segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

XIV - General Calçacurta


Adoro esses banhos!

baitasar

Estou imersa nos vapores e aromas florais. Profundamente relaxada pelo piano de Arabesque, acalmo minha cobiça. Debussy silencia e quando a música recomeça, é uma melodia maluca que provoca minha sede de ser uma pessoa normal. Permaneço imobilizada pela vontade das minhas arestas. Ele veio e estou pronta. Namoro ser sua mulher esperada. Chega cantarolando, tento parecer preocupada, controlando minha maluques
─         Querido, você deve estar cansado, tantas horas...
─         Madame, nada que um bom banho não possa resolver.
Olho para cima e o vejo na majestade da nudez.
Meu Deus, a cada vez que abro meus olhos para este homem, penso comigo que a beleza dói. Quero-o aqui, entre minhas pernas. Não digo nada, apenas as afasto capengas. A voz do soldado beleza murmura tudo que quero ouvir. Ele entra. Começamos a misturar as carnes
─         Meu Deus, nasci pra isso.
Sinto as mãos cruas do soldado em meus joelhos e tornozelos. São ásperas e marcadas por uma dureza calosa. Vou à desforra dos seus pequenos beliscões em meus seios, espremo as minhas mãos agarradas em seu varal de carruagem. Fecho os olhos e não descuido a minha vontade de ser comida enquanto perambulo em sua montaria. Fico atenta àquelas mãos que empunham as rédeas daquele passeio. Levam-me em viagens de fantasia. Acariciam-me o corpo demoradamente. Deslizam pelas minhas ruas e esquinas. Eis as mãos que me empunham e revelam meus esconderijos. O soldado me solta e move-as pelo ventre das águas até minhas vontades submersas. Deixo que me percorra como o peixe-voador percorre as águas, com pequenos vôos próximos a superfície. Delícia. Encontra-me arrepiada. Fazemos uma dança de subir e descer o escondido. Adoro me arredar, assim, totalmente aberta. Irremediavelmente comida.
Meus gritos abafados são as denúncias daquela agonia prolongada ao extremo
─         Himineu, cuida bem dos dedos.
─         Por quê?
─         Adoro os dedos destas mãos voadoras...
Não preciso dos olhos para sentir o olhar desfiando minhas carnes de desejo. Minha respiração ofegante é uma prostituta elegante, intensa e silenciosa. Meus hábitos de boa senhora se fingem perdidos entre os gemidos de espanto, enquanto o hálito do soldado se mistura ao sopro da minha devassidão. Brotam vapores e perfumes, saem de mim misturados aos sabores que corrompem com os favores da carne. Sou toda luxúria e pecado. Solto meus roucos e gemidos desvergonhados.
Mas é quando ele se afunda que as minhas vontades se perdem definitivamente. Fico entregue aos seus movimentos de enfiar e desfiar minha cobiça. Peço que desapareça cada vez mais fundo. Encaixo as unhas em sua carne e continuo a ser estocada com a sua chicha rústica. Firme. Constante
─         Quero te montar!
Devorada num surto de muito desejo pelo seu esporão, quero mais forte e mais fundo
─         Que delícia!
Grito para ficar sentado e me deixar sobre o animal como se estivesse a cavalo. Ele obedece. Soldado sempre corresponde. Dirijo o galope pelos meus caminhos, inclinando-me nas curvas, atirando-me a frente e gemendo quando todas as águas em mim lhe descem e o cobrem até afogarem as vontades. É só meu. Mantenho as mãos entrelaçadas, agarradas pelo gargalo. O soldado civil Himineu não tem gemidos, põe todos os sentidos em ficar maior. Não pede para ter vida. Respira em mim. Agarro-me aos seus cabelos e beijo sua boca imensa, toda úmida e macia. As línguas se enfiam e saem das nossas bocas. Pegajosas. Atrevidas. Lambidas. Fico rígida e estremeço. Sou primeira experimentando os caminhos da colheita. Ele permanece aconchegado e saboreia a inconfortável espera que enche sua clava de fluidos. O coração me sai do peito a galope, indomável e livre. Permaneço agarrada e enfiada, completamente exausta. Ele fica mergulhado em minha estufa líquida, impulsionado por espasmos e arroubos involuntários, as mãos agarradas em minhas carnes, os olhos em minha alma, como fios enfiados em pérolas ele me desvela. Grita como se estivesse nascendo, parido em minhas pernas. Lentamente os tremores aquietam e a calmaria submete as suas águas nervosas ao meu doce balanço. Fico estendida sobre esse soldado que desenho a minha imagem e semelhança.
Adoro esses banhos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário