminhos, inclinando-me nas curvas, atirando-me a frente e gemendo quando todas
as águas em mim lhe descem e o cobrem até afogarem as vontades. É só meu.
Mantenho as mãos entrelaçadas, agarradas pelo gargalo. O soldado civil Himineu
não tem gemidos, põe todos os sentidos em ficar maior. Não pede para ter vida.
Respira em mim.
Agarro-me aos seus cabelos e beijo sua boca imensa, toda
úmida e macia. As línguas se enfiam e saem das nossas bocas. Pegajosas.
Atrevidas. Lambidas. Fico rígida e estremeço. Sou primeira experimentando os
caminhos da colheita. Ele permanece aconchegado e saboreia a inconfortável
espera que enche sua clava de fluidos. O coração me sai do peito a galope, indomável
e livre. Permaneço agarrada e enfiada, completamente exausta. Ele fica
mergulhado em minha estufa líquida, impulsionado por espasmos e arroubos
involuntários, as mãos agarradas em minhas carnes, os olhos em minha alma, como
fios enfiados em pérolas ele me desvela. Grita como se estivesse nascendo,
parido em minhas pernas. Lentamente os tremores aquietam e a calmaria submete
as suas águas nervosas ao meu doce balanço. Fico estendida sobre esse soldado
que desenho a minha imagem e semelhança.
Adoro esses banhos!
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