quarta-feira, 2 de abril de 2025

Stendhal - O Vermelho e o Negro: O Julgamento (XLI)

Livro II 


Ela não é galante,
não usa ruge algum.

Sainte-Beuve

Capítulo XLI

O JULGAMENTO

 A região se lembrará por muito tempo desse processo célebre. O interesse 
 pelo acusado chegava a causar agitação: é que seu crime era espantoso, mas 
 não atroz. Ainda que o tivesse sido, o jovem era tão belo! Sua alta fortuna, tão 
 cedo terminada, aumentava a comoção. Irão condená-lo? Perguntavam as 
 mulheres aos homens de suas relações, e empalideciam aguardando a 
 resposta.

SAINTE-BEUVE



     ENFIM CHEGOU O DIA TÃO TEMIDO pela sra. de Rênal e por Mathilde.
     O aspecto estranho da cidade redobrava-lhes o terror e não deixava sem emoção mesmo a alma firme de Fouqué. Toda a província acorrera a Besançon para ver o julgamento dessa causa romanesca.
     Havia vários dias os albergues estavam lotados. O presidente do tribunal era assediado por pedidos de ingressos; todas as damas da cidade queriam assistir ao julgamento; nas ruas apregoavam o retrato de Julien etc. etc.
      Mathilde havia reservado para esse momento supremo uma carta redigida pessoalmente pelo monsenhor de ***. Esse prelado, que dirigia a Igreja da França e nomeava os bispos, dignava-se pedir a absolvição de Julien. Na véspera do julgamento, Mathilde levou essa carta ao todo-poderoso vigário-geral.
     No final da entrevista, quando ela se retirava banhada em lágrimas, o sr. de Frilair disse lhe, deixando enfim sua reserva diplomática e quase comovido ele próprio:

– Respondo pela declaração do júri. Entre as doze pessoas encarregadas de examinar se o crime de seu protegido é comprovado, e sobretudo se houve premeditação, conto com seis amigos devotados, e dei-lhes a entender que dependia deles levar-me ao episcopado. O barão Valenod, que fiz prefeito de Verrières, dispõe inteiramente de dois de seus administrados, srs. de Moirod e de Cholin. Na verdade, o destino nos deu para esse caso dois jurados com ideias subversivas; mas, embora ultraliberais, são fiéis a minhas ordens nas grandes ocasiões e lhes pedi que votassem como o sr. Valenod. Fiquei sabendo que um sexto jurado, industrial muito rico e tagarela liberal, aspira em segredo a um fornecimento para o ministério da guerra, e certamente não gostaria de desagradar-me. Mandei dizer a ele que o sr. Valenod tem minha última palavra.
– E quem é esse sr. Valenod?, perguntou Mathilde, inquieta.
– Se o conhecesse, não poderia duvidar do sucesso. É um falador audacioso, impudente, grosseiro, feito para conduzir tolos. 1814 o tirou da miséria, e farei dele um governador. É capaz de bater nos outros jurados se não quiserem votar de acordo com ele.

     Mathilde ficou mais tranquila.
     Uma outra discussão a esperava à noite. Para não prolongar uma cena desagradável e cujo resultado ele considerava certo, Julien resolvera não usar a palavra.

– Meu advogado falará, é o bastante, ele disse a Mathilde. Já estarei por muito tempo exposto como espetáculo a todos os meus inimigos. Esses provincianos ficaram chocados com a fortuna rápida que lhe devo e, acredite, não há um só que não deseje minha condenação, para depois chorar como um tolo quando me conduzirem à morte.
– Eles querem vê-lo humilhado, é verdade, respondeu Mathilde, mas não os suponho cruéis. Minha presença em Besançon e o espetáculo de minha dor interessaram todas as mulheres; seu belo rosto fará o resto. Se disser uma palavra diante dos juízes, todo o auditório estará a seu favor etc. etc.

     No dia seguinte às nove horas, quando Julien desceu de sua prisão para ir até a grande sala do palácio de Justiça, foi com dificuldade que os gendarmes conseguiram afastar a imensa multidão amontoada no pátio. Julien havia dormido bem, estava muito calmo, e não experimentava outro sentimento a não ser uma piedade filosófica por essa multidão de invejosos que, sem crueldade, vinham aplaudir sua sentença de morte. Ficou muito surpreso quando, retido por mais de um quarto de hora no meio da multidão, foi obrigado a reconhecer que sua presença inspirava ao público uma terna piedade. Não escutou uma única frase desagradável. Esses provincianos são menos maldosos do que eu supunha, pensou.
     Ao entrar na sala de julgamento, ficou impressionado com a elegância da arquitetura gótica e uma quantidade de belas colunetas talhadas na pedra com o maior esmero. Acreditou estar na Inglaterra.
     Mas logo sua atenção foi absorvida por doze ou quinze belas mulheres que, colocadas defronte ao assento do réu, ocupavam os três balcões acima dos juízes e dos jurados. Ao voltar-se para o público, viu que a tribuna circular acima do anfiteatro também estava cheia de mulheres, em sua maioria jovens e que lhe pareceram muito bonitas; os olhos delas brilhavam de interesse. No resto da sala a multidão era imensa; acotovelavam-se às portas e as sentinelas não conseguiam obter silêncio.
     Quando todos os olhos que buscavam Julien perceberam sua presença, vendo-o ocupar o lugar um pouco elevado reservado ao acusado, ele foi acolhido por um murmúrio de admiração e de terno interesse.
     Teriam dito, nesse dia, que ele não tinha vinte anos; estava vestido com muita simplicidade, mas com uma graça perfeita; seus cabelos e seu rosto estavam encantadores; Mathilde cuidara ela mesma de sua toalete. A palidez de Julien era extrema. Assim que sentou no banco do réu, ele ouviu de todos os lados: Meu Deus! Como é jovem!... Mas é uma criança... É muito mais bonito que seu retrato...

– Meu acusado, disse-lhe o gendarme sentado à sua direita, está vendo as seis damas que ocupam aquele balcão? O gendarme indicava-lhe uma pequena tribuna saliente acima do anfiteatro onde ficam os jurados. É a sra. governadora, continuou o gendarme; ao lado, a sra. marquesa de M ***, essa gosta muito do senhor, escutei-a falar ao juiz de instrução. Depois, é a sra. Derville...
– A sra. Derville!, exclamou Julien, e um vivo rubor cobriu sua face. Ao sair daqui, pensou, ela irá escrever à sra. de Rênal. Ele ignorava a chegada da sra. de Rênal a Besançon. 

     As testemunhas foram rapidamente ouvidas. Desde as primeiras palavras da acusação feita pelo promotor, duas das damas que estavam no pequeno balcão, bem defronte a Julien, romperam em lágrimas. A sra. Derville não se comove assim, pensou Julien. Mas ele notou que ela estava muito corada.
     O promotor falava, com uma ênfase oratória em mau francês, da barbárie do crime cometido; Julien observou que as vizinhas da sra. Derville davam a impressão de desaprová-lo vivamente. Vários jurados, aparentemente conhecidos dessas damas, falavam-lhes e pareciam tranquilizá-las. Isso não deixa de ser de bom augúrio, pensou Julien.
     Até ali, ele sentia-se penetrado de um perfeito desprezo por todos os homens que assistiam ao julgamento. A eloquência vulgar do promotor aumentou esse sentimento de repugnância. Mas, aos poucos, a secura da alma de Julien foi se sensibilizando com as demonstrações de interesse das quais era evidentemente o objeto.
     Ficou contente com a expressão firme no rosto de seu advogado. Nada de frases de efeito, disse-lhe em voz baixa, quando este ia tomar a palavra.

– Toda a ênfase roubada de Bossuet que empregaram contra o senhor o beneficiou, disse o advogado. De fato, bastou que este falasse durante cinco minutos para que quase todas as mulheres tivessem seu lenço à mão. O advogado, encorajado, dirigiu aos jurados palavras extremamente fortes. Julien estremeceu, sentia-se a ponto de derramar lágrimas. Meu Deus! Que dirão meus inimigos?

     Estava cedendo ao enternecimento que o dominava quando, felizmente para ele, surpreendeu um olhar insolente do sr. barão de Valenod.
      Os olhos desse pretensioso estão flamejantes, pensou; que triunfo para essa alma mesquinha! Ainda que meu crime só tivesse provocado essa circunstância, eu deveria maldizê-lo. Sabe Deus o que ele dirá de mim à sra. de Rênal!
      Essa ideia afastou todas as outras. Logo em seguida, Julien foi chamado a si pelas demonstrações de apoio do público. O advogado acabava de terminar sua apresentação. Julien lembrou-se que era conveniente apertar-lhe a mão. O tempo havia passado rapidamente.
     Trouxeram refrescos para o advogado e o réu. Foi somente então que Julien ficou impressionado com uma circunstância: nenhuma mulher deixara o auditório para ir jantar.

– Estou morrendo de fome, disse o advogado, e o senhor?
– Eu também, respondeu Julien.
– Veja, ali está a sra. governadora recebendo seu jantar, disse-lhe o advogando, indicando o pequeno balcão. Coragem, tudo está indo bem.

     A sessão recomeçou. Quando o presidente fazia seu resumo, deu meia-noite. O presidente foi obrigado a interromper-se; em meio ao silêncio da ansiedade geral, o ressoar do sino do relógio enchia a sala.
      Eis o último de meus dias que começa, pensou Julien. Logo sentiu-se inflamado pela ideia do dever. Até então havia dominado seu enternecimento e mantido a resolução de não falar; mas quando o presidente do tribunal perguntou-lhe se tinha alguma coisa a acrescentar, ele levantou-se. Via à sua frente os olhos da sra. Derville que, às luzes, pareceram-lhe muito brilhantes. Acaso ela estaria chorando? pensou.

 “Senhores jurados,
“O horror do desprezo, que eu acreditava poder enfrentar no momento da morte, me faz tomar a palavra. Senhores, não tenho a honra de pertencer à vossa classe, vedes em mim um camponês que se revoltou contra a baixeza de sua sorte.
“Não vos peço nenhum indulto, continuou Julien, tornando mais firme a voz. Não tenho nenhuma ilusão, a morte me espera: ela será justa. Atentei contra a vida da mulher mais digna de todos os respeitos, de todas as homenagens. A sra. de Rênal foi como uma mãe para mim. Meu crime é atroz e foi premeditado. Portanto, mereço a morte, senhores jurados. Mas, mesmo se eu fosse menos culpado, vejo homens que, sem pensarem no que minha juventude possa merecer de piedade, quererão punir em mim e desencorajar para sempre esse tipo de jovens que, nascidos numa classe inferior e de certo modo oprimidos pela pobreza, têm a felicidade de obter uma boa educação e a audácia de misturar-se àquilo que o orgulho dos ricos chama a sociedade.
“Eis o meu crime, senhores, e ele será punido com tanto mais severidade quanto, em realidade, não sou julgado por meus pares. Não vejo no banco dos jurados nenhum camponês enriquecido, mas unicamente burgueses indignados...”

     Durante vinte minutos, Julien falou nesse tom; disse tudo o que sentia no coração; o promotor, que aspirava aos favores da aristocracia, agitava-se em seu assento; mas, apesar do caráter um pouco abstrato que Julien dera à discussão, todas as mulheres desfaziam-se em lágrimas. A própria sra. Derville tinha um lenço nos olhos. Antes de terminar, Julien voltou a falar da premeditação, de seu arrependimento, do respeito, da adoração filial e sem limites que, nos tempos mais felizes, tinha pela sra. de Rênal... A sra. Derville deu um grito e desmaiou.
     Soava uma hora quando os jurados retiraram-se para deliberar. Nenhuma mulher abandonara seu lugar; vários homens tinham lágrimas nos olhos. As conversas foram inicial mente muito animadas; mas aos poucos, fazendo-se demorar a decisão do júri, o cansaço geral espalhou uma calma na assembleia. O momento era solene, as luzes emitiam menos brilho. Julien, muito fatigado, ouvia discutirem, a seu redor, se aquela demora seria de bom ou de mau augúrio. Viu com prazer que todas as opiniões eram a seu favor; o júri não retornava, e no entanto nenhuma mulher deixava a sala.
     Quando acabaram de soar duas horas, um grande movimento ouviu-se. A pequena porta da sala dos jurados foi aberta. O sr. barão de Valenod avançou com um passo grave e teatral, seguido de todos os jurados. Ele tossiu e depois anunciou que a declaração unânime do júri, em sua alma e consciência, era que Julien Sorel era culpado de homicídio, e de homicídio com premeditação: essa declaração implicava a pena de morte, que foi pronunciada um instante depois.
      Julien olhou seu relógio e lembrou-se do sr. de Lavalette, eram duas horas e um quarto. Hoje é sexta-feira, pensou. Sim, mas é um dia feliz para o Valenod, que me condena... Estou muito vigiado para que Mathilde possa salvar-me como fez a sra. de Lavalette... Assim, dentro de três dias, a essa mesma hora, saberei o que esperar do grande talvez.
     Nesse momento, ele ouviu um grito e foi chamado de volta às coisas deste mundo. As mulheres a seu redor soluçavam; viu que os rostos haviam se voltado para uma pequena tribuna montada no alto de uma pilastra gótica. Mais tarde ficou sabendo que Mathilde se escondera ali. Como o grito não se repetiu, todos puseram-se a olhar para Julien, a quem os gendarmes buscavam fazer atravessar a multidão.
     Procuremos não dar motivo de riso a esse patife do Valenod, pensou Julien. Com que cara contrita e hipócrita ele pronunciou a declaração que implica a pena de morte! Enquanto o pobre presidente do tribunal, embora juiz há tantos anos, tinha lágrimas nos olhos ao condenar-me. Que alegria para o Valenod vingar-se de nossa antiga rivalidade junto à sra. de Rênal!... Então não a verei mais! Acabou-se... Sinto que um último adeus é impossível entre nós... Como ficaria feliz de dizer a ela todo o horror que tenho por meu crime! Apenas estas palavras: Vejo-me justamente condenado.

continua página 337...

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Leia também:

O Vermelho e o Negro: Uma Hora da Madrugada (XVI)
O Vermelho e o Negro: Uma Velha Espada (XVII)
O Vermelho e o Negro: O Julgamento (XLI)
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ADVERTÊNCIA DO EDITOR

Esta obra estava prestes a ser publicada quando os grandes acontecimentos de julho [de 1830] vieram dar a todos os espíritos uma direção pouco favorável aos jogos da imaginação. Temos motivos para acreditar que as páginas seguintes foram escritas em 1827.

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Henri-Marie Beylemais conhecido como Stendhal (Grenoble, 23 de janeiro de 1783 — Paris, 23 de março de 1842) foi um escritor francês reputado pela fineza na análise dos sentimentos de seus personagens e por seu estilo deliberadamente seco.
Órfão de mãe desde 1789, criou-se entre seu pai e sua tia. Rejeitou as virtudes monárquicas e religiosas que lhe inculcaram e expressou cedo a vontade de fugir de sua cidade natal. Abertamente republicano, acolheu com entusiasmo a execução do rei e celebrou inclusive a breve detenção de seu pai. A partir de 1796 foi aluno da Escola central de Grenoble e em 1799 conseguiu o primeiro prêmio de matemática. Viajou a Paris para ingressar na Escola Politécnica, mas adoeceu e não pôde se apresentar à prova de acesso. Graças a Pierre Daru, um parente longínquo que se converteria em seu protetor, começou a trabalhar no ministério de Guerra.
Enviado pelo exército como ajudante do general Michaud, em 1800 descobriu a Itália, país que tomou como sua pátria de escolha. Desenganado da vida militar, abandonou o exército em 1801. Entre os salões e teatros parisienses, sempre apaixonado de uma mulher diferente, começou (sem sucesso) a cultivar ambições literárias. Em precária situação econômica, Daru lhe conseguiu um novo posto como intendente militar em Brunswick, destino em que permaneceu entre 1806 e 1808. Admirador incondicional de Napoleão, exerceu diversos cargos oficiais e participou nas campanhas imperiais. Em 1814, após queda do corso, se exilou na Itália, fixou sua residência em Milão e efetuou várias viagens pela península italiana. Publicou seus primeiros livros de crítica de arte sob o pseudônimo de L. A. C. Bombet, e em 1817 apareceu Roma, Nápoles e Florença, um ensaio mais original, onde mistura a crítica com recordações pessoais, no que utilizou por primeira vez o pseudônimo de Stendhal. O governo austríaco lhe acusou de apoiar o movimento independentista italiano, pelo que abandonou Milão em 1821, passou por Londres e se instalou de novo em Paris, quando terminou a perseguição aos aliados de Napoleão.
"Dandy" afamado, frequentava os salões de maneira assídua, enquanto sobrevivia com os rendimentos obtidos com as suas colaborações em algumas revistas literárias inglesas. Em 1822 publicou Sobre o amor, ensaio baseado em boa parte nas suas próprias experiências e no qual exprimia ideias bastante avançadas; destaca a sua teoria da cristalização, processo pelo que o espírito, adaptando a realidade aos seus desejos, cobre de perfeições o objeto do desejo.
Estabeleceu o seu renome de escritor graças à Vida de Rossini e às duas partes de seu Racine e Shakespeare, autêntico manifesto do romantismo. Depois de uma relação sentimental com a atriz Clémentine Curial, que durou até 1826, empreendeu novas viagens ao Reino Unido e Itália e redigiu a sua primeira novela, Armance. Em 1828, sem dinheiro nem sucesso literário, solicitou um posto na Biblioteca Real, que não lhe foi concedido; afundado numa péssima situação económica, a morte do conde de Daru, no ano seguinte, afetou-o particularmente. Superou este período difícil graças aos cargos de cônsul que obteve primeiro em Trieste e mais tarde em Civitavecchia, enquanto se entregava sem reservas à literatura.
Em 1830 aparece sua primeira obra-prima: O Vermelho e o Negro, uma crónica analítica da sociedade francesa na época da Restauração, na qual Stendhal representou as ambições da sua época e as contradições da emergente sociedade de classes, destacando sobretudo a análise psicológica das personagens e o estilo direto e objetivo da narração. Em 1839 publicou A Cartuxa de Parma, muito mais novelesca do que a sua obra anterior, que escreveu em apenas dois meses e que por sua espontaneidade constitui uma confissão poética extraordinariamente sincera, ainda que só tivesse recebido o elogio de Honoré de Balzac.
Ambas são novelas de aprendizagem e partilham rasgos românticos e realistas; nelas aparece um novo tipo de herói, tipicamente moderno, caracterizado pelo seu isolamento da sociedade e o seu confronto com as suas convenções e ideais, no que muito possivelmente se reflete em parte a personalidade do próprio Stendhal.
Outra importante obra de Stendhal é Napoleão, na qual o escritor narra momentos importantes da vida do grande general Bonaparte. Como o próprio Stendhal descreve no início deste livro, havia na época (1837) uma carência de registos referentes ao período da carreira militar de Napoleão, sobretudo a sua atuação nas várias batalhas na Itália. Dessa forma, e também porque Stendhal era um admirador incondicional do corso, a obra prioriza a emergência de Bonaparte no cenário militar, entre os anos de 1796 e 1797 nas batalhas italianas. Declarou, certa vez, que não considerava morrer na rua algo indigno e, curiosamente, faleceu de um ataque de apoplexia, na rua, sem concluir a sua última obra, Lamiel, que foi publicada muito depois da sua morte.
O reconhecimento da obra de Stendhal, como ele mesmo previu, só se iniciou cerca de cinquenta anos após sua morte, ocorrida em 1842, na cidade de Paris.

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